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2.4 TEORIAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS

2.4.5 Teoria da Escola Uppsala

A diferença marcante entre as duas abordagens econômica e comportamental são os alvos de pesquisa; enquanto o econômico busca entender os motivos que levam as empresas a se internacionalizar, a abordagem comportamental tem como objetivo explicar o processo de internacionalização e as forças que atuam no decorrer desse processo.

A abordagem comportamental, também conhecida como abordagem processual ou de internacionalização em estágios surgiu na década de 70, na Universidade de Uppsala, da Suécia. Esta teoria segue a linha de pesquisa em negócios internacionais separada da economia, com

estudos de firmas suecas e manufatureiras realizados por Vahlne e Wiedersheim-Paul (1973), Johanson e Wiedersheim-Paul (1974) e Johanson e Vahlne (1977 - 1990); eles desenvolveram um modelo que mostrava como as empresas escolhiam seus mercados e as formas de inserção nos mercados estrangeiros. (TANURE; DUARTE, 2006, HEMAIS; HILAL, 2002, CANCELLIER; NETO, 2005).

Há duas proposições fundamentais para a teoria Uppsala a primeira se relaciona ao processo de internacionalização das empresas, tendo como base a literatura e os estudos de caso estudados por Johanson e Weidersheim-Paul (1973). A teoria afirma que o modelo de internacionalização apresentado é gradual, ou seja, em pequenos passos. Esse estudo de caso múltiplo com quatro empresas suecas de engenharia, realizado por Johanson e Weidersheim- Paul (1973), apresenta uma sequência para o processo de internacionalização das empresas, o qual é um dos conceitos basilares da teoria de Uppsala e denomina-se cadeia de estabelecimento representado na Figura1.

Figura 1- Padrões de estabelecimento das empresas

Fonte: Johanson e Vahlne (1977, p.25 apud AMATUCCI, 2009).

A escola Uppsala indica que a internacionalização acontece gradualmente ou como consequência de uma série de atividades que uma empresa tem com outros países fora da sua base de origem, a sequência tipo n a s p evidenciada na Figura 1, mostra a mudança de um estado para outro das empresas; em primeiro instante [n] – nem um envolvimento internacional, para depois iniciar sua internacionalização [a] – com uma leve participação

Firma/Padrão Subsidiárias de Venda Subsidiárias de Produção

n s a s n p a p s p Sandvik 2 18 0 2 13 Atlas Copco 3 14 0 3 9 Facit 0 14 0 2 3 Volvo 2 10 0 2 3 Total 7 56 0 9 28

Legenda: n = sem atividades regulares de exportação a = vendas através de

agentes

p = subsidiária de produção s = subsidiária de vendas

internacional através de agentes e geralmente representado por exportação, e com o passar do tempo o envolvimento se torna mais aprofundado [s]- estabelecendo subsidiárias de vendas e [p]- subsidiária de produção em outros países.

A concretização de negócios em mercados externos e/ou desconhecidos gera muita incerteza para as empresas, assim elas buscam pequenos passos para a internacionalização; pois tendem a ter falta de: recursos, experiência e conhecimento. Por isso, a segunda proposição da teoria Uppsala, se propõe compreender e evidenciar a relação entre a ordem cronológica de internacionalização e a distância psíquica12 entre o país de origem e o país hospedeiro. Johanson e Vahlne (1977), explicam que as empresas escolhem inicialmente mercados psiquicamente mais próximos, ou seja, mais familiares ao doméstico como forma de facilitar a inserção no mercado estrangeiro. E na medida em que as empresas fossem adquirindo conhecimento e experiência em operações estrangeiras, elas então buscariam países cujas condições culturais, econômicas etc. são menos semelhantes às de seu país, ou seja, países mais distantes psiquicamente. De acordo com Penrose (1963 apud CANCELLIER; NETO, 2005) é através de um processo evolutivo baseado na cumulatividade do conhecimento e experiência coletiva da empresa que ocorre o crescimento. Assim, a medida que a empresa acumula conhecimento e experiência, os gerentes se sentem dispostos a aumentar o envolvimento nas operações internacionais. As incertezas diminuem devido ao aprofundamento do comprometimento com o exterior (AMATUCCI, 2009; TANURE; DUARTE, 2006).

Segundo Fleury e Fleury (2007), a abordagem comportamental comprova um processo resultante da interação entre conhecimento e comprometimento com o mercado. O acúmulo de experiência internacional permite à empresa assumir níveis crescentes de comprometimento de recursos, levando-a a escolher sequencialmente modos de entrada com maior nível de propriedade e controle. Com um número grande de empresas se comprometendo com mercados externos nos anos 80 e 90, surgiu novas teorias e críticas que buscavam acomodar e complementar a abordagem comportamental. Embora poucos autores desafiavam o Modelo de Uppsala, da internacionalização associada a um processo gradualista, outros acreditavam que o padrão de internacionalização deveria ser o de comprometimento incremental. E esses questionamentos deram origem a importantes desafios a serem enfrentados pelo modelo.

12 Distância psíquica é definida como a soma dos fatores que impedem o fluxo de informações de empresas para

o mercado estrangeiros (diferenças de linguagem, de cultura, de desenvolvimento industrial etc.) (AMATUCCI, 2009).

Hemais e Hilal (2002) apresentam duas críticas ao modelo Uppsala: o não reconhecimento do fato de que há uma possibilidade de uma empresa escolher por não evoluir; e que as empresas podem optar por diferentes estratégias de entrada e expansão internacional, diferentes das expostas no modelo Uppsala. Além disso, Johanson e Vahlne (1990 apud SILVA, 2011) identificam algumas críticas de suas pesquisas. Essas críticas estão apresentadas no Quadro 3.

Quadro 3- Críticas do Modelo Uppsala de acordo com Johanson e Vahlne (1990).

Críticas:

O modelo seria muito determinístico;

O modelo seria relevante apenas em relação aos estágios iniciais da internacionalização, quando a falta de conhecimento de mercado e de recursos ainda seriam fatores limitadores;

Existiria uma generalização dos processos de internacionalização de indústrias e nos mercados faltaria conhecimento;

O mundo tornara-se mais homogêneo, o que levaria novas empresas a desejarem e serem capazes de entrar diretamente em mercados maiores;

O modelo não consideraria as interdependências entre os mercados de diferentes países; O modelo não seria válido para empresas de serviços.

Fonte: Elaborada pela autora, 2015, baseado em Johanson e Vahlne (1990 apud SILVA 2011, p. 6).

De acordo com Silva (2011), as críticas percebidas do Modelo de Uppsala por Johanson e Vahlne (1990) podem ser agrupadas e/ou resumidas em seis grupos principais. Os desafios enfrentados pelo modelo tiveram origem em questionamentos como: necessidade de considerar a distância psíquica em ambos os níveis, nacional e individual, pois os mesmos critérios não se aplicam para todas as empresas; identificar que no processo de internacionalização há um grau de aleatoriedade e descontinuidade que não se enquadra na teoria, e por fim, a teoria falha ao reconhecer a importância do papel desempenhado pelas redes e pelos empreendedores.

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