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Mapa 6 Sítio Mãe Terra no Assentamento Bela Vista

2. A TERRITORIALIZAÇÃO DO MOVIMENTO DOS TRABALHADORES

2.2. TERRITORIALIZAÇÃO DO MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM

MST é um movimento organizado em todo o território nacional. Tem sua gênese em 19795, é fruto do processo histórico de luta e resistência do

campesinato e traz na sua constituição, a prática de ocupações de terras improdutivas e/ou devolutas. (FERNANDES, 1999).

Para além do Rio Grande do Sul, o MST se fez presente em ocupações em diversos estados, tais como Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Bahia, Rio de Janeiro e Goiás como relata Fernandes:

No início desse período, no campo, em diversos estados, aconteceram lutas localizadas que deram origem ao MST. As lutas que marcaram o princípio da história do MST foram as ocupações das glebas Macali e Brilhante, no município de Ronda Alta-RS, em 1979; a ocupação da fazenda Burro Branco, no município de Campo Erê-SC, em 1980, ainda nesse ano, no Paraná, o conflito entre mais de dez mil famílias e o Estado que, com a construção da Barragem de Itaipu, tiveram suas terras inundadas e o Estado propôs apenas a indenização em dinheiro; em São Paulo a luta dos posseiros da fazenda Primavera nos municípios de Andradina, Castilho e Nova Independência; no Mato Grosso do Sul, nos municípios de Naviraí e Glória de Dourados, milhares de trabalhadores rurais arrendatários desenvolviam uma intensa luta pela resistência na terra. Outras lutas também aconteciam nos estados da Bahia, Rio de Janeiro e Goiás. (FERNANDES,1994, p.58)

No mesmo contexto da ocupação da gleba de Macali, há uma efervescência de novas ocupações, sobretudo na região sul no primeiro momento e, posteriormente por todo território nacional.

As ocupações do Rio Grande do Sul foram tão significativas que em 1985 havia somente no nordeste e noroeste do estado ocupações em 40 municípios, com mais de 2500 famílias.

Após a ocupação da gleba Macali em 25 de setembro de 1979, 70 famílias ocuparam uma gleba vizinha, a gleba Brilhante, também no município de Ronda Alta. A luta cresce e em outubro 150 famílias ocupam a fazenda Anoni no município de Sarandi e são despejadas. Desta luta nasce o histórico acampamento da Encruzilhada do Natalino. Cinco anos depois, em outubro de 1985, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra em 2.500 famílias de quarenta municípios do nordeste e noroeste do Rio Grande do Sul ocupam definitivamente a fazenda Anoni (RUCKERT, 1991, p. 453 apud FERNANDES, 1994, p. 67)

5 Sua primeira ocupação foi no centro-sul, na gleba Macali, em Ronda Alta (Rio Grande do Sul), no dia 7 de setembro de 1979.

Além das ocupações houve neste período o surgimento de diversos movimentos sociais camponeses de atuação local e regional, alguns até mesmo tinham nomes que referenciavam a localidade que representava.

A partir dessa data, aumentaram as ocupações de terra em vários estados. Eram lutas localizadas que traziam em si uma experiência comum: a sua forma de organização. Alguns desses movimentos já haviam criado suas próprias denominações que traziam, nas suas siglas, a sua localização, como por exemplo nas lutas no estado do Paraná: Movimento dos Agricultores Sem Terra do Oeste (MASTRO); Movimento dos Agricultores Sem Terra do Sudoeste (MASTES). No estado de São Paulo surgia o Movimento dos Sem Terra do Oeste do Estado de São Paulo e o Movimento dos Sem Terra de Sumaré, etc. (FERNANDES, 1994, p.68)

A identificação da facilidade de cooptação dos movimentos de caráter regional e local marcou como ponto fundamental para necessidade de uma articulação nacional, superando assim o isolamento, e articulando a luta de campo e cidade.

Foi com a troca de experiências, que a articulação nacional desses movimentos começou a ser construída na perspectiva de superação do isolamento e em busca da autonomia política. Esta superação se fazia necessária devido às dificuldades enfrentadas no desenvolvimento das lutas localizadas. As lutas acontecem no campo, porém o processo de conquista da terra não acontece só no campo, mas principalmente na cidade. Assim, uma articulação nacional poderia permitir a construção de uma forma de organização social que fortaleceria esse processo de conquista, construindo uma infraestrutura para a luta. (FERNANDES,1994, p.68)

Neste sentido muitos foram os momentos de criação do MST conforme colocado por Fernandes e Stedile (2012), sendo que o movimento nasce a partir de alguns fatores que tem como base as mudanças socioeconômicas da agricultura brasileira dos anos 70, a chamada de modernização da agricultura.

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) nasceu em um processo de enfrentamento e resistência contra a política de desenvolvimento agropecuário, implantada durante o regime militar. Esse processo é entendido no seu caráter mais geral, na luta contra a expropriação e contra a exploração do desenvolvimento do capitalismo. (FERNANDES, 1994, p.57)

A gênese do MST ocorre em paralelo com a gestação de outros movimentos socias e populares, como as grandes greves do ABC Paulista (cidades de Santo André, São Bernardo e São Caetano), a criação da CUT

(Central Única dos Trabalhadores) e do PT (Partido dos Trabalhadores) em uma grande ebulição de atores sociais no processo de redemocratização brasileira.

A formação de vários movimentos sociais aconteceu em um processo de gestação no decorrer dos anos setenta. Assim o MST começou a ser gerado no espaço social conquistado pelas diversas experiências das lutas populares: estratégia políticocultural concebida no universo destes sujeitos. (FERNANDES, 1994, p. 57)

Nesta acepção os trabalhadores criaram novos espaços de socialização e luta diante das tarefas que os mesmos iriam enfrentar nos mais diferentes lugares sociais, do campo à cidade.

Em suas experiências, na formação do movimento, os trabalhadores ao conquistarem o seu próprio espaço, construíram o espaço de socialização política, que, dimensionado, possibilitou a elaboração de práticas, de formas de luta como enfrentamento nos diferentes níveis das relações sociais. (FERNANDES, 1994, p. 60)

As articulações do MST com os demais espaços de socialização dos trabalhadores, deu a este movimento mais que uma luta por questão econômica, pois havia naquele momento um profundo projeto sociocultural de transformação da realidade brasileira.

Assim (se) fazendo, ampliam o sentido da luta pela terra que passa a ser entendida para além da questão econômica, ou seja, é também um projeto sociocultural de transformação das suas realidades. Os efeitos sociais desse movimento sobre as relações sociais atingem toda a sociedade. Estes são frutos dos conflitos e, também, das ações desses sujeitos que tem por objetivo causar transformações específicas e gerais nas relações de poder (FERNANDES, 1994, p. 60)

Para além dos movimentos criados, também nos anos 70 uma parcela significativa da igreja organizada em CEB’s (Comunidades Eclesiais de Base) possibilitaram aos trabalhadores um lugar social de organização contra as injustiças que empunhava o golpe civil militar de 1964.

Na primeira metade da década de 70, nesses anos do auge do regime militar, as CEB's foram o lugar social onde os trabalhadores encontraram condições para se organizar e lutar contra as injustiças e por seus direitos. Embora tenha apoiado o golpe de 64, a Igreja começa a mudar de posição a partir de 1973. Nas suas bases, alguns sacerdotes já se envolviam com o processo de resistência dos trabalhadores em torno da questão da terra. (FERNANDES,1994, p.61) A criação da Comissão Pastoral da Terra (CPT) em 1975 marca como importante ponto de partida para a criação do MST sobretudo pela capilaridade

da igreja no território nacional, tanto nas áreas periféricas da cidade, quanto nas comunidades rurais, tendo sua ideologia pautada na Teologia da Libertação, esta que acredita na luta social como pauta fundamental de uma igreja libertadora, possibilitando o avanço da organização camponesa para além do Sul.

Como marco deste processo a CPT levou uma vez o José de Souza Martins em 1982, para fazer uma fala antes mesmo da oficialização do MST e o mesmo disse apontar para a necessidade de organizar os nordestinos para que o movimento camponês tivesse um caráter nacional:

A luta pela Terra no Brasil só terá futuro e somente se transformará em um agente político importante para mudar a sociedade se adquirir um caráter nacional e se conseguir organizar os nordestinos (MARTINS apud STEDILE, 2012, p. 23 ).

Este encontro teve fundamental importância para nortear as ações futuras dos camponeses, pois estavam presentes trabalhadores de 16 estados, em Goiânia, e Martins cumpriu o papel de mediador deste debate.

A articulação aconteceu a partir dos encontros entre as lideranças das lutas localizadas. A CPT, que na época já possuía uma organização a nível nacional e estava presente em quase todas as lutas, promovia esses encontros. No Centro-Sul, um encontro importante foi realizado em julho de 1982, no município de Medianeira-PR. A nível nacional, a CPT promoveu em setembro do mesmo ano um encontro em Goiânia- GO, onde participaram trabalhadores de 16 estados. (FERNANDES, 1994, p. 69)

Martins, neste momento colocou como fundamental uma integração da luta camponesa, dando um claro recado ao movimento do Sul que na época tinha um caráter muito regional.

É a partir desses encontros que algumas lideranças, das lutas existentes no sul do país, começaram a discutir as possibilidades de se organizar um movimento social mais amplo, que permitisse superar os problemas do isolamento. Assim, em janeiro de 1983, fizeram um encontro em Chapecó-SC e criaram uma Coordenação Regional Provisória que reunia representantes de cinco estados do Centro-Sul: RS, SC, PR, SP e MS. Nesse ano, foram realizados outros encontros nas cidades de Naviraí e Glória de Dourados-MS, em Araçatuba-SP e em Ronda Alta-RS. (FERNANDES, 1994, p. 69)

Dentro da organização de um estado opressor, as CEBs pontuavam como espaço de liberdade dos trabalhadores, pois, dentro das comunidades era possível debater sobre a realidade dos participantes.

As CEBs tornaram-se lugares de reflexão, o espaço de socialização política, onde o objetivo do trabalho pastoral era a conscientização sobre a realidade dos participantes. Esses lugares são transformados em "espaços de liberdade", no sentido que ali se podia falar, ouvir e pensar. Dessa maneira, através da ampliação desse processo pedagógico, onde os sujeitos refletiam sobre as suas histórias, também começou-se a articular ações de resistência contra as injustiças. (FERNANDES, 1994, p. 63)

Havia neste contexto uma significativa expulsão do camponês e do trabalhador rural da terra devido o processo modernização do campo que gerou dois principais movimentos. O primeiro movimento deslocou muitos para as fronteiras agrícolas, onde os camponeses teriam que desenvolver outras atividades que não a produção de alimentos; e um segundo, em função do “Milagre Econômico”, deslocou um contingente enorme de camponeses e trabalhadores rurais à cidade.

Estes dois movimentos foram basais para criação do MST, pois muitos que migraram no segundo momento se encontraram insatisfeitos com o processo de migração, pois ora estavam desenvolvendo atividades que não condizia com sua moral camponesa, tal como extração de madeira, ou encontravam-se desempregados na cidade fruto da desigualdade intrínseca do sistema capitalista.

Outro contexto que possibilitou a criação do movimento, conforme colocado por Stedile (2012) são os movimentos camponeses que fizeram lutas anteriormente, conforme já exposto, e também os sindicatos rurais e a igreja, que foram fundamentais na construção da ideologia do MST, para além da herança direta das Ligas Camponesas.

Segundo Stedile (2012) o acúmulo dos diversos movimentos camponeses e de trabalhadores rurais brasileiros e posteriormente com movimentos camponeses da América Latina que já se organizaram há muito tempo possibilitou criar alguns princípios, entre os quais:

• Uma direção Coletiva em detrimento de uma figura de Presidência, evitando perseguições políticas e uma possível cooptação do mesmo.

• A divisão de tarefas a partir da aptidão de cada militante, evitando um descontentamento do mesmo.

• A disciplina dos militantes, pois possibilita uma melhor execução das tarefas, diferenciando disciplina de autoritarismo.

• Coloca o estudo como fundamental, pois considera essencial na formação dos quadros para o MST.

• A pressão popular, pois somente através da luta aconteceria uma real mudança social.

• O contato da liderança com a base, ou seja, evitando assim uma liderança meramente burocrática e deslocada do interesse da base.

Mesmo com diversas gêneses e ocupações anteriores, o Movimento tem como data base de fundação Janeiro/1984 momento no qual teve em Cascavel (PR) o I Encontro Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra que contou com 80 representantes de 13 Estados.

Neste encontro também foram elaborados os objetivos gerais do MST: 1. Que a terra só esteja nas mãos de quem nela trabalha;

2. Lutar por uma sociedade sem exploradores e sem explorados; 3. Ser um movimento de massa autônomo dentro do movimento sindical para conquistar a reforma agrária;

4. Organizar os trabalhadores rurais na base;

5. Estimular a participação dos trabalhadores rurais no sindicato e no partido político;

6. Dedicar-se à formação de lideranças e construir uma direção política dos trabalhadores;

7. Articular-se com os trabalhadores da cidade e da América Latina. (FERNANDES, 1994, p. 69)

Fruto de encontro de 1984, em 1985 acontece o I Congresso Nacional do MST em Curitiba (PR) sob a palavra de ordem “Sem Reforma Agrária, não há Democracia”. Neste congresso que tinha como princípio reunir todos os lutadores do campo contou com 1600 delegados, que tiveram como decisão fundamental não se iludir com as políticas do recém Governo Democrático, decisão acertada conforme foi visto na análise da reforma agrária do José Sarney. Este congresso é fundamental segundo Fernandes (1994) para concluir a gênese do MST.

Stedile e Fernandes (2012) evidenciam que o Encontro do MST de 1989 foi uma ocasião de grande articulação do MST, pois havia neste momento a esperança de eleger um governo popular de Luís Inácio (Lula), devido ao crescimento sobretudo da CUT e do PT. Cabe ressaltar que o PT em 1988 havia eleito prefeitos em diversas cidades, dentre os quais Luiza Erundina na principal capital brasileira, a cidade de São Paulo.

Foi no encontro de 1989, em Sumaré (SP), que surgiu a palavra de ordem que ecoaria até os dias de hoje dentro do MST, que seria “ocupar, produzir e resistir” palavra de ordem, que guiaria a práxis do MST por mais de uma década, período de muitas ocupações e até hoje orienta a prática de alguns militantes do movimento.

Outro importante momento extremamente contraditório para o Movimento foi II Congresso Nacional do MST realizado em 1990, foi logo após a derrota eleitoral do Lula, aliado fundamental do movimento naquele momento, estando na presidência Fernando Collor inimigo declarado dos camponeses sem terra. Cabe ressaltar que uma parcela significativa da classe trabalhadora e quase a totalidade de movimentos sociais que surgiram pós redemocratização tinham na eleição do Lula a expectativa de conquistas sociais profundas, dentro do MST a principal esperança seria a reforma agraria.

O movimento se viu na condição de aprofundar a resistência, pois tinha como principal opositor o presidente aliado aos latifundiários, que hoje sabe-se que pouco fez em relação a implementação de assentamentos, além de fazer uma política clara de criminalização do movimento, através de prisões e processos judiciais.

Outro elemento fundamental que serviu para a continuidade do movimento foi a possibilidade de um congresso de massa, tendo em vista que neste participou cerca de 5.000 delegados. O III Congresso do MST realizado em 1995 também trouxe novos elementos à luta camponesa, pois conforme colocado por Stedile e Fernandes (2012) deixando claro que a luta dos sem- terras, tinha que ser a Luta também contra o Sistema Econômico Neoliberal, defendido por FHC (Fernando Henrique Cardoso) já no início de seu primeiro mandato.

O ano posterior,1996, foi marcado dentro do MST como o ano do Massacre de Eldorado dos Carajás no Pará, onde a polícia militar do estado

matou 19 camponeses sem terra, à luz do dia, na presença da imprensa e munida da política de Contra Reforma Agrária do FHC.

Como resposta, FHC fugindo da polemica, nomeou Raul Belens Jungmann Pinto que aplicou já nos primeiros dias como Ministro da Reforma Agrária a postura de isolar os movimentos sociais e fechar o canal de comunicação com MST, surgindo então dentro do MST a tática das Marchas.

Temos claro neste momento o quanto a exclusão social e a dominação política geraram uma nova forma de resistência entre os camponeses, pois o que está dado neste momento é a luta de classe; de um lado um governo que representa os interesses dos latifundiários e do outro o Movimento social MST que refere-se aos camponeses.

O MST resolve diante do contexto de exclusão social fazer uma marcha para Brasília que contou com 100 mil militantes de diversos movimentos políticos em 1997, diante da clara investida do Governo do FHC contra os Movimentos Sociais, sob diversas táticas: propagandas negativas, criminalização e aparato jurídico. Cabe evidenciar que a marcha é utilizada por diversos movimentos sociais há muito tempo e em diversos contextos, o próprio MST já havia realizado marchas em outros contextos locais e regionais.

Esta marcha pontua como um dos momentos mais importantes da história do MST e também da história brasileira, pois temos o embate de um movimento social de esquerda que coloca em marcha mais de 100 mil militantes frente a um governo neoliberal, FHC que defende uma Contra Reforma Agrária.

Um elemento capital desta marcha foi a sua capilaridade em todas as regiões, sendo que saíram em Marcha para Brasília em 3 fileiras sendo, uma saindo do Sul, uma do Sudeste e outra do Centro-Oeste. O principal objetivo era conversar com a população em todo este mais de mil quilômetro de extensão de caminhada, a ideia inicial era que a marcha saísse das 5 regiões, porém entenderam que seria um grande esforço dos militantes do norte e nordeste caminhar muitos quilômetros, sendo assim as fileiras que sairiam de Petrolina (PE) e Imperatriz (Maranhão) e passaria por cidades com baixa densidade demográfica foi reorganizada conforme pontua Stedile e Fernandes (2012).

Denunciar o governo neoliberal de FHC foi uma escolha do MST ao organizar a Marcha. Sabiam que levar uma proposta de reforma agrária seria em vão, diante da postura do governo voltada ao interesse do latifúndio. Era preciso

o enfrentamento, ou seja, a Marcha, para apresentar a bandeira da reforma agrária, pauta do MST desde sempre.

A partir deste momento o MST pontua como principal movimento social brasileiro, mas devido sua visibilidade internacional, busca novas interações dentre as quais com a Via Campesina. Ribeiro (2013) traz sua análise sobre a leitura geográfica desta relação.

La Vía Campesina é um movimento internacional que articula 150

organizações em 70 países e se considera como um “movimento autônomo, pluralista e multicultural, sem nenhuma filiação política, econômica ou de qualquer outro tipo” (VIA CAMPESINA, 2011, apud RIBEIRO, 2013, p. 2).

Como o MST carrega a bandeira da reforma agrária, ou seja, tem no camponês o sujeito no centro das ações, sua atuação atrai militantes dispostos à realização de ocupações, acampamentos, manifestações como passeatas, caminhadas. Um grande exemplo de sua mobilização política foi a “Marcha para Brasília 2005”, que durou do dia 1 até o dia 18 de Maio, em que 12 mil militantes caminharam 238 quilômetros, com a proposta de pedir ao Presidente Luís Inácio Lula da Silva, o cumprimento da proposta de reforma agrária do II PNRA (Plano Nacional de Reforma Agrária).

Porém a dinâmica do MST sobretudo a partir de 2007, conforme observado nos dados do Data Luta (2017), foi se modificando, há uma significativa diminuição das ocupações do MST e dos demais movimentos sócio territoriais.

Compreender o arrefecimento da tática de ocupação do MST passa por compreender que se dá de maneira multifatorial, passando pela eleição do Lula, avanços dos programas sociais, cooptação de uma parcela das lideranças; e sobretudo compreender o caráter de contra reforma agrária no governo Lula.

De fato, a reforma agrária sempre esteve em disputa dentro dos debates do governo; por um lado havia os movimentos socioterritoriais que defendiam a Reforma Agraria como fundamental no desenvolvimento econômico, social e político do país, dentre estes movimentos o MST e por outro a linha sindical que tinha a compreensão da reforma agrária somente como política compensatória. Neste sentido compunham as diversas políticas sociais.

Em primeiro lugar deve-se deixar demarcado que desde o início do governo LULA do PT havia em disputa, duas concepções diferentes de reforma agrária. Uma delas vem da Secretaria Agrária do partido, que