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Teatro de bonecos, teatro de animação, teatro de figura, teatro de formas animadas, teatro visual, teatro de objetos. O que consiste cada termo? O ator, o manipulador, o ator-manipulador, o ator-animador, o marionetista, o bonequeiro. O que caracterizou o surgimento e a segregação dessas variadas formas de definir essa área teatral e seus agentes?

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Para começar, qual o termo ideal para designar a linguagem teatral que se especializa na manipulação de corpos outros, ou seja, corpos não humanos, imagens, figuras, objetos, matérias diversas ao ser vivo homem? A cada momento, a cada novo trabalho criativo, os termos se tornam ultrapassados e não suficientes para designar as hibridizações e múltiplos cruzamentos que surgem, tendência inerente à arte contemporânea. Neste trabalho, desenvolve- se como opção um uso livre dos diversos termos da linguagem, porém é interessante o conhecimento e localização de suas particularidades.

O termo “Teatro de Bonecos” permaneceu apropriado até o período pós 2ª Guerra Mundial, já que a linguagem mantinha a sua forma tradicional de construção e representação. Quando surgiram as primeiras inovações na área, já não era mais adequado para abranger suas múltiplas formas. É quando aparecem outras nomeações.

Em países europeus como Alemanha, Holanda, Itália e Suíça surge nos princípios dos anos de 1960 a expressão “Teatro de Figuras”. Logo depois, em 1980, alguns marionetistas insatisfeitos com os termos que definiam a sua arte, por não englobarem a totalidade de variações nela existente, optam pelo nome “Teatro Visual”1

que trazia assim um conceito abrangente para a sua essência imagética. O novo termo evidencia sua intersecção com as artes visuais e acaba caminhando para uma estética muito específica.

Assim como o “Teatro Visual”, o termo “Teatro de Objetos” também acabou por nomear uma ramificação da linguagem. Teria surgido na mesma época, durante um curso ministrado por Philippe Genty no Peru.

Para Genty, o teatro de objetos é uma vertente do Teatro de Animação que se vale de objetos prontos, no lugar de bonecos, deslocando-os da sua função e conferindo-lhes novos significados, sem transformar, porém, a sua natureza, explorando uma dramaturgia que se vale de figuras de linguagem, em detrimento da importância da manipulação propriamente dita (Vargas, 2010, p. 36).

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Herdeiro de um período pós-guerra, o “Teatro de Objetos” provém de um encontro entre as artes plásticas e o teatro e traz características de seus antecessores dadaístas e surrealistas. São artistas que viram em objetos prontos, marginalizados e carregados de sentidos, potenciais de expressão e comunicação. Direta ou indiretamente, o teatro de objetos critica a relação hedonista que a sociedade de consumo prega entre indivíduo e mercadoria, muitas vezes fazendo os próprios indivíduos confundirem-se com as coisas.

No Brasil, por influência de Ana Maria Amaral e suas pesquisas documentadas no livro “O Ator e seus Duplos” (2002), pensa-se nas terminologias “Teatro de Formas Animadas” e “Teatro de Animação” como opção para englobar as suas variadas faces. Sobre o nome, Balardim disserta:

Ao longo dessas análises, concluímos então que a terminologia Teatro de Animação revela uma maior aptidão para destacar uma presença desdobrada do ator, a qual pode reverberar em distintas funções exercidas simultaneamente; ocupando espaços imaginários sobrepostos; comportando-se ao mesmo tempo como dois corpos diferentes que coexistem, simulando duas autonomias alternadamente; ou, ainda constituindo um sujeito múltiplo a partir da associação de elementos. Isto revela uma acepção distinta sobre trabalho do ator contemporâneo em relação à concepção do trabalho do ator no Teatro de Bonecos tradicional (Balardim, 2015, p. 174).

Em alguns países, como França e Portugal, a terminologia “Teatro de Marionetes” também é utilizada, já que “marionete” é sinônimo de “boneco”, termo que no Brasil refere-se geralmente à técnica de fios.

Com as hibridizações e expansão do teatro de bonecos para novas formas de representação, o atuante também muda suas formas de expressão e da mesma forma os termos “bonequeiro” ou “manipulador” não se torna mais suficiente para as variadas performances desenvolvidas no cenário teatral.

Em sua conceituação tradicional, “bonequeiro” seria aquele que além de dar vida a um personagem inanimado concentra em si uma polivalência de

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funções dentro de sua arte como a construção, a direção, a dramaturgia, a luz, a trilha sonora e tantos outros processos que envolvem o teatro de bonecos. Já o “manipulador” seria aquele que por hora dá vida a um personagem. Com a participação cada vez maior do atuante, considera-se mais adequado adicionar a palavra “ator” à sua função, sendo então utilizadas as expressões ator- manipulador ou ator-animador.

Para a diretora e dramaturga Ana Maria Amaral, o ator-manipulador, quando visto, deve manter-se neutro para não distrair o público do boneco. Porém para outros teóricos, o termo engloba também os intérpretes que atuam mais ativamente com seus bonecos. Gouarné (2009) traz o conceito “Théâtre de Marionnettistes” para diferenciar o teatro em que o manipulador está aparente daquele que anima às escondidas do público, enquanto João Paulo Seara Cardoso chama de “Teatro com Marionetas”. Duda Paiva se empresta o termo “cross-over” para designar seu trabalho com o confronto do universo humano e dos bonecos.

Há também alguns termos dados ao ator-manipulador que condizem com o nome escolhido pra linguagem, como ator-marionetista e ator-animador. Também são utilizadas as expressões titeriteiro, intérprete e brincante e outras que se referem à manipulação de um tipo específico de boneco, como mamulengueiro. Em cada país, região, grupo e época uma forma diferente de taxar esta pluralidade de possibilidades de relação com os objetos.