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Revisão Bibliográfica

3. CARACTERISTICAS FUNCIONAIS

4.1. Teorias Musculares

Uma consideração etiopatogenética da má oclusão de CII/2 deverá partir do sintoma mais característico desta má oclusão, a retroinclinação incisiva superior.

Aquando da introdução do seu sistema de classificação da má oclusão, Angle35 considerou a CII/2 como uma anomalia funcional originada por uma pressão excessiva da musculatura oro-facial, a qual provocaria a retroinclinação da coroa dos incisivos centrais superiores. A relação dos tecidos moles periorais, em particular os lábios, com os incisivos maxilares permanentes tem sido implicada por diversos autores como o principal fator etiológico no desenvolvimento da má oclusão de CII/2. Mais especificamente, a retroinclinação incisiva superior resulta de um aumento da pressão labial de repouso como consequência de uma hiperatividade da musculatura labial e/ou uma linha labial alta.

Para Frankel145, o fator etiopatogenético fundamental da má oclusão de CII/2 é a pressão muscular anómala do lábio inferior sobre a coroa do incisivo central superior. Para o autor, a retroinclinação dá origem a que o bordo incisivo superior não chegue a entrar em contacto com o lábio inferior, que em situações normais atua como bloqueador da extrusão incisiva, originando assim uma sobrerupção incisiva e consequente sobremordida vertical aumentada. Desta influência funcional no padrão eruptivo incisivo resultariam as restantes anomalias oclusais, como a mesialização dos segmentos bucais superiores e o apinhamento. Dentro desta linha de pensamento, Posen114, 115, ao verificar uma força muscular aumentada na CII/2, quando comparada com outras más oclusões, em particular com a biprotrusão dentoalveolar, acreditava que esta hiperatividade da musculatura labial e consequente aumento da pressão labial associada a uma linha labial alta explica a retroinclinação incisiva superior. No entanto, encontra-se pouco suporte da literatura relativamente a uma maior atividade da musculatura perioral e nem sempre os estudos eletromiográficos revelam unanimemente uma associação entre a CII/2 e uma hiperatividade da musculatura labial110, 116-

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Consensual é a presença de uma linha labial alta em indivíduos com má oclusão de CII/2 quando comparados com outras más oclusões, confirmada por variadíssimos estudos cefalométricos106-111. Ballard146, Houston147, Mills148, Lapatki e coautores119, van der Linden9 e outros consideram que uma linha labial alta, e a morfologia e a relação labial são os principais fatores etiológicos da má oclusão de CII/2. Dentro desta corrente etiológica van der Linden9 descreve pormenorizadamente o processo de desenvolvimento da má oclusão de CII/2.

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Segundo o autor, a característica mais importante da CII/2 é a posição alta da linha labial no plano mediano (stomio) com os incisivos maxilares. Normalmente, o lábio superior e o inferior entram em contacto a um nível vertical situado 1 a 3 mm superiormente ao bordo dos incisivos superiores; na má oclusão de CII/2, a linha labial está localizada mais apicalmente estando frequentemente ao nível do terço cervical dos incisivos maxilares. Para van der Linden a CII/2 diferencia-se claramente da Classe II Divisão 1 não só na sua aparência mas também no seu desenvolvimento, como consequência da localização da linha labial. Na CII/2 o lábio inferior cobre a superfície vestibular dos incisivos decíduos maxilares, os quais por norma apresentam uma orientação mais vertical do que na Classe II Divisão 1 e do que em pacientes com desenvolvimento normal da dentição. Após a emergência de dois ou mais incisivos maxilares, estes inclinam-se palatinamente sob a influência da posição labial anormal e das forças excessivas do lábio inferior, originando alterações na morfologia da arcada superior e consequentemente na arcada inferior. Segundo van der Linden, na má oclusão de CII/2 é possível distinguir três tipos de retroinclinação incisiva baseados nas condições espaciais da arcada dentária maxilar.

O conceito de que os dentes são guiados para a sua posição final pela musculatura circundante é posto em causa por um estudo dirigido por Milne e Cleall149, o qual revela que os incisivos maxilares seguem o mesmo eixo de erupção antes e depois da sua emergência na cavidade oral e não alteram significativamente a sua orientação eruptiva. Em teoria, se os germens dentários se desenvolvessem com uma inclinação axial mais vertical, os dentes assumiriam uma posição mais vertical após a sua erupção.

Leighton e Adams150, num estudo longitudinal em que foram analisados os registos cefalométricos de 54 más oclusões de CII/2 e comparados com normoclusões e más oclusões de Classe 2 Divisão 1, investigaram o estágio em que se iniciava a retroinclinação dos incisivos centrais superiores. Os resultados mostram existir pouca diferença na orientação dos germens na fase inicial de formação das coroas entre os três grupos estudados. Contudo, a divergência entre amostras inicia-se antes de os incisivos emergirem na boca, momento a partir do qual rapidamente se estabelecem as alterações da inclinação incisiva característica das más oclusões de Classe II Divisão 1 e 2. A observação de que a retroinclinação incisiva superior, na CII/2, se inicia antes da sua erupção põe em questão o eventual papel desempenhado pela morfologia sagital do processo alveolar maxilar como guia eruptivo. Com esse fim, Leighton e Adams avaliaram igualmente, a inclinação sagital da cortical alveolar vestibular, e verificaram

Capítulo II

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que mesmo antes de se iniciar a migração dentária oclusal, a inclinação alveolar nos casos de CII/2 diferia significativamente da dos de Classe II Divisão 1, diferença essa que se mantém ao longo do desenvolvimento subsequente. Os autores põem a hipótese de o processo alveolar estar sujeito ao efeito direto da musculatura envolvente, antes de se iniciar a erupção incisiva superior, e da erupção ser guiada pelo contorno do processo alveolar, pelo menos até à sua emergência na cavidade oral.

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