• Nenhum resultado encontrado

TERCEIRA FASE DE JUNHO DE

No documento Enunciado dos cartazes.pdf (9.951Mb) (páginas 39-43)

2. EVENTO CARNAVALESCO: as jornadas de junho de

2.4 TERCEIRA FASE DE JUNHO DE

As datas das três fases de junho não são fixas, apenas dividem o mês em três momentos distintos. Para Gohn (2014), o terceiro momento inicia-se entre os dias 19 e 20 de junho. Essa fase ela chama de “a vitória da demanda básica”. Isso porque, no dia 19 de junho, foi revogado o aumento das passagens em mais de 100 municípios,

40 MANIFEST A ÇÕES DE 2013 PELOS C AR TAZES

incluindo São Paulo e Rio de Janeiro. Porém, os governantes deixaram claro que isso causaria prejuízo em outras áreas como saúde e educação.

No dia 20, houve a maior manifestação de junho de 2013. Empregadores liberaram funcionários, escolas dispensaram alunos, pais consentiram que seus filhos fossem para as ruas. Até a Rede Globo de Comunicação suspendeu sua programação oficial de telenovela das 20 horas para dar espaço integral à cobertura das manifestações. Atos em 13 capitais reuniram 1 milhão de pessoas. Vale ressaltar que parte desse grande número de adesão do dia 20 não foi somente fruto das redes sociais. Nessa fase, as manifestações foram também resultado das chamadas da mídia hegemônica. Muitas pessoas viram os protestos na televisão e se sentiram convidadas a participar deles. Nesse dia, o Palácio Itamaraty, em Brasília, foi depredado. O MPL marcou um ato para o dia 20 com o intuito de comemorar a revogação do aumento e saiu de cena no dia 21 de junho, quando grupos alheios ao movimento promoveram atos pontuais de depredação simbólica (GOHN, 2014).

O dia 20 também foi marcado pela violência em relação aos manifestantes partidários, aos moldes de como aconteceu na segunda fase de junho de 2013. A hostilidade foi tamanha que, no Rio de Janeiro, manifestantes tiveram suas camisetas e bandeiras rasgadas e, em Natal-RN, o presidente do PSTU, Dário Barbosa, dirigente de professores, teve de ser hospitalizado porque levou uma garrafada na face. Em São Paulo, a Juventude do PT foi fortemente hostilizada na Avenida Paulista (VALENÇA, 2014).

Percebe-se, assim, uma forte repulsa de alguns em relação aos partidos políticos. Nossa pesquisa não é sobre isso, mas é possível refletir sobre essa questão a partir de dois vieses: por um lado, um grupo de sujeitos que está realmente cansado do modelo de representatividade existente, por isso a distância entre ele e o estado só tem aumentado. Por outro lado, um discurso da mídia que vem criando uma narrativa de que “partido político não presta”, incutindo

MANIFEST

A

ÇÕES DE 2013 PELOS C

AR

TAZES

TATIANI DAIANA DE NOVAES

inconscientemente uma rejeição que resulta em cartazes, como “Fora todos os partidos”.

Nesse processo, o MPL – protagonista da primeira fase de junho de 2013 – diz-se apartidário, mas não antipartidário. O movimento fez críticas aos ataques feitos e deixou claro o descontentamento em relação às mudanças do rumo das manifestações. A esse respeito, como bem coloca Secco (2013, p. 74), “é preciso lembrar que a taxa de apartidarismo por parte da população sempre foi alta no Brasil, uma vez que os partidos burgueses e as instituições representativas nunca vicejaram entre nós”. A sequência de equívocos de vários governos e uma mídia que insiste em propagar apenas a versão da política essencialmente corrupta contribuíram para que alguns tenham tal aversão.

Diante disso, as pautas do MPL ligadas à gratuidade do transporte urbano e ao direito do cidadão de ir e vir foram rapidamente (re)significadas e ampliadas para pautas relacionadas aos serviços públicos urbanos em geral, como saúde, educação e segurança. Passou-se, especialmente na terceira fase, de uma crítica do MPL a um modelo de urbanização para uma crítica a respeito de programas de governo e de ações pontuais da administração pública da esfera estadual e federal.

As manifestações de junho foram vitoriosas na medida em que: o aumento das passagens de transporte público urbano foi cancelado em várias cidades; houve rejeição à PEC 37/2011 e o arquivamento do projeto popularmente conhecido como “a cura gay” (arquivado após manifestações de 2013, porém, voltou para a Câmara dos Deputados em 2017). Além disso, a presidenta Dilma Rousseff propôs um pacto no seu pronunciamento, em cadeia nacional de rádio e televisão, no dia 21 de junho, afirmando que faria audiências com os movimentos sociais e um plebiscito para encaminhar a reforma política. Em resposta às reivindicações, o Congresso Nacional tornou a corrupção um crime hediondo, arquivou a PEC 37 e proibiu o voto secreto nas votações de cassação de mandato de legisladores acusados de irregularidades. Tudo isso aumentou o empoderamento

42 MANIFEST A ÇÕES DE 2013 PELOS C AR TAZES

social e a crença nas manifestações de rua, que se tornaram constantes nos anos seguintes (GOHN, 2014).

O pacto anunciado dia 21 possuía três eixos fundamentais, a saber: a elaboração do Plano Nacional de Mobilidade Urbana, focada no transporte coletivo; a destinação de todos os recursos do petróleo para a educação; e a possibilidade da vinda de médicos estrangeiros para a ampliação imediata do Sistema Único de Saúde. Para Henriques (2013, p. 54), as manifestações de junho são:

Um momento definido de sinergia, de fluxo de amplas convergências- e polifônico-, que sintetiza percepções, experiências e sentimentos comuns de crise, insere novos elementos no panorama político e desloca as divergências. Mas não opera apenas no âmbito limitado de marchas de rua. Percorre as várias dimensões espaço-temporais das nossas formas de comunicação, de partilha coletiva e de sociabilidade, características das sociedades complexas que recaem diretamente sobre como vivemos, percebemos, compreendemos e organizamos nossas relações em público.

Face ao exposto, considera-se junho de 2013 um momento ímpar, que resume uma crise social, altera o panorama político, desafia os estudos em torno dos movimentos sociais, traz à tona a comunicação colaborativa, dialoga com manifestações de outros países, “acontecimento-núcleo de várias questões que se fundiram em um determinado intervalo de tempo” (SILVA; ZIVIANI, 2014, p. 7).

Nesse contexto, procurou-se apresentar três importantes momentos das manifestações de junho: a fase MPL, o momento em que a grande massa foi para as ruas e o ápice do empoderamento social.

No documento Enunciado dos cartazes.pdf (9.951Mb) (páginas 39-43)

Documentos relacionados