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2.3 A INTERAÇÃO HUMANO-COMPUTADOR FUNDAMENTADA NA

2.3.2 Teoria da Engenharia Semiótica

Segundo De Souza (2005), nas últimas décadas, surgiram uma variedade de resultados de pesquisas na área de IHC produzidos a partir de métodos empíricos e esses resultados trouxeram um conjunto de regras e diretrizes para o desenvolvimento de interfaces. No entanto, um dos problemas desse tipo de abordagem é que a interação com sistemas computacionais muda constantemente tornando cada vez mais difícil usar apenas uma ciência aplicada para o desenvolvimento de interfaces em IHC, pois, logo as aplicações ficam obsoletas. Por outro lado, a vantagem de utilizar uma abordagem baseada em uma teoria de IHC, como a Engenharia Semiótica, é que nesta estão envolvidos aspectos epistemológicos, ontológicos e metodológicos articulados em um todo coerente para possibilitar o surgimento de conhecimentos investigativos do objeto de estudo.

A teoria da Engenharia Semiótica, conforme Prates e Barbosa (2007) é uma teoria explicativa da área de IHC, fundamentada na disciplina da Semiótica, que possibilita compreender os fenômenos envolvidos no projeto, uso e avaliação de um sistema interativo.

Esta se concentra no processo de comunicação entre o projetista e o usuário, realizada por meio da interface de um sistema. Como tal, a análise fundamentada na teoria enriquece a compreensão dos avaliadores e projetistas sob um problema que estão tentando identificar e corrigir.

Como o foco da Engenharia Semiótica está na comunicação interpessoal entre o

designer e os usuários, o que o designer transmite não é uma mensagem como a de um

documento multimídia, um livro, ou um filme, mas uma mensagem interativa e dinâmica: um sistema de comunicação (para a interação) e as funcionalidades da aplicação para a resolução de um problema. Visto por esta perspectiva, o design de interfaces envolve não apenas a concepção do modelo de interação, mas a comunicação deste modelo de maneira a revelar para o usuário o espectro de usabilidade da aplicação. O designer passa a ter um papel comunicativo explícito ao se utilizar da interface para dizer algo ao usuário (LEITE; SOUZA, 1999, p. 2)

Este processo de comunicação é realizado em dois níveis: a comunicação direta usuário-sistema e a metacomunicação (comunicação sobre uma comunicação) do projetista para o usuário através da interface do sistema (BARBOSA; SILVA, 2010, p. 77), de acordo com a figura 3.

FIGURA 3 Metacomunicação designer-usuário e comunicação usuário-sistema

Fonte: Baseado em BARBOSA; SILVA, 2010, p. 77.

Assim, a interface é percebida como um artefato de metacomunicação indireto e unidirecional, ou seja, artefato que comunica uma mensagem do designer para os usuários sobre como eles podem e devem usar o sistema. Um artefato de metacomunicação é

aquele cuja comunicação é relativa à própria comunicação, no caso a mensagem do projetista para o usuário é sobre a comunicação do usuário com o sistema. A metacomunicação é indireta porque o usuário deve compreendê-la à medida que interage com a interface do sistema e não com o designer, que é o emissor da mensagem. É unidirecional, pois o usuário, em tempo de interação, não pode dar continuidade àquela comunicação com o projetista, como observam De Souza (2005), Prates e Barbosa (2007). O conteúdo da mensagem de metacomunicação pode ser explicado através da seguinte paráfrase:

Esta é a minha interpretação sobre quem você é, o que eu entendi que você quer ou precisa fazer, de que formas prefere fazê-lo e por quê. Eis, portanto, o sistema que concebi para você, o qual você pode ou deve usar assim, a fim de realizar uma série de objetivos associados com esta (minha) visão. (DE SOUZA, 2005, p. 6) Durante a interação, os usuários decodificam e interpretam a metamensagem do projetista, buscando atribuir sentindo aos significados nela codificados e reagir de forma adequada. Portanto, usuários, sistemas e projetistas são interlocutores de um processo comunicativo que compõem a Interação Humano-Computador.

A Engenharia Semiótica classifica os signos utilizados pelo o projetista para compor a mensagem a ser enviada ao usuário através da interface em três tipos, como explicam De Souza, et al. (2006), De Souza et al. (2010), Barbosa e Silva (2010):

Signos estáticos: são aqueles signos que podem ser interpretados em telas fixas da interface e expressam o estado do sistema. São exemplos de signos estáticos: layout geral, itens do menu, conteúdo expresso na tela, botões da barra de ferramentas e formulários.

Signos dinâmicos: são aqueles signos percebidos quando o usuário interage com o sistema, expressando o comportamento do sistema. Estaticamente não comunicam todo seu significado. São exemplos de signos dinâmicos: apresentação de informações sobre um elemento da interface ao ser sobreposto pelo cursor do mouse, associação causal entre a seleção de um item de menu e a exibição do diálogo, o surgimento de dica para entrada de dados durante o preenchimento de um formulário, ativação e desativação de um comando.

Signos metalinguísticos: principalmente verbais, estes signos explicam ou ilustram outros signos estáticos, dinâmicos e ou mesmo metalinguísticos. São exemplos de signos metalinguísticos: mensagens de ajuda e erro, a documentação online ou offline, como sistema de ajuda, manuais e materiais impressos de divulgação.

A partir da apreciação das características dos signos utilizados pelo projetista e/ou da análise de como a mensagem está sendo recebida e entendida pelo usuário é possível avaliar a qualidade de comunicação entre o usuário-sistema. A Engenharia Semiótica define esta qualidade de uso como comunicabilidade. Segundo Prates, Souza e Barbosa (2000), a comunicabilidade pode ser definida como a propriedade de um sistema transmitir de forma eficaz e eficiente as intenções e os princípios de interação que guiaram o

designer.

Para que o usuário consiga utilizar melhor o sistema computacional, é necessário que o designer remova as barreiras da interface que dificultam o usuário de interagir (acessibilidade), torne o uso fácil (usabilidade) e comunique bem ao usuário (comunicabilidade) as suas concepções e intenções ao projetar um sistema, declaram Barbosa e Silva (2010). Caso contrário, quanto mais ruptura ocorrer na comunicação entre o usuário e o projetista, mais problemas de baixa comunicabilidade haverá na interface.

Atualmente, os dois métodos mais consolidados para se avaliar a comunicabilidade da interface são o Método de Inspeção Semiótica (MIS) e o Método de Avaliação da Comunicabilidade (MAC). Além destes, em 2010 foi proposto um método de avaliação denominado Método de Inspeção Semiótica Intermediado (MISI).