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O TEXTO LITERÁRIO E A CULTURA

Os trabalhos acadêmicos que serão descritos ao longo desta seção integram o texto literário juntamente com língua e cultura.

Canan (2007) desenvolveu em seu livro Discurso e Cultura a abordagem do texto literário em língua inglesa, na perspectiva da cultura e da heterogeneidade discursiva, a partir de três romances ingleses: Jane Eyre (Charlotte Brontë), The mill on the floss (George Eliott) e Great expectations (Charles Dickens). A autora faz uma análise minuciosa de cada romance, apontando as referências culturais presentes em cada um, como a cultura bíblica, a cultura letrada, a cultura urbana e o meio rural britânico com seus castelos sombrios, cercados de cochichos, rumores e mistérios. Ao final da pesquisa, a autora sugere dez atividades comunicativas que poderiam ser utilizadas em sala de aula, baseadas nos três romances escolhidos.

Já Bozza e Calixto (2007) desenvolveram uma pesquisa envolvendo o uso de contos com alunos do Ensino Médio de um colégio estadual do município de Toledo, no Paraná. Os pesquisadores realizaram três atividades referentes ao escritor americano Edgar Allan Poe e ao seu conto Berenice. Ao final, eles concluíram ser pertinente a inclusão do texto literário no Ensino Médio por contribuir para o desenvolvimento integral do educando,

além de proporcionar um enfoque diferente para a aula de língua estrangeira, porque, segundo eles, o que vemos e vimos na nossa experiência como professor do idioma foi um ensino focado na memorização de estruturas descontextualizadas e a utilização de textos voltados para aprovação do ENEM28 e de outros exames de admissão de universidades.

Oliveira (2012) realizou uma pesquisa na qual o texto literário foi usado com alunos dos ensinos fundamental e médio dos municípios de Conceição do Coité e Valente, localizados no estado da Bahia. O pesquisador aplicou questionários tanto aos professores como aos alunos dos locais citados e concluiu que a literatura é um recurso importante, apesar de alguns professores não darem o devido valor a essa disciplina.

Lasaro et al. (s.d.) realizaram uma pesquisa com o seguinte título: “O Ensino da Literatura em Aulas de Língua Inglesa: Desafio e Vantagens”, em que elaboraram atividades a partir do conto The Selfish Giant (1888) de Oscar Wilde. Os autores também propõem a elaboração de materiais didáticos que contemplem a literatura como forma de proporcionar um ensino voltado à reflexão crítica, na tentativa de contribuir para a formação humanística do aluno. Com a pesquisa, os autores discutiram questões artísticas e culturais pertinentes, comparando valores do presente e do passado, do Brasil e da Inglaterra, abordando, assim, aspectos culturais das duas línguas.

Sobre o uso da cultura na literatura, Plastina escreveu o trabalho intitulado Teaching Culture in Literature in the ESL/EFK classroom (1999), no qual propõe um curso em tempo integral para professores que ensinam inglês como segunda língua ou língua estrangeira, baseado na importância de ensinar idioma por meio da literatura na sala de aula de inglês como língua estrangeira. A autora justifica o planejamento desse curso pela necessidade de que a língua seja usada para uma interação de sucesso com membros de outra origem sociocultural, pois, até o presente, isso vem sendo negligenciado dentro dos currículos de ESL/EFL29. Com isso, os professores participantes desenvolvem uma consciência da importância em contextualizar a língua por meio de referências a seus significados culturais. O curso é dividido em três fases: 1) fase teórica; 2) fase de implementação; e 3) fase de revisão, com uma breve conclusão da fase anterior.

A proponente da atividade conclui que os participantes desenvolveram uma consciência do processo de aprendizagem, de suas performances profissionais e dos

28 Exame Nacional do Ensino Médio.

29 English as a second language/ English as a foreign language (Inglês como segunda língua/ Inglês como

resultados positivos e negativos. Por fim, a autora finaliza afirmando que o processo levou os professores participantes ao estágio de saber conscientemente não simplesmente o quê, porém, mais significantemente, como as coisas ocorrem, enriquecendo, assim, suas competências profissionais.

Por sua vez, Valdes (2001), em seu artigo Culture in literature, defende que o texto literário pode ser usado para que a cultura seja ensinada na sala de aula em seus vários formatos, seja ele conto, romance, poema ou peça. A estudiosa sugere alguns autores e alguns títulos que poderiam ser trabalhados, mas faz ressalvas quanto ao nível dos alunos, e se estes são nativos ou não nativos, argumentando que há aspectos culturais presentes em todo texto literário os quais o professor precisa conhecer e repassar aos alunos. Além disso, ela sugere a divisão (se for o caso) dos alunos nativos e não nativos, visto que o professor irá perder muito tempo se for falar de algum tópico já conhecido por nativos, como, por exemplo, certas expressões coloquiais de largo uso no país em questão. A autora é contra o uso de livros adaptados, os famosos readers, pois, conforme afirma, esse tipo de livro é muito simplificado e dá uma falsa impressão de progresso na proficiência do aluno.

Já Brooks, em seu artigo intitulado Culture in the classroom (2001), advoga sobre a importância do ensino da cultura em uma aula de línguas. Esse autor sugere que, nos primeiros cinco minutos da aula, o professor deve sempre usar um dos 60 tópicos que ele elencou. Alguns deles são: a) Saudações e despedidas, b) Níveis de discurso, c) Padrões de polidez, d) Respeito, e) Tabus verbais, f) Folclore, g) Literatura infantil, h) Festivais, i) Feriados etc.

Pereira (2016), na sua dissertação de mestrado, abordou o uso de contos na sala de aula de língua inglesa com foco em leituras interculturais. A pesquisa foi realizada em um centro de línguas da Universidade Federal de Goiás, em uma turma de Inglês intermediário (Inglês 8), no segundo semestre de 2014. Na investigação, o professor pesquisador utilizou contos de diversos autores de língua inglesa através da abordagem integrada de ensino de Literatura preconizado por Savvidou, seguindo um viés intercultural. Os textos escolhidos foram os contos A Good Man is Hard to Find, The Story of an Hour, The Yellow Wallpaper das escritoras americanas Flannery O’Connor, Kate Chopin e Charlotte Perkins Gillman, respectivamente, e os contos nigerianos Dead Man’s Path de Chinua Achebe e A Private Experience da Chimamanda Adichie. O pesquisador conclui a dissertação apontando a necessidade do ensino intercultural crítico, em que os alunos possam desenvolver um olhar crítico questionador sobre sua cultura e

a cultura do outro.

Para finalizar as pesquisas sobre texto literário e cultura, temos o artigo de Mckay “Literature Content for Language Teaching” (2014), que trata da literatura como conteúdo no ensino de línguas. A autora inicia seu artigo definindo o que são textos literários, conforme o ponto de vista de Widdowson (1975), Kramsch (1993) e Carter (1996), dentre outros. A pesquisadora inclui a aplicação do texto literário para a sala de aula com exemplos de duas histórias: Eleven de Sandra Cisneros e Out of order de William Saroyan. Em seguida, ela menciona algumas funções do texto literário elencadas por ela, que é a de integrar as habilidades linguísticas e desenvolver a consciência cultural. Concordamos com a opinião da autora e acreditamos ser possível a exploração das quatro habilidades linguísticas, ou seja, ler, falar, ouvir e escrever, em qualquer texto literário, dependendo de como o professor o utiliza, seja com atividades de interpretação de texto, leitura compartilhada, criação de diálogos ou finais alternativos; com exposições de opiniões sobre os tópicos abordados ou com atividades que explorem a produção textual do aluno, como ensaios ou textos dissertativos-argumentativo. Outra função defendida pela autora é que o texto literário fornece um ambiente perfeito para a análise de diferenças culturais, com o desenvolvimento da consciência cultural, evitando, assim, a criação de possíveis estereótipos, uma vez que todo texto literário carrega consigo uma bagagem cultural, ou como a autora chama: “cultural schemata”.