No contexto da Psicologia e da Educação as teorias da aprendizagem estão relacionadas aos modelos que visam entender e explicar os processos de apredizagem pelos indivíduos. Este campo de estudo aborda sobre o desenvolvimento cognitivo das pessoas existindo diversas teorias com diferentes características. Pelo fato deste trabalho estar inserido no contexto da educação a distância e dos objetos de aprendizagem que tem por objetivo o compartilhamento do conhecimento, e por se preocupar com aspectos sociculturais principalmente dos sujeitos surdos, esta pesquisa se baseia nos princípios da Teoria da Cognição Situada. Esta teoria está pautada nas relações sociais dos indivíduos e na construção do conhecimento a partir do compartilhamento deste.
Pode-se entender que a Cognição Situada origina-se de uma corrente que intui conhecer, compreender e explicar os fundamentos de como os humanos se comportam baseados em estudos nos mais diversos campos do conhecimento, como: tratamento da informação, resolução de problema, tomada de decisão, compartilhamento de conhecimentos dentre outros. A Cognição Situada buscar estudar os relacionamentos entre os agentes sejam eles humanos ou informáticos, e os elementos da situação sejam eles os objetos presentes no ambiente (SANTOS, 2004 apud VANZIN, 2005).
Jean Lave (1988) cunhou o termo Cognição Situada ao buscar descrever o processo cognitivo como um fenômeno não apenas psicológico, mas um fenômeno que decorre das relações entre a ação e o ambiente sociocultural caracterizado e reconhecido pelos indivíduos. Solidificando esse conceito Hutchins (2000) e Suchman (1987) se apresentam como fortes alicerces nessa área. Sendo assim, para que possamos entender melhor esse conceito, três aspectos são imprescindíveis para que se entenda a aprendizagem ou cognição como sendo situada:
1º) porque remete a pensamentos e ações das pessoas que acontecem em um espaço, em um tempo;
2º) porque diz respeito a práticas sociais nas quais estão em jogo a participação e o envolvimento de outras pessoas;
3º) porque é sempre atrelada a contextos sociais, marcadamente reconhecidos como fontes de significados e de significações (OLIVEIRA; SANTOS, 2011).
Na Cognição Situada o aluno não é um receptor passivo de conhecimento e também não constrói conhecimento centrado em si, engajando-se em uma comunidade de prática11, ele age sobre as situações e com as situações acarretando recíproca mudança. Esta teoria define que todo ato cognitivo é um ato experiencial, e, portanto, situado, resultante do acoplamento estrutural e da interação congruente do organismo em seu ambiente. A cognição não é, portanto, a representação de um mundo pré- concebido, cujas características podem ser especificadas antes de qualquer atividade cognitiva (VENÂNCIO; BORGES, 2006).
Essas peculiaridades fortalecem a crença de que o aprendizado é melhor quando ocorre no meio social e cujos meios de obtê-lo são diferentes dos métodos tradicionais dando sustentação ao enfoque desse trabalho (Quadro 2).
Quadro 2 – Comparativo entre a aprendizagem tradicional e a situada. Aprendizagem Tradicional Aprendizagem Situada Fora do local de trabalho.
Separada do trabalho, isto é, não no momento em que se necessita de conhecimento.
No local de trabalho. Integrada ao trabalho.
Sobre demanda, no momento necessário.
Pode ser feita a distância. Formação em grupo. Formação individualizada e
flexível, em que cada um aprende a seu próprio ritmo.
Aprendizagem passiva, geralmente considerada pouco eficaz (devido ao esquecimento).
Aprendizagem muito interativa e visual, considerada como mais eficaz.
Pouco informatizada. Amplamente suportada pela informática:
Ambiente informatizado de educação;
Formação assistida por computador;
Simulador;
11 As comunidades de prática estão mais direcionadas ao conteúdo do que à forma e assumem que a aprendizagem é uma questão essencialmente ligada ao fato de pertencer e participar (VANZIN, 2005).
Sistemas de apoio à tarefa; Interfaces multimídia; Via web.
Abordagem linear. Abordagem não linear Hyperlinks nos documentos digitais;
Estrutura não linear nos documentos de papel. Fonte: Ergonet apud Vanzin, 2005.
As mais diversas interações possíveis entre agentes e objetos do ambiente listados no Quadro 2 são necessárias para que o conhecimento possa ser compartilhado e distribuído. A Cognição Situada é vista como um instrumento que possibilita a compreensão da informação como uma construção conduzida pelos sujeitos, partindo de suas realidades sócio históricas e de suas vivências. Esses sujeitos são considerados como seres históricos sociais e contingentes.
A principal contribuição desta teoria está na possibilidade da formulação de um novo paradigma que permite rever e ampliar a concepção clássica da ação humana, principalmente em relação ao cognitivismo ortodoxo (VANZIN, 2005).
A Teoria da Cognição Situada (TCS) visa substituir os pressupostos que a informação é igual para todos e o sujeito é passivo e age como mero receptor e emissor de informação. O novo paradigma é orientado para o usuário, centrado no sujeito e não no objeto. São os indivíduos que dão sentido às informações, categorizando - as e processando - as em diferentes contextos. Sendo assim os sentidos são variáveis e dependem da situação, da época, da necessidade e da importância da informação naquele momento (BORGES ET AL, 2004 apud TAKIMOTO, 2014). Alguns estudos do Programa de Pós-Graduação do EGC relacionados a educação a distância também adotaram esta teoria como arcabouço teórico. Entre eles estão: Pivetta (2016), Lapolli (2014), Takimoto (2014), Quevedo (2013) e Schneider (2012). Deste modo, esta
pesquisa se fundamenta na Teoria da Cognição Situada por considerar que a aprendizagem deve ser flexível, respeitando as características de cada indivíduo e por considerar os mesmos como sendo o centro do processo de ensino-aprendizagem. A educação a distância surge então como ferramenta para o alcance deste tipo de educação. Além disso, os preceitos desta teoria permitiram conduzir a aplicação da pesquisa no sentido de não restringir o diálogo entre alunos no momento da leitura e da realização da atividade, e ainda não instituindo tempo limite para a realização das mesmas.