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Neste capítulo, apresentaremos em linhas gerais a teoria histórico-interacionista, de Vygostky por meio de suas obras e sua compreensão sobre sentidos e significados. Buscando nessa teoria, implicações para a educação e em especial para esse trabalho.

4.1 Introdução

A escolha dessa teoria para o presente trabalho se justifica, pelo fato de apoiar a construção do conhecimento. Em outras palavras, iniciar os estudos com algo que o aluno conhece, e ir se aprofundando e trabalhando em cima das informações que o mesmo já possui e com isso inserindo novas e auxiliando na formação de conceitos e opiniões, de forma que estejam bem fundamentadas. Ainda se justifica por ela oferecer, um sistema de referência capaz de contribuir para a melhoria do ensino sem impor condições ou a necessidade de recursos inexistentes na maioria das escolas, mas claro não excluindo a possibilidade de usar os mesmos quando disponíveis. As teorias de Vygotsky podem ser aplicadas ao cotidiano da sala de aula tal como ela se apresenta, ou seja, sem a necessidade de investimentos por se tratar de uma mudança na maneira do professor ensinar.

4.2 Sentidos e significados

Em nossa concepção, “O ser humano só adquire cultura, linguagem, desenvolve o raciocínio se estiver inserido no meio com os outros. A criança só vai se desenvolver historicamente se inserida no meio social” (VYGOTSKY, 2003, p.22).

O estudante precisa participar ativamente na construção do seu conhecimento, deixando de ser um ouvinte, que simplesmente aceita o que lhe é dito. Para isso, é necessário propor situações de aprendizagem em que o aprendiz precise utilizar das relações sociais para desenvolver seus conhecimentos.

…. os sistemas simbólicos que se interpõem entre sujeito e objeto de conhecimento têm origem social. Isto é, é a cultura que fornece ao indivíduo os sistemas simbólicos de representação da realidade e, por meio deles, o universo de significações que permite construir uma ordenação, uma interpretação, dos dados do mundo real. Ao longo de seu desenvolvimento o indivíduo internaliza formas culturalmente dadas de comportamento, num processo em que as atividades externas, funções interpessoais, transformam-se em atividades internas, intrapsicológicas. As funções psicológicas superiores, baseadas na operação com sistemas simbólicos, são, pois, construídas de fora para dentro do indivíduo. O processo de internalização é, assim, fundamental no desenvolvimento do funcionamento psicológico humano. (OLIVEIRA, 1992, p. 27)

A teoria pedagógica histórico interacionista defende que a vivência em sociedade é essencial para a transformação da criança. Assim, o conhecimento é construído e concretizado progressivamente. Nesse sentido, o professor torna-se um mediador que proporciona meios para que

o estudante alcance um aprendizado efetivo, construindo junto com este o conhecimento e não dando lhes respostas prontas. Portanto, a mudança da sala de aula tradicional para a proposta feita por Vygotsky envolve uma alteração no papel do professor.

Entretanto, é importante ressaltar que mesmo diante destas mudanças o papel do professor não perde sua importância e nem deixa de ser necessário durante as atividades desenvolvidas, já que é de inteira responsabilidade deste intervir, caso necessário, para que o ensino seja realmente efetivo; se certificar de que o ambiente seja propício ao aprendizado; que a atividade esteja adequada aos alunos e cumpra sua função que é auxiliar no processo de ensino/aprendizagem.

Incentivar a curiosidade e a vontade de aprender são os principais desafios e objetivos de uma escola histórico interacionista. Segundo Vygotsky, a criança aprende identificando-se, imitando, brincando, fazendo analogias, opondo-se, codificando e decodificando símbolos e seus significados, sempre num ambiente social. Em outras palavras, não se nasce com predisposição a uma determinada área de estudo. Na verdade, o aprendizado depende dos estímulos que se recebe. Sendo assim, mesmo o aluno que possui dificuldades na disciplina de Física, poderá ter um melhor desempenho e desenvolver o interesse por ela. Contudo, para que isso aconteça é preciso que o professor estimule a interação social, imprescindível para o desenvolvimento cognitivo. Para isso, é importante estar atento ao que estimula e favorece o aprendizado dos estudantes e levar em consideração que todo aprendizado pode servir de base para outros conteúdos e assuntos.

Para Vygotsky, o significado e o sentido mediam a transformação do pensamento em palavra, sendo estes dois diferentes, porém complementares, e não podem ser compreendidos separadamente. Possuem ainda uma relação de dependência, que impede a existência de um sem o outro, isso ocorre por fazerem parte de um mesmo processo denominado de significação. Significação se refere ao que as coisas querem dizer ou aquilo que alguma coisa significa (ZANELLA, 2003, p. 71).

Para Vygotsky (2001), o significado aparece como sendo o próprio assunto ou conteúdo a que se refere, enquanto o sentido é um resultado do significado, sendo mais amplo do que significado. “é justamente no significado que está o nó daquilo que chamamos de pensamento verbalizado” (VYGOSTKY, 2001 p. 8-9).Para Souza e Andrada (2013) o sentido predomina sobre o significado, já que este representa apena uma das zonas do sentido a mais estável e precisa, enquanto o sentido é construído por indivíduo e evolui. “Os sentidos são construídos por meio de lembranças, vivências, percepções únicas, singulares e que dependem do contexto em que são despertos”. (SOUZA; ANDRADA, 2013, p.359). Nessa definição, uma palavra adquire um determinado sentido dependendo do contexto em que aparece, podendo alterar o seu sentido em outros contextos. O significado, porém, permanece imutável ao longo de todas as alterações do sentido

Para Vygotsky (1993) as ações adquirem múltiplos sentidos, tornam-se práticas significativas e são desenvolvidas através das relações com os outros sujeitos. As inúmeras perspectivas teóricas encontradas nos estudos demonstram a complexidade que os fenômenos em questão ensejam. (PEREIRA; TOLFO, 2016, p.305)

Nessa visão, sentidos podem ser construídos em cima de algo que não se conhece, mas se assimila por meio da interação social. Podemos usar como exemplo, os temas de Física nuclear; esse assunto, apesar do pouco ou nenhum conhecimento adquirido por parte da maioria da população, costuma produzir, reações de medo, susto ou preocupação. Então, mesmo que um adolescente, atualmente ouça sobre isso, estará com um pensamento formado de que isso é prejudicial a ele. Essa reação, exemplifica o sentido mais generalizado que a maioria da população desenvolveu. Porém, o significado da Física nuclear não é esse, mas a falta de conhecimento prévio antes de desenvolverem um sentido, acaba criando um pré conceito que muitos carregam ao longo da vida e acabam disseminando para as gerações futuras.

O professor precisa, então, por meio de mediação, auxiliar o aluno a ligar o sentido que ele desenvolveu aos significados que o assunto, seja ele qual for, realmente possui. Os significados permitem a comunicação e a socialização de nossas experiências, são conteúdos mais fixos, estáveis, compartilhados, apropriados pelos sujeitos, configurados por meio de suas próprias subjetividades. Sendo por meio dos significados que atribui a determinados assuntos que sua opinião sobre eles será moldada.

4.3 Proposta alternativa para as aulas de Física

A teoria de Vygotsky se apresenta como uma alternativa válida para a sala de aula, pois não requer de materiais de apoio específicos aos quais professor não tenha acesso, já que esta trata basicamente de uma mudança na organização da aula, principalmente na postura do docente. O professor que, ao ensinar, o faz de maneira participativa, dialogada, onde os alunos têm liberdade para expor suas ideias, acaba por proporcionar um ambiente favorável a apropriação dos conceitos e fenômenos físicos. Vários outros educadores têm defendido propostas semelhantes:

[….]o educador que se limita a transmitir um programa de ensino ou que procura adaptar a inteligência do educando aos códigos ou modelos pré estabelecidos do saber e não faz de seu ensino um meio de favorecer e desenvolver a reflexão de educando, só é educador por eufemismo. (JAPIASSU; 1983, p. 45)

Enquanto nas salas de aula mais tradicionais e puramente expositivas, em que professor valoriza suas ideias, não permitindo discussões com opiniões diferentes sobre o tema abordado; em uma aula dialogada, durante o processo de aprendizado, opiniões, teorias e hipóteses acerca do fenômeno em questão vão surgindo, assim como ocorreram no desenvolver da ciência e vão sendo

discutidas e até mesmo suprimidas no desenvolver da aula. Mostrando dessa forma o desenvolvimento da ciência como realmente acontece e não como uma verdade imutável, que acaba sendo a sensação obtida pelos alunos na maior parte das aulas atualmente

A presença do debate nas salas de aula é um avanço nas relações sociais, pois permite um confronto entre diferentes opiniões a respeito do objeto de ensino. Essas discussões podem ocorrer entre os alunos e o professor ou entre os próprios alunos, mediados pelo professor. Se a opção for a primeira, é parte da função do professor conduzir a atividade de maneira a manter o foco no assunto discutido, sem desmerecer as opiniões dos alunos, mas questionando as proposições mais duvidosas. Caso o debate ocorra entre aluno e professor, este último continua com a função de não permitir dispersões quanto ao assunto, mas deve se manter neutro, de maneira que os próprios alunos consigam eliminar as teorias mais absurdas.

Nessa visão de ensino, as práticas pedagógicas têm como objetivo, não somente transmitir o conteúdo, mas fazer isso de maneira a ultrapassar o limite da informação e que venha contribuir efetivamente para a formação desses indivíduos.

É essa mudança no conceito de ensinar Física que se faz necessário estabelecer no processo educacional, rompendo com uma visão de ensino que está comprometido com uma formação que vai além da acadêmica, favorecendo também no desenvolvimento como indivíduo inserido em um meio social. É no ensino voltado para a realidade dos alunos que se acredita estar a possibilidade de a Física perder o seu caráter de mero componente curricular, ou seja, desligado da realidade, permeado de problemas fictícios, da qual a maioria dos alunos fugiria se fosse possível.

Levando em consideração esses aspectos, acabamos por concluir que na intenção de construir o conhecimento dos conceitos envolvidos na Física nuclear, são fatores importantes: o conhecimento de como os estudos nessa área da Física se iniciaram, os motivos por trás deles, o que os impulsionou, os diversos cientistas envolvidos, a evolução do próprio conhecimento da Física nuclear e suas aplicações. Esses fatores, contribuem para o desenvolvimento dos significados e sentidos adquiridos durantes as aulas. Por esse motivo, resolvemos adotar na elaboração da sequência didática elaborada para esse trabalho, uma abordagem histórica. Buscamos propiciar aos estudantes uma visão do desenvolvimento dos conhecimentos sobre Física Nuclear, dentro do contexto social e político em que aconteceram e com auxílio do professor possam refletir sobre os resultados desses estudos e aplicações na sociedade atual. Com isso temos a intenção de auxiliar os estudantes na busca do significado da Física Nuclear e no desenvolvimento de novos sentidos para a mesma.