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3.1 Criminologia e Economia do Crime

3.1.2 Teorias Econômicas aplicáveis ao estudo do crime

3.1.2.1 Teoria das atividades rotineiras ou do Estilo de vida

A teoria da atividade de rotina foi desenvolvida pelos pesquisadores americanos Lawrence Cohen e Marcus Felson, a partir de estudo a respeito da criminalidade nos Estados Unidos, nas décadas de setenta e oitenta do século XX, que crescia paralelamente à economia e ao bem estar da população daquele período. Ora, se havia diminuição do desemprego e pobreza, por que o os crimes, principalmente patrimoniais, continuavam a aumentar? (GUIMARÃES, 2014).

Explica Dassan et al. (2018) que Cohen e Felson perceberam que a resposta não estava atrelada ao aumento do número de delinquentes ou ainda ao maior rigor nas instâncias formais de controle, mas na mudança de hábitos da população norte-americana, verificada após a segunda guerra mundial, que criou mais oportunidades de crime. As novas rotinas da vida moderna, advinda das alterações nas estruturas familiares, o surgimento de moradias unipessoais, a entrada da mulher no mercado de trabalho, os afastamentos mais duradouros e constantes das pessoas de seus lares, um contato maior com terceiros em locais públicos e desenvolvimento de bens de consumo portáteis, tornaram as pessoas mais vulneráveis, influenciando o aumento da criminalidade. Além disso, como a maior fiscalização e vigilância nos

ambientes comerciais, houve um maior aumento no número de crimes patrimoniais contra transeuntes e em residências.

Desse modo, as razões de aumento da criminalidade não se originam em questões demográficas ou nas taxas de pobreza ou desemprego, mas no aumento das oportunidades criadas com a mudança na rotina das pessoas (NEWBURN, 2007, p. 207).

Segundo Cohen e Felson, o crime não é um comportamento extraordinário, mas um evento normal, que pode ser esperado dentro das oportunidades e condições apropriadas, quais sejam um ofensor motivado, um alvo em potencial e a ausência de guardiões capaz de prevenir a violação. Molina e Gomes (1997) preconizam, sobre o entendimento dos autores, que “o crime é uma opção reflexiva, calculada, oportunista, que pondera custos, riscos e benefícios em função sempre de uma oportunidade ou situação concreta” (MOLINA; GOMES, 1997, p. 416).

Dessa maneira, compreende-se que o delinquente visualiza a janela para o cometimento do crime quando percebe a atuação facilitadora da vítima conjugada com as condições para fazê-lo. Por isso, estipula-se que a atuação criminosa não depende necessariamente das condições sociais ou econômicas do delinquente.

Noutro prisma, por essa corrente de pensamento, indica-se que o fator determinante para a ocorrência do delito não é a presença de um criminoso motivado, mas tão somente da oportunidade para o cometimento do delito.

Molina (2016, p. 426) acautela que:

As estratégias convencionais de prevenção devem ser complementadas com outras, rotineiras, quase domésticas, associadas ao estilo de vida, hábitos, costumes e atividades rotineiras do indivíduo e das organizações. Sendo o risco de vitimização um risco diferencial, seletivo, não resta dúvida que uma elementar atitude de cuidado e vigilância, de responsabilidade e cautela, por parte da vítima potencial em determinadas situações mitigará sensivelmente aquele com êxitos preventivos muito relevantes.

Para Cohen e Felson o principal objeto de estudo da teoria das atividades rotineiras são os crimes patrimoniais, classificado pelos autores como “violações predatórias de contato direto”. Na percepção dos autores, na sociedade sempre haverá indivíduos com diferentes graus de motivação e aptos a cometerem crimes, dependendo sempre de uma avaliação racional de riscos e recompensas (TIERNEY, 2009, p. 14).

Os alvos são as pessoas ou objetos que podem ser expostos à prática de um crime, com maior ou menor risco, sendo assim, o potencial agressor teria seu interesse despertado pelo alvo com maior valor, econômico ou simbólico, de fácil portabilidade e facilidade de ocultação e cujo ataque demande o mínimo de dificuldades, como a ausência de travas, grades ou guardiões.

A figura do guardião é representada por alguém, cuja proximidade possa desestimular a prática de um crime, não se tratando exclusivamente de segurança policial. Na verdade, para a teoria da atividade rotineira o controle social informal, assim considerados os vizinhos, familiares, o próprio dono do objeto acautelado, câmeras de segurança e tudo mais que possa influenciar na fiscalização e na mitigação da ocorrência do delito, ou seja, se o guardião está ausente, é fraco ou corrupto, pouca proteção fornecerá. No entanto, o inverso disto diminui a probabilidade da ocorrência do crime.

Outro elemento que pode influenciar a ocorrência do delito, segundo esta teoria, é a utilização de ferramentas tanto por parte dos delinquentes, como latas de spray, ferramentas de facilitação (alicate, chaves de fenda etc.) armas e carros, quanto por parte da vítima na proteção do bem alvejado utilizando-se dos guardiões, de travas, de grades, etc.

O ofensor motivado, o local oportuno e a vítima alvejada representam-se no triangulo de análise do problema (DASSAN et al., 2008, p.13) por vezes referido como triangulo do crime (Figura 03). Esta dissertação debruça-se sobre o estudo terceiro substrato deste triângulo, qual seja a vítima alvejada. Os elementos explicitados acima, o guardião e as ferramentas, podem potencializar ou diminuir a ocorrência do delito, conforme veremos mais adiante.

Figura 3 – Triângulo do crime.

Fonte: Elaborado pelo pesquisador (2020) a partir de Dassan et al. (2018)

Conforme verificamos na figura ilustrativa, para que ocorra o crime, segundo a teoria em comento, é necessária a confluência de três fatores essencialmente, quais sejam: Ambiente favorável, criminoso motivado e vítima potencial.

Dessa maneira, pode-se observar que as medidas de prevenção, segundo a teoria das atividades rotineiras, perpassam diretamente pelo entendimento de como os criminosos escolhem as vítimas e os elementos que colaboram para que o crime ocorra ou que diminuam a possibilidade de ocorrência do crime dentro do triângulo do crime.