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2.3 A interação virtual, estruturas e modelos de EAD

2.3.4 Modelos autônomos da administração da educação em EAD

2.3.4.1 Teoria da Distância Transacional e a Autonomia do Aprendiz de Michael Moore

Moore (1973), Moore e Kearsley (2007) analisam as dimensões extrínsecas da administração da educação na EAD, a da “distância transacional”, mais abrangente e substantiva do que a simples distanciação geográfica e a “autonomia do aluno”.

Em relação à primeira dimensão, salientam que as características “especiais” educativas surgem justamente devido ao afastamento físico entre professor e aluno, que “obriga” a um conjunto de procedimentos distintos do tradicional, quer em nível de ensino ou de aprendizagem no processo administrativo.

Portanto, o modelo da EAD, devido a esse afastamento existente, necessita de um ambiente de natureza mais relevante, e o modelo da administração da educação necessita de uma interação educacional substantiva e multidimensional não tradicional

Em relação à segunda dimensão, diretamente relacionada com a primeira, Moore explica que há uma necessidade dos modelos de EAD promoverem uma maior autonomia do aluno, durante todo o processo administrativo educacional, muito próximo ao que seria educação autodirigida.

A proposta inicialmente feita por Michael Moore (Learner autonomy: The second dimension of independent learning, 1972; Towards a theory of independent learning and teaching, 1973; Learner autonomy: The second dimension of independent learning, 1972; Independent study, 1980) e sustentada, posteriormente, por Charles A. Wedemeyer (1981)

1) A grande maioria dos estudantes que frequentam cursos na modalidade a distância são adultos e trabalhadores. Parte-se do pressuposto que são independentes, autorresponsáveis e, portanto, preparados para lidar com essa nova situação de estudo sem a presença do professor. Se são capazes de decidir se querem ou não estudar, também são capazes de decidir “como estudar”;

2) As instituições de ensino não apoiam em demasia o estudante e incentivam seu autodidatismo (MOORE, 1972 apud DIEHL, 2013, p. 15).

Esses autores compreendem a autonomia como “la medida en que el estudiante de un

programa educacional puede determinar la selección de objetivos, los recursos y los procedimentos de evaluación” (ARETIO, 1997, p. 16).

Trata-se, inicialmente, de uma teoria em que o processo de ensino e aprendizagem está centrado no estudante e a educação é entendida como processo de caráter fundamentalmente individualizado, na qual pessoas adultas têm capacidade para decidir sobre sua própria aprendizagem e a maneira de conduzi-la. Entretanto, será que o indivíduo, por ser adulto, é autônomo e capaz de gerir sua vida e sua educação? E isso poderia causar alterar o locus do poder? E consequentemente o papel da universidade, professores, cientistas, profissionais e alunos numa sociedade científica de interação hipoteticamente “aberta” ao conhecimento?

Compreende-se que seu “passado de estudante”, marcado por experiências da administração da educação tradicional de natureza instrumental não educativas (cópias, repetição, passividade, obediência etc.), contribuiu para cristalizar hábitos funcionais e o não desenvolvimento de um “método de estudo” próprio e autônomo.

Trindade (2008) esclarece que pouco se sabe sobre como o adulto aprende, como se dá sua “autoaprendizagem” e como estuda. As teorias psicológicas da aprendizagem que influenciam teorias e práticas pedagógicas têm estudado na maioria das vezes as crianças.

A experiência adquirida no campo da educação de adultos revelou que os métodos pedagógicos e didáticos para crianças e jovens não se mostraram adequados para adultos: a razão disto é que o Modelo Pedagógico é essencialmente heteronômico, dado que a relação educativa é estabelecida por um controle externo agindo sobre o sujeito, enquanto o modelo andragógico é sobretudo “autonômico” e autodirigido (TRINDADE, 1992 apud BELLONI, 1999, p. 31).

Freire (1987;2010)foi um dos pioneiros que se debruçou sobre a educação do estudante adulto, desenvolvendo teoria e proposta pedagógica. Os professores espanhóis Antônio Corral Íñigo e J. L. Harcía Llamas, do Departamento de Psicologia da Universidad Nacional de Educación a Distancia (UNED), da Espanha, e o francês Gerard Malglaive vêm realizando também estudos neste campo.

Os últimos estudos de Piaget (1999) apud García (2002), identificam e contribuem ao trazem contribuição no que diz respeito a métodos para formação de adultos. No entanto, expõem que há necessidade de desenvolver instrumentos voltados para o adulto, de “modelos andragógicos”, com modelos ativos e baseados no princípio da autonomia, numa tentativa em transpor modelos behavioristas e instrucionais burocráticos industriais voltados ao utilitarismo racional.

A outra contribuição na discussão em relação ao conceito da “distância”, coloca em foco, como fizera Peters (2004), os aspectos psicológicos e pedagógicos, ao invés dos elementos físicos e geográficos, percebendo-se que a distância física deveria ser percebida não como obstáculo, mas como um ambiente a ser explorado e desvendado.

Já Moore (1993, p. 22-38) cunharia a Teoria da Distância Transacional, utilizando esse conceito para representar a dinâmica existente entre a estrutura da administração da educação dos cursos em EAD, o diálogo (professor-tutor-aluno), os instrumentos e ferramentas midiáticas de interação e a autonomia do indivíduo no processo de interação a distância:

A extensão do diálogo e a flexibilidade da estrutura variam de programa para programa. É essa variação que dá a um programa maior ou menor distância transacional [...] Em programas mais distantes, onde menos ou pouco diálogo é possível ou permitido, os materiais didáticos são fortemente estruturados de modo a fornecer toda a orientação para o viés ou propósito do curso [...] Por conseguinte, em programas muito distantes, os alunos precisam se responsabilizar por julgar e tomar decisões acerca das estratégias de estudo (MOORE, 1993, p. 25).

Então, Moore (1993, p. 23) esclarece que, quanto maior for essa Distância Transacional, mais o aluno exercerá esta autonomia. O autor ainda identifica que há uma correlação entre a “Distância Transacional”, as estruturas dos modelos em EAD e a autonomia deseja ao aluno, ou seja, quanto mais instrumental, estruturado e burocrático, maior a Distância Transacional, menos ou nenhum diálogo.

Segundo essa teoria, admite-se que há uma relação entre a natureza das interações, instrumentos midiáticos e a estrutura política, cultural e burocrática organizacional na administração da educação em EAD, como se uma determinasse a outra. Essa relação é representada no Quadro 2 e na suposta dicotomia das dimensões citadas por Sander (1982).