• Nenhum resultado encontrado

2 SUPORTE TEÓRICO – CONCEITUAL DE REFERÊNCIA

2.1 Teoria da estruturação

A teoria da estruturação preocupa-se em captar os traços principais da ação humana e dos padrões institucionais a partir das observações das interações pessoais nos contextos sociais da vida cotidiana. Através da observação empírica, ou seja, da prática concreta de interação dos indivíduos, realizada em determinados contextos e, através das generalizações de formas de condutas, historicamente demarcadas, Giddnes (1989), por meio desta teoria,procura ancorar conceitos que fundamentam a análise dos processos de integração social e reprodução social das sociedades.

Para Giddnes (1984), “a produção da sociedade é um desempenho qualificado, sustentado e ”feito acontecer” pelos seres humanos (...) as práticas sociais podem ser entendidas por procedimentos, métodos ou técnicas hábeis executados apropriadamente pelos agentes sociais”(In:Cohen,1999 p.408/412). Ao tratar, em sua teoria da estruturação, dos tipos de circunstâncias que tendem a influenciar os fatores relacionados com os meios de disseminação do conhecimento disponível, Giddens (1989, p.74), esclarece que as relações

históricas e espaciais, existentes entre a cultura oral e os veículos da comunicação escrita, impressa e eletrônica, influenciam tanto os estoques de conhecimento disponíveis, como os tipos de conhecimento produzidos nas práticas rotinizadas no âmbito das localidades: cenários sociais usados pelos atores nos cursos das rotinas sociais.

A teoria da estruturação procura apreender a padronização das relações sociais nas coletividades constituída por práticas reproduzidas no tempo e no espaço, a partir dos conceitos de estrutura, sistema e dualidade da estrutura:

“A estrutura, para esse autor, pode ser vista como regras e recursos recursivamente implicados na reprodução de sistemas sociais. Para ele, a estrutura existe somente como traço de memória, a base orgânica da cognicitividade13 humana, e como exemplificada na ação;

O sistema é considerado a padronização das relações sociais ao longo do tempo-espaço, entendidas como práticas reproduzidas. 14

A dualidade da Estrutura como o meio é o resultado da conduta que ela recursivamente organiza; as propriedades estruturais de sistemas sociais não existem fora da ação, mas estão cronicamente envolvidas em sua produção e reprodução” Giddnes (1989).

Segundo o autor, as estruturas são o conjunto de regras que ajudam a constituir e regular as atividades (do conhecimento, inclusive), definindo-as como, até certo ponto, sujeitas a uma determinada gama de sanções. A

13 O conceito de cognicitividade se refere a tudo que os atores sabem (crêem) a cerca das circunstâncias de suas ações e das dos outros, apoiados na produção e reprodução dessa ação, incluindo tanto o conhecimento tático quanto o discursivamente disponível (Giddnes 1989,p.300).

14 Os sistemas sociais devem ser considerados amplamente variáveis em termos do grau de sistemidade que apresentam.

interdependência da ação e da estrutura que se estabelece no tempo e no espaço é, em essência, definida tanto pelas regras quanto pelos recursos que, na produção e na reprodução da ação social, são também os meios de reprodução do sistema que o autor define como dualidade de estrutura.

a) Dualidade da estrutura

No estudo de Giddens (1989), a noção de dualidade vai além das noções de dualismo contidas nas dicotomias tradicionais: sujeito/objeto, dedução/indução, micro/macro, individual/holístico, ideal/real, que amordaçam as possibilidades de uma análise mais aprofundada da realidade. Segundo o autor, as existências sociais e individuais são reconstruídas na esfera da interação diária. Sob esse prisma, os pressupostos contidos nos elementos constitutivos da noção de dualidade da estrutura evidenciam que as propriedades estruturais de sistemas sociais são, ao mesmo tempo, meio e fim das práticas que elas recursivamente organizam.

Propriedade estrutural é por Giddens (1989) conceituada como as características institucionalizadas dos sistemas sociais, estendendo-se ao longo do tempo e do espaço.

Neste caso, a estrutura pode ser vista, simultaneamente, como um fluxo de ação continuada e um conjunto de tradições institucionalizadas ou formas que refletem ou restringem esta ação. A ação humana ocorre como um fluxo ininterrupto, que o autor chama de durée. A ação humana ocorre como uma durée, um fluxo contínuo de conduta, à semelhança da cognição (Giddens, in

Rodrigues Filho; Silva, 2000). A figura 1 apresenta o modelo da estruturação de Giddens.

Nessa perspectiva, as regras são técnicas, normas e procedimentos generalizáveis, aplicados no desempenho de práticas sociais. Os recursos são veículos através dos quais o poder é exercido como um elemento rotineiro da exemplificação da conduta na reprodução social.

Figura 1 - Dimensões da dualidade da estrutura

Fonte: Giddens, Anthony. A constituição da sociedade. Edt. Martins Fontes, São Paulo, 1989, p.23.

Segundo o autor, a estrutura pode ser abstratamente conceituada como dois tipos de regras:

1. elemento normativo: as regras são consideradas convenções sociais que guiam a ação com o sancionamento dos modos de conduta sociais;

significação

dominação

legitimação

Esquema

interpretativo

facilidades

norma

comunicação

Poder

sanção

estrutura

(modalidade)

2. códigos de significação: as regras se relacionam com a constituição de significados.

Em seguida, apresenta dois tipos de recursos:

1. recursos alocativos: características materiais do meio ambiente (matérias-primas, fontes de poder material); meios de produção/reprodução material (instrumentos de produção, tecnologia) e bens produzidos;

2. recursos impositivos: organização do tempo/espaço social (constituição temporal/espacial de caminhos e regiões); produção /reprodução do corpo (organização e relação de seres humanos em associações mútuas); organização de oportunidades de vida (constituição de oportunidade de autodesenvolvimento e de auto- expressão) (Giddens, 1989).

Diante dos argumentos expostos, infere-se que qualquer coordenação de sistemas sociais no tempo e no espaço envolve uma combinação definida desses dois tipos de recursos. Contudo, não se pode deixar de considerar a importância do próprio meio social, bem como do impacto das invenções tecnológicas na produção/reprodução, retenção, controle e disseminação da informação e do conhecimento, através dos quais as relações sociais são perpetuadas no tempo e no espaço.

As principais dimensões da dualidade da estrutura em interação são:

estrutura de significado – os atores modelam os esquemas interpretativos que influenciam a ação comunicativa e, ao fazer isto,

reproduzem a estrutura de significação Brooks, 2000 (In: Silva, K. O. A., 2001);

estrutura de dominação – através da qual a ação de poder se efetua por meio da utilização de recursos e facilidades e se cristaliza nos processos sociais;

estrutura de legitimação – em que através das normas – convenções ou regras –, tanto são habilitadas quanto limitadas às ações de sanções.

b) Dualidade da tecnologia

A tecnologia, em sua dimensão objetiva, é fisicamente criada e modificada pela ação humana que a concebe com a perspectiva de aplicá-la, de forma produtiva e reproduzível, na sociedade (figura 2).

Figura 2 - Dualidade da tecnologia

Fonte: Silva, K. O. A. da. Análise da implementação da Intranet no Serpro através da Teoria da Estruturação. Dissertação de mestrado, UFPE, Recife, 2001, p. 48.

Tecnologia

Ação

Habilita

Na sua dimensão subjetiva, a tecnologia é socialmente construída pelos agentes sociais através das mensagens imbuídas dos significados, atribuídos a cada tecnologia específica. Como mostra Rodrigues Filho; Silva (2000), uma vez construída, a tecnologia tende a se tornar reificada e perde a sua conexão com os atores que a construíram e atribuíram-lhe significados.

A tecnologia também desempenha importantes papéis: o de mediar a comunicação simbólica entre os atores sociais – organização e agentes, como, e principalmente, o de intervir no sentido de modificar a estrutura.

Assim, através da apreensão das conexões relacionadas com a contextualidade da interação social, a presente investigação centraliza sua atenção sobre os pontos de interseção dos dois níveis da ordem social: estrutura e ação humana.

Tais pressupostos conduzem a presente investigação ao estudo das interseções de práticas rotinizadas que constituem os pontos de transformações nas relações estruturais das sociedades globalizadas, como pode ser apreendido nos itens que se seguem.