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O território da SER V e especificamente do Cras Mondubim: a realidade apresentada a partir de dados demográficos e

4 PERCURSOS METODOLÓGICOS EM UMA PESQUISA AVALIATIVA: CAMINHOS E TRILHAS NA AVALIAÇÃO DA INTERSETORIALIDADE NO PAIF,

4.1 A avaliação da intersetorialidade no Paif da SER V/Cras Mondubim: delimitando dimensões contextuais e empíricas

4.1.1 O território da SER V e especificamente do Cras Mondubim: a realidade apresentada a partir de dados demográficos e

socioeconômicos39

Fortaleza, no dia 13 de abril de 2014, fez 288 anos. Em 2006, passou a ser a quinta maior capital do país, situando-se em quarto lugar, no ano de 2008. Existem várias justificativas para explicar esse crescimento populacional: diz-se que foi em decorrência “das migrações internas ocorridas entre os anos de 1960 e 1970 e em função das secas ocorridas de 1979 a 1984” (FORTALEZA, 2010a); outra explicação argumenta que o processo de comercialização do café, ainda no século XIX, por diversas vias, fomentou esse crescimento populacional (FORTALEZA, 2009c).

O fato é que no decorrer do século XX, esse crescimento populacional vai revelando seus desdobramentos e Fortaleza se constitui numa metrópole cuja atual caracterização possui: uma área de 313 km²; 2.452.185 habitantes (FORTALEZA, 2010a); conta com 119 bairros que se subdividem territorialmente em seis Regiões Administrativas denominadas Secretarias Executivas Regionais (SER)40; 70,84% da população é composta por pessoas na idade de 15 a 64 anos; 100% de sua população reside em área urbana; 46,81% da população é constituída por homens e 53,19 % é constituída por mulheres; o Índice de Desenvolvimento Municipal (IDM) é

39 Os dados apresentados nesta seção demarcam características demográficas, sociais e econômicas de Fortaleza, contemporâneas ao período de realização da pesquisa. Os processos de reordenamento urbano pelos quais passou o município, com destaque para as alterações urbanísticas suscitadas com a realização da Copa do Mundo, no ano de 2013, assim como os intensos e acelerados reordenamentos socioeconômicos provocados pelo sistema do capital da contemporaneidade, reconfiguraram o perfil demonstrado neste item.

40A distribuição dos bairros de Fortaleza entre as Sers encontra-se ilustrada no anexo A desta

de 73,9641 (FORTALEZA, 2010a); 5,46 % da população são extremamente pobres, ou seja, com rendimento domiciliar per capita mensal de até R$ 70,00 (FORTALEZA, 2010a); a taxa de analfabetismo funcional para pessoas com 15 anos ou mais é de 18,78% (FORTALEZA, 2010a); apenas 59,56% dos domicílios particulares permanentes possuem esgotamento sanitário ligado a rede geral ou pluvial (IPECE, 2012a); o déficit habitacional de Fortaleza é de 77 mil famílias; existem 99 áreas de risco em Fortaleza, onde moram 21.967 famílias (HABITAFOR, 2008 apud FORTALEZA, 2010a, p. 21-22).

No aspecto econômico, destaca-se que as três áreas com maior número absoluto de pessoas no emprego formal, em 2011, são: serviço, administração pública e comércio, perfazendo, respectivamente, 306.774, 155.990 e 143.559 empregados; 77,78 % do produto interno bruto estão alocados na área de serviços; existe um saldo positivo de empregos formais na área de serviços no montante de 17.99642, que se constitui no maior valor para o quesito quando se compara aos outros setores econômicos (IPECE, 2012a).

O destaque atual do setor de serviços no município deve-se ao deslocamento de um grande número de indústrias para a Região Metropolitana de Fortaleza. Observa-se, hoje, que a geografia econômica configura o município de Fortaleza como um importante “centro decisório estratégico, atraindo regionalmente novos empreendimentos associados aos serviços superiores [...] e inferiores”. (FORTALEZA, 2009c, p. 11-12, destaques do documento), sem prejudicar a relevância econômica conquistada pelo município.

Os fatores de aglomeração tradicionais como as áreas comerciais e centralidades urbanas passaram a se associar aos de produção e comunicação de ideias, conhecimento e informação. O núcleo da economia da cidade está concentrado nos setores de serviço, comércio e administração pública. Vários efeitos aglomeração são causados pelo contato “face a face”, o que denominam o "burburinho" da cidade. O contato face a face gera o efeito “burburinho”, que é uma força economicamente

41“O Índice de Desenvolvimento Municipal (IDM) carrega em sua essência a ideia de uma análise

multidimensional, que por meio de técnicas estatísticas traduz o nível de desenvolvimento relativo de cada um dos municípios cearenses em um indicador. Ao todo, são trabalhados 30 indicadores agrupados em quatro grupos ligados a aspectos fisiográficos, fundiários e agrícolas, demográficos e econômicos, de infraestrutura e sociais”. (IPECE, 2010, p.1).

42 Esse valor foi calculado a partir da diminuição entre o número de empregados admitidos e

importante de modo a contribuir, significativamente, para a aglomeração da atividade econômica e de pessoas. Muitas atividades continuam a concentrar-se no espaço geográfico de Fortaleza, por diferentes motivos: (1) os efeitos de encadeamentos das firmas, incluindo-se o acesso ao importante mercado de consumo local; (2) a aglomeração de trabalhadores com diferentes níveis de qualificação e remuneração; e (3) interações localizadas, promotoras da inovação técnica, como é o caso na nascente área de TI (FORTALEZA, 2009c. p. 13).

As características demográficas, econômicas, sociais, políticas e culturais que creditam à Fortaleza um lugar de destaque perante o conjunto das metrópoles brasileiras, geram um duplo desafio na configuração da questão urbana desse município, qual seja: a existência de uma “[...] crescente demanda sobre a infraestrutura urbana e de serviços públicos do município, mas, ao mesmo tempo, carrega enormes potencialidades sociais e econômicas a serem materializadas” (FORTALEZA, 2009c. p. 13).

Assim, num simples passeio que percorra diferentes territórios do município, é possível identificar os estrangulamentos em termos da infraestrutura urbana (saneamento, pavimentação, arborização, limpeza urbana, condições da habitabilidade, dentre outros) e na oferta de serviços públicos (saúde, educação, transporte coletivo, lazer, cultura, dentre outros) com os quais a população de Fortaleza convive.

Sobre a questão da distribuição da extrema pobreza no município de Fortaleza43, o estudo realizado pelo Ipece (2012b), no ano de 2012, registra questões, como: os cinco bairros que apresentam o maior número absoluto de pessoas em extrema pobreza são Conjunto Palmeiras (6.277 pessoas), Jangurussu (5.511 pessoas), Granja Lisboa (4.949 pessoas), Barra do Ceará (4.808 pessoas) e Mondubim (4.521 pessoas); os cinco bairros que apresentam o menor número absoluto de pessoas em extrema pobreza são Gentilândia (18 pessoas), Praia de

43No ano de 2012, o governo federal lança o Plano Brasil sem Miséria que tem como objetivo a

erradicação da extrema pobreza no Brasil cujo público participante abarca as famílias com renda familiar mensal inferior a R$ 70,00 por pessoa. Assim, vários institutos de planejamento e pesquisa, seja de origem governamental ou não-governamental, passaram a realizar estudos e análises envolvendo esse grupo específico da população brasileira. Com a alusão e análise de dados relacionados a distribuição da extrema pobreza em Fortaleza quer-se, unicamente, representar que a renda financeira gerada no município encontra-se desigualmente distribuída entre as regiões administrativas de Fortaleza. Em verdade, a condição de pobreza é retratada neste subitem a partir de diversos parâmetros.

Iracema (19 pessoas), Cidade 2000 (34 pessoas), Guararapes (48 pessoas) e Parque Araxá (58 pessoas).

Dessa análise, considera-se salutar reproduzir a tabela, a seguir, que discrimina a distribuição da população em extrema pobreza nas regiões administrativas do município.

Tabela 1: Extrema Pobreza por SER, Fortaleza, 2010.

SER Nº de

Bairros

População Total Extrema Pobreza % sobre o número total de

extremamente pobres % Regionais I Regionais II Regionais III Regionais IV Regionais V Regionais VI 15 21 16 20 363.912 363.406 360.551 281.645 5,42 3,48 4,83 3,05 19.730 12.634 17.417 8.583 14,72 9,43 13 6,41 Total: 119 2.452.185 133.992 100

Fonte: Censo Demográfico do IBGE, 2010, dados preliminares. Elaboração: Ipece.

A distribuição da pobreza no município de Fortaleza revela uma incidência dos seus maiores índices nos bairros que, seguindo o processo histórico da evolução socioeconômica e urbanística do município, construíram-se em territórios periféricos sem planejamento e “desprovidos de infraestrutura domiciliar e ordenamento urbanístico adequado” (IPECE, 2012b, p. 7).

Assim, observa-se que os índices de extrema pobreza do município de Fortaleza se distribuem desigualmente, fazendo com que, por exemplo, as regionais V e VI concentrem, sozinhas, 56,44% do número de pessoas em extrema pobreza no município de Fortaleza.

A pesquisa “Políticas Públicas e Aspectos Sociais por Regionais e Bairros”, realizada em 2006 pela Secretaria do Desenvolvimento Econômico da PMF (apud FORTALEZA, 2010a, p. 20), apresenta os principais problemas apontados pelos(as) moradores(as) de cada uma das 6 regiões administrativas de Fortaleza.

Quadro 1 – Principais problemas existentes por SER, agosto/setembro de 2006. PROBLEMAS

SER

Escolas 1,37 7,98 4,18 2,27 4,03 7,53 Posto de Saúde 10,74 11,25 12,59 10,83 12,29 11,31 Hospital 5,91 9,38 11,71 6,68 9,17 10,29 Saneamento 9,73 8,37 8,25 11,39 10,59 10,17 Energia 0,69 1,34 0,29 1,21 1,01 4,25 Moradia 2,89 3,29 1,80 3,01 2,62 5,40 Áreas de Lazer 11,94 11,60 12,24 9,99 10,77 9,20 Delegacia de Polícia 9,19 11,15 12,26 11,23 11,66 9,54 Rondas Policiais 12,59 11,58 13,17 13,08 12,08 10,50 Segurança 17,16 12,17 11,65 14,43 12,96 11,34 Emprego 17,79 11,89 11,86 15,88 12,82 10,47 TOTAL (%): 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Fonte: Secretaria do Desenvolvimento Econômico da PMF, 2007. Grifos meus.

A observação desses dados nos leva a concluir que as questões que envolvem as problemáticas do emprego, da segurança e da saúde são as que adquirem as maiores percentagens nas seis Sers.

No tocante à questão do emprego formal, avalio que o processo de financeirização de economia, associado às redefinições no mundo do trabalho, substituindo a força humana pelo uso da máquina, configura-se como a pedra de toque na definição do desemprego na atualidade (CARVALHO, 2010b). Realidade esta de difícil assimilação quando se observa uma cultura que valoriza o emprego formal como estratégia de afirmação da identidade pessoal e social, que constitui, também, veículo de satisfação das necessidades humanas no sistema do capital, considerando a retração do Estado no gerenciamento das políticas, programas e projetos sociais e a realidade daqueles que se encontram em maiores níveis de pobreza.

Tomando como parâmetro de análise a realidade dos Cras de Fortaleza, a partir das questões vivenciadas em seus territórios44 de atuação, registra-se uma gama de situações que desafiam a política de assistências social, assim como

44 Conforme o Manual de Preenchimento do Censo Cras 2012, a marcação do item outras situações

de violência no território implica dizer que existem outros tipos de violência no território para além das que são sugeridas no instrumental do Censo Suas.