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CAPÍTULO III – RESULTADOS

3.2. TESTE DAS HIPÓTESES

A hipótese 1a defende que é expectável que a imprensa nacional dê maior cobertura a PS e PSD/PàF, do que a BE, CDU ou CDS-PP.A informação analisada confirma a existência de grande disparidade na cobertura partidária na amostra dos órgãos de comunicação social. Em média, o PS é abordado 70% das vezes, o PSD/PàF 62,8%, o CDS-PP (analisado isoladamente apenas em 2009) 24%, o BE 26,9% e a

26 CDU 24,2%10. O teste ANOVA11 confirma a diferença estatisticamente significativa

(F(4,22549)=1594,417, p=0,000) e testes a posteriori12 confirmam que CDU, BE e CDS-PP se agrupam

num subconjunto homogéneo, PSD/PàF noutro e PS num terceiro. Assim, a hipótese 1a da investigação é parcialmente confirmada: apesar de os dois partidos mainstream terem maior presença noticiosa, o volume de artigos superior do PS vis-à-vis PSD/PàF é inesperado.

Figura 3.1. Percentagem de notícias referentes aos partidos publicadas nos três períodos de análise em 2009 e 2015.

*Dados para o CDS-PP apenas referentes a 2009.

A figura 3.1 dá pistas que permitem testar a hipótese 1b, sobre qual jornal favorece uma cobertura mais direcionada para partidos de índole governativa. Por jornais, a diferença entre a média das percentagens dos dois partidos mais referidos (PS e PSD/PàF) e a média das percentagens dos três outros partidos (BE, CDS-PP e CDU) é maior no Expresso (45%) e menor no Correio da Manhã (38,9%). PÚBLICO e Jornal de Notícias apresentam valores intermédios (ambos aproximadamente 42,1%). Isto significa que é o CM a ter uma distribuição menos desigual de notícias por tipo de partido, enquanto o semanário Expresso é o mais desigual. Estes valores contrariam a hipótese 1b desta tese: é o Expresso quem mais privilegia a cobertura dos partidos grandes, estando o CM na situação oposta. Este resultado pode dever-se à tipologia de notícias do CM: maior número de breves e notícias simples que abordam de forma passageira mais partidos, enquanto o Expresso publica artigos mais interpretativos, que examinam o panorama político geral, nunca ignorando, por isso, os partidos de maior vulto na vida

10 A soma das percentagens não é igual a 100%, visto que numa mesma notícia podem existir referências a mais

que um partido.

11 A análise de variância (ANOVA) é um procedimento utilizado para comparar três ou mais grupos, experimentais

ou não.

12 Aqui como nas restantes análises de variância (ANOVA), os testes a posteriori realizados foram os testes de

Scheffe e de Duncan para diferenciação entre subconjuntos de casos homogéneos.

24,7 28,3 18,3 29,1 26,7 30,7 21,2 32,4 69,5 77 63 76,2 65,7 70,9 53,8 67,1 25,2 27,8 19,1 27 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

Jornal de Notícias Expresso Correio da Manhã PÚBLICO CDU BE PS PSD/PàF CDS-PP*

27 política portuguesa (PS e PSD). É relevante ainda apontar a prevalência de notícias referentes ao PS em comparação com PSD/PàF, em todos os jornais estudados, independentemente da sua inclinação ideológica.

A hipótese 1c diz respeito à valência do conteúdo dos jornais: prevê-se que a cobertura noticiosa nacional tenha tendência a consistir maioritariamente em críticas, o que logicamente resulta em médias de valência negativas para todos os partidos. Para testar esta hipótese, compararam-se as médias de tom de todas as notícias para cada partido.

A análise dos dados mostra que a média global de tom de notícias é de 2,85 numa escala de 1 (muito negativo) a 5 (muito positivo). A média geral do PS e PSD/PàF é de 2,80, a do CDS-PP (apenas registada separadamente do PSD em 2009) é de 3,00, a do Bloco de Esquerda situa-se nos 2,97 e a da CDU fica- se pelos 2,94. O teste ANOVA (F(4,8833)=49,551, p=0,000) confere haver diferenças estatisticamente

significativas entre as médias de tom, enquanto testes posteriores agrupam PS e PSD/PàF num subconjunto, e BE, CDU e CDS noutro. Em suma, BE e CDU têm médias de tom de cobertura noticiosa próximas de 3, sendo o CDS-PP o único partido com uma classificação exata de 3,00, correspondente a neutralidade. Para os dois partidos maiores, principais concorrentes e candidatos à vitória nas eleições portuguesas (PS e PSD), as médias de tom são mais baixas.

Estudou-se ainda a neutralidade geral da imprensa portuguesa para cada partido, isto é, fez-se uma comparação da percentagem de notícias analisadas com tom noticioso “3” (notícia neutra). São publicadas notícias de tom neutro 69% das vezes para PS e PSD/PàF, 82% das vezes para CDS-PP, 83% para BE e 85% para CDU (F(4,8833)=51,963; p=0,000). Ou seja, o PS e o PSD/PàF são os partidos que

suscitam artigos mais polarizados por toda a imprensa nacional, resultados comprovados por testes ANOVA e a posteriori.

Estes resultados confirmam parcialmente a hipótese 1c desta investigação: em concordância com as observações de Salgado (2009) e Bradenburg (2005), a maior parte da cobertura das eleições legislativas portuguesas para os dois partidos maiores tem valências predominantemente negativas. No entanto, para os partidos mais pequenos, a tonalidade dos artigos é virtualmente neutra (3 ou muito próximo disso).

A hipótese 1d foca-se no tom da cobertura noticiosa por jornal, e avança que o Expresso e o Correio da Manhã se encontram num espectro ideológico ligeiramente à direita, com um enviesamento menos negativo para PSD/CDS/PàF. Mais equilibrados na escala política, PÚBLICO e Jornal de Notícias favorecem acima de tudo os grandes partidos do centrão. A figura 3.2 apresenta as médias de tom de cada partido.

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Figura 3.2. Média de tom da cobertura de cada partido por jornal.

*Dados para o CDS-PP apenas referentes a 2009.

O CM é a publicação que demonstra uma visão mais crítica nas suas peças, com uma média geral de tom de 2,81, seguido do Expresso, com 2,85, e PÚBLICO e JN, com 2,87. Em relação à percentagem de notícias neutras, o PÚBLICO regista 76% de notícias de valor “3” da escala utilizada, o JN 74%, o Expresso 73% e o CM 71%. Todos os jornais analisados têm resultados menos negativos para partidos mais pequenos (BE, CDU e CDS-PP), quando comparados com partidos mais próximos do centro (PS e PSD/PàF).

No PÚBLICO (F(4,2669)=16,181, p=0,000), apesar de PSD/PàF ser o partido com menor média de

tom, testes posteriores agrupam este partido com PS num subconjunto, enquanto agregam CDS, CDU e BE noutro subconjunto homogéneo de média mais elevada. Ou seja, não existem diferenças estatisticamente significativas na forma como o jornal noticia acontecimentos relativos ao PS e PSD/PàF, nem na forma como cobre o grupo dos partidos mais pequenos. Neste jornal, o tom, tal como o volume, parece depender mais do estatuto do partido na dicotomia mainstream/franja, do que no posicionamento esquerda/direita. Não revela enviesamentos a favor de nenhum dos partidos de ambições governativas e mantém-se razoavelmente neutral na disputa CDU/BE/CDS-PP.

Os testes ao CM (F(4,2387)=12,545, p=0,000) colocam o PS isolado no grupo de média mais baixa, e

CDS sozinho no grupo de média mais alta. PSD/PàF, CDU e BE têm valores intermédios. O PS é noticiado da forma mais desfavorável de todos os jornais, tanto em termos de média de tom como em comparação ao maior rival (maior diferença de médias de tom para o PSD/PàF).

O Expresso (F(4,990)=5,188, p=0,000) tem um comportamento semelhante ao CM em relação aos

valores baixos do PS. O semanário parece mostrar inclinação para ideias de direita, com os resultados mais altos tanto para CDS-PP como para PSD/PàF, média baixa para PS e a pior média registada entre publicações para a CDU.

2, 96 2 ,8 9 2, 87 2,99 3 2,89 2,94 3,02 2, 83 2, 73 2, 77 2,85 2, 79 2, 83 2, 85 2, 76 2 ,9 8 2, 99 3,07 3, 02 P Ú B L I C O C O R R E I O D A M A N H Ã E X P R E S S O J O R N A L D E N O T Í C I A S CDU BE PS PSD/PàF CDS-PP*

29 Por fim, o JN (F(4,2780)=27,699, p=0,000) regista PSD/PàF isolado no grupo de média de tom mais

baixa, PS num nível intermédio e CDU, CDS e BE no grupo de médias superiores. O JN é o jornal que apresenta os melhores resultados para partidos de esquerda, com as médias mais elevadas para PS, BE e CDU. Ao mesmo tempo, tem a pior média de todas as publicações para PSD/PàF.

Assim, a hipótese 1d é parcialmente confirmada: o Expresso parece encontrar-se num espectro ideológico mais próximo da direita, com peças menos críticas do PSD/CDS/PàF, notícias negativas para PS e menos favoráveis à CDU. O CM parece ter uma posição de preferência do PSD/PàF em relação ao PS, e demonstra favorecimento para com CDS-PP em relação ao BE ou CDU. O JN aparenta ser ligeiramente favorável a partidos de esquerda, apresentando as melhores médias de tom para PS, CDU e BE. O PÚBLICO mantém-se imparcial na sua cobertura política dentro dos grupos PS/PSD e BE/CDS/CDU, mas apresenta consistentemente notícias menos críticas para com partidos pequenos.

A hipótese 2 desta investigação diz respeito aos temas da campanha eleitoral e à forma como foram associados às diferentes candidaturas. Em relação aos temas noticiados pelos media portugueses, é notória uma preferência temática por “Eleições/Ações de Campanha”. Como se observa na figura 3.3., este tema foi abordado em 54,7% das notícias selecionadas, estando num distante segundo lugar o tema “Finanças/Economia” (6%), seguido por Saúde e Educação (ambos referidos em 5% dos artigos). Estes dados, em conjunto com a informação tratada na hipótese 1c, confirmam para o caso português as ideias de Patterson (1993) e Cappella e Jamieson (1997) sobre a tendência da “cobertura estratégica das campanhas eleitorais”, notícias mais negativas, menos direcionadas para temas de debate e mais para a perspetiva de competição entre políticos, e comprovam as observações de Salgado (2007) e ERC (2010, 2011) em relação à preponderância da temática “Eleições/Ações de Campanha”.

No entanto, a análise detalhada dos temas das notícias por partidos, verificável na figura 3.4., contradiz o argumento de Salgado (2009) sobre a cobertura mediática das organizações mais pequenas ser mais virada para o debate de temas. Pelo contrário, os dois partidos maiores, por serem mediaticamente mais atrativos e por concentrarem mais atenção sobre si, parecem conseguir abordar temas de debate mais diversos, enquanto notícias sobre partidos menores são mais facilmente reduzidas a meros comentários de campanha, enumeração de comícios ou análises de desempenho. A campanha do CDS-PP de 2009 revela ser uma exceção interessante na cobertura temática, uma vez que o partido se cola aos partidos de tipologia governativa (PS e PSD) e insere no seu discurso mais temas de debate que os outros partidos da mesma dimensão, apostando em assuntos fortes como “Agricultura”, “Segurança/Forças Armadas” e “Segurança Social.

30

Figura 3.3. Temas abordados pelas notícias selecionadas, em percentagens.

Figura 3.4. Percentagem de notícias com o tema “Eleições/Ações de Campanha” por partidos.

Assim, a hipótese 2 não é confirmada: apesar dos temas abordados nos jornais serem predominantemente sobre “ações de campanha e agenda” ou “apreciações de desempenho”, com referências ao local de campanha de cada um dos candidatos e às intervenções dos candidatos no contexto da sua campanha eleitoral, nem o PS nem o PSD são especialmente visados por este estilo de cobertura. De facto, são os partidos mais pequenos a serem preferencialmente retratados em função do seu desempenho eleitoral e acontecimentos de campanha.

A hipótese 3 diz respeito ao período temporal preferencial de enviesamento nos jornais portugueses – a hipótese 3a prevê que os períodos eleitorais e pós-eleitorais sejam momentos de maiores enviesamentos noticiosos comparativamente com os períodos de rotina (não-campanha); a hipótese 3b defende o oposto, que no período de campanha eleitoral oficial os níveis de enviesamento são menos

6% 3% 5% 55% 14% 4% 4% 5% 2% 2% Finanças/Economia Segurança Social Saúde Eleições/Ações de Campanha Outros Justiça

Obras Públicas, Transportes e Comunicações Educação Ambiente/Agricultura 66,3 58,8 60,7 82,1 80,5 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 CDS-PP PSD/PàF PS BE CDU

31 fortes do que em períodos em que os jornais não estão constrangidos pelo quadro legal de cobertura das campanhas.

Para testar a variação do número de notícias publicadas, foi feita uma análise de volume de notícias por período temporal (rotina, campanha e pós-campanha). Os diferentes partidos são referidos mais frequentemente em todos os jornais e verifica-se que todos os partidos crescem, em termos de volume de notícias, em períodos politicamente relevantes: os períodos “campanha” e “pós-campanha” são alturas de maior cobertura noticiosa, com maior número de artigos publicados, comparativamente ao período “rotina”13. Os artigos publicados sobre o PS crescem de 66%, no período de rotina, para 69%,

no período de campanha e 75%, no período de pós-campanha, variações estatisticamente significativas (F(2,4509)=15,063, p=0,000), observando-se evoluções semelhantes entre PSD/PàF (55% para 69% e 63%,

F(2,4509)=32,460, p=0,000), CDS-PP (11% para 27% e 37%; F(2,2236)=67,999, p=0,000), BE (11% para

30% e 40%, F(2,4509)=162,165, p=0,000) e CDU (10% para 26% e 37%, F(2,4509)=149,581, p=0,000).

Parece que há menores diferenças entre o espaço devotado aos partidos em períodos eleitoralmente mais carregados: o desvio-padrão da média de percentagens por partidos é de 28% no período de rotina, mas mais pequeno (o que se pode ler como uma distribuição mais equitativa de espaço) em campanha (23%) e ainda menos no pós-campanha (18%).

Em relação ao aumento ou diminuição de neutralidade noticiosa, os resultados não são tão claros. Para testar esta hipótese, comparou-se a frequência de notícias publicadas com tom 3 (notícia neutra na escala de 1 a 5 utilizada na análise da base de dados) versus notícias 1-2 (notícias desfavoráveis) e 4-5 (notícias favoráveis).

Figura 3.5. Percentagem de notícias avaliadas com tom 3 (neutralidade), por partido e período político.

*Dados para o CDS-PP apenas referentes a 2009.

13O ponto máximo de número de notícias dá-se no período “campanha”, baixando depois no período “pós-

campanha”, mas com valores sempre superiores comparativamente ao período “rotina”.

91, 7 86, 7 8 0 ,5 90 87,3 86,7 62, 3 70,9 73, 7 65, 3 68, 1 74,9 87, 7 87, 6 72, 5 R O T I N A C A M P A N H A P Ó S - C A M P A N H A CDU BE PS PSD/PàF CDS-PP*

32 Os dados apresentados na figura 3.5. revelam duas tendências opostas: na passagem do período de rotina para o período de campanha, e deste para o período de pós-campanha, ocorre um aumento da percentagem de notícias neutras para os partidos mainstream. Inversamente, observa-se uma diminuição da percentagem de notícias neutras para os partidos de franjas. Um teste ANOVA (F(2,8833)=21,045, p=0,000) confirma que a percentagem geral de notícias neutras entre períodos é estatisticamente

diferente, isto é, existe variação da cobertura noticiosa ao longo dos períodos. Um segundo teste ANOVA, para cada um dos períodos políticos, revela que a percentagem de notícias neutras sobre cada partido também é estatisticamente diferente (período de rotina: F(4,2037)=25,815, p=0,000; período de

campanha: F(4,3751)=37,284, p=0,000; período de pós-campanha: F(4,3043)=2,619, p=0,033). Testes

posteriores demonstram que, enquanto no período “rotina” existiam dois subconjuntos homogéneos compostos pelos valores de PS e PSD/PàF e pelos valores de CDS, BE e CDU, no período “pós- campanha” já só existe um subconjunto que agrega todos os valores.

Estes resultados levam a rejeitar parcialmente tanto a hipótese 3a como a 3b. Existe um aumento do volume de notícias publicadas para todos os partidos, refletindo uma distribuição menos radical de artigos. Não é óbvio que este crescimento aconteça paralelamente ao aumento da polarização ideológica dos jornais: para PS e PSD/PàF, os jornais alteram a sua cobertura noticiosa em favor de maior neutralidade, para CDS-PP/BE/CDU a neutralidade diminui e existe um encrespar de valências.

A hipótese 4 defende que é expectável existir preferência jornalística (maior volume de notícias, com médias de tom superiores) pelo partido incumbente que se apresenta às eleições. Em 2009, o PS de José Sócrates concorria como partido-governo; em 2015, era Passos Coelho, líder da coligação PàF, que comparecia a eleições como primeiro-ministro. No primeiro ano em análise, o PS é abordado em 83% das notícias recolhidas, o PSD 45%, o BE 25%, o CDS-PP 24% e a CDU 20%. A ANOVA (F(4,11184)=832,877; p=0,000) demonstra existirem diferenças estatisticamente significativas, enquanto os

testes post-hoc colocam o PS num grupo isolado enquanto partido com maior volume de notícias em 2009. Em 2015, a PàF passa para a frente em termos de volume de artigos, sendo referida 81% das vezes, seguido por PS (58%), BE (29%) e CDU (28%). Um teste ANOVA (F(4,11364)=1337,096; p=0,000)

confirma que as diferenças são estatisticamente significativas e testes posteriores agrupam a PàF num subconjunto homogéneo em separado.

Quadro 3.2. Variação das médias de tom da cobertura noticiosa entre 2009 e 2015.

2009 2015 PS 2,83 2,76 PSD/PàF 2,76 2,82 BE 2,94 3,00 CDU 2,96 2,93 CDS-PP 3,00 ---

33 Em termos do tom da cobertura nos jornais, existem diferenças estatisticamente significativas na variação dos valores de PS (t(3156)=3,477; p=0,001) e PSD/PàF (t(2830)=-2,965; p=0,003), os dois partidos

que sofreram mudanças no seu estatuto enquanto “incumbente/não incumbente”, entre 2009 e 2015. Como se constata no quadro 3.2., o PS desceu sete décimas na sua média de tom, enquanto PSD/PàF subiu seis décimas.

Em síntese, o PS apresenta maior volume noticioso e melhor média de tom em 2009, período em que era governo em Portugal. PSD/PàF tem maior volume de artigos e melhor média de tom em 2015, quando o primeiro-ministro era Passos Coelho. Estes resultados confirmam a hipótese 4 desta tese: em Portugal, o partido incumbente que concorra a eleições tem maior poder mediático, refletido no número superior de notícias publicadas sobre si, e nos resultados mais positivos a nível de tonalidade, não só frente ao seu maior rival (PS>PSD em 2009, PàF>PS em 2015), mas também face aos seus próprios resultados de eleições anteriores enquanto partido “não-incumbente” (PàF 2015>PSD 2009; PS 2009>PS 2015).

Por fim, a hipótese 5a refere-se à evolução do pluralismo político na imprensa portuguesa de 2009 para 2015 e espera diferenças no volume de notícias, com destaque para uma maior concentração de notícias nos dois partidos de características governamentais (PS e PSD) em 2015. A hipótese 5b estima que os jornais, em 2015, apresentem maior prevalência de enviesamentos políticos a nível de tom (menor neutralidade), comparativamente com 2009.

A hipótese 5a é rejeitada: o PS e o PSD/PàF veem a sua prevalência no noticiário nacional, em conjunto, aumentar de 91,3% para 93,4% (F(1,4509)=6,578, p=0,010), em 2015. Mas tanto o Bloco de

Esquerda (F(1,4509)=12,292, p=0,000) como a Coligação Democrática Unitária (F(1,4509)=45,580, p=0,000)

aumentaram as percentagens de notícias dedicadas a cada partido, de 2009 para 2015 (24,6% para 29,2% e 19,9% para 28,5%, respetivamente). Estes dados levam a crer que notícias isoladas para cada partido diminuíram em 2015 e que houve um aumento de importância na chamada de BE e CDU para notícias relacionadas com os partidos mainstream14.

Para testar o aumento do enviesamento dos jornais portugueses em termos de tom, analisou-se a variação de notícias classificadas com tom “3” (notícia neutra), de 2009 para 2015. Em 2009, no universo de notícias publicadas por todos os jornais, registaram-se 76% de notícias com tom “3”. Em 2015, esse valor desceu para os 72%. Testes t para amostras independentes comprovam diferenças estatisticamente significativas entre os dois anos (t(8832)=5,096; p=0,000). Estes valores levam a

considerar um encrespar de valências na publicação de notícias em Portugal.

14 Se a percentagem de notícias subiu para todos os partidos, todos os partidos passam a ser referidos mais

34 Entre partidos, os menores níveis de neutralidade continuam a registar-se no centrão, com um desenvolvimento interessante: enquanto a diminuição da percentagem de notícias neutras do PS é estatisticamente irrelevante (passa de 70% para 68%, t(3156)=1,639; p=0,101), no PSD/PàF a percentagem

de artigos neutros decresce de 72% para 68% (t(2830)=2,384; p=0,017). BE e CDU também registam

diminuições de neutralidade importantes15. Entre jornais, tanto o PÚBLICO como o Correio da Manhã

não demonstram variações significativas de percentagens de artigos neutros, ao contrário do Expresso, que diminui a publicação de artigos imparciais de 82%, em 2009, para 65%, em 2015 (t(993)=6,151; p=0,000), e Jornal de Notícias, com uma diminuição de 78% para 70% (t(2779)=4,646; p=0,000).

Os resultados comprovam a hipótese 5b desta investigação: há, efetivamente, um extremar de posições nos jornais, resultando num aumento de polarização ideológica em 2015. Expresso e JN diminuem significativamente a percentagem de notícias neutras e a cobertura dos partidos passa a ser mais encrespada, com maior variação de tom para PàF, BE e CDU.

15 BE passa de 88% de notícias neutras, em 2009, para 80% de notícias neutras, em 2015 (t

(1212)=3,972; p=0,000).

35

DISCUSSÃO DE RESULTADOS/CONCLUSÃO

Esta investigação pretendeu estudar o enviesamento político da imprensa portuguesa, através da análise de notícias de quatros jornais representativos da realidade nacional, durante dois anos eleitorais distintos, num total de seis períodos relevantes diferentes. Os objetivos focavam-se na identificação de padrões de favorecimento partidário nos jornais e no reconhecimento de fatores que contribuíssem para o enviesamento das publicações estudadas, relacionando-as com a força mediática e relacionamento privilegiado do partido incumbente, a influência da crise da dívida soberana na cobertura política dos jornais e o reconhecimento de períodos temporais mais sensíveis a enviesamentos.

Em termos de volume de notícias por partido, a informação recolhida e analisada confirma a existência de grande disparidade na cobertura política nesta amostra dos órgãos de comunicação social. O PS e o PSD são, para os jornais, os partidos mais relevantes e dignos de atenção, sendo referidos quase três vezes mais frequentemente que CDS-PP, BE ou CDU. Porém, a diferença de tratamento entre os dois partidos mainstream não tinha sido sublinhada nem por Salgado (2009) e Santana Pereira e Nina (2016) nem pelos relatórios da ERC (2010, 2011). De facto, o maior volume noticioso do PS em todos os jornais analisados vis-à-vis PSD não é referido em nenhum dos principais estudos do sistema

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