• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 1 – UMA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DA ABERTURA

5.2 Teste de Bai e Perron (1998)

Para se reforçar a quebra encontrada em 1993 com o teste de raiz unitária com quebra estrutural, demonstrado na seção 5.1, executa-se o teste de Bai e Perron (1998). Nesse,

faz-se o limite máximo de quebras como sendo 1, pois segundo Perron (2005), ao se estimar um modelo de uma única quebra na presença de múltiplas quebras, a estimativa da quebra convergirá para uma das verdadeiras quebras, na verdade aquela que é dominante no sentido de levar em conta a maior redução na soma dos quadrados dos resíduos.

Como resultado, tem-se que o valor da estatística F é 158,2374, o valor crítico é 8,58 e indica que houve uma quebra estrutural em 1993, estatísticamente significante a nível de 5%. Tal resultado corrobora com o encontrado na seção 5.1, na qual se realiza o teste proposto por Saikkonen e Lütkepohl (2002) e Lanne et al. (2002).

Maluf (2007) analisou o período de 1974 a 2003, dos principais países da América Latina e encontrou que em 1990 houve uma quebra na série de abertura econômica brasileira, além disso, também constatou a presença de raiz unitária na série que verificou.

Realizando o teste ADF para os subperíodos 1950-1993 e 1993-2010, tem-se os resultados descritos na tabela 1.3.

Tabela 1.3 – Teste ADF para os subperíodos no Eviews

1950-1993 1993-2010

Valor da estatística de teste -1,933752 -0,345302

Variável OPEN(-1) D(OPEN(1)) C Coeficiente Estatística t -0,171238 -1,933752 - - 0,020381 1,894200 Coeficiente Estatística t -0,042319 -0,345302 -0,530532 -1,707751 0,022311 0,744137

Fonte: Elaboração própria a partir dos testes realizados

Nota: Os valores críticos a 1%, 5% e 10% são -3,592462, -2,931404, -2,603904, respectivamente, para o subperíodo 1950-1993.

Os valores críticos a 1%, 5% e 10% são -3,920350, -3,065585, -2,673459, respectivamente, para o subperíodo 1993-2010.

Considerando as hipóteses do teste ADF e os valores críticos encontrados para os subperíodos, não se rejeita a hipótese nula de que há raiz unitária. Assim, o teste indica que a série em nível não é estacionária para ambos os subperíodos.

CONCLUSÃO

Este capítulo teve como motivação verificar se as políticas de liberalização comercial, implementadas na década de 1990, causaram alguma quebra estrutural na série de abertura econômica brasileira.

Examinando o período de 1950 a 2010, com a realização do teste de raiz unitária com quebra estrutural, considerando as funções de mudança, 𝑓( ), 𝑓( )(𝜃) e 𝑓( )(𝜃), tem-se, em todos os casos considerados, que ocorreu uma quebra em 1993. Com isso, faz-se o teste ADF para os subperíodos 1950-1993 e 1993-2010 e não se rejeita a hipótese nula de que há raiz unitária. Assim, o teste indica que a série em nível não é estacionária.

Para robustecer essa quebra encontrada em 1993, faz-se o teste de Bai e Perron (1998). Como resultado, o teste também indica que houve uma quebra estrutural em 1993. Tal resultado corrobora com o encontrado anteriormente.

Dessa forma, encontrou-se que tanto o teste de raiz unitária com quebra estrutural quanto o de Bai e Perron (1998) indicaram que houve uma quebra estrutural na série de abertura econômica brasileira em 1993.

No início da década de 1990, o Brasil estava passando por um processo inflacionário de mais de 80% ao mês. Nesse mesmo ano, houve a proposta de um programa econômico, que incluia também reformas estruturais centradas na abertura comercial, na redução do papel do Estado como produtor de bens e serviços e na reorganização da administração pública federal.

Apesar de a proposta de estabilização ter falhado, ocorreu a implementação de duas reformas: privatização e liberalização comercial. De uma perspectiva de longo prazo, essas reformas marcaram o início da mudança da estratégia econômica de quase meio século, baseada em uma forte intervenção do Estado, que era a industrialização por substituição de importações.

A liberalização comercial brasileira desenrolou-se de forma unilateral entre o final dos anos 1980 e meados dos 1990, sendo marcada por alguns acontecimentos principais. No primeiro evento de liberalização comercial, em 1988-89, atuou-se no sentido de eliminar redundâncias: a tarifa média nominal de 57,5% (não ponderada) foi reduzida para 32,1% (ABREU, 2014).

Segundo Abreu (2014), no segundo episódio, o mais importante, em 1990-93, decidiu-se inicialmente reduzir as barreiras não tarifárias, com a eliminação de proibições de importações, das licenças de importação usadas de forma mais ou menos permanente desde o

final da década de 1940, bem como dos chamados regimes especiais de importação, que regulavam a distribuição de cobertura cambial com base em critérios discricionários. Em 1991, foi definido um cronograma de redução tarifária que, em princípio, se estenderia até 1994 e resultou na queda da tarifa média de 32,2% em 1990 para 14,2% no início de 1994.

É exatamente nesse período, mais precisamente em 1993, que ocorre a quebra estrutural da série abertura economica brasileira. Essa quebra é explicada por esse cronograma de liberalização comercial ocorrido.

Um ponto relevante deste trabalho, é que o mesmo contempla um período longo de tempo, abrangendo diferentes estágios da abertura econômica brasileira. Dessa forma, pode-se englobar tanto a fase onde se tinha uma economia mais fechada, adotando processo de industrialização por substituição de importações, até os dias em que se priorizaram medidas de liberalização comercial.

Além disso, diferente da maioria dos trabalhos encontrados, que se limitam apenas ao teste de raiz unitária com quebra estrutural, este, além da realização de tal teste, utiliza a metodologia de Bai e Perron (1998) para se reforçar o resultado encontrado. A adoção desse procedimento foi importante para se verificar o impacto da política de liberalização comercial na abertura econômica.

REFERÊNCIAS

ABREU, M. P. (Org.) A Ordem do progresso: dois séculos de política econômica no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2014.

______. Comércio exterior: Interesses do Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier Campus; 2007. ABREU, M. P.; WERNECK, R. L. F. Privatization and Regulation in Brazil: The 1990-92 policies and the challenges ahead. The Quarterly Review of Economics and Finance, v. 33 special issue, p. 21-44, 1993.

ANDREWS, D. W. K. Tests for Parameter Instability and Structural Change with Unknown Change Point. Econométrica, v. 61, p. 821-856, 1993.

ANDREWS, D. W. K.; LEE, I.; PLOBERGER, W. Optimal changepoint tests for Normal Linear Regression. Journal of Econometrics, v. 70, p. 9-38, 1996.

ANDREWS, D. W. K.; PLOBERGER, W. Optimal tests when a nuisance parameter is present only under the alternative. Econométrica, v. 62, n. 6, p. 1383-1414, 1994.

AZEVEDO, A. F. Z.; PORTUGAL, M. S. Abertura comercial brasileira e instabilidade da demanda de importações. Nova Economia, Belo Horizonte, v. 8, n. 1, p. 37-63, jul. 1998. BAI, J. Least squares estimation of a shift in linear processes. Journal of Time Series Analysis, v.15, n. 5, p. 453–472, 1994.

______. Estimating multiple breaks one at a time. Econometric Theory, v.13, n. 3, p. 315– 352, 1997a.

______. Estimation of a change point in multiple regression models. Review of Economics and Statistics, v. 79, n. 4, p. 551–563, 1997b.

BAI, J.; PERRON, P. Computation and Analysis of Multiple Structural Change Models. Manuscript in Preparation, Université of Montréal, 1996.

______. Estimating and Testing Linear Models with Multiple Structural Changes. Econometrica, v. 66, n. 1, p. 47-78, 1998.

BRANCO, V. C. C.; CAVALCANTI, T. V.; MAGALHÃES, A. M. Abertura comercial, crescimento econômico e tamanho dos estados: evidências para o Brasil. Revista Economia e Desenvolvimento, v. 15, n. 1, p. 24-39, 2016.

CANO, W. Reflexões sobre o Brasil e a nova (des)ordem internacional. 4. ed. São Paulo: Unicamp/ FAPESP, 1995.

CARVALHO, V. R. S. A restrição e a perda de dinamismo da economia brasileira. Revista do BNDES, Rio de Janeiro, v. 14, n. 28, p. 395-424, dez. 2007.

CHOW, G. C. Tests of equality between sets of coefficients in two linear regressions. Econometrica, v. 28, n. 3, p. 591–605, 1960.

DICKEY, D.; FULLER, W. A. Distribution of the Estimates for Autoregressive Time Series with a Unit Root. Journal of the American Statistical Association, n.74, p.427-31,1979. ______. Distribution of the estimators for autoregressive time series with a unit root. Econometrica, v. 49, n. 4, p. 1057-1072, 1981.

ENDERS, W. Applied Econometric Time Series. 2. ed. New Jersey: Wiley, 2004. HESTON, A.; SUMMERS, R.; ATEN, B. Penn World Table Version 7.1. Philadelphia: Center for International Comparisons at the University of Pennsylvania (CICUP), jul. 2012. Disponível em: < https://pwt.sas.upenn.edu/php_site/pwt71/pwt71_form.php>. Acesso em 28 mai. 2017.

GARCIA, R.; PERRON, P. An Analysis of the Real Interest Rate under Regime Shifts. Review of Economics and Statistics, v. 78, p. 111-125, 1996.

GIAMBIAGI, F.; VILLELA, A. (Org.). Economia Brasileira Contemporânea. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.

GRANGER, C.; NEWBOLD, P. Spurious Regressions in Econometrics. Journal of Econometrics, n. 2, p. 111-20, 1974.

GREENE, W. H. Econometric analysis. 5.ed. New Jersey: Prentice Hall, 2003. GREMAUD, A. P.; VASCONCELLOS, M. A. S.; TONETO JUNIOR, R. Economia Brasileira Contemporânea. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

GUJARATI, D. N.; PORTER, D. C. Econometria básica. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2011. HANSEN, B. E. The new econometrics of structural change: Dating breaks in U.S. labor productivity. The Journal of Economic Perspectives, v. 15, n. 4, p. 117–128, 2001.

HILL, R. C.; GRIFFITHS, W.; JUDGE, G. Econometria. Tradução: Alfredo Alves de Faria. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.

JÚNIOR, S. K. Desempenho exportador brasileiro recente e taxa de câmbio real: uma análise setorial. Revista Brasileira de Economia, v. 56, n. 3, p. 429-456, 2002.

KUME, H.; PIANI, G.; SOUZA, C. F. B. A política brasileira de importação no período 1987-98: descrição e avaliação. IPEA, Rio de Janeiro, 2000.

LANZANA, A. E. T. Economia brasileira: fundamentos e atualidade. São Paulo: Atlas, 2005. LANNE, M.; LÜTKEPOHL, H.; SAIKKONEN, P. Comparison of unit root tests for time series with level shifts. USA: Journal of Time Series Analysis, v. 23, p. 667-685, 2002.

LIU, J.; WU, S.; ZIDEK, J. V. On Segmented Multivariate Regressions. Statistica Sinica, v. 7, p. 497-525, 1997.

LÜTKEPOHL, H.; KRÄTZIG, M. Applied time series econometrics. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2004.

MAIA, S. F.; NUNES, D. N. Abertura Econômica e Crescimento: Abordagem de Thirlwall para estudos do desempenho da balança comercial brasileira. Anais eletrônicos do XLIV Congresso da Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural, 2006. Disponível em: <www.sober.org.br/palestra/5/698.pdf>. Acesso em: 02 fev. 2018.

MALUF, N. M. Liberalização comercial e quebra estrutural: evidências empíricas para a América Latina. Tese (Doutorado em Economia). Universidade Federal do Ceará. 2007, p. 166. Disponível em:

<http://www.repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/536/1/2007_tese_snmaluf.pdf>. Acesso em: 23 jan. 2018.

MARINHO, E.; BITTENCOURT, A. Produtividade e Crescimento Econômico na América Latina: A Abordagem da Fronteira de Produção Estocástica. Estudos Econômicos, São Paulo, v. 37, n. 1, p. 5-33, 2007.

PERRON, P. The great crash, the oil-price shock, and the unit-root. Econometrica, v. 57, n. 6, p. 1361–1401, 1989.

______. Further Evidence on Breaking Trend Functions in Macroeconomic Variables. Journal of Econometrics, v. 80, n. 2, p. 355-385, 1997.

______. Dealing with structural breaks. Palgrave Handbook of Econometrics, v. 1, Econometric Theory, 2005.

PHILLIPS, P; PERRON, P. Testing for Unit Root in Time Series Regression. Biometrica, v. 78, p.335-46, 1988.

PHILLIPS, P. C. B; XIAO, Z. A Primer on Unit Root Testing. New Haven: Cowles Foundation Paper, n. 972, 1999.

PINHEIRO, A. C.; ALMEIDA, G. B. O que mudou na proteção à indústria brasileira nos últimos 45 anos? Pesquisa e Planejamento Econômico, Rio de Janeiro, v. 25, n. 1, abr. 1995.

PINHEIRO, V. C. Modelos de desenvolvimento e políticas sociais na América Latina em uma perspectiva histórica. Planejamento e Políticas públicas, n. 12, p. 63-88, jun./dez. 1995. QUANDT, R. E. Tests of the hypothesis that a linear regression system obeys two separate regimes. Journal of the American Statistical Association, v. 55, n. 290, p. 324–330, 1960. RAMIREZ, M. D.; SHARMA, H. Remittances and Growth in Latin America: A Panel Unit Root and Panel Cointegration Analysis. Economics Department Working Paper n. 51, Yale University. Jun. 2008.

REINHARDT, N.; PERES, W. Latin America’s new economics model: micro responses and economic restructuring. World Development, v. 28, n. 9, p. 1543-1566, 2000.

ROSSI, P.; PATROCÍNIO, B. Determinantes do Crédito à Exportação no Brasil: uma Análise com Vetores Autoregressivos (VAR). FEBRABAN/ UNICAMP. Jan. 2016.

SAIKKONEN, P.; LÜTKEPOHL, H. Testing for a unit root in a time series with a level shift at unknown time. Econometric Theory, v. 18, p. 313-348.

SAKYI, D.; VILLAVERDE, J.; MAZA, A.; CHITTEDI, K. R. Trade openness, growth and development: evidence from heterogeneous panel cointegration analysis for middle-income countries. Cuadernos de Economía, v. 31, n. 57, 2012.

SCHWARZ, G. Estimating the dimensional of a model. Annals of Statistics, Hayward, v. 6, n. 2, p. 461-464, 1978.

SIMONASSI, A. G. Função de resposta fiscal, múltiplas quebras estruturais e a sustentabilidade da dívida pública no Brasil. Anais do XXXV Encontro Nacional de Economia, ANPEC - Associação Nacional dos Centros de Pós-graduação em Economia, 2007.

SINGER, H. W. The distribution of gain between investing and borrowing countries. American Economic Review, v. 40, n. 2, p. 473-85, 1950.

STOCK, J.H.; WATSON, M.W. Econometria. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2004.

CAPÍTULO 2 – EFICIÊNCIA TÉCNICA E PRODUTIVIDADE TOTAL DOS