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3 MOTIVAÇÃO EXTRÍNSECA E INTRÍNSECA NA APRENDIZAGEM

3.3 Motivação intrínseca

3.3.2 Teoria da avaliação cognitiva

A Teoria Avaliação Cognitiva elaborada por Ryan, Connell e Deci (1985) está intimamente ligada às propostas de White, considerando como elementos centrais da motivação intrínseca a autodeterminação e a competência. Indica examinar, além dos aspectos peculiares das atividades de aprendizagem, os elementos contextuais que possivelmente levariam a essa orientação motivacional.

Esses autores caracterizam a motivação intrínseca através de três proposições básicas. A primeira diz respeito ao locus de causalidade. De modo geral, situações que contribuam para a experiência do locus interno de causalidade são imprescindíveis para

promover a motivação intrínseca. Porém, todo acontecimento envolvendo controladores externos, como por exemplo, recompensas, punições entre outros, pode prejudicar a motivação intrínseca (Guimarães, 2009, p. 43).

A segunda proposição refere-se à percepção de competência para desempenhar adequadamente determinada atividade de aprendizagem. A motivação intrínseca aumentará em situações cujas exigências do ambiente possibilitem ao indivíduo um feedback positivo e contingente aos resultados acerca do seu desempenho. Ao contrário, feedback negativo que mostre a incompetência naquela situação prejudica a motivação intrínseca.

A terceira proposição focaliza a natureza do contexto interpessoal e intrapessoal, que influencia o significado funcional de um evento para motivação intrínseca. Os fatores interpessoais ou ambientais são classificados em: a) eventos informativos, consistindo naqueles provedores de feedback relevante para os resultados em um contexto de escolha; b) eventos controladores, considerados primariamente como pressão no sentido de desempenhar, pensar ou sentir de acordo com padrões preestabelecidos; c) eventos amotivadores, ou seja, aqueles livres de informação relevante para os resultados, impossibilitando o estabelecimento de percepções de competência ou de causalidade pessoal (GUIMARÃES, 2009).

Em relação aos fatores intrapessoais, destaca-se o interesse como influência significativa para a aquisição de informação e aprendizagem no ambiente naturalístico. Ryan, Connell e Deci (1985) adotaram o termo “aprendizagem espontânea” para denominar a aprendizagem resultante de processos internos, prontidão e tendência, sem obrigações, orientações ou pressões externas. Esse tipo de aprendizagem é associado ao interesse, ao envolvimento na tarefa e a outros processos afetivos, também presentes na motivação intrínseca.

A consideração que Csikszentmihalyi (1992) faz a respeito da motivação intrínseca é que esta está relacionada a certo “fluxo”, ou seja, o referido autor destaca os elementos afetivos da motivação como um estado de “fluir” que nasce do profundo envolvimento pessoal nas atividades. Dessa forma, o envolvimento dos indivíduos é tão intenso que nada mais parece ser importante além daquilo que estão fazendo, “sentem-se satisfeitas e não desejariam fazer nada além daquela atividade” (CSIKSZENTMIHALYI, 1992, p. 19). O termo “fluir” utilizado pelo autor foi inspirado através de relatos de pessoas ao descreverem seus sentimentos durante o profundo envolvimento em alguma atividade.

No caso do fluxo, há uma concentração considerável voltada para a atividade que está sendo realizada, acarretando em um aumento de satisfação ao realizá-la. Essa sensação

psicológica foi o que Csikszentmihalyi (1992) definiu como experiência de fluxo. Segundo o autor, as atividades que incluem essas são extremamente gratificantes, a ponto de as pessoas quererem vivenciá-las por si mesmas, sem a preocupação com o que as atividades lhes darão em troca. Assim, o “fluxo” poderia ser considerado como uma fonte para a motivação intrínseca.

Vale salientar que no contexto escolar, a motivação intrínseca representa algo extraordinário, pois estimula e contribui significativamente no processo de ensino e aprendizado, tornando este de altíssima qualidade, por este motivo, a motivação intrínseca na área educacional, se tornou algo valioso e que precisa ser buscado continuamente. O aluno ao envolver-se em atividades por razões intrínsecas gera maior satisfação, favorecendo assim a facilitação da aprendizagem e do desempenho. Segundo Guimarães (2009), a percepção do progresso produz uma sensação de eficácia em relação ao que está sendo aprendido, gerando expectativas positivas de desempenho e realimentando a motivação para determinada atividade. A autora descreve o envolvimento e desempenho escolar de um aluno intrinsecamente motivado na seguinte situação:

Apresenta alta concentração, de tal modo que perde a noção do tempo; os problemas cotidianos ou outros eventos não competem com o interesse naquilo que está desenvolvendo; não existe ansiedade decorrente de pressões ou emoções negativas que possam interferir no desempenho; a repercussão do resultado do trabalho perante as outras pessoas não é o centro de preocupações, ainda que o orgulho e a satisfação provenientes do reconhecimento de seu empenho e dos resultados do trabalho estejam presentes; busca novos desafios após atingir determinados níveis de habilidades e as falhas ocorridas na execução das atividades instigam a continuar tentando (GUIMARÃES, 2009, p. 38).

As atividades propostas no dia a dia em sala de aula nem sempre podem ser geradoras de tais sentimentos ou comportamentos, o conhecimento dos determinantes da motivação intrínseca pode ajudar os professores a oportunizarem sua ocorrência nas situações escolares. Em suma, “um aluno com motivação intrínseca em sala de aula se destaca pela curiosidade, pelo interesse, pela atenção concentrada, pela persistência e um alto envolvimento na atividade de aprendizagem, que são buscadas como um fim em si mesmos” (GUIMARÃES, 2009, p. 43).

Ante o exposto pode-se depreender que a motivação intrínseca reflete a tendência do indivíduo de comprometer-se em atividades interessantes e desafiadoras em termos de aprendizado e desenvolvimento. Isso a partir do momento em que o indivíduo vivencia a motivação intrínseca por meio da satisfação das necessidades naturais de autonomia (controlando sua própria vida e agindo de acordo com o seu interior), competência (sabendo lidar eficazmente com o meio que o cerca) e relacionamento (interagindo por vontade própria

com as pessoas e fazendo algo em benefício dos outros). Conforme Deci e Ryan (2002), essas três necessidades básicas são a base da proatividade, do funcionamento otimizado e da saúde psicológica.

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