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Capítulo I Estado da Arte

1.3. As teorias do stresse

Ao longo deste últimos anos têm surgido várias teorias para explicar o stresse. Realizaremos uma breve abordagem aos mais importantes modelos teóricos, que explicam os efeitos gerais do stresse no indivíduo.

1.3.1. As teorias biológicas do stresse

As teorias biológicas do stresse têm como principal linha orientadora as reações fisiológicas ocorridas num organismo após a exposição a um ou vários elementos stressores.

Teoria do stresse de Cannon e Selye

De entre os muitos modelos teóricos, o que mais se destaca nas teorias biológicas do stresse é a teoria de Cannon e Selye. Efetuaremos, então, uma curta síntese acerca deste modelo.

Cannon (1928, 1935) é o primeiro a demonstrar que as manifestações somáticas que acompanham o comportamento de fuga ou de ataque, face a um perigo, se devem à libertação no sangue de uma hormona, a adrenalina, com origem na glândula supra-renal (Graziani & Swendsen, 2007, p.23). Este autor introduz ainda o termo homeostasia, ao afirmar que quando o stresse atinge um nível muito elevado passa a ser uma ameaça ao organismo. O organismo tende, permanentemente, a manter um equilíbrio constante (homeostasia) e tolera alterações limitadas. Quando as alterações produzidas por agentes internos ou externos são excessivas, elas afetam os mecanismos homeostáticos do organismo que são activados para restabelecer o equilíbrio (Graziani & Swendsen, 2007, p.24). Em 1936, adotando a linha de pensamento de Cannon sobre a importância de um estado homeostático do organismo. Selye foi, assim, considerado o “pai” desta teoria, ao descrever o Síndrome de Adaptação Geral (SAG) (figura 1), dando-lhe continuidade em 1946 e 1950. “Para ele, o stresse seria uma resposta de excitação fisiológica e de atividade hormonal” (Graziani & Swendsen, 2007, p.28).

Para Selye (1956), o processo de stresse divide-se em três fases (Menzani & Bianchi, 2009, p.328):

1ª) Fase de alarme: a pessoa experimenta uma série de sensações que às vezes não identifica como de stresse. Esses sintomas podem ser mãos suadas, taquipneia, taquicardia, acidez estomacal, inapetência e cefaleias e são na fase aguda.

2ª) Fase da resistência: ocorre quando a pessoa se tenta adaptar à situação, isto é, tenta restabelecer um equilíbrio interno. Conforme este equilíbrio é atingido, alguns dos sintomas iniciais desaparecem; porém, essa adaptação utiliza a energia que o organismo necessita para outras funções vitais.

3ª) Fase de exaustão: nesta fase, toda a energia adaptativa da pessoa foi utilizada e os sintomas iniciais reaparecem e outros desenvolvem-se, podendo chegar à morte.

Figura 1 - Síndrome geral de adaptação

Fonte: Selye, 1936, citado por Sacadura-Leite e Uva, 2007, p.25.

Posteriormente Lipp (2000) identificou, após 15 anos de pesquisa, uma quarta fase que se desenvolve entre a fase de resistência e a de exaustão, denominada de quase- exaustão, ocorrendo quando existe, por parte do indivíduo, enfraquecimento e incapacidade de resistir ou adaptar-se ao stressor, originando problemas de saúde, que o incapacitam (Ferreira & Martino, 2006). Este modelo sofreu algumas críticas pelo facto de não fazer referência aos fatores psicológicos na reação ao stresse, e de a resposta stressante não ter um caráter específico (Graziani & Swendsen, 2007).

1.3.2. As teorias cognitivas do stresse

Nas teorias cognitivas do stresse o principal foco de atenção são as dimensões psicológicas e sociais na reação ao stresse. “Embora as teorias cognitivas neste campo sejam muitas, todas elas têm em comum o facto de considerarem a avaliação do papel das interpretações pessoais dos acontecimentos como principal determinante do seu carácter stressante” (Graziani & Swendsen, 2007, p.39).

As teorias cognitivas do stresse englobam:

 a teoria da atribuição de Abramson e colaboradores (1989) e de Alloy e colaboradores (1990);

 a teoria das construções pessoais de Kelly (1955, 1963);  e o modelo cognitivo de Beck (1984).

A teoria de atribuição

A teoria da atribuição defende a existência de uma relação causal entre os acontecimentos negativos e o stresse vivido pelo indivíduo.

Segundo Abramson e colaboradores (1989) e Alloy e colaboradores (1990), a teoria da atribuição sugere, especificamente, a existência de uma relação causal segundo a qual as atribuições, que se seguem a certos acontecimentos, determinam o nível de stresse vivido pelo indivíduo, assim como os afetos negativos (Graziani & Swendsen 2007, p.39).

Graziani e Swendsen (2007) consideram que as formulações de “depressão de desespero” e de “impotência de desespero” contidas na teoria da atribuição, são até à data as perspetivas cognitivas mais importantes em psicopatologia.

Teoria das construções pessoais de Kelly

Para Kelly (1955 e 1963) o indivíduo encontra-se num processo de construção constante, devendo antecipar-se aos acontecimentos, por forma a fazer réplicas, diferindo dos outros pelas suas experiências pessoais, não dependendo diretamente do meio envolvente. De acordo com o autor:

A teoria das construções pessoais é importante para a compreensão da resposta ao stresse, porque ela procura apreender a maneira como o indivíduo constrói o sentido da sua experiência e adapta o seu modo de percepção do mundo, à medida que se realizam as trocas com o meio (Graziani & Swendsen, 2007, p.43).

O Modelo cognitivo de Beck

Beck (1984) segue o modelo interacional de Lazarus (1982) e a abordagem das construções pessoais de Kelly (1955 e 1963). O autor considera que uma transação stressante

é o resultado de um processo ativo, contínuo, que inclui análises, interpretações e sucessivas avaliações da situação externa, dos riscos, dos custos e das vantagens de uma determinada resposta. Os estímulos são nocivos se forem interpretados como tal pelo sujeito. O sujeito é motivado a pôr em prática um ou outro comportamento, em função do tipo de avaliação e da situação dada (Graziani & Swendsen, 2007, p.46).

A interpretação dos estímulos depende da personalidade individual do sujeito e das suas vivências, influenciando os seus comportamentos.

1.3.3. As teorias transacionais do stresse

O modelo transacional do stresse de Lazarus e Folkman (1987) é o modelo mais importante nesta área e considera o indivíduo o centro das várias dimensões.

As teorias transaccionais do stresse representam uma terceira categoria que amplia o estudo do stresse para além das dimensões biológicas, psicológicas e sociais. Esta perspetiva encara o indivíduo como um jogador ativo na interação entre estas dimensões, através das suas próprias escolhas, emoções e comportamentos (Graziani & Swendsen, 2007, p.11).

Modelo transacional do stresse de Lazarus e Folkman

De acordo com Martins (s/d.) a teoria transacional de stresse, proposta por Lazarus e colaboradores (Folkman & Lazarus, 1986, 1988,1991; Lazarus, 1993), realça a interdependência entre as cognições, as emoções e os comportamentos. Segundo o autor esta teoria transmite uma perspetiva na qual se destacam dois tipos de processos, a avaliação e o coping, os quais se referem à relação que se estabelece entre o indivíduo e o seu meio ambiente.

coping ou organização de estratégias para enfrentar a situação stressante (Graziani & Swendsen, 2007).

As estratégias utilizadas pelo indivíduo (processo de coping) traduzem-se no que a pessoa pensa (e faz) em presença de um stressor. De acordo com Serra (1999 e 2005), tais estratégias estão centradas na resolução do problema (estratégias teoricamente ideais), na emoção (tentativa de controlo das emoções negativas) ou na interação social (procura de ajuda). Na maioria das situações as pessoas utilizam uma mistura de estratégias, apesar de certas situações terem tendência para estar relacionadas com certos tipos de estratégias (Sacadura-Leite & Uva, 2007, p.30) (figura 2).

Na perspetiva transaccional, um acontecimento torna-se stressante quando o indivíduo não tem capacidade de resposta perante estímulos externos, o que faz com que sinta o seu bem-estar integral ameaçado (Graziani & Swendsen, 2007).

Figura 2 - Círculo dos processos implicados na transação stressante segundo Lazarus e Folkman (1984)

Fonte: Graziani e Swendsen, 2007, p.57

O elemento coping será abordado novamente neste trabalho, visto tratar-se de uma estratégia de adaptação para ajudar a resolver os graves problemas que advêm do stresse.

Avaliação Coping Solução Emoções resultantes

Acontecimento Ameaça Desafio Perda Positivo ou sem importância Coping centrado no problema Coping centrado na emoção Solução favorável Solução desfavorável Sem solução Emoção positiva Sofrimento

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