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1. TEORIA DA MENTE: DEFINIÇÃO

1.2 TEORIAS SOBRE A TEORIA DA MENTE

Existem diferentes tipos de teorias que tentam explicar a TM. É importante conhecer cada uma delas uma vez que cada uma realiza diferentes predições sobre esta capacidade metacognitiva. Estas teorias indicam a existência de estruturas neuronais específicas que se encontram relacionadas com a TM, e cada evidência empírica é interpretada distintamente, consoante cada uma das teorias. As três teorias dominantes são denominadas de Teoria-teoria (Theory-theory), Teoria Modular (Modularity theory) e Teoria da Simulação (Simulation Theory).

Na verdade, é mais comum dividir-se os principais modelos teóricos em dois: Teoria da Simulação (Simulation Theory) e Teoria-Teoria (Theory-Theory) (Schulkin, 2000; Vogeley et al., 2001).

A Teoria da Simulação pressupõe que a competência de TM é semelhante à tentativa de simular “o que é estar em determinada posição/lugar”, ou seja, assemelha-se à noção introduzida por Moreno de inversão de papéis, no qual se tenta adoptar a perspectiva

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do outro a partir da nossa própria perspectiva. Desta forma, não é necessária uma faculdade de TM, mas apenas a capacidade imaginativa e de analogia, para nos colocarmos no lugar do outro. Esta teoria pressupõe que as competências de TM provêem de actividades de

role-taking (Langdon & Coltheart, 2001). Assim, as interpretações dos sujeitos não são

guiadas por uma teoria que lhes indica como funcionam as mentes alheias, mas por simulações dessa realidade (na perspectiva dos outros). A Teoria de Simulação sugere que os estados mentais dos outros são simulados usando os mesmos mecanismos mentais envolvidos nas experiências mentais dos próprios sujeitos (Williams et al., 2001; Ramnani & Miall, 2004).

A Teoria-teoria é, provavelmente, a mais dominante das três teorias referidas anteriormente. Esta conceptualiza a TM como uma teoria que se desenvolve nas mentes dos outros, consoante a experiência acumulada ao longo do tempo. Assim, a teoria da mente não é considerada uma capacidade inata, mas é baseada num mecanismo inato de formação de uma teoria orientada para a compreensão da mente dos outros (Gopnik, Capps & Meltzoff, 2000). Na Teoria-teoria, a TM não é observada como um módulo cognitivo específico, mas como uma competência cognitiva especializada e dependente da capacidade de realizar inferências, assim como de outros mecanismos mais globais. De acordo com esta teoria, o ser humano tem um acesso privilegiado ao seu próprio estado mental, apenas porque este lhe pertence. A experiência providencia informações que provocam a revisão e o melhoramento da sua teoria (através de testagem de hipóteses), de um modo similar ao postulado por Piaget (a experiência cria desequilíbrio, o qual resulta em assimilação ou, acomodação e posteriormente num nível superior de equilíbrio) (Hala & Carpendale, 1997; Flavell, 1999). A teoria-teoria tem como pressuposto uma série de regras que regulam os comportamentos e que são usadas para construir teorias sobre os estados mentais dos outros (Gallese & Goldman, 1998).

A Teoria Modular afirma que a teoria da mente é uma competência cognitiva distinta e funcionalmente dissociável de outras funções cognitivas. Alguns dos autores que apoiam esta teoria afirmam que o módulo de TM é inato e que segue um curso desenvolvimental que amadurece de modo independente das outras competências cognitivas (Leslie & Roth, 1993; Baron-Cohen, 1995). Ora vejamos, existem evidências de que a TM encontra-se selectivamente perturbada, em relação a outras funções cognitivas, em pessoas com Perturbação do Espectro do Autismo ou com Síndrome de Asperger

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(Baron-Cohen, 1995). Por outro lado, as competências de TM parecem relativamente intactas quando comparadas com as outras funções cognitivas no caso de pessoas com Síndrome de Down (Karmiloff-Smith et al, 1995). Esta dissociação entre esta competência metacognitiva e outras competências cognitivas vem de encontro ao que é postulado pela teoria modular, na qual esta competência é considerada um domínio específico do desenvolvimento humano.

Na perspectiva modular, a TM apresenta uma base inata específica que é activada através da maturidade do sistema neurológico, sendo que esta abordagem modular dos processos cognitivos teve o seu início com Noam Chomsky, o qual defendia uma estrutura mental biologicamente predisposta para a aquisição da linguagem, tendo sido aperfeiçoada por Jerry Fodor na sua Teoria da Modularidade da Mente. Baron-Cohen (1996) postula a existência de quatro módulos cerebrais que interagem entre si no sentido de proporcionar capacidades interaccionais, sendo um destes, o módulo detector de intencionalidade, da direcção do olhar, o mecanismo de atenção partilhada e o módulo de TM. Cada um destes módulos é relativamente independente dos outros, apresentando funções específicas, embora convergindo as suas acções para o processo de leitura mental.

Estas três teorias discordam, sobretudo, no grau no qual a teoria da mente é dependente de outras capacidades cognitivas, embora todas elas postulem a especificidade da TM na compreensão dos estados mentais dos outros.

Existem, todavia investigadores que não reconhecem a existência de uma TM, assumindo estes que as funções executivas são consideradas auto-suficientes para realizar inferências mentais que são naturalmente atribuídas à TM (Hughes et al, 1994).

O desenvolvimento da relação entre as funções executivas e a TM ainda não é claro. Alguns estudos realizados em crianças de cultura ocidental indicam que a performance em tarefas de falsa crença está fortemente relacionada com competências relacionadas com as funções executivas, tais como inibição, resolução de conflitos e memória de trabalho (Hughes, 1998). É possível que as funções executivas sejam necessárias para o desenvolvimento da teoria da mente, já que os estados mentais são entidades abstractas, cuja relação com o mundo não é imediata, sobretudo no caso das falsas crenças. A verdade é que existem fortes evidências de que a maturação cerebral das funções executivas e das funções mentalísticas ocorre no córtex pré-frontal na idade pré- escolar (Posner & Rothbart, 2000).

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Todavia, apesar das várias teorias apresentadas, no presente estudo presumimos que a TM se deve a um processo desenvolvimental, e por esse motivo os mecanismos particulares associados a este não serão alvo do nosso estudo.