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SEÇÃO 3: A VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA

4.5 Territorialização dos agentes de controle de zoonoses

A implementação da territorialização dos Agentes de Controle de Zoonoses na Atenção Básica de Saúde seguiu as orientações contidas nas DNPCED de 2009.

Como mencionado na Seção 2, Controle Vetorial, desde 2002 e reiterada em 2009 nas DNPCED o Programa Nacional de Controle da Dengue prescreve a unificação da base cartográfica de trabalho e articulação entre as vigilâncias

epidemiológica, entomológica, operações de campo a partir dos territórios da atenção básica para uma melhor efetividade das ações no caso de ocorrer a detecção de focos do Aedes aegypti ou de casos de dengue (BRASIL, 2009; LIMA, 2016).

O primeiro passo para implementação da territorialização em Uberlândia, foi o de formar um grupo de trabalho para coordenar o planejamento de ações conjuntas no combate ao Aedes aegypti. Este grupo foi instituído no município pela Secretaria de Saúde pelo Diretor de Vigilância em Saúde em uma articulação dos programas de Vigilância em Saúde, com a coordenação do Centro de Controle de Zoonoses, coordenação do Programa Saúde na Escola, e da Atenção Primária, com a coordenação da Unidade Básica Saúde da Família (UBSF).

O grupo foi formado pela Vigilância em Saúde, com a participação dos Agentes de Controle de Zoonoses do Programa da Dengue, com os Agentes Sanitários, do Programa Saúde na Escola, e com os Agentes Comunitários de Saúde e Enfermeiros, da Atenção à Saúde (Atenção Primária). Essa aproximação ocorreu de forma gradativa com o estreitamento das relações entre a vigilância em saúde e a atenção básica, em primeiro momento por meio de um curso de capacitação realizado na UFU com o tema: A Vigilância e controle da dengue a partir da mobilização comunitária intersetorial no território da atenção básica com o público alvo os ACS, ACZ, Agentes de Saúde Escolar e enfermeiras (OLIVEIRA &LIMA, 2016).

O curso de capacitação consistiu em 3 módulos presenciais com uma dispersão de 15 dias entre os módulos para a aplicação das estratégias de ação definidas durante a aula presencial. O primeiro módulo tratou de aperfeiçoar as visitas domiciliares, o segundo sobre a mobilização comunitária a partir das instituições sociais do território e o terceiro sobre a articulação intersetorial das instituições do poder público.

No Distrito Sanitário Sul foram capacitadas 13 Unidades, no Distrito Sanitário Oeste foram capacitadas 9 unidades e 23 Unidades de Saúde

No período de setembro a dezembro de 2015 todos os Agentes Comunitários de Saúde e as enfermeiras coordenadoras das UBSF/UBS foram capacitados para trabalhar no combate ao Aedes aegypti, juntamente com os Agentes de Controle de Zoonoses e os Agentes de Saúde Escolar.

Durante os módulos do curso foram criadas estratégias para envolver as UBS e UBSF em ações de mobilização comunitária. Dentre as ações de mobilização comunitária foi proposto que no período em que os usuários do SUS estivessem na sala de espera e durante as visitas domiciliares do Agente Saúde houvesse o reforço sobre a orientação para que as famílias realizem vistorias em seu domicílio e ao encontrar criadouros pudessem eliminar os focos do mosquito (UBERLÂNDIA, 2016).

Ainda no curso houve o esclarecimento do Ministério da Saúde por meio da Política Nacional de Atenção Básica e das DNPCED estabeleceram as atribuições específicas de cada profissional que está inserido nas equipes de Estratégia Saúde da Família (ESF), até então para que não houvesse duplicidade de ações.

Apesar da recomendação do Ministério da Saúde e a Portaria MS n.44, de 2 de janeiro de 2002 e com a revisão de diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica, para o Programa de Agentes Comunitários de Saúde na Portaria Nº 2.488, de 21 de Outubro de 2011, na maioria dos municípios a incorporação do ACS não ocorre na prática. Esta portaria regulamenta a participação dos ACS’s no Programa de Controle da Dengue, e que uma de suas atribuições é também vistoriar domicílios e áreas peridomiciliares para identificar criadouros de difícil acesso ou outras situações que requeiram a utilização de larvicida, casos em que devem solicitar a presença do ACZ (BRASIL, 2009).

Percebe-se que em muitos municípios há um descompasso enorme entre a teoria e a prática por causa da resistência dos ACS em desempenhar as atribuições direcionadas para o Programa de Prevenção e Controle da Dengue, devido à justificativa de sobrecarga de atividades, carga horária de trabalho maior e salário menor que a do ACZ, ou mesmo, pela falta de articulação entre

a Vigilância em Saúde e da Atenção Básica (LIMA, 2016). Esta era a realidade encontrada no município de Uberlândia antes da implementação da territorialização dos Agentes de Controle de Zoonoses na Atenção Básica de Saúde:

Em Uberlândia, há o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), que sedia o Programa de Dengue. A organização do trabalho deixava clara a seguinte divisão: enquanto as UBSF cuidam dos doentes o CCZ cuida do mosquito. Quando se falava que os agentes comunitários de saúde (ACS) deveriam também se dedicar ao controle do mosquito, porque isso representaria prevenção da doença, entre eles havia um dito: ”nós trabalhamos mais, ganhamos menos e ainda temos que fazer o trabalho deles”. Os ACS referiam-se aos Agentes de Controle de zoonoses, também conhecidos como Agentes de Endemias (LIMA, 2016, p.144).

De acordo com Cazola (2014) o ACS tem sob sua responsabilidade atribuições que podem ser classificadas em três grandes grupos: ações de promoção e prevenção da saúde, ações de mediação entre o serviço de saúde e os usuários e ações de acompanhamento e reabilitação (CAZOLA et al., 2014).

Os Agentes de Saúde Escolar (ASE) também foram inseridos na territorialização, pois é interessante que todos os atores sociais e equipamentos públicos da microárea estivessem integrados nas ações de promoção e prevenção principalmente na escola onde o trabalho repercute e os alunos se tornam multiplicadores dessas ações. Os ASE desenvolvem atividades como palestras, oficinas de caráter preventivas e educativas relacionados aos programas existentes no CCZ em Escolas, Semanas Interna de Prevenção a Acidentes de Trabalho (SIPAT’s) e outras entidades organizadas e eventos das Secretarias Municipais. No Decreto n°6.286, de 05 de dezembro de 2007, que instituiu o Programa Saúde na Escola – PSE, e prevê as seguintes ações:

I - avaliação clínica; II - avaliação nutricional; III - promoção da alimentação saudável; IV - avaliação oftalmológica; V - avaliação da saúde e higiene bucal; VI - avaliação auditiva; VII - avaliação psicossocial; VIII - atualização e controle do

álcool; XI - prevenção do uso de drogas; XII - promoção da saúde sexual e da saúde reprodutiva; ´XIII - controle do tabagismo e outros fatores de risco de câncer; XIV - educação permanente em saúde; XV - atividade física e saúde; XVI - promoção da cultura da prevenção no âmbito escolar; e XVII - inclusão das temáticas de educação em saúde no projeto político pedagógico das escolas (BRASIL, 2009, p.13).

Na figura 20, é possível visualizar uma sugestão do desenho esquemático para organização hierárquica do Programa de Controle da Dengue nos municípios, ressaltando a importância da comunicação entre o controle de endemias, programa saúde na escola e atenção básica.

Figura 20: Organograma da estrutura hierárquica do Agente de Controle de Zoonoses na Atenção Básica, 2009

Fonte: BRASIL, 2009.

É fundamental a integração desses três profissionais (ACZ, ASE, ACS) em uma mesma base territorial geográfica, para que as ações no controle de endemias sejam articuladas, uma vez que a corresponsabilidade e consequente integração de atividades potencializa o trabalho preventivo e aperfeiçoam ações que, embora distintas, complementam-se. Essas ações devem estar sob o comando da coordenação da UBSF (BRASIL, 2009; LIMA, 2016).

A partir de 2015, os ACZ foram territorializados na Atenção Básica em 48% do município de Uberlândia, assumindo o papel de Agentes de Vigilância em Saúde para apoio à UBSF no controle de Dengue e de outras doenças

vetoriais, enquanto que os ACS assumiram também a vistoria dos domicílios para identificar focos e possíveis criadouros dos Aedes aegypti, sempre depois de uma visita domiciliar (UBERLÂNDIA; 2016; LIMA, 2016).

A partir de então, no município de Uberlândia, com vistas de estruturar o serviço de Atenção Básica, os ACS passaram a incorporar o treinamento de maneira rotineira em suas microáreas, além das vistorias em imóveis domiciliares, as vistorias em estabelecimentos comerciais, terrenos baldios e pontos estratégicos (como cemitérios, borracharias e depósitos de sucata e de materiais de construção).

O diretor de Vigilância em Saúde, Samuel do Carmo Lima, explicou que a proposta é um Agente de Zoonoses em cada UBSF, para que ele reforce as equipes das unidades de saúde. Desta forma, há a necessidade do trabalho conjunto entre os diversos atores da saúde e da população para eliminar os focos do mosquito. Segundo ele a prevenção é mais efetiva antes que a epidemia comece, esclareceu (CORREIO DE UBERLÂNDIA, 2016).

O trabalho integrado desses dois agentes é parte da solução para sanar alguns entraves encontrados pelo ACZ, como por exemplo, o número de recusas, que para o Ministério da Saúde as casas fechadas se tornam uma pendência. A pendência ocorre quando há dificuldade de acesso a um domicílio, por estar fechado ou lacrado, ou por recusa do morador. Com a integração do ACS, que já possui um vínculo com a comunidade é possível que ele ajude a franquear o acesso do ACZ. O ACZ, por sua vez, territorializados passa a ser conhecido pela comunidade local e a população perde o medo e desconfiança de deixá-lo entrar em sua casa.

Porém a ação conjunta destes dois agentes não é suficiente para garantir o controle vetorial. Falta ainda a aproximação dos serviços de saúde aos demais serviços públicos e à população. Esta aproximação denomina-se articulação intersetorial, com o apoio das organizações sociais da sociedade civil: escolas, CRAS, CAPS, órgãos de meio ambiente e segurança pública que estão presentes no território da UBSF (LIMA 2016).

A Seção 5, trata do componente Comunicação e Mobilização, e explica melhor as ações e serviços coletivos que estão sendo realizados pela SMS em parceria com outras Secretarias, e interinstitucional e a população no Município de Uberlândia para o combate ao Aedes.