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Terceira etapa de pesquisa: Entrevista

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL (páginas 62-67)

1. INTRODUÇÃO

1.3 O PROCESSO DE GERAÇÃO DE DADOS

1.3.3 Terceira etapa de pesquisa: Entrevista

que não se tornou possível acompanhar as aulas, por conta dos impedimentos do sistema. Mas, em todas as ocasiões, fizemos questão de tranquilizá-la, esclarecendo sobre as situações que podem ser vivenciadas em um percurso de pesquisa como o empreendido por nós. Nunca perdemos de vista o quanto isso tudo seria tomado como dado de pesquisa e realmente esta realidade foi a que se concretizou.

Novamente, Gatti (1999, p. 2) nos ancora, dizendo: “Método não é algo abstrato.

Método é ato vivo, concreto, que se revela nas nossas ações, na nossa organização e no desenvolvimento do trabalho de pesquisa, na maneira como olhamos as coisas do mundo.” Assim, optamos por olhar para nossa realidade de pesquisa de forma otimista, e fazer dos dados que tínhamos em relação aos desafios vivenciados nesta etapa uma compreensão das dificuldades que nos fazem dependentes do aparato tecnológico e do domínio sobre eles. E temos, pela natureza do nosso próprio referencial teórico, um suporte que nos permite encarar um posicionamento consistente quanto às questões de pesquisa, os métodos e a possível validade das conclusões (GATTI, 1999).

Temos em mente que o trabalho de pesquisa não dispensa o rigor e a consistência, assim como não é sinônimo de literatura e poesia (GATTI, 1999). Para tanto, buscamos desenvolver nossa pesquisa não apenas como uma questão de rotina de passos e etapas, mas de vivência, com luz à pertinência e à consistência em termos de perspectivas e metas. Dessa forma, desviamos levemente do percurso inicial traçado, mas não mudamos nosso foco inicial e nossa pretensão de contribuir para o entendimento das implicações das aulas não presenciais nas relações intersubjetivas estabelecidas no contexto do ensino remoto.

Dando sequência ao percurso, passamos a relatar a terceira etapa de pesquisa, na próxima subseção.

consegue um diálogo real com o entrevistado, quando não predominam as respostas-chavões, que nada têm a acrescentar. Ainda sobre a entrevista como instrumento para geração de dados, Minayo (1998) pontua que ela auxilia a apreender o ponto de vista do ator social sobre o fenômeno estudado, orientado uma “conversa com finalidade”, que facilite a abertura, a ampliação e o aprofundamento da comunicação.

Neste terceiro momento de pesquisa, nossa pretensão voltou-se ao processo de geração de dados com a docente participante da pesquisa sobre o entendimento das implicações das relações intersubjetivas geradas neste lócus educativo peculiar.

Objetivamos, com isso, obter maiores dados para responder à questão número dois desta pesquisa, bem como estabelecer uma base mais sólida para se responder à primeira questão deste estudo.

O tempo de entrevista foi previsto para durar aproximadamente trinta minutos, e, segundo o que foi delineado no TCLE, a interação poderia ser gravada em áudio e vídeo para a transcrição das informações. Iniciamos com perguntas que, em um primeiro momento, ajudassem-nos a levantar informações sobre: idade, formação inicial, demais cursos realizados, tempo de atuação docente, turmas em que atuava, carga horária semanal de trabalho e tipo de vínculo empregatício que possuía com a Escola Polo.

Na sequência, buscamos entender como foi o processo que levou a docente a estar no quadro de trabalho da Escola Polo, suas experiências prévias com o sistema on-line e com o manuseio das tecnologias, a adaptação à nova realidade, as facilidades e dificuldades do trabalho remoto, a avaliação dos alunos e a percepção sobre como estavam se dando as relações intersubjetivas nesse cronotopo.

A entrevista foi agendada para um dia em que a participante tivesse disponibilidade, no turno da noite, e foi combinada de acontecer pelo aplicativo “Meet”.

Esse momento ocorreu por meio de uma interação não presencial, on-line, tendo em vista a necessidade de distanciamento social e na tentativa de evitar possíveis constrangimentos. Como forma de prevenir desconfortos, foi sinalizado que a docente poderia interromper e propor a continuidade da participação em outro momento, se assim desejasse, mas a interação transcorreu normalmente, sem essa necessidade.

Para organizar o trâmite, combinou-se via WhatsApp com a participante que um link seria enviado minutos antes do horário estipulado, para que ela pudesse acessar a sala on-line. No entanto, após enviado o link, dez minutos antes do início da entrevista, a professora informou que não estava conseguindo acessar a sala. Após algumas tentativas infrutíferas de utilização do Meet, optamos por realizar a entrevista por uma

chamada de vídeo pelo WhatsApp, para manter-se o dia e horário combinado. Como já se cogitava a possibilidade de haver intercorrências, por conta do sistema, ou pelo próprio tempo do dia (que ameaçava faltar luz ou baixar o sinal de internet, pela quantidade intensa de raios), tínhamos planejado utilizar outra ferramenta, caso fosse necessário. Assim, conseguimos gravar o áudio da entrevista por meio de um aplicativo no notebook, sem ser possível gravar o vídeo da chamada, como estava previsto no TCLE inicialmente. Também, conforme as perguntas iam sendo feitas e a professora respondendo, os pontos principais foram anotados em documento de Word, em forma de tópicos, para se garantir o registro mínimo dos dados, caso o sistema ou os aplicativos viessem a apresentar falha, o que não ocorreu. Apenas por duas breves vezes o sistema travou, dessa forma, tivemos que, na primeira ocasião, repetir uma pergunta, e, na segunda vez, isso acabou gerando uma resposta extra da professora, fato que também contribuiu com novos dados.

A docente se mostrou pontual e também colaborativa durante toda a entrevista.

Com clareza e objetividade, ela trouxe informações coerentes com o que observamos durantes nossas participações nas aulas, além de dados novos que vieram a enriquecer ainda mais o processo.

Ao iniciar, a professora mostrou que estava em casa, em um momento que era para ser de lazer e descanso, mas, como acontece na maioria das vezes, estava preenchido com atividades da escola. Em sua mesa de trabalho era possível ver uma quantidade significativa de papéis, materiais e notebook. Com base em sua fala inicial, pudemos notar o quanto essa situação é rotineira, e, pela alta demanda de tarefas, é preciso usar alguns momentos de lazer para dar conta do trabalho. Também, ao fim da entrevista, soubemos que, além do labor docente, a professora estava atuando como motorista de aplicativo, ela justificou ser necessário por uma questão de salário e de aumento de renda. Dessa forma, tem uma rotina atribulada, que envolve atividade profissional nos três turnos do dia.

A entrevista foi prevista para durar aproximadamente trinta minutos, mas se estendeu, devido ao fato de as respostas terem sido extensas e bem delineadas pela participante. Ficamos 56 minutos em chamada. Tanto no início quanto no fim da entrevista, fizemos questão de agradecer o movimento de colaboração e disponibilidade dela, que denotou satisfação e alegria em participar do processo. As respostas foram transcritas e armazenadas em arquivo digital. Tais informações serão mantidas a salvo

por um período de cinco anos, sendo que somente os pesquisadores envolvidos terão acesso a esses materiais.

Todos os dados obtidos e registrados na segunda e na terceira etapas da pesquisa foram descritos e analisados, sempre tomando por base a teoria estudada. Dessa maneira, com o apoio de uma pesquisa bibliográfica, iniciada ainda na etapa elementar do projeto, a relação dos dados com a teoria deu-se ao longo de todo o processo de geração de dados. Cavalcanti (2014) escreve que não é possível o senso crítico da realidade sem uma teoria. Considerando isso, a pesquisa bibliográfica se torna importante para esse processo, pois irá despontar o conhecimento do que já foi produzido e registrado sobre assuntos relacionados aos temas que este trabalho aborda, os quais servem de alicerce para responder ao problema desta pesquisa. Para Gatti (1999, p. 17), “[...] o pesquisador deve ter um conhecimento teórico sólido da sua área e ter experiência no trato das questões de sua área de investigação (um conhecimento de dentro, de mergulho)”.

Alicerçada a base que nos guiou nesta busca empírica, trazemos agora o modo como estruturamos nosso trabalho. Neste capítulo introdutório, fizemos uma contextualização da pandemia e da educação nesse cenário, para situar o leitor sobre o cronotopo, assim como discorremos sobre nosso objeto de estudo e o método dialético e descrevemos o percurso de geração dos dados, os quais esclarecem sobre os procedimentos metodológicos que foram utilizados precisamente para responder a cada uma de nossas questões de pesquisa. Nesse ponto é importante destacar que entendemos os instrumentos de geração de dados como próprios do fazer científico, servindo-nos como auxílio para depreender materialidades da realidade estudada. O externo é o nosso ponto de partida e o nosso foco visa a identificar o processo de desenvolvimento em que se dá o fenômeno social por nós escolhido como fragmento da totalidade.

Na sequência, com a finalidade de alcançar os objetivos, organizamos essa dissertação em dois capítulos de análise, que correspondem aos capítulos dois e três, os quais visam responder a cada uma das questões adjacentes. Nesses capítulos de análise, descrevemos os dados encontrados, ao mesmo passo que tecemos nossas considerações, análises e explicações, à luz do materialismo histórico-dialético, e de teorizações de Volochínov e Vigotski. Ambos os autores possuem uma aproximação com a filosofia marxista, que propõe um novo padrão científico, pois busca olhar a realidade de um novo modo, rompendo com a centralidade na subjetividade ou na objetividade, considerando que esses dois aspectos se retroalimentam. Assim, o fazer científico se

compromete com a totalidade, não se voltando ao sujeito em si, mas sim à própria realidade social, tendo em vista que é a prática humana que regula a atividade, articulando a subjetividade e a objetividade. Portanto, não se trata da escolha entre sujeito ou objeto para a se construir o conhecimento científico que explica uma realidade, e sim, é o entendimento de que a realidade social e natural é anterior à ação do homem, que a modifica em um movimento ininterrupto e histórico. É compreender a realidade humana em movimento, compreendendo as implicações do trabalho como atividade vital humana.

2. O ENSINO REMOTO EMERGENCIAL NA REDE PÚBLICA ESTADUAL DE

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