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Terceiro Foco Natureza da Pesquisa em Ensino de F´ısica

1.3 Focos vis˜ao em profundidade

1.3.3 Terceiro Foco Natureza da Pesquisa em Ensino de F´ısica

O terceiro foco Natureza da Pesquisa em Ensino de F´ısica aparecem dois trabalhos: Re- zende e Ostermann (2005) comparam as demandas dos professores de f´ısica do ensino m´edio com as pesquisas em ensino de f´ısica levadas a cabo por pesquisadores dessa ´area e, Delizoicov (2005) analisa a ´area de pesquisa em ensino de ciˆencias procurando caracteriz´a-la.

Rezende e Ostermann (2005) fazem uma an´alise do impacto que as pesquisas em ensino de F´ısica (EF) veiculadas nos peri´odicos e congressos no per´ıodo 2000-2004 no Brasil tˆem tido no contexto educacional, confrontando os temas de pesquisa nessa ´area com a pr´atica docente do professor do ensino m´edio. As autoras afirmam que n˜ao h´a uma sintonia total entre a pesquisa em EF e as demandas dos professores de F´ısica do ensino m´edio, apontando uma “assime- tria” entre esses dois universos pesquisados. Caracterizam trˆes tipos de relac¸˜ao entre os dois universos: encontro total, encontro relativo e desencontro total.

A primeira delas, dentre os aspectos da pesquisa em EF que tiveram um encontro total com as demandas dos professores foi a contextualizac¸˜ao do conte ´udo de F´ısica. As autoras atribuem a isso o fato das reformas curriculares oficiais estarem em andamento no per´ıodo analisado (2000-2004) e tamb´em mostram que este termo vem sendo utilizado com pouca ou nenhuma reflex˜ao cr´ıtica por parte de pesquisadores e professores da rede b´asica.

Na segunda relac¸˜ao, como exemplo de encontro relativo, destacam-se as perspectivas di- ferentes em que se encontram professores e pesquisadores, isto ´e, os problemas de pesquisa pouco refletem as preocupac¸˜oes dos professores da escola b´asica, ou ainda, quando isto ocorre, “os aspectos investigados e os objetivos n˜ao v˜ao ao encontro das preocupac¸˜oes do profes- sor e as condic¸˜oes concretas do trabalho docente na escola p ´ublica n˜ao s˜ao levadas em considerac¸˜ao.”26 (REZENDE; OSTERMANN, 2005, p.335)

As autoras ainda destacam que

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E interessante observar que o contato do professor com as in´umeras propostas de recursos did´aticos e metodologias inovadoras (...) poderia ser um passo im- portante para melhorar a sua pr´atica, entretanto, esse contato n˜ao ´e suficiente, dada a desconsiderac¸˜ao do contexto escolar e das condic¸˜oes de trabalho dos professores nas pesquisas.27 (REZENDE; OSTERMANN, 2005, p.335)

Na terceira e ´ultima relac¸˜ao, a do desencontro total entre as preocupac¸˜oes da pr´atica docente apontada pelos professores e as pesquisas disseminadas em congressos e peri´odicos da ´area ocorre nos aspectos de

avaliac¸˜ao, vestibular e `as caracter´ısticas dos alunos. As condic¸˜oes s´ocio-econˆomicas e formativas dos alunos, `as quais os professores atribuem muitos dos seus pro- blemas, n˜ao s˜ao consideradas objetos de estudo dos pesquisadores. A atitude do aluno e a disciplina em sala de aula tamb´em n˜ao s˜ao pesquisadas. (RE- ZENDE; OSTERMANN, 2005, p.336)

As autoras n˜ao explicitam as dimens˜oes o que e como por se tratar de uma an´alise do grau de articulac¸˜ao entre os trabalhos de pesquisa em ensino de f´ısica e as demandas dos professores da educac¸˜ao b´asica. Contudo, referente `a dimens˜ao encaminhamento as autoras apontam duas abordagens n˜ao-excludentes para potencializar a sintonia entre as demandas dos professores do ensino m´edio e as propostas de formac¸˜ao continuada dos pesquisadores em ensino de f´ısica quais sejam,

(...) intensificar a parceria entre pesquisadores e professores de F´ısica de n´ıvel m´edio e delinear uma nova agenda para a pesquisa28, o que signifi- caria conceber a pesquisa em ensino de f´ısica como ciˆencia humana aplicada (DELIZOICOV, 2004). Essa integrac¸˜ao entre a universidade e o conhecimento dos professores pode romper com a linha divis´oria existente entre pesquisa- dores acadˆemicos e professores (ZEICHNER, 1998), o que geraria tamb´em novos rumos para a formac¸˜ao inicial e continuada do professor de F´ısica. (RE- ZENDE; OSTERMANN, 2005, p.336)

Delizoicov (2005) analisa a relac¸˜ao entre pesquisa em Educac¸˜ao em Ciˆencias (EC) e o en- sino de Ciˆencias, caracteriza os resultados de pesquisa em EC, analisa a relac¸˜ao entre estes resultados com a formac¸˜ao inicial e com a formac¸˜ao continuada de professores de Ciˆencias. No contexto da formac¸˜ao continuada, o autor procura explicar a distˆancia existente entre as pesqui- sas em EC e as pr´aticas docentes de professores do ensino m´edio, apontando como um dos fato- res que contribui para esse distanciamento o grau de articulac¸˜ao que cada docente universit´ario

27meu destaque 28meus destaques

confere ao trip´e ensino-pesquisa-extens˜ao. Conforme o autor, pr´aticas formativas que privile- giem transmiss˜ao de informac¸˜oes, seja de conte´udos espec´ıficos da disciplina quanto de resulta- dos de pesquisa no ensino dessa disciplina, pouco ou nada contribuem para a transformac¸˜ao das pr´aticas docentes porque desconsideram vari´aveis profissionais, sociais e institucionais a que est˜ao sujeitos os professores do ensino m´edio e os pr´oprios formadores. Nesse sentido, o autor destaca a dimens˜ao encaminhamentos que se aproxima da posic¸˜ao defendida por Santos et al. (2006) em que o formador integra as suas atividades de ensino atuando em conjunto com cole- gas na formac¸˜ao inicial e de extens˜ao atuando com os professores do ensino m´edio na formac¸˜ao continuada com a pesquisa em ensino desenvolvida em parceria com os sujeitos envolvidos.

O autor analisa a relac¸˜ao entre a atuac¸˜ao dos pesquisadores, as formas pelas quais as pes- quisas s˜ao disseminadas pela comunidade cient´ıfica e a formac¸˜ao de professores, tanto inicial quanto continuada. Alerta que ´e preciso um certo cuidado com as cr´ıticas sobre o grau de res- sonˆancia que as pesquisas em ensino de ciˆencias desenvolvidas no ˆambito das universidades apresentam nas pr´aticas docentes dos professores das redes de educac¸˜ao b´asica. S˜ao trˆes os fatores a considerar para proceder a essa an´alise:

(...) quantidades de pessoas envolvidas na educac¸˜ao p´ublica b´asica - dezenas de milh˜oes de alunos, uma centena de milhar de escolas e dezenas de milhares de professores das Ciˆencias -; os relacionados com a atuac¸˜ao organicamente planejada de pesquisadores, para al´em de suas iniciativas individuais, e os re- ferentes ao teor das pesquisas. (DELIZOICOV, 2005, p.364)

N˜ao se trata aqui de pensar, ingenuamente, que seja suficiente que as atividades de pesquisa dos pesquisadores estejam organicamente articuladas com as demandas dos professores do en- sino m´edio para que seja significativo o impacto dos resultados de suas pesquisas nas pr´aticas docentes. Segundo o autor, o pesquisador, dentro de sua instituic¸˜ao, est´a sujeito a condicio- nantes29 que nem sempre lhe permitem fazer a articulac¸˜ao acima mencionada. Outro ponto destacado ´e o uso que se faz dos resultados de pesquisa em atividades de extens˜ao que, segundo o autor, s˜ao bastante diversificadas n˜ao existindo padr˜ao de referˆencias de como isso deve (ou deveria) ocorrer na interac¸˜ao IES-Redes de Educac¸˜ao B´asica.

Quanto ao teor das pesquisas em EC, o autor argumenta que os pesquisadores nesta ´area de conhecimento se agrupam em torno de

(...) formas de conceber e priorizar problemas de investigac¸˜ao, referenciais te´oricos e metodol´ogicos adotados e distintos n´ıveis de v´ınculo entre pesquisa e pr´aticas educativas, que incluem uma gradac¸˜ao cujos limites est˜ao na pes- quisa altamente articulada com intervenc¸˜ao e na pesquisa sem intervenc¸˜ao al- guma. (DELIZOICOV, 2005, p.371)

29por exemplo, no caso de IES particulares n˜ao h´a pagamento de horas aos pesquisadores para esse tipo de

O autor destaca que processos formativos cujas ˆenfases encontram-se pouco ou quase nada relacionadas com o universo escolar tˆem poucas chances de propiciar transformac¸˜oes nas pr´aticas docentes dos professores do ensino m´edio. Pondera que os proponentes dos processos forma- tivos, em geral docentes universit´arios e pesquisadores acadˆemicos, n˜ao devem assumir para si toda a responsabilidade da pouca articulac¸˜ao entre resultados de pesquisa em EC e pr´aticas docentes dos professores da educac¸˜ao b´asica porque h´a elementos envolvidos na quest˜ao da formac¸˜ao de professores que fogem do raio de ac¸˜ao de um pesquisador, como por exemplo, problemas estruturais do plano de carreira docente. Contudo, os pesquisadores devem reco- nhecer que tˆem um papel a desempenhar no sentido de contribuir na compreens˜ao e busca de soluc¸˜oes para os problemas advindos das pr´aticas docentes e das limitac¸˜oes dos seus problemas de pesquisa. Um poss´ıvel encaminhamento para essa quest˜ao, conforme destaca Delizoicov (2005), seria atrav´es do estabelecimento de parcerias institucionais entre universidades e esco- las e tamb´em trazendo a discuss˜ao da realidade escolar para os cursos de formac¸˜ao inicial. No plano pol´ıtico-institucional, o pesquisador poderia ocupar cargos/representac¸˜oes nas instˆancias que tratam das quest˜oes da formac¸˜ao de professores, tais como colegiados de cursos de licenci- aturas ou de p´os-graduac¸˜ao, entre outras.

1.3.4

Quarto Foco - Ensino de F´ısica na escola e Conhecimentos Profissi-