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2.3 Teoria da Agência

2.3.2 Teoria da Agência e o Comitê de Auditoria

Segundo Turley e Zaman (2004, p.307), enquanto o ambiente de governança continua a mudar após a Enron e casos similares, a avaliação da situação atual da governança associada com os Comitês de Auditoria é relevante para a formação das expectativas sobre os resultados das mudanças regulatórias, uma vez que é estabelecido um benchmarking contra o impacto futuro de tais mudanças e um guia para as pesquisas futuras.

Diversos estudos analisaram a formação do Comitê de Auditoria sob a abordagem da teoria da agência (JENSEN; MECKLING, 1976; FAMA; JENSEN, 1983). Para isso, foram examinados o relacionamento das proxy do custo de agência com a presença do Comitê de Auditoria em empresas nas quais o comitê foi introduzido de forma voluntária.

Esses estudos partiram do pressuposto que o Comitê de Auditoria é um mecanismo efetivo para redução dos custos de agência. Foram testados diversos fatores associados com o custo de agência, incluindo o tamanho da empresa, alavancagem, listagem na bolsa local e participação acionária dos gestores. Todavia, os resultados da análise desses incentivos para explicar a formação do Comitê de Auditoria não chegaram a um consenso.

Este trabalho partiu do pressuposto que quanto maior o custo de agência, maior a assimetria de informação entre agente e principal. Consequentemente, maior a necessidade de monitoramento e assim maior a chance de a empresa ter um Comitê de Auditoria.

Ilustração 5 – Interface de Teoria de Agência e a Governança Corporativa

FONTE: Lima et al. (2006, p. 542)

A Ilustração 5 mostra a interface da Teoria da Agência e a Governança Corporativa. As setas refletem a relação entre principais e agentes. A sigla C.Adm. significa o Conselho de Administração, C.F. é o Conselho Fiscal e C.A. é o Comitê de Auditoria. Segundo Lima et al. (2006, p.542), o C.Adm. é agente ao satisfazer as prerrogativas do principal “acionista”, mas também é principal no momento em que elege a diretoria ou convoca a Auditoria Independente. Portanto, no organograma de uma empresa existe a figura do principal, do agente e de sujeitos que tanto são principais como agentes.

Lima et al. (2006, p.548) afirmam que as práticas de Governança Corporativa sugerem a criação dos Conselhos e do Comitê de Auditoria. Dessa forma, os problemas de agência podem ser diminuídos, pois os contratos passam a ser monitorados tornando as informações contábeis mais confiáveis.

Uma vez que o nível de monitoramento pode ser aumentado com a formação do Comitê de Auditoria, então a demanda por Comitês de Auditoria deveria ser maior em situações de

C.Adm. Auditoria Independente C.F. CEO Diretoria Conselho de Família Sócios C. A.

maior custo de agência. Segundo Pincus et al. (1989), o estabelecimento de um Comitê de Auditoria fornece um canal de comunicação entre o Conselho de Administração e os auditores externos e internos. Os Comitês de Auditoria asseguram a qualidade da auditoria e melhoram a eficiência do monitoramento (COLLIER, 1993, p.423).

Chow (1982) e Watts e Zimmerman (1986) forneceram evidências de que as empresas adotam voluntariamente a auditoria externa em situações de alto custo de agência. Bradbury (1990) confirma que os Comitês de Auditoria, dessa forma, serão voluntariamente empregados em situações de alto custo de agência.

Assim, o Comitê de Auditoria pode ser visto como um mecanismo de monitoramento que será voluntariamente formado em situações de alto custo de agência, com o intuito de melhorar a qualidade do fluxo de informação entre o agente e o principal. A existência do Comitê de Auditoria fornecerá uma linha direta de comunicação entre o Conselho de Administração e o auditor e reduzirá a assimetria de informação entre o gerente e o conselho.

Além disso, o Comitê de Auditoria pode minimizar as escolhas contábeis oportunas já que sua função inclui revisar os métodos contábeis e suas mudanças (BRAIOTTA, 1981, p.10). Assim, o Comitê de Auditoria pode restringir as escolhas contábeis dos gerentes.

Quadro 7 – Estudos sobre Comitês de Auditoria e Teoria da Agência

FONTE: Adaptado de Turley e Zaman (2004, p.310)

Os estudos do Quadro 7 utilizaram a abordagem da teoria da agência para analisar as razões para a formação voluntária dos Comitês de Auditoria. Os resultados não são homogêneos e, dessa forma, não é possível chegar a uma única conclusão.

Dois estudos foram realizados com base nos dados dos EUA, o de Pincus et al. (1989) e o de Menon e Williams (1994). Pincus et al. (1989) analisaram as empresas over-the-counter e as empresas listadas na NASDAQ e encontraram uma relação positiva entre a empresa ter o Comitê de Auditoria e o seu tamanho, ser auditada por uma empresa top de auditoria e ser listada na bolsa de valores; e uma relação negativa entre a empresa ter o Comitê de Auditoria e o percentual de participação dos gestores na empresa. Já Menon e Williams (1994) utilizaram a amostra das empresas over-the-counter e a única relação encontrada foi a presença do Comitê de Auditoria estar relacionada de forma positiva com o número de diretores externos à empresa.

Outros estudos internacionais realizados foram o de Bradbury (1990), Adams (1997) e Rainsbury et al. (2008) que estudaram as empresas listadas na Bolsa de Valores (New

Zealand Stock Exchange - NZX) e seguradoras da Nova Zelândia. Bradbury (1990) encontrou Pincus et al. (1989) Bradbury (1990) Collier (1993) Menon & Williams (1994) Adams (1997) Collier & Gregory (1999) Piot (2004) Rainsbury et al. (2008) País EUA N.Zelândia Londres EUA N.Zelândia Londres França N.Zelândia

Tamanho da Amostra 100 135 167 200 100 142 285 109 Ano 1986 1981 1991 1986-87 1991-93 1989-90 1997 2001 Empresa Nasdaq OTC NZX Top 250 da Times 100

OTC Seguradoras de Vida

Top 250 da Times 100 Cias listadas NZX Variáveis: Tamanho da empresa +SR NSR NSR NSR +SR NSR +SR Alavancagem NSR NSR +SR NSR +SR NSR -SR Auditor - Top +SR NSR NSR NSR +SR +SR NSR

% Ações com gestores -SR NSR -SR NSR -SR NSR

Ativos fixos NSR NSR NSR

Número de Diretores +SR +SR

Listagem na Bolsa de Valores +SR

Legenda:

+/- SR: relacionamento positivo/negativo significante; NRS: relacionamento não significante

Variável

uma relação positiva entre a empresa ter o Comitê de Auditoria e o número de diretores, enquanto Adams (1997) encontrou relacionamento positivo em relação ao tamanho e alavancagem da empresa. Já Rainsbury et al. (2008) encontraram uma relação negativa entre a formação do Comitê de Auditoria e a alavancagem da empresa, e que o tamanho do Comitê e a independência de seus membros estão positivamente relacionados com as melhores práticas do Comitê de Auditoria, segundo regulação da Nova Zelândia.

O trabalho de Piot (2004) realizado com as companhias abertas na França sugere que há uma relação positiva entre a formação do Comitê de Auditoria e o tamanho da empresa, o fato de a companhia ser auditada por uma empresa top de auditoria e o número de diretores, e uma relação negativa com o percentual de ações com os gestores.

Em relação ao mercado britânico, Collier (1993) analisou as 250 top empresas da Times 100 no ano de 1991 e encontrou uma relação positiva entre a empresa ter um Comitê de Auditoria e a sua alavancagem e uma relação negativa com o percentual de participação acionária dos gestores na empresa. Collier e Gregory (1999) também examinaram as 250 top empresas da Times 100, porém no período de 1989 a 1990, e encontraram uma relação positiva entre a empresa ter um Comitê de Auditoria e ser auditada por uma das grandes empresas de auditoria.

3 ABORDAGEM METODOLÓGICA