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2 TERRAS DE REFORMA AGRÁRIA E A LABUTA DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA

Revista GeoNordeste

2 TERRAS DE REFORMA AGRÁRIA E A LABUTA DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA

Mambaí conta com a presença de recursos naturais, tais como cavernas e águas subterrâneas, cachoeiras, cânions e formações rochosas, os quais são viáveis ao desenvolvimento da atividade turística. O município de Mambaí possui grande parte de sua área dentro da Área de Proteção Ambiental das Nascentes do Rio Vermelho (APAMRV). Essa abrange uma área de 176.322,22 hectares, englobando os municípios de Buritinópolis, Damianópolis, Mambaí e Posse (Figura 1). Há seis assentamentos de reforma agrária criados pelo INCRA em um raio de 40 km. A situação destes habitantes é de extrema pobreza e dependência de recursos, donativos e auxílios do governo (especialmente programas de transferência de renda – como a Bolsa Família e a Aposentadoria Rural). A principal atividade econômica é a agricultura familiar - 70% - em torno de 700 famílias, com cultivos diversificados – milho, feijão, arroz e um rebanho de 10.000 a 12.000 cabeças de gados, em aproximadamente 10 mil hectares de pastagens, boa parte das quais é natural. O município produz também 8 mil toneladas anuais de carvão, 6 mil m3 de lenha e 18 toneladas de

pequi, conforme informações do secretário da Agricultura da Prefeitura de Mambaí (2013).

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O arroz e o milho são duas culturas com maior área cultivada. E a produção de mandioca, feijão e cana-de-açúcar é cultivada em pequenas áreas e serve, sobretudo, para o consumo familiar, sendo os escassos excedentes comercializados. A pecuária também é pouco desenvolvida. Mambaí possui grandes áreas de Cerrado conservado, fato que pode ser explicado pela presença do Parque Natural Municipal do Pequi e de APA das Nascentes do Rio Vermelho. De acordo com dados do Probio (2010), a APA das Nascentes do Rio Vermelho ainda possui 73% de sua área correspondente à cobertura vegetal. Isso, provavelmente, também se justifica por ter o relevo movimentado e não atrair os interesses dos grandes produtores de soja, principais responsáveis pelo desmatamento na região vizinha do Oeste Baiano.

No caso de Posse, o desenvolvimento do município ocorreu, principalmente, com a inauguração da rodovia BR-020, Brasília-Salvador, no final da década de 1970 (IBGE). Economicamente, destaca-se na produção de milho, arroz e feijão e também pela pecuária.

A cidade possui os Bancos do Brasil, Itaú e o Bradesco. Há também alguns restaurantes e hotéis. O comércio é voltado para a venda de produtos agropecuários e há ainda lojas de roupas, calçados, móveis, material de construção e serviços diversos, como salões de beleza e pet shops. Hipotetiza-se que a presença de vários bancos e estabelecimentos de produtos agropecuários e implementos agrícolas é para atender as áreas de agronegócio do Oeste da Bahia e, também, por Posse estar próxima a rodovia BR-020, ligando Brasília ao Nordeste brasileiro.

Historicamente, o Nordeste Goiano, no qual se encontram os municípios de Mambaí e de Posse, apresenta os maiores problemas socioeconômicos e socioambientais do Estado de Goiás. Além disso, sua produção de alimentos básicos, como o milho, a mandioca e o feijão, tem significado local, o que coloca o Nordeste como inexpressivo frente aos índices de outras regiões goianas. Também, sem conseguir criar condições de emprego e de renda, e sendo uma região de baixa população, o Nordeste é mais conhecido como o “Corredor da Miséria” de Goiás. Esta foi uma das razões para sua inclusão nas políticas do Território da Cidadania do Governo Federal (CARVALHO, 2005).

O Índice de Desenvolvimento Humano – IDH de alguns municípios do Nordeste Goiano (2000) aponta certa homogeneidade municipal, e também um distanciamento do IDH goiano. Assim, sendo Alvorada do Norte (IDH 0,688), Damianópolis (IDH 0,633), Flores de Goiás (IDH 0, 642), Iaciara (IDH 0,704), Guarani de Goiás (IDH 0,632), Mambaí, (IDH 0,647), Posse (IDH 0,711), Simolândia (IDH 0,657), São Domingos (0,631). Goiás, em igual período, ou seja, no ano

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2000, apresentou 0,776. A indicação do baixo desenvolvimento da região nordeste está neste conjunto de nove municípios, sendo que somente dois apresentam IDH próximo àquele do Estado.

No que diz respeito ao sexo, ilustraremos com alguns exemplos municipais: Alvorada: 59,07% da população é rural e possui 50% de mulheres; Nova Roma tem 58,92 de população rural e 49% da população é de mulheres; e Flores, cuja população rural é superior a 70%, também possui um número ligeiramente superior de mulheres, refletindo, assim, a situação nacional. A população rural de Mambaí é de 2.069 habitantes, aproximadamente 50% do total e, Posse, com 7.480 de população rural, inexpressiva diante de 23.939 urbana também se confronta com as constantes demandas de ações feitas por ela. Não dispomos de dados precisos sobre a população feminina nos assentamentos, porém, pelos citados acima, ela pode significar aproximadamente a metade da população assentada.

É importante dizer que mais recentemente o Nordeste Goiano conhece uma expansão de empresas rurais modernas, com predominância de cultivo de soja, cana-de açúcar e milho. A região constitui-se em uma importante fronteira de expansão de grãos do sudoeste baiano com a instalação de grandes armazéns, sobretudo em Formosa, município limítrofe ao Vão do Paranã, como a PIONNER, PRODUTIVA SEMENTES, CEREAISUL, ASA ALIMENTOS e SYNGENTA.

É evidente que não existe apenas a região economicamente “pobre”. Contudo, nesta região do Vão do Paranã, existe cerca de 31 Projetos de Assentamentos: Alvorada do Norte, Projeto Alvorada I, com 118 famílias, e Projeto Alvorada II, com 57 famílias; Divinópolis de Goiás: Projeto Riacho Seco, com 90 famílias, e Projeto Marcos Correa Lins, 419 famílias. Em Mambaí, foram visitados Paranã, com 70 famílias, Capim de Cheiro, com 32 famílias, e Cynthia Peter, com 41 famílias; visitou-se o Projeto Simolândia, com 35 famílias, em Simolândia; em Flores, os Projetos Bela Vista e São Vicente, com 139 e 632 famílias, respectivamente; e em Posse, esteve-se no Projeto Nova Grécia, com 118 famílias, o que no total daqueles citados aproxima-se de 2 mil famílias assentadas (ALMEIDA, 2010).

Alguns PA’s já são emancipados, outros, desde 2008, encontram-se em implantação como o de Simolândia, permanecendo sem um Plano de Desenvolvimento do Assentamento. Os assentados apresentaram como problemas: dificuldade de água nos lotes; qualidade do solo insatisfatória para uma boa produção, necessidade de aquisição de alimentos agrícolas por dificuldade do plantio; ausência de políticas públicas regulares para o meio rural e falta de geração de renda. Em Nova Grécia, tornou-se uma prática os homens migrarem para o Oeste Baiano para trabalharem nos empreendimentos de agronegócio, com plantações de soja e milho, retornando ao PA quinzenalmente, ou mesmo uma vez ao mês.

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Diante deste quadro, à mulher cabe um grande encargo para assegurar a alimentação básica para a família. Além disso, muitas vezes a escassez de água torna-se um desafio para as práticas culturais, até então respeitosas do meio ambiente. A dura realidade é o desempenho dos setores de educação, saúde, da oferta de serviços básicos e de renda da mão de obra formal, possíveis somente nos núcleos urbanos próximos aos assentamentos, porém, com vias de acesso precárias e sem transporte regular.

A esse contexto de uma precariedade social acrescem-se a carência alimentar e uma pobreza na deficiência em nutrientes, solos pedregosos e sem água, em boa parte das parcelas. Os assentados, portanto, continuam com uma maior dependência dos governos municipal, estadual e federal. Tal fato persiste, sobretudo, pela ausência da titulação definitiva, pois, embora já tenha decorrido o prazo para a emancipação, o INCRA não lhes concedeu a titulação, impedindo o acesso aos financiamentos agrícolas.

Cabe repetir que, na impossibilidade de fazer esta pesquisa-ação com as mulheres assentadas nos 31 assentamentos, priorizou-se aquelas dos assentamentos Agrovila e Cintia Peter em Mambaí (49 e 48 famílias, respectivamente), e Nova Grécia, em Posse (118 famílias).

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