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Território

No documento 2017ElaineSalomao (páginas 38-41)

2.3 Educação rural x educação do campo: caracterização e principais conceitos

2.3.2 Território

Outra categoria importante para o estudo da Educação do Campo é o entendimento de território. A partir do olhar dos movimentos sociais populares o território é o espaço de vida e de relações sociais. De acordo com Fernandes (2004, p. 749):

O território camponês é o espaço de vida do camponês. É o lugar ou os lugares onde uma enorme diversidade de culturas camponesas constrói sua existência. O território camponês é uma unidade de produção familiar e local de residência da família, que muitas vezes pode ser constituída de mais de uma família. Esse território é predominantemente agropecuário, e contribui com a maior parte da produção de alimentos saudáveis, consumidos principalmente pelas populações urbanas.

Ainda, conforme Fernandes (2004) a noção de território ensinada nas escolas e universidades refere-se, predominantemente, ao espaço de governança, ou seja, ao território como espaço de gestão do Estado em diferentes escalas e instâncias: federal, estadual e municipal. Esse entendimento de território é fundamental; no entanto, precisa ser ampliado para pensarmos outros territórios, os quais são ao mesmo tempo, frações desse território da nação, ou unidades que possuem características próprias, resultantes das diferentes relações sociais produzidas.

Na perspectiva da educação rural a noção de território recebe o conceito de espaço geográfico e ao agregar um sentido restrito acaba por ser entendido como um lugar de atraso. No contraponto, a Educação do campo apresenta a noção de território como o espaço político. Sendo o campo de ação de poder, onde se realizam determinadas relações sociais, constituindo- se como um lugar de vida.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2011), no Censo 2010, a população brasileira era de 190.755.799 de habitantes. Destes, 160.925.792 vivem na zona urbana e 29.830.007 na zona rural, o que equivale a 15,64% da população, sendo que em determinados municípios a população é, na quase totalidade, urbana. Conforme o site do IBGE (2011) a população urbana e rural é bem desigual no Brasil. Observemos a Tabela 1 com a população brasileira, por regiões, conforme o censo de 2010.

Tabela 1 – População urbana e rural brasileira por regiões

REGIÕES/ POPULAÇÕES URBANA (absoluto) RURAL (absoluto) URBANA (percentual) RURAL (percentual) Brasil 160.925.792 29.830.007 84,36 15,64 Região Norte 11.664.509 4.199.945 73,53 26,47 Região Nordeste 38.821.246 14.260.704 73,13 26,87 Região Sudeste 74.696.178 5.668.232 92,95 7,05 Região Sul 23.260.896 4.125.995 84,93 15,07 Região Centro-Oeste 12.482.963 1.575.131 88,79 11,21 Fonte: IBGE, 2011.

Além da existência de muitas discrepâncias em relação às regiões, é preciso observar que dentro da região sul, por exemplo, são evidentes as diferenças. Em Passo Fundo/RS, por exemplo, apenas 3% da população residem no campo.

Frente a essas informações, percebemos a necessidade de pensar sobre as políticas destinadas à população do campo e, em especial, às políticas de educação, foco dessa dissertação, uma vez que o êxodo rural está cada vez mais acentuado em algumas regiões. Conforme Caldart (2004) o contexto originário da Educação do Campo, entre outros elementos, constitui-se do campo e sua situação social com o aumento da pobreza, falta de qualidade de vida, desigualdade e exclusão.

O conceito da Educação do Campo está em construção e representa uma condição de análise do contexto ou das práticas e políticas de educação dos trabalhadores do campo, mesmo as que se desenvolvem em outros lugares e com outros nomes e compreensão da realidade futura.

A expressão “Educação do Campo” surgiu em 2002, no Seminário Nacional em Brasília. Sua primeira denominação foi Educação Básica do Campo em 1998. A utilização da palavra campo visa refletir sobre o sentido do trabalho camponês e das lutas sociais e culturais dos grupos que hoje tentam garantir a sobrevivência desse trabalho. Ao discutir educação do campo discutir-se-á e se tratará a educação do conjunto dos trabalhadores do campo. Há uma preocupação com o resgate do conceito de camponês. Um conceito histórico e político (CALDART, 2012, p.258).

Conforme Ribeiro (2010) vários movimentos sociais populares são os formuladores de propostas e sistematizadores de experiências de educação rural/do campo, entre eles: a Contag6, as federações de trabalhadores rurais, dentre elas a Fetag7 e a Via Campesina8, que reúne vários movimentos sociais populares e é liderada pelo MST9. Ou seja, a educação do campo vem sendo construída pelos movimentos na luta pela terra, pela escola do campo ao mesmo tempo em que visa romper com a escola rural. De acordo com Caldart (2009) o movimento “Por uma educação do campo” concebe o campo como espaço de vida e resistência, onde camponeses lutam por acesso e permanência na terra. Nesse movimento são trabalhados tanto o respeito às diferenças quanto à relação com a natureza, o trabalho, a cultura e suas relações sociais. Esta concepção educacional não está sendo construída para os trabalhadores rurais, mas por eles, com eles, camponeses.

Conforme Caldart (2009) hoje existem muitos estudos sobre a educação do campo, nem sempre com objetivos e conceitos relacionados com a educação, em geral, e a educação do campo, em particular. Além disso, a autora destaca que no mundo acadêmico, as preocupações com relação à educação do campo têm ficado centradas no discurso sobre esse fenômeno, analisando as contradições no campo das ideias, ou seja, não dialogam com a realidade vivida pelos trabalhadores do campo. Nesse sentido, para compreender a educação do campo é necessário conhecer a sua história, contradições e tensões, as inquietações e os desafios que se apresentam no presente e os que se projetam para o futuro.

6 A Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag). Fundada em 22 de dezembro de 1963,

trabalhadores(as) rurais de 18 estados. Primeira entidade sindical do campo de caráter nacional, reconhecida legalmente.

7 Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul.

8 Via Campesina é uma organização internacional de camponeses composta por movimentos sociais e organizações

de todo o mundo. Mobiliza em torno das ações pelo campo.

9 Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. “O Movimento Sem Terra está organizado em 24 estados nas

cinco regiões do país. No total, são cerca de 350 mil famílias que conquistaram a terra por meio da luta e da organização dos trabalhadores rurais” (MST, 2016, p. 1).

No documento 2017ElaineSalomao (páginas 38-41)