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Teorias sobre Localização em Geografi a Económica

No documento Alemanha:Portugal- (páginas 70-73)

PORTUGAL José Lúcio

2. Teorias sobre Localização em Geografi a Económica

No âmbito do presente trabalho, não deixa de ser curioso que alguns dos mais destacados autores da Geografi a Económica “clássica” sejam precisamente autores alemães, tais como Joahann Heinrich Von Thünen (1783–1850), Alfred Weber (1868–1958, irmão do conhecido sociólogo Max Weber), Walter Christaller (1893–1969) ou August Lösch (1906-1945).

Não obstante, de acordo com António Simões Lopes (2002: 39), foi o trabalho de Richard Cantillon (Essai sur la nature du commerce em général de 1755) o estudo pioneiro que relacionou Espaço e Economia, o qual atribuía às economias de tempo e de transporte uma clara defi nição na organização espacial da sociedade, bem como na interdependência económica, e portanto anterior ainda ao trabalho de François Quesnay (Tableau économique des physiocrates de 1758).

Encontra-se também subjacente ao modelo de Cantillon a importância das economias de aglomeração e até das economias de escala e, algumas décadas antes da obra “clássica” de Walter Christaller (Die zentralen orte in süddeutschland de 1933), já aparece no trabalho de Cantillon a ideia de uma organização espacial assente em aglomerados populacionais hierarquizados através das suas funções e com as respectivas áreas de infl uência.

Outro trabalho pioneiro mencionado por António Simões Lopes (2002: 40), é o de Sir James Stuart (An inquiry into the principles of political economy de 1767) que explica a distribuição espacial da população pela via do emprego, com base na disponibilidade de recursos e a sua localização, o que dá abertura ao surgimento de cidades de diferentes dimensões. Quando a procura externa adiciona à pro- cura interna, outros factores podem infl uenciar na localização dos aglomerados populacionais, como os factores naturais ou de natureza geográfi ca. A obra de Sir James Stuart permite ainda discutir o tamanho dos aglomerados e as vantagens e desvantagens dos centros de grande dimensão, o que pode considerar-se como uma introdução às economias (e deseconomias) de aglomeração.

Deste modo, o conceito de externalidade está directamente vinculado à noção de espaço geográfi co, podendo assumir a forma de externalidades positivas ou externalidades negativas. Quando a externalidade é positiva surge como uma fonte de economia externa, também chamada de efeito de vizinhança (neighbourhood). Quando a externalidade é negativa, torna-se uma fonte de deseconomia externa, normalmente relacionada com aspectos ambientais ou com acessibilidades.

Do mesmo modo que as economias de escala, de natureza interna às empre- sas, as economias externas possibilitam ganhos de produtividade, associados a uma determinada localização, ou seja, menores custos de produção; há ainda a

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vantagem de que a empresa não assume a totalidade dos custos (pode assumir uma parcela) em que o sistema económico incorre para gerar tais economias externas, as externalidades positivas.

Segundo Mário Polèse (1998: 86), as economias de aglomeração podem assumir duas formas principais: economias de localização ou de justaposição e economias de urbanização.

Em qualquer indústria, a natureza das economias de localização dependerá, antes de mais, do nível de desenvolvimento tecnológico, mas também dos fac- tores que possam alterar as vantagens competitivas de diversas localizações.

A diferença entre economias de localização e de urbanização, reside no facto de que as primeiras referem-se aos efeitos sobre uma indústria, enquanto as segundas dizem respeito aos ganhos de produtividade decorrentes da aglomera- ção de indústrias em áreas urbanas. As economias de urbanização correspondem então às externalidades positivas que as indústrias originam, pelo simples facto de se localizarem em uma determinada cidade. Elas são internas à região urbana, mas externas às empresas ou indústrias que delas benefi ciam.

Os ganhos de produtividade decorrentes da produção de bens públicos constituem um elemento fundamental das economias de urbanização.

Alfred Marshall, nome cimeiro da Economia Neoclássica, foi dos primeiros investigadores a descrever e analisar o funcionamento das aglomerações econó- micas através das suas obras Principles of Economics e Industry and Trade de 1890 e 1919, respectivamente. Com base nos centros industriais têxteis de Manchester e Sheffi eld do século XIX, os quais qualifi cou de Distritos Industriais, avançou com a formulação dos conceitos de economias externas, economias de aglomeração e atmosfera industrial.

Marshall argumentou que a concentração industrial e a especialização sectorial induzem à concentração de mão-de-obra qualifi cada, promovendo a circulação de informação e de know-how entre as empresas, produzindo assim vantagens para as mesmas. Nos Distritos Industriais as empresas são parte integrante do território. Esta perspectiva marshalliana expressa a ideia de embeddedness para explicar o seu funcionamento: um enraizamento na matriz sócio-cultural local que constitui a base de princípio e sustentação de economias de aglomeração propiciadoras de vantagens empresariais.

Outro autor pioneiro foi Joahann Heinrich Von Thünen (Der isolierte staat in

beziehung auf landwirtschaft und nationalokonomie de 1826), que desenvolveu

uma série de estudos teóricos sobre a formação e a estruturação do espaço agrícola.

Albert Weber (Uber den standort des industrien de 1909), por sua vez, desta- cou-se na análise da localização das indústrias e defendeu existirem três factores

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determinantes na localização industrial: o custo de transporte, os custos do tra- balho e as vantagens associadas à aglomeração (economias de aglomeração).

O já mencionado Walter Christaller veiculou a ideia de que as actividades económicas e as populações se distribuem no espaço de forma ordenada, dando origem a hierarquias, redes ou sistemas urbanos. Deste modo, uma empresa procura, normalmente, localizar-se no centro geográfi co do seu mercado, dado o princípio da centralidade geográfi ca. Pelo que, empresas que concorram para fornecer a mesma população, ainda que com produtos diferentes, têm interesse em se agrupar, formando um lugar central. Consequentemente, quanto maior for a população a ser abastecida e de mais longe vierem os clientes, maior impor- tância terá o lugar central.

Christaller refere igualmente que quando a produção de produtos e serviços é feita em lugares centrais, a importância relativa destes será proporcional ao valor e à importância dos produtos e serviços ai produzidos ou fornecidos (cf. Alves, 2002: 127-128).

Outro autor “clássico” no estudo da localização das actividades económicas foi August Lösch (“The economics of location” de 1967, edição original em alemão de 1939). A sua teoria dedica especial atenção à defi nição das áreas de mercado, em que o determinante da escolha da localização é a maximização do lucro dos produtores – pelo que neste ponto diverge de Christaller, que considera a minimização dos custos de transporte dos consumidores como determinante –, Lösch considera que existem economias de aglomeração que tendem a agrupar as empresas que produzem bens para diferentes mercados, o mesmo sucedendo com os custos de transporte, por efeito da redução das distâncias a percorrer. Se Lösch privilegiou a análise dos sistemas de produção industrial; Christaller centrou a sua análise nos sistemas de distribuição; não obstante, relativamente ao pro- blema colocado, o ponto de vista de ambos é coincidente (cf. Alves, 2002: 127).

Por sua vez, Walter Isard (Location and space-economy de 1956) teve o mérito de conseguir juntar os contributos da escola alemã com a análise microeconómica da minimização de custos ou da maximização do lucro. Também o seu “discípulo” William Alonso (na sua tese de doutoramento Location and Land Use: toward a

general theory of land rent, realizada em 1960 e publicada em 1964), destacou-se

pela criação de um modelo em que procurava aferir as variações intra-urbanas na ocupação do solo, nomeadamente através da análise da acessibilidade ao centro da cidade para vários tipos de ocupação urbana (habitação, comercial ou industrial).

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Em resumo, a ideia central transversal a todos estes autores é que a localização das actividades económicas está longe de ser casuística, de facto está intimamente ligada às características específi cas de cada território.

3. Caso de Estudo: Aspectos Locativos do Investimento Alemão

No documento Alemanha:Portugal- (páginas 70-73)