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4. Análise dos resultados

4.4. Testes de robustez

4.4.2. Testes ao modelo-base para os anos pós-candidatura

Como teste de robustez, reflicto sobre os resultados do modelo de avaliação do comportamento das variações do rácio de autonomia financeira nos anos subsequentes à obtenção do subsídio, no sentido de verificar o comportamento do processo de ajustamento desse rácio nas empresas candidatas.

A Tabela X apresenta os coeficientes da regressão do modelo-base, nas suas três versões, para os períodos N+1 e N+2 posteriores à candidatura.

Atingido o target definido seria de esperar que, na ausência de manipulação contabilística, as empresas mantivessem esse nível e se aproximassem da média verificada nas empresas de controlo. No entanto, a ter existido manipulação do rácio, a intuição é de que possa haver uma reversão dos efeitos. Alias, esta é a intuição detectada pela análise das estatísticas descritivas.

Os modelos estimados, globalmente significativos, apresentam uma qualidade de ajustamento similar quando comparada com o modelo-base, como esperado. A análise dos resultados permite verificar algumas diferenças de comportamento relativamente aos resultados pré-candidatura.

Tabela X – Parâmetros estimados para o Modelo-base (períodos N+1 e N+2) Parâmetros estimados (P-value)

Modelo I Modelo II Modelo III

Variável

Amostra

-base Amostra controlo Amostra-base Amostra controlo Amostra-base Amostra controlo

Termo independente (0,340) 0,029 (0,107) 0,047 (0,350) 0,028 (0,106) 0,047 (0,266) 0,049 (0,372) 0,033 RAF-1 –0,111 (0,020) –0,096 (0,122) –0,132 (0,064) –0,129 (0,042) –0,104 (0,149) ENDBANC –0,014 (0,492) –0,015 (0,488) –0,017 (0,564) –0,023 (0,440) RLE 0,518 (0,000) 0,518 (0,000) 0,681 (0,000) 0,354 (0,001) DIMENSAO –0,005 (0,160) –0,005 (0,165) –0,007 (0,151) –0,002 (0,589) R2 ajustado 0,173 0,171 0,179 Teste F (p-value) 8,20 (0,000) 7,38 (0,000) 6,17 (0,000) Modelo:

RAFit = α1 + α2D_AMOit + β1ENDBANCit+ β2RLEit + β3 RAF-1it-1+ β4DIMENSAOit

5(D_AMO* RAF-1)it-1+β6(D_AMO* ENDBANC)it +

5

7(D_AMO*RLE)it + β8(D_AMO*DIMENSAO)it + βkINDq+εit

q=1 Definição das variáveis:

As variáveis seguem a definição na Tabela IV. Notas:

Tomando como referência o Modelo III, para os coeficientes das variáveis RAF-1, ENDBANC, RLE e DIMENSAO usei o Teste de Wald para verificar a sua significância estatística, conforme procedimento definido na Tabela VI. A restrição colocada na hipótese nula foi a igualdade a zero da soma dos coeficientes das variáveis. A realização do teste levou à rejeição da hipótese nula para um nível de confiança inferior a 5% (p-value < 0,05) para as variáveis RAF-1e RLE, mas não rejeitou a hipótese nula no caso das variáveis ENDBANC e DIMENSAO (p-value > 0,05). Procedi de igual forma para o termo independente, não tendo sido rejeitada a hipótese nula– (α1 + α2 = 0) – para o nível de significância 5% (p-value > 0,05).

Para o coeficiente de RLE usei o Teste de Wald para verificar se existe poder incremental nas RAF pelo facto da empresa pertencer à amostra-base. Para tal impus como restrição RLE+D_AMO*RLE = RLE, isto é, D_AMO*RLE = 0. O teste levou à rejeição da hipótese nula (p-value < 0,05).

Os resultados completos estão disponíveis no Anexo IX.

Por questões de grafismo os resultados referentes às variáveis βkINDq não são apresentados na tabela. Os parâmetros estimados para estas variáveis estão disponíveis no Anexo IX.

O nível de significância (p-value) diz respeito a testes bi-direccionais.

Total de observações = 310, relativas aos anos N+1 e N+2, após eliminar da amostra as observações que se encontravam nos extremos 1% positivos e negativos para as variáveis RAF e RAF-1, ou seja, três observações em cada um dos extremos, em cada uma das subamostras.

Tomando como referência os resultados estimados para o Modelo III, por ser aquele que controla para todas as variáveis, o efeito da candidatura a subsídios, verifico que coeficiente de RAF-1, quando controlado para as empresas candidatas é, como esperado, negativo e significativo, mas de menor valor que o verificado nos períodos pré-candidatura. Tal significa que as empresas candidatas, deixando de ter um incentivo à manipulação, deixam de exercer as práticas de manipulação com a “ intensidade” que, por hipótese, haviam levado a cabo nos períodos pré-candidatura. No entanto, é possível que a evolução referida seja determinada pela reversão da manipulação anteriormente efectuada.

A conclusão é no mesmo sentido quando verificado o coeficiente associado aos resultados (RLE). Este é positivo e estatisticamente significativo, como esperado. Conclui-se ainda que existe poder incremental na variável dependente pelo facto da empresa pertencer à amostra-base, o que é consistente com a intuição discutida.

Os resultados apresentados para o endividamento bancário (ENDBANC) são diferentes quando comparados com os verificados no período pré-candidatura, mas consistentes com a intuição de que o endividamento bancário é um factor importante nas empresas candidatas a subsídios de investimento. Isto porque, sendo o coeficiente associado às empresas candidatas não significativo no período pós-candidatura, significa que a dependência financeira dos bancos é agora menor, por hipótese porque o recebimento do subsídios é um meio de financiamento alternativo. Dessa forma há um alinhamento no incentivo provocado pelo nível de endividamento bancário nas empresas candidatas e na generalidade das empresas, como discutido anteriormente.

Em suma, os resultados permitem validar a existência de diferenças de comportamento no rácio de autonomia financeira nos períodos pós-candidatura das empresas. Isto porque, os coeficientes associados às variáveis interactivas que controlam os efeitos para as empresas candidatas nos RLE e RAF-1 são estatisticamente significativos (p-value < 0,05). Tal significa que pertencer a uma ou outra subamostra tem poder explicativo incremental sobre as variações do rácio de autonomia financeira no período pós-candidatura, o que sugere alguma reversão dos efeitos verificados nos períodos pré-candidatura, consistente com a hipótese de manipulação contabilística.

* * *

Em resumo, a evidência empírica discutida ao longo do trabalho, conjugada com os testes de robustez efectuados, corrobora a hipótese apresentada. As empresas que se candidatam a subsídios, quando não atingem, “ a priori” , o rácio de autonomia financeira exigido, têm comportamentos diferentes quando comparadas com empresas de uma amostra de controlo, o que indicia a existência de manipulação contabilística. A evidência mostra um ajustamento rápido e significativamente diferente no período pré- candidatura, e uma certa reversão nos períodos pós-candidatura, como aliás já tinha sido visível a partir das estatísticas descritivas.