• Nenhum resultado encontrado

TEORIA E PRÁTICA EM HORKHEIMER

No documento ALCEU CORDEIRO FONSECA JUNIOR (páginas 35-38)

CAPÍTULO I - OS PRESSUPOSTOS CONCEITUAIS DA PESQUISA

1.2 TEORIA E PRÁTICA EM HORKHEIMER

1.2 TEORIA E PRÁTICA EM HORKHEIMER

Em Gramsci, a discussão entre teoria e prática aparece agregada ao questionamento crítico ao conceito unidade do marxismo tradicional e de várias Filosofias e o processo de desenvolvimento da Filosofia da práxis como condição única de se compreender esta complexa unidade e as suas contradições dela derivadas. Para Horkheimer, a questão da discussão entre teoria e prática está presente ao se questionar a chamada teoria tradicional da sociedade que segundo Horkheimer, desenvolveu um método de análise de compreensão da realidade a partir do Iluminismo26 e da exclusão das tendências e da história.

26 Desde sempre o iluminismo, no sentido mais abrangente de um pensar que faz progressos, perseguiu o objetivo de livrar os homens do medo e de fazer deles senhores. Mas, completamente iluminada, a terra resplandece sob o signo do infortúnio triunfal. O programa do iluminismo era o de livrar o mundo do feitiço. Sua pretensão, a de dissolver os mitos e anular a imaginação, por meio do saber. Bacon, "o pai da filosofia experimental", já havia coligido as suas ideias diretrizes. Ele desprezava os adeptos da tradição que "acreditam primeiro que outros sabem o que eles próprios não sabem; e, em seguida, que eles próprios sabem o que não sabem. Entretanto, a credulidade, a aversão à dúvida, a precipitação nas

A formulação de teorias em sentido tradicional constitui uma profissão na sociedade dada, delimitada por outras atividades científicas e demais, e não precisa se preocupar em saber nem das tendências nem das metas históricas com as quais essas teorias estão entrelaçadas. (HORKHEIMER, 1983, p.156)

Sem se preocupar com os meios, a teoria tradicional objetiva os fins não se importando com as consequências deste ato. Assim, se todo o conhecimento produzido é historicamente determinado no tempo, portanto, não é possível ignorar essas tendências sob pena, de permanecer na superfície dos fenômenos sem ser capaz, portanto, de conhecer o todo nas relações da realidade social. Na noção tradicional de teoria, o processo histórico é transformado em uma esfera atemporal, de maneira a tentar excluir o interior histórico que lhe é característico.

Em contraposição a teoria tradicional, Horkheimer, funda a teoria crítica inspiradora da posição crítica nos sujeitos, pretende saber sem renunciar da reflexão histórica do conhecimento criado.

A teoria crítica da sociedade, ao contrário, tem como objeto os homens como produtores de todas as suas formas históricas de vida. As situações efetivas, nas quais a ciência se baseia, não é para ela uma coisa dada, cujo único problema estaria na mera constatação e previsão segundo as leis da probabilidade.

O que é dado não depende apenas da natureza, mas também do poder do homem sobre ela. Os objetos e a espécie de outras causas semelhantes impediram que o entendimento humano fizesse um casamento feliz com a natureza das coisas e foram, em vez disso, as alcoviteiras de sua ligação a conceitos fúteis e experimentos não planejados: é fácil imaginar os frutos e a prole de uma união tão gloriosa. A impressora, invenção grosseira; o canhão, que já era prefigurado; a bússola, que até certo ponto já era conhecida anteriormente; que mudanças não produziram essas três — a primeira, no estado da ciência, a outra, no da guerra, a terceira, no das finanças, do comércio e da navegação! E foi só por acaso, repito, que se deu de encontro com essas invenções. Portanto, não há dúvida alguma de que a superioridade do homem reside no saber. Nele estão guardadas muitas coisas, que os reis com todos os seus tesouros não podem comprar, sobre as quais não se impõe o seu mando, das quais seus informantes e alcaguetes não dão notícia alguma, cujas terras de origem não podem ser alcançadas pelos veleiros dos seus navegantes e descobridores. Hoje, não passa de simples opinião nossa a de que dominamos a natureza;

estamos submetidos a seu jugo. Porém, se nos deixássemos guiar por ela na invenção, nós a teríamos, na práxis, a nosso mando". ADORNO e HORKHEIMER. (1986, p. 17)

Sendo a formação continuada dos professores de Filosofia uma forma social histórica que tem entre outros objetivos, o chamado melhoramento profissional para uma certa prática educacional, trata-se antes de qualquer coisa, então, de reconhecer que a formação continuada dos professores visa a atender a determinados negócios de cunho educacional, apresentando assim, estes negócios como uma estrutura intencional política. Desta forma, a organização da formação continuada em função de melhorar tal prática educacional com vistas a um desenvolvimento profissional transformador, apenas estrutura a necessidade em torno de interesses educacionais estranhos a realidade do professor de Filosofia.

Assim, qualquer concepção de análise que não tenha como pressuposto o conjunto histórico destas estruturas políticas de formação continuada, que reconheça ser um local marcado por tensões e contradições e que não seja capaz de discernir o exercício da análise como um dos momentos dessa estrutura política e histórica contraditória estará sendo, como uma concepção de análise parcial e incompleta. Algo que a teoria crítica quer se afastar, em relação a outras ciências especializadas.

Por mais que seja a ação recíproca entre teoria crítica e ciências especializadas, em cujo progresso aquela teoria tem que se orientar constantemente e sobre o qual ela exerce uma influencia liberadora e impulsionadora há setenta anos, a teoria crítica não almeja de forma alguma apenas uma mera ampliação do saber, ela intenciona emancipar o homem de uma situação escravizadora. (HORKHEIMER, 1983, p.156).

Aqui esta a tônica da Teoria Critica a de libertar, emancipar, o homem de qualquer situação opressora. Desta maneira, adotar uma conduta crítica filosófica diante da realidade pode mostrar que a produção das ciências especializadas é parcial, porque, ao ignorar que essa produção, assume uma posição determinada no funcionamento das políticas educacionais de formação continuada, acaba assim, por construir uma imagem mesma que fica no nível da aparência mascarando a opressão, não conseguindo atingir os objetivos que ela própria se colocou como teoria.

A teoria crítica, ao contrário, na formação de suas categorias e em todas as fases de seu desenvolvimento, segue conscientemente o interesse por uma organização racional da

atividade humana: clarificar e legitimar esse interesse é a tarefa que ela confere a si própria. Pois para a teoria crítica não se trata apenas dos fins tais como são apresentados pelas formas de vida vigentes, mas dos homens com todas as suas possibilidades. (HORKHEIMER, 1983, p.156)

Uma teoria tradicional, na perspectiva Horkheimeniana, não conseguiria dar conta de compreender a realidade social em seu todo, pois o modo tradicional, ao tomar os conflitos e tensões como dadas e não como produtos históricos de uma formação social, não é capaz de explicar satisfatoriamente por que elas seriam, afinal, necessárias. A Teoria Crítica, ao contrário, mostra que tais divisões rígidas são características de uma sociedade dividida, ainda não emancipada.

A reflexão entre teoria e prática em Horkheimer, aponta para a superação da teoria tradicional pela Teoria Crítica de modo que somente pela Teoria Crítica é que se pode compreender o significado da realidade social, enquanto teoria e prática, como o resultado da ação humana inserida no contexto de estruturas históricas determinadas, de uma dada forma de organização social. Desse modo, somente a Teoria crítica consegue investigar essas estruturas, de maneira a descobrir quais são as condições históricas em que se dá a ação. Ainda no caminho da reflexão e da ação crítica como possibilidade de se discutir a teoria e prática encontram-se no pensamento de Adorno, condições de se avançar em sua compreensão.

No documento ALCEU CORDEIRO FONSECA JUNIOR (páginas 35-38)

Documentos relacionados