• Nenhum resultado encontrado

A pesquisa tem como caráter ser qualitativa, pois, caracteriza-se por produzir resultados que não podem ser quantificados, medidos estatisticamente. Trata-se de uma pesquisa sobre movimentos sociais, experiências, comportamento, emoções, fenômenos culturais (STRAUSS; CORBIN, 2008), nesse caso, é interpretativa.

Dentro desse caráter qualitativo, a pesquisa será metodologicamente desenvolvida com a Teoria Fundamentada16.

Nessa metodologia, a pesquisa é sistematicamente desenvolvida entre coleta e análise dos dados, em uma contínua interação entre esses procedimentos. O pressuposto básico na Teoria Fundamentada é que gerar teoria e fazer pesquisa social fazem partes do mesmo processo, assim, uma teoria é inicialmente gerada, a partir de dados ou pressupostos teóricos, e essa pode ser elaborada ou modificada a medida que os dados são coletados e minunciosamente analisados e confrontados com os já existentes.

Segundo Charmaz (2009) e Glaser e Strauss (1967), temos como componentes determinantes de uma Teoria Fundamentada:

O envolvimento simultâneo na coleta e na análise dos dados [...] A construção de códigos e categorias analíticas a partir dos dados e não de hipóteses preconcebidas e logicamente deduzidas [...] A utilização do método comparativo constante, que compreende a elaboração de comparações durante cada etapa da análise [...] O avanço no desenvolvimento da teoria em cada passo da coleta e da análise dos dados [...] A redação de memorandos para elaborar categorias, especificar as suas propriedades, determinar relações entre as categorias e identificar lacunas [...] A amostragem dirigida à construção da teoria, e não visando à representatividade populacional [...] A realização da revisão bibliográfica após o desenvolvimento de uma análise independente (CHARMAZ, 2009, p. 19).

16 O termo Teoria Fundamentada é originada do inglês Grounded Theory. Há alguns debates em relação à tradução, e alguns autores utilizam a tradução Teoria Fundamentada em/nos Dados. Conceitualmente optamos pela utilização de Teoria Fundamentada.

De modo geral, com a Teoria Fundamentada, a medida que o pesquisador vai coletando os dados, ele os trata, codifica, redige memorandos, analisa-os, confronta- os e constrói uma teoria baseada nos dados, em um processo indissociável e contínuo.

Após coletados, os dados passaram pelo processo de transcrição, que consistiu em transpor informações orais em escritas. Ressaltamos que pela estrutura da realização do Grupo Focal, tratamos a voz do grupo como unidade, e não individualmente, seguindo-se assim, também, a análise.

Em seguida, estes dados agora textuais, foram submetidos a um tratamento a partir de uma versão pragmática da Teoria Fundamentada. Isto porque definimos o foco e a intenção, condição indispensável para aprovação ética da proposta da pesquisa (MELIA, 1997). O processo de codificação dos dados é indispensável para o êxito da pesquisa, portanto trata-se da primeira etapa analítica.

De acordo com Charmaz (2009, p. 70) “a codificação é o elo fundamental entre a coleta dos dados e o desenvolvimento de uma teoria emergente para explicar esses dados”. É com a codificação que será definido o que ocorre com os dados e iniciar o debate com os seus significados.

A Codificação dos dados foi feita seguindo os seguintes passos, no Quadro 2:

Quadro 2 - Passos do processo de codificação pela Teoria Fundamentada.

Processo Característica

1. Codificação Inicial

A codificação inicial foi feita de forma rápida e espontânea no sentido de trabalhar o raciocínio e a percepção dos dados. Neste estágio há uma fixação rigorosa nos dados, de modo a observar as ações de cada segmento dos dados, evitando utilizar categorias preexistentes.

Estes códigos são provisórios, comparativos e totalmente fundamentados nos dados, e levará a percepção de áreas que faltam dados indispensáveis. De modo que, em se Continua

percebendo lacunas nas codificações inicias, sejam identificadas para que se possa aprofundar nas próximas coletas.

2. Codificação Focalizada

Nesse passo, os códigos anteriores mais significativos e/ou frequentes foram analisados mais incisiva e completamente. Uma análise mais minuciosa de grandes montantes de dados. “Uma das metas é determinar a adequação daqueles códigos” (CHARMAZ, 2009, p. 87).

3. Codificação Axial

O terceiro processo de codificação foi axial, por ocorrer em torno do eixo de uma categoria, e caracteriza por relacionar as categorias com suas subcategorias, especificar as propriedades e dimensões desta categoria, e também por reagrupar os dados fragmentados durante o processo de codificação inicial, buscando dar coerência à análise emergente.

4. Codificação Seletiva ou Codificação Teórica

Depois de gerar os códigos, estes foram analisados mais focalmente, de forma mais sistemática e associando-os a subcategorias, ou seja, as principais categorias foram finalmente integradas e formaram um esquema teórico, os resultados da pesquisa assumem a forma de teoria. Neste processo, as categorias foram integradas e refinadas. Os códigos teóricos conceituarão “a forma como os códigos substanciais podem ser relacionados uns com os Continuação

outros enquanto hipótese a serem integradas em uma teoria” (GLASER, 1978, p. 72).

Fonte: CHARMAZ, K. A construção da teoria fundamentada: Guia prático para análise qualitativa.

Porto Alegre: Artmed, 2009.

Outro passo importante no tratamento dos dados e do processo de análise é a redação dos memorandos, que caracteriza-se como uma etapa intermediária entre a coleta dos dados e os relatos de pesquisa. Charmaz (2009, p. 106) esclarece que “a redação constitui um método crucial da teoria fundamentada, porque ela o incentiva a analisar os seus dados e códigos no início do processo de pesquisa”.

A redação dos memorandos nos permitiu captar pensamentos, apreensão das conexões e comparações feitas e direções a serem buscadas. Isto porque são escritos sobre os dados e códigos, que ascendem para as categorias teóricas.

Durante todo o processo de transcrição e de codificação dos textos transcritos, utilizamos o software ATLAS.ti v.7.0.92 da empresa ATLAS.ti: Quality Software

Developed. Trata-se de um programa que disponibiliza ferramentas próprias para a

indicação de códigos, categorias, escrever memorandos, e trabalhar de forma mais optimizada as questões inerentes à Teoria Fundamentada. O software não automatizou o processo, mas sim forneceu um suporte informatizado no trabalho com grande quantidade de dados. Nesse software incluiu-se além dos textos obtidos da transcrição, as anotações dos relatores, as anotações do moderador, o áudio das sessões de grupos focais.

Documentos relacionados