• Nenhum resultado encontrado

3 CAMINHO TEÓRICO – A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS (TRS)

4.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS

4.3.1 Teste de associação livre de palavras (TALP)

O TALP, técnica projetiva desenvolvida por Carl Gustav Jung, foi utilizado, inicialmente, pelos psicanalistas com o objetivo de diagnosticar, psicologicamente, a composição da personalidade dos indivíduos. Sua aplicação objetivou diagnosticar como está constituída a personalidade individual de cada pessoa, a partir das evocações elaboradas frente aos estímulos indutores divididos em traumáticos e não-traumáticos. A técnica, validada desde a década de 80, tem sido utilizada em pesquias, sobretudo os que utilizam a TRS. A técnica que oportuniza identificações dos conteúdos latentes e dos periféricos é de fácil aplicação por despertar interesse e colaboração por parte do(a)s informantes. Sua aplicação pressupõe que a estrutura psicológica do sujeito pode ser “palpável através das manifestações de condutas de reações, evocações, escolhas e criação, constituindo-se em índices reveladores do conjunto da personalidade” (COUTINHO; NÓBREGA; CATÃO, 2003; NÓBREGA; COUTINHO, 2003, p. 67).

As vantagens da utilização das técnicas projetivas estão pautadas na “ambiguidade do material apresentado e pela liberdade que é dada ao sujeito” e, também, na possibilidade do método abranger perguntas e respostas não diretivas, mas com capacidade de adentrar no campo metafórico, o qual permite ao informante “ao invés de tudo dizer, revelar enquanto esconde”, porque as respostas provém do inconsciente (COUTINHO; NÓBREGA; CATÃO, 2003, p. 51).

As autoras seguem dizendo que, no campo da psicologia, existem duas modalidades de técnicas projetivas (temáticas e estruturais). As técnicas projetivas temáticas proporcionam revelações de elementos conflitantes, desejos, mecanismos de defesa ou momentos marcantes na história de vida. As técnicas projetivas estruturais permitem a identificação da forma como as pessoas percebem sua subjetividade e as inter-relações existentes entre o id, o ego e o superego. O TALP é classificado como técnica projetiva temática.

Os dados quantitativos foram levantados através do TALP (APÊNDICE – B ), também, denominado teste de evocação livre de palavras que teve como estímulos indutores, referidos verbalmente: HIV (1), aids (2), cuidado de enfermagem (3) e cuidado de enfermagem às mulheres soropositivas (4). O TALP é uma investigação aberta, baseada na evocação de respostas a um estímulo indutor, que possibilita identificar as representações latentes desses conteúdos (NÓBREGA; COUTINHO, 2003). A técnica, de fácil aplicação e interpretação, consiste em solicitar à/ao informante que evoque através de palavras ou frases curtas, o que vier a sua mente, imediatamente após ouvir os estímulos indutores. A técnica buscou evidenciar respostas espontâneas e autênticas, as quais não poderiam ser evidenciadas em outras formas de coleta de dados.

No intuito de que a pessoa entendesse o funcionamento da técnica, antes da sua aplicação, foi realizada uma exemplificação de como ela funciona, utilizando-se estímulos indutores não relacionados com a problemática. Após a exemplificação, notou-se que as informantes entenderam a dinâmica da técnica. Desta forma, não houve dificuldade para sua execução que durou, em média, quinze minutos.

O TALP, facilmente utilizado nesta pesquisa, foi aplicado, individualmente, de acordo com as etapas abaixo relacionadas:

a) Ilustração, com exemplos não relacionados ao objeto da pesquisa, buscando aproximação das informantes com a técnica;

b) Salientada a importância de respostas através de uma única palavra ou expressões curtas;

c) Apresentação verbal dos estímulos indutores na seguinte ordem: 1. HIV, 2. aids, 3. Cuidado de enfermagem, 4. Cuidado de enfermagem a mulheres soropositivas ao HIV;

d) Solicitação às informantes que verbalizassem, rapidamente, as cinco primeiras palavras que viessem à mente ao ouvir cada estímulo indutor. As evocações referidas com tempo superior a 90 segundos, para cada estímulo indutor, foram desconsideradas;

e) Realização de registro manual das palavras/expressões evocadas em formulário específico.

Antes de apresentar os estímulos indutores, no início da aplicação do teste, foi explicado como ele funcionaria. Ao observar que a informante apresentava dúvidas quanto ao funcionamento da técnica, foram utilizados exemplos de como seria feita a coleta dos dados utilizando um estímulo indutor não relacionado à temática, como: __ Quando você ouve a palavra televisão, o que lhe vem à mente? Assim foi explicado que, neste caso, as respostas poderiam ser: novela, diversão, jogo, passa-tempo, informação, entre outras. Quando necessário era realizada mais uma exemplificação. Após as apresentações dos exemplos notou-se que houve compreensão do estava sendo proposto.

No decorrer da aplicação desta técnica projetiva, foi possível observar as reações das informantes frente aos estímulos indutores apresentados. Fatos que despertaram atenção foram as reações das mulheres diante dos estímulos indutores HIV e aids. A maioria, ao ouvir estas palavras apresentava expressão de tristeza. Muitas ficaram por alguns segundos “olhando o vazio”. Percebia-se uma melancolia profunda em suas expressões. Em vários momentos notavam-se lágrimas que teimavam em escorrer por suas faces.

Os resultados decorrem do processamento dos dados pelo software Tri- Deux-Mots, que emite relatórios, entre eles a representação gráfica das variáveis e das palavras significativamente evocadas, obtidas a partir da Análise Fatorial de Correspondência (AFC). Este software permite verificar as correlações existentes entre os grupos, bem como as relações de atração e de afastamento existentes

entre os diversos elementos, no campo representacional (NÓBREGA; COUTINHO, 2003).

Ao término de aplicação do TALP as mulheres foram convidadas a participar das entrevistas.

4.3.2 Entrevista

Para a coleta de dados qualitativos, optou-se pela realização de entrevista guiada por um roteiro. A entrevista “ao mesmo tempo em que valoriza a presença do investigador, oferece todas as perspectivas possíveis para que o informante alcance a espontaneidade necessária, enriquecendo a investigação” (TRIVIÑOS, 1987, p. 146).

Em relação à aplicação deste instrumento, Minayo (2004, p. 109-110) refere ser útil, dada a

possibilidade de a fala ser reveladora de condições estruturais, de sistemas de valores, normas e símbolos (sendo ela mesma um deles) e ao mesmo tempo ter a magia de transmitir, através de um porta-voz, as representações de grupos determinados, em condições históricas, sócio-econômicas e culturais específicas.

Utilizar entrevistas individuais nas pesquisas sociais é salutar, visto não ser este instrumento

um processo de informação de mão única passando de um (o entrevistado) para outro (o entrevistador). Ao contrário, ela é uma interação, uma troca de idéias e de significados, em que várias realidades e percepções são exploradas e desenvolvidas (BAUER; GASKELL, 2008, p.73).

O roteiro de entrevista (APÊNDICE - C) foi composto de duas partes. A primeira contemplou dados de identificação sociodemográfica das informantes. Na segunda, constaram as questões específicas (oito questões abertas). Todas as informantes que responderam ao TALP também participaram das entrevistas.

Inicialmente, pretendia-se gravar as informações oriundas das entrevistas. Mas, considerando o constrangimento expresso pela maioria das informantes quanto a essa forma de registro dos dados, optou-se por anotar as falas em instrumento específico. À medida que o diálogo fluía procedia-se, concomitantemente, ao

registro, por escrito, do que estava sendo dito. Procurou-se, atentamente, captar todas as palavras do discurso.

A aplicação de cada entrevista ocorreu em um intervalo compreendido entre 20 a 30 minutos, com tempo limitado à disponibilidade das informantes, na sala de espera, antes do atendimento agendado. Notou-se que este período não se mostrou exaustivo para as informantes. Antes de iniciar a coleta foi esclarecido que, caso a informante fosse chamada para o atendimento durante o procedimento, a coleta imediatamente seria suspensa, buscando não prejudicar o atendimento a ser realizado. Para evitar este contratempo, foram convidadas mulheres com um tempo previsto maior que o esperado para a entrevista.

Optou-se por convidar a participar da pesquisa, as mulheres que se encontravam da metade para o final da lista de espera, no intuito de que a chamada para o atendimento com o(a) profissional de saúde não interrompesse a coleta, não interferisse na rotina do serviço e não implicasse em qualquer prejuízo em relação aos interesses destas mulheres nas unidades de saúde. Durante a coleta, algumas informantes demonstraram expectativas em relação ao desejo de dirimir algumas dúvidas que possuíam sobre o agravo. Por esse motivo, ao término das entrevistas aproveitou-se para fornecer as informações solicitadas. Identificou-se que os questionamentos se relacionaram, em sua maioria, a esclarecimentos quanto às vias de transmissão do HIV e as contribuições da TARV no tratamento.

No intuito de assegurar o anonimato, as informantes foram identificadas através de numeração estabelecida, de acordo com a ordem de aplicação das entrevistas.