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A abertura política e cultural da década de 80 favoreceu o acesso a teorias que embasaram as concepções de lazer das décadas seguintes. Entendemos que a partir da apropriação de uma concepção de lazer, surgem propostas de educar para o lazer.

Tais concepções se apoiam em teorias clássicas, como as expostas no estudo de Costa e Souza (2008). As autoras identificaram matrizes que influenciaram as produções brasileiras sobre lazer. Duas delas discutem especificamente a questão do lazer e três abordam o tema de forma não específica. No primeiro caso, discutiram a sociologia empírica do lazer (teoria sociológica da decisão19) do sociólogo francês Joffre Dumazedier. Segundo as autoras, o enfoque do sociólogo francês sobre o lazer esteve centrado nas transformações sociais. Nessa mesma matriz, discutiram a isenção das obrigações do cientista político

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Todas as referências entre parênteses sobre o nome da teoria foi acrescida devido a nossa análise e não do autor supracitado.

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americano Sebastian de Grazia, que concebeu o lazer como sinônimo de ócio e defendeu a conquista da possibilidade de usufruir o lazer não obstante a conquista do tempo livre.

No segundo caso, as autoras supracitadas, expuseram as ideias do sociólogo americano Thorstein Veblen e sua teoria da classe ociosa. O referido estudioso visualizou o lazer unicamente pela afirmação e demonstração de status social. Costa e Souza (2008) apresentaram mais duas matrizes: uma oriunda do conceito de indústria cultural (teoria crítica da sociedade) dos sociólogos alemães Theodor Adorno e Max Horkheimer, que enfatizaram o caráter alienante do lazer; e outra oriunda da busca da excitação, do também alemão Norbert Elias e do inglês Eric Dunning (teoria configuracionista), que apresentou como característica principal do lazer o fato de ele satisfazer emoções, através da experimentação, em público, de emoções que são controladas pelo cotidiano social.

O estudo de Sá (2003), também analisou as teorias que sustentam os estudos do lazer no Brasil, sua análise partiu da crise dos paradigmas das Ciências Sociais. A referida autora classificou os estudos do lazer em abordagem funcionalista (teoria funcionalista), abordagem da linguística/semiótica (teoria semiose ou semiótica) e abordagem do conflito social/contradições (teoria do conflito). Na abordagem funcionalista, o lazer foi visto como um processo cultural inserido no mercado que ajuda a socialização e torna naturais os conflitos. O indivíduo foi considerado como aquele que desfruta, consome o lazer e assim qualifica sua vida. A maioria dos trabalhos20 analisados nesse estudo direcionou-se por essa abordagem.

A abordagem da linguística/semiótica abordou o lazer de forma relativa, sendo entendido como um conjunto de mediações simbólicas da cultura. Por meio da linguagem e narrativa, se expressou e se estruturou nas representações sociais, sob essa ótica, o sujeito não produz seu próprio significado: ele vem de fora.

Na abordagem do conflito, o lazer foi visto como uma categoria lógica, oriunda da realidade social, determinado pelo trabalho e suas relações com os fatores econômicos. O quadro histórico em que se manifestou o lazer foi discutido sobre a ótica dos conflitos das lutas de classe e da lógica do lazer alienante imposta pela

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A referida autora analisou um total de 319 trabalhos dos anos 2000 – 2002 oriundos do Encontro Nacional de Recreação e Lazer, revista Licere, Seminário de Lazer do Centro de Estudo do Lazer e Recreação e dos Ciclos de Debates da Faculdade de Educação Física da Universidade de Campinas.

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classe dominante. Foram reduzidos os números de trabalhos focalizados nessas últimas abordagens.

Polato (2004), ao estudar a apropriação conceitual do lazer, caracterizou os estudos brasileiros em duas abordagens: hegemônicas e contrahegemônicas. A autora entendeu que as concepções de lazer desenvolvidas pelos autores brasileiros21 assim se subdividiam: Bramante encaixou-se no primeiro caso e Marcellino, Brunhs Marcassa, e Mascarenhas no segundo. A mesma autora subclassificou os autores da abordagem contrahegemônica quanto às suas perspectivas de transformações: os dois primeiros acreditam na transformação através do lazer por reformas e os dois últimos, na revolução.

Diante da exposição das abordagens e teorias que norteiam as produções teóricas de lazer no nosso país, restou refletir sobre a predominância de uma sobre a outra ao pensar educação para o lazer na EFE. Após a análise realizada sobre os estudos que abordaram o tema nas últimas décadas, podemos apontar, baseados em Polato (2004), a predominância de uma abordagem hegemônica. Sob o olhar de Costa e Souza (2008), apontamos a forte tendência em apoiar-se nas ideias oriundas da teoria sociológica da decisão e da teoria da isenção das obrigações. Apoiados em Sá (2003) e corroborando com os resultados de sua pesquisa, notamos o domínio da abordagem funcionalista.

Portanto, acreditamos que os estudos brasileiros sobre lazer que trataram do tema “educação para o lazer”, analisados no presente estudo, dividiram-se em duas abordagens: uma sobre a visão funcionalista e outra sobre a visão crítica com tendências reformistas ou revolucionárias. No movimento histórico, ocorreu uma construção de sobreposição de uma sobre a outra. Sob nossa ótica, vivemos um momento de transição em que a segunda reage num movimento de resistência na busca de espaço e reconhecimento pela sociedade como um todo, dentro do movimento de força e antiforça.

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A escolha desses autores brasileiros se deu devido à importância dos estudos deles para o debate teórico e pela contribuição empregada na interpretação teórico-conceitual do lazer.

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