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Capítulo III – ESTUDO EXPERIMENTAL DA CRIATIVIDADE

4.1 Teoria dos 4Ps da Criatividade

Esta teoria foi desenvolvida por James Melvin Rhodes ou simplesmente Mel Rhodes, em 1961, quando esse tentava encontrar uma única definição para criatividade que fosse universalmente aceita, como já referido anteriormente. Em sua vasta pesquisa na literatura da época, ele observou que parecia existir alguma confluência entre todas aquelas definições e que elas não eram mutuamente exclusivas e que, apesar de distintas, elas se sobrepunham e se entrelaçavam por vezes. Quando analisados, os conteúdos das definições formaram quatro vertentes de identidade única, mas que operavam funcionalmente somente através da unidade do conjunto, que ele nomeou de a Pessoa (Person), o Processo (Process), o Produto (Product) e o Ambiente (Press). Esta categorização ficou conhecida como a Teoria dos 4 Ps (pês) da Criatividade e, a partir dela, o que até então se encontrava disperso, passou a ser possível de se enquadrar dentro de um dos 4 Ps, possibilitando o estudo do tema de uma forma mais acessível e organizada (Garcês, 2014; Rhodes, 1961).

Para Rhodes (1961), há um grande valor em se classificar as coisas e os elementos estruturais em qualquer disciplina, pois, na história das ciências, o avanço de cada ramo só se deu de maneira mais rápida a partir da organização e classificação dos dados e fatos. Na atualidade, essa teoria é a mais frequentemente empregada para o estudo da criatividade, sendo parte integrante da base deste trabalho, no qual será atribuída maior ênfase na categoria ‘Pessoa’, pois o que se pretende mensurar diz respeito a relação do indivíduo consigo mesmo.

Seu modelo representa uma das primeiras categorizações deste construto e consiste de um esquema de classificação para melhor compreendê-lo, com todas as quatro vertentes exercendo influência sobre a ocorrência da criatividade, sendo assim, consideradas essenciais para a sua investigação. É importante ressaltar que estes quatro ‘Ps’ não são considerados tipos distintos de criatividade, mas sim como lentes potenciais através das quais os pesquisadores podem projetar, explorar e interpretar as investigações acerca da mesma (Garcês, 2014; Miller, 2009; Rhodes, 1961).

Muito embora os sistemas de categorização pareçam limitadores, eles também são libertadores, no sentido em que tem que haver um começo por algum ponto (Fox, 2012).

A categoria ‘Pessoa’ inclui estudos que representam a natureza das pessoas criativas e referem-se a aspectos concernentes a estas como: traços de personalidade, habilidades cognitivas, afetos, motivação, desenvolvimento, hábitos, atitudes, autoconceito, valores, mecanismos de defesa, comportamento e estilos de aprendizagem e de criatividade (Alencar et al., 2010; Rhodes, 1961). Geralmente é avaliada por meio de medidas de autorrelato, em que o indivíduo relata a presença de atributos de personalidade associados à criatividade ou a participação em comportamentos criativos anteriores (Miller, 2009). Também são usados inventários e checklists de atributos de personalidade, compostos por uma variedade de itens que objetivam identificar a extensão em que o indivíduo apresentaria traços que se associem à criatividade; inventários de atitudes e interesses e ainda inventários de estilos cognitivos que se referem à maneira como o indivíduo que se destaca por sua criatividade gera novas ideias. Na grande maioria das vezes os diferentes itens destes inventários são respondidos em uma escala tipo likert8 de cinco ou mais pontos, que incluem ‘não’, ‘em pequena extensão’, ‘medianamente’, ‘acima da média’ e ‘definitivamente’ ou uma variação equivalente (Alencar et al., 2010). Um estudo mais pormenorizado relacionado à pessoa foi explanado no capítulo Personalidade Criativa deste trabalho.

A categoria ‘Processo’, engloba estudos a respeito de questões relacionadas com as etapas da experiência criativa como estratégias, métodos e técnicas que a pessoa utiliza para gerar e analisar ideias, resolver problemas, tomar decisões e gerenciar seu pensamento durante o processo criativo com a promoção do seu desenvolvimento e de elementos cognitivos como motivação, percepção, aprendizagem, pensamento e comunicação e está muito bem representado nos quatro estágios concebidos por Wallas em 1926 (Alencar et al., 2010; Rhodes, 1961). Rhodes (1961) afirma que o processo criativo pode ser ensinado, tanto em colégios, universidades, escolas militares como em

8 Escala Likert - Escala psicométrica para avaliação das atitudes qualitativas (ex. honestidade, auto-estima etc), que são

quantificadas na medida em que são atribuídos valores numéricos de acordo com o grau de concordância ao item (Howitt & Cramer, 2011 p. 294).

organizações de negócios e indústrias, visando os mais diferentes resultados. Instrumentos destinados a avaliar essa categoria são menos prevalentes, devido à complexidade em se avaliar processos cognitivos internos enquanto eles ocorrem. Entretanto, os processos criativos podem ser inferidos com base em saídas criativas reais em resposta a um determinado estímulo, característica fundamental da grande maioria dos instrumentos que compõem a categoria de ‘testes de pensamento divergente’ (Torrance, 1988; Wechsler, 2006).

A categoria ‘Produto’ engloba estudos que focam no resultado do processo criativo e inclui os critérios para que o artefato, a obra ou a ideia possam ser classificados de criativos, especialmente em relação ao seu grau de originalidade e relevância (Alencar et al., 2010), concretizando-se na forma tangível da ideia o resultado do esforço da pessoa, ou, dizendo de outra forma, é um pensamento que foi comunicado a outros sob a forma de palavras, pintura, barro, metal, pedra, tecido ou outro material (Rhodes, 1961). Segundo este autor, cada produto resultante da mente ou das mãos de um homem apresenta um registro de seu pensamento em algum ponto no tempo. Entretanto, estudos comprovam que as grandes invenções e descobertas nunca ou raríssimas vezes são produtos ou trabalhos de uma mente só, saídas unicamentede da cabeça de gênios esporádicos, nem surgiram no vácuo, e que, na verdade, são respostas às necessidades sociais e de inúmeros outros fatores novos e constantes advindos da evolução cotidiana e que cada grande invenção quando surge ou é um agregado de invenções menores ou o passo final de uma progressão, como também decorrentes do desenvolvimento científico e tecnológico. Sua avaliação pode se concentrar sobre as qualidades dos próprios produtos e com os produtos, sejam estes pré-existentes ou criados em resposta à instrução do experimentador (Miler, 2009). Também pode se dar através do julgamento das propriedades dos produtos, que é uma modalidade que envolve o uso de juízes, estes se utilizam de critérios predeterminados para avaliar o grau de criatividade do produto. Tal modalidade oferece altos índices de fidedignidade entre os julgamentos realizados (Alencar et al., 2010).

A categoria ‘Ambiente (Press) ou contexto’, também referido na literatura como persuasão, engloba os estudos referentes à relação entre os seres humanos e seu meio ambiente (Rhodes, 1961).

A palavra Press vem do latim ‘pressus’ e significa caixa ou recipiente para colocar as coisas. O ambiente é o lugar onde os outros 3 ‘Ps’ convivem, ele exerce uma pressão sobre o indivíduo e esta tanto pode ajudar como dificultar a expressão criativa (Alencar et al., 2010; Fox, 2012). As ideias surgem em resposta à questões de necessidade, sensações e percepções advindas tanto de fontes internas quanto externas, são processadas de maneira multifatorial incluindo as habilidades cognitivas como memorização, recordação e a sintetização destas. Cada uma das ideias que surge reflete a mente que a originou, os elementos da sua cultura, como valores e normas dominantes em uma dada sociedade, além de outros específicos do ambiente mais próximo ao cotidiano do indivíduo, como clima psicológico do local de trabalho, ambiente físico e recursos disponíveis, que podem ser humanos, financeiros ou mesmo de tempo, necessários para o desenvolvimento e implementação de novas ideias, porque cada um percebe o seu ambiente de forma particular e única (Alencar et al., 2010; Rhodes, 1961).

Sua avaliação geralmente toma a forma de autorrelato ou checklist de observação centrada em diferentes aspectos do ambiente, como também da reação do indivíduo a estes aspectos. A partir da obtenção das medidas, procede-se a correlação entre elas para que sejam mostradas as congruências e dissonâncias existentes entre o indivíduo e seu ambiente (Alencar et al., 2010; Garcês, 2014; Miller, 2009; Rhodes, 1961). A confiabilidade, validade e praticidade dessas avaliações da criatividade variam de acordo com o instrumento utilizado específico à categoria. Escalas de autorrelato ou

checklists de observação são os mais eficientes e fáceis de administrar, entretanto, apresentam

algumas limitações, podendo ser aplicados em conjunto com outros instrumentos que preencham essas limitações (Miller, 2009).