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Teoria da Variação e Mudança Linguística

1 REVISÃO DE LITERATURA

2. MODELOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS

2.2 Teoria da Variação e Mudança Linguística

Adotamos em nossa investigação também o modelo teórico-metodológico da Teoria da Variação e Mudança Linguística (LABOV, 2008). Para a Teoria da Variação e Mudança Linguística, são de grande importância tanto a análise de fatores estruturais

que podem influenciar o processo de mudança quanto a análise de fatores não estruturais, como o grupo social, a etnia, a idade e o gênero/sexo dos informantes, dentre outros. De acordo com Labov (2008):

A contribuição de forças internas, estruturais, para a efetiva difusão das mudanças linguísticas, tal como esboçada por Martinet (1955), deve ser naturalmente o foco de atenção de qualquer linguista que esteja investigando esses processos de propagação e regularização. No entanto, uma abordagem que considera apenas as pressões estruturais dificilmente pode contar a história toda. Nem todas as mudanças são altamente estruturadas, e nenhuma mudança acontece num vácuo social. Até mesmo a mudança em cadeia mais sistemática ocorre num tempo e num lugar específicos, o que exige uma explicação (LABOV, 2008, p. 20).

A compreensão da mudança linguística, portanto, só pode ser eficaz a partir da compreensão do processo social em que a comunicação está inserida. De acordo com Labov (2008):

[...] não se pode entender o desenvolvimento de uma mudança linguística sem levar em conta a vida social da comunidade em que ela ocorre. Ou dizendo de outro modo, as pressões sociais estão operando continuamente sobre a língua, não de algum ponto remoto no passado, mas como uma força social imanente agindo no presente vivo (LABOV, 2008, p. 21).

Interessa-nos investigar se há indício de progressão do alçamento em alguma das comunidades de fala Para isto utilizamos a pesquisa em tempo aparente. Na pesquisa em tempo aparente, verifica-se o progresso de determinada variante, observando-se o seu comportamento pelos grupos de faixas etárias diferentes. Esse tipo de análise tem a vantagem de apontar dados do avanço ou não de uma mudança linguística, sem que se precise fazer um estudo em tempo real. De acordo com Labov (2008):

Os dados mais simples para se estabelecer a existência de uma mudança linguística são um conjunto de observações de duas gerações sucessivas de falantes – gerações de características sociais comparáveis que representam estágios na evolução da mesma comunidade de fala (LABOV, 2008, p. 194).

a relação de estabilidade das variantes (a situação de contemporização) avultará, se entre a regra variável e a faixa etária dos informantes não houver qualquer tipo de correlação. Se, por outro lado, o uso da variante mais inovadora for mais frequente entre os jovens, decrescendo em relação à idade dos outros informantes, você terá presenciado uma situação de mudança em progresso (TARALLO, 2001, p. 65).

De acordo com Zágari (2013):

O estudo em tempo aparente implica revisar as diferenças entre a fala de pessoas de idades diferentes. As discrepâncias existentes na fala dos que têm mais de quarenta anos e os que têm vinte se atribuem ao progresso de uma inovação linguística nos vinte anos que separam ambos os grupos.

A grande vantagem da pesquisa em tempo aparente é que, ao ser a mesma pessoa o investigador de ambos os grupos em comparação, parte-se da mesma metodologia, transcrição, entrevista, análise e o investigador pode retornar para obter mais se necessitar preencher lacunas (ZÁGARI, 2013, p.58 - 59).

A explicação está no comportamento diferenciado de velhos e de jovens. Segundo Labov (2008), “há motivos para supor que falantes mais velhos têm menos capacidade de mudar, e que só os mais jovens, recém-saídos da pré-adolescência, conseguem fazer mudanças radicais em seu padrão graças à atenção consciente”

(LABOV, 2008, p. 133)

.

O progresso de determinada variante é, portanto, indicado pela sua utilização pelo grupo mais jovem. Para tanto, devem ser analisadas as realizações dos informantes jovens em relação às realizações dos informantes adultos. Se os percentuais forem semelhantes, a mudança está estabilizada. Caso os informantes mais novos estejam realizando mais uma determinada variante do que os informantes mais velhos, essa variante encontra-se em progresso.

Pretendemos verificar também como homens e mulheres residentes em Divinópolis e em Grão-Mogol se comportam diante do alçamento vocálico. Essa é outra vantagem da Teoria da Variação e Mudança Linguística. Ela possibilita avaliarmos o comportamento de informantes de gêneros/sexos diferentes. Segundo Labov (2008), “[...] a diferenciação sexual da fala frequentemente desempenha um papel importante no mecanismo de evolução linguística”. (LABOV, 2008, p. 348).

As mulheres são atentas às mudanças linguísticas. Por isso, “[..] o ritmo do progresso e a direção da mudança linguística devem muito à especial sensibilidade das mulheres a todo o processo” (LABOV, 2008, p, 347).

As mulheres também tendem a utilizar formas mais prestigiadas. Conforme Labov (2008), “na fala monitorada, as mulheres tendem a usar menos as formas estigmatizadas e são mais atentas do que os homens ao padrão de prestígio” (LABOV, 2008, p. 281). Segundo Paiva (2004), homens e mulheres podem assumir posturas diferentes diante de variantes linguísticas estigmatizadas:

No estudo da correlação entre gênero/sexo e mudança linguística, um aspecto a considerar é o valor social da variante inovadora. Um processo de mudança pode ser a instalação de uma forma prestigiada socialmente ou de uma forma estigmatizada, que infringe padrões linguísticos vigentes. A distinção entre esses dois tipos de mudança permite definir com maior clareza o papel da variável gênero/sexo nos processos de mudança. Quando se trata de implementar na língua uma forma socialmente prestigiada, [...] as mulheres tendem a assumir a liderança da mudança. Ao contrário, quando se trata de implementar uma forma socialmente desprestigiada, as mulheres assumem uma atitude conservadora e os homens tomam a liderança do processo (PAIVA, 2004, p. 36)

Outro aspecto importante diz respeito ao fato de a Teoria da Variação e Mudança Linguística não se chocar com os pressupostos da Teoria dos Sistemas Complexos. Como lembra Oliveira (2015):

Devo esclarecer que não estou dizendo que as características sociais do falante não devam ser levadas em conta. Fazer isso é importante e inevitável, mas fazer só isso ainda é deixar o falante de fora da

análise, na medida em que vamos levar em conta apenas suas dimensões temporais, espaciais e sociais (OLIVEIRA, 2015, p. 53) No próximo capítulo, apresentamos nossas hipóteses, objetivos, os métodos e as técnicas de pesquisa.

3. HIPÓTESES DO TRABALHO, OBJETIVOS, MÉTODOS E TÉCNICAS DE

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