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3.1 Considerações Finais

A área de estudo, por ser uma microbacia confinada por equipamentos urbanos onde o nível de antropização é elevado, sugere considerações sobre a degradação do relevo em decorrência da pluviosidade, que só é intensificada devido à canalização das águas pluviais por parte dos telhados para as vertentes da microbacia. Com isso o relevo apresenta uma geometria com drenagem pluvial superficial e a declividade revela-se como moderada e/ou forte. É conveniente destacar que o ambiente é um potencial meio para a perda de matéria de solo através da erosão, pois, como já se demonstrou, os perfis longitudinal e transversal predominam seções com declive acentuado.

Essa declividade aliada à falta de cobertura vegetal imprime um ritmo de perda de solo que, a partir da freqüência pluvial, vem se mostrando elevado. Outro fator interessante a se destacar é a relação entre saturação do solo e maior escoamento– alagamento, onde os ambientes procuram estabilizar-se para que haja menor nível de energia desprendida. Quando um ambiente perde material, esse mesmo material é depositado nos níveis de menor declividade ocasionando a sedimentação que poderá acarretar alagamentos. Considera-se a drenagem em ambientes urbanos como item primordial ao planejamento, pois o relevo e a drenagem urbana são unidades que servem à instalação de equipamentos e buscam a melhoria da qualidade de vida. Assim, quando drenagem comprometida alguns problemas são facilmente observados, entre eles a perda de material que acarreta alicerces expostos e dutos entupidos. Esse déficit deve ser reposto através de obras de recuperação atraindo sobre si altos custos monetários. Outro problema de elevada magnitude é a impermeabilização do solo, aumentando o valor em metros cúbicos de água que irá ser despejada na calha do canal de escoamento.

Depreende-se disso que a conservação do solo em áreas urbanas visa à manutenção onde o sistema possa permanecer estável, havendo menor probabilidade de danos advindos da má utilização desse suporte paisagístico. A microbacia urbana confinada dentro do território da UFPB, encontra-se como meio intergrade, ou seja, em processo de estabilização. Mesmo havendo desgaste do conjunto pedológico, nota-se que não há processo de instabilidade acentuada, de forma que o ambiente situa-se em

uma dinâmica onde a matéria que entra no sistema consegue ser processada sem causar danos.

A matéria referida é a pluviosidade com alta freqüência e elevada intensidade, tendo como elemento somador em sua magnitude a impermeabilização do relevo. Esse elemento passa a ter suas próprias características tornando-se o centro de observação, pois, ao concentrar a água precipitada para pontos específicos na microbacia, não só ocasiona distúrbios ligados ao desgaste do solo, como proporciona aumento do fluxo nas águas escoadas, criando enxurradas torrenciais nas áreas de declividade moderada ou forte e nas áreas de baixa declividade, ocasionando alagamentos.

Porém, em trabalhos que visam à leitura da paisagem a partir da instrumentalização teórica da Ecogeografia não cabe apresentar formas de intervenção, no entanto é possível elaborar diagnósticos que dêem condições à tomada de decisão sobre a gerência dos efeitos causados pela ação dos elementos naturais e pela intervenção antrópica na paisagem. A partir dessa ótica infere-se inferir que uma área degradada (com alta instabilidade) tem condições de se tornar estável ou ao menos intermediária. Essas condições serão conduzidas na forma de intervenção humana com planos que conduzam uma alteração, de modo que cada ambiente recebe o elemento natural, ou seja, não há como interferir no elemento em si (caso da pluviosidade), mas é possível avaliar como essa pluviosidade entra no sistema induzindo uma agradação ou degradação à paisagem estudada.

Como forma de diagnosticar a microbacia confinada no território da UFPB, todos os dados possíveis foram levantados, construindo-se um arcabouço para que se possa proporcionar um entendimento do que vem ocorrendo nessa microbacia, desde sua gênese (enquanto microbacia) até sua atual estrutura. De posse dos dados sobre o ambiente (relevo, pluviosidade, antropismo) foi possível, através da Ecodinâmica, elaborar informações sobre a possibilidade de estabilização da área, preferindo não conduzir a pesquisa para o âmbito de recuperação, o que afastaria o foco deste trabalho que é o de encontrar o elemento determinante da dinâmica nessa microbacia e classificar seu estágio.

Neste estudo a microbacia foi classificada como sendo uma paisagem estável, com focos isolados de degradação proporcionados por precipitações concentradas, e ainda áreas de alagamentos e deposição sedimentar. Mesmo possuindo dinâmica intra- conjuntos ora com freqüência maior de matéria de um dado conjunto (pluviométrico), ora entrada maior de intervenção antrópica, o balanço ambiental da microbacia está

situado além do limiar de estabilidade. No entanto só foi possível verificar essa situação a partir da elaboração de projetos de intervenção ambiental. Embora não sendo um estudo com proposta de recuperação de áreas degradadas, foi necessário aplicar uma taxa de intervenção, optando pelo repovoamento vegetal. Como não cabe ao geógrafo ações que venham a modificar uma dada paisagem, fez-se uma intervenção primária, com poucas características antrópicas, de forma que, ao se utilizar a técnica de repovoamento vegetal, escolheu-se um plantio em curvas de nível com indivíduos com menos de 0,30 m, indivíduos que teriam a função de impedir que a serrapilheira fosse carreada através das enxurradas, o que faz diminuir o volume de água nas áreas de menor energia evitando alagamentos.

As observações acerca da microbacia urbana confinada dentro do território da UFPB levam a destacar que um ambiente com elevado nível de antropização onde os elementos naturais alteram o comportamento da paisagem, influenciam o comportamento antrópico, principalmente quando acarreta problemas como escorregamentos de massa e áreas alagáveis. Desse modo, estima-se que um ambiente antropizado pode continuar recebendo o mesmo número de matéria que recebia antes das alterações antrópicas, tendo porém o cuidado de planejar a forma de escoamento dessa mesma matéria, como é o caso da pluviosidade em áreas impermeabilizadas.

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