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Segundo Abric (2000) é imprescindível ao presente estudo, a abordagem do Núcleo Centra,l pela sua relevância na construção do referencial teórico por nós adotado porque ela é complementar à teoria das Representações Sociais,

A abordagem do Núcleo Central destaca-se por sua relevante contribuição ao refinamento teórico conceitual do presente estudo, contribuindo a uma abordagem mais heurística, conforme Flament (2001, p. 172).

Ao discorrer sobre sua teoria, Abric (2000), assentou-se nos seguintes termos: uma representação social organiza-se em torno de um núcleo central, constituído de um ou mais elementos que exprimem o sentido predominante, compartilhado pelos sujeitos da investigação.

Para Abric (2000) o núcleo central é a base comum propriamente social e coletiva que define a homogeneidade de um grupo, através dos comportamentos individualizados que podem parecer contraditórios. Seu papel é imprescindível a estabilidade e coerência da representação, assegurando sua manutenção no grupo e perenidade no tempo, evoluindo lentamente em situações específicas. O núcleo central assume duas funções: geradora e organizadora. Através da primeira função se cria ou se transforma o significado dos demais elementos constitutivos da representação, os quais ganham um sentido, um valor (Abric, 2001, p. 163). A segunda função determina a natureza dos vínculos, que unem os elementos da representação entre si, ou seja, função unificadora e estabilizadora (Abric, 2001, p. 163).

Concordamos com Abric (2000, p.27-28) quando ele nos diz que toda realidade

É representada, quer dizer, reapropriada pelo indivíduo ou pelo grupo, reconstruída no seu sistema cognitivo, integrada no seu sistema de valores, dependente de sua história e do contexto social e ideológico que o cerca. [...] a representação não é um simples reflexo da realidade, ela é uma organização significante. [...] uma RS é uma forma global e unitária de um objeto, mas também de um sujeito.

Para Abric (2000), as representações sociais assumem uma configuração composta por dois sistemas – um central e um periférico, cujas características e funções que desempenham se diferem entre si. No núcleo central (NC) podem ser

identificadas as manifestações do pensamento social, necessárias para garantir a identidade e permanência de uma representação social – RS. Estas representações sociais são formadas por certa quantidade de crenças, coletivamente produzidas e historicamente situadas, que nos permite ver e compreender não apenas os modos de vida desse grupo social, bem como seus valores.

Os elementos que compõem o núcleo central são os mais estáveis da Representação Social – RS e os mais resistentes as mudanças. Abric (2000) considera o sistema periférico mais flexível do que o sistema central, sendo a parte mais acessível da Representação Social. O sistema periférico, por seus elementos estarem relacionados ao contexto mais imediato e à história do indivíduo, é constituído por elementos passíveis de mudanças, permitindo a adaptação do indivíduo a mudanças de conjuntura.

Segundo Sá (1996), o papel do sistema periférico é essencial e pode ser resumido em cinco funções: concretização, regulação, prescrição de comportamentos, proteção do núcleo central e personalização. Enquanto Abric (2000, p.32 ) reconhece três funções primordiais no sistema periférico: a função de

concretização, a de regulação e a de defesa.

Para Abric (2000), o núcleo central constitui a base comum e consensual de uma representação social, aquela que resulta da memória coletiva e do sistema de normas ao qual o grupo se refere. Na sua linguagem os elementos do núcleo central constituem prescrições absolutas. Duas representações serão consideradas idênticas se forem organizadas em torno de um núcleo central, mesmo se o conteúdo for extremamente diferente (ABRIC, 2000).

Pela relevância da Teoria do Núcleo Central, fizemos o tratamento dos dados através do software EVOC (2000), construído por Pierre Vergès (1999) que, mediante uma série de passos de classificação e hierarquização das palavras, separa os elementos que compõem o provável núcleo central dos elementos periféricos da representação, definidos a partir da interseção Frequência/Ordem Média das Evocações (F/OME). O software EVOC (2000) apresenta a organização dos elementos por meio de uma figura, que designamos de Tabela, constituído por um diagrama composto por quatro quadrantes a partir de dois eixos: um eixo horizontal, referente à OME, e um eixo vertical, ligado à frequência intermediária das evocações. As tabelas apresentadas neste trabalho descrevem o conteúdo e a estruturação da representação social de trabalho docente dos (as) professores (as)

cursistas do Proinfantil do RN, envolvidos na pesquisa.

Segundo Melo e Carvalho (2012) é no quadrante superior esquerdo, que se encontram as evocações de maior frequência e de menor ordem média, significando que elas foram evocadas mais vezes e nas primeiras posições. A evocação que ocupa esse quadrante ocorreu não apenas por terem uma maior frequência, como também foram evocadas de maneira mais rápida em relação às demais evocações. É nesse quadrante que se encontra o provável núcleo central, cujos elementos não se modificam, a não ser que a representação seja transformada. Já o quadrante inferior direito é oposto ao anterior, porque os valores a ele relativos, contidos nos referidos eixos, invertem-se, constituindo-se em elementos periféricos da representação. As autoras ressaltam que em um plano intermediário, encontram-se os elementos contidos nos dois quadrantes restantes, ou seja, o quadrante superior direito e o quadrante inferior esquerdo, que podem estar mais próximo tanto da esfera central quanto da esfera periférica, também denominada de periferia próxima.

A Teoria do Núcleo Central permite apreendermos quais os elementos que estão ligados a memória coletiva e à história do grupo bem como as experiências individuais. Assim, a Tabela abaixo nos explica as características tanto do núcleo central quanto do periférico (SÁ, 1996, p. 74).

Núcleo Central Sistema Periférico

Ligado à memória coletiva e a história do grupo;

Consensual: define a homogeneidade do grupo;

Estável, coerente e rígido; Resiste à mudança;

Pouco sensível ao contexto imediato;

Gera a significação da representação e determina sua organização

Permite a integração das experiências e das histórias individuais;

Suporta a heterogeneidade do grupo; Flexível, suporta contradições; Transforma-se;

Sensível ao contexto imediato;

Permite a adaptação à realidade concreta e a diferenciação do conteúdo: protege o sistema central

Por adotarmos essa abordagem estrutural de Abric (2000), para chegarmos às representações sociais de trabalho docente, vamos identificar os elementos estruturais de quatro palavras indutoras: dar aula, professor, aluno e educação

infantil.

Assim, para compreender as representações sociais de trabalho docente das professoras cursistas do proinfantil do RN, com seus elementos estruturantes, torna- se necessário observar os movimentos que essas professoras fizeram em uma rede interconexa de relações e de diferentes perspectivas sobre a realidade, modificando

o cenário em que estão inscritas. Ressaltamos que a delimitação de um objeto social, não impede que ampliemos o foco para visualizarmos o panorama que circunda os fenômenos estudados, isso porque o Núcleo Central não é apenas um conjunto de palavras, é o núcleo figurativo: o conhecimento da realidade aglutinado ao redor de um sentido que é preciso captar.

O núcleo central possui duas funções fundamentais: a função geradora –ela é o elemento através do qual se cria, ou se transforma, o significado dos outros elementos constitutivos da representação. É através dele que os outros elementos ganham um sentido, um valor e a função organizadora – é o núcleo central que determina a natureza dos elos, unindo entre si os elementos da representação. Neste sentido, o núcleo é o elemento unificador e estabilizador da representação (ABRIC, 2000).

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