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3. Os gêneros e o fenômeno Rock and Roll

4.3 Análise de textos selecionados

4.3.1. THE HONKERS

A banda The Honkers surgiu em maio de 1997, mas o projeto só tomou sua forma em 2000 quando fizeram seu primeiro show. As composições da banda, formada por Rodrigo Sputter (vocal), Felipe Brust (guitarra e vocal), Bruno T. (guitarra), T612 (baixo) e Dimmy (bateria), são em inglês e as influências abrangem diversos estilos, principalmente

punk, rockabilly, ska, indie e surf music. Lançaram o primeiro EP Between The Devil and The Deep Blue Sea, composto por cinco canções, em 2004. Em 2007, foi lançado o CD Roll Up Your Sleeves And Help Us Rock Up This Honker World, que, além das cinco canções, têm

apenas de covers, Underground Music For Underground People. A The Honkers possui em sua trajetória alguns feitos como uma viagem em um Santana Quantum que durou 38 dias pelo Brasil e Argentina, em que fizeram 29 shows, além das inusitadas performances, incluindo stripteases do vocalista Rodrigo Sputter durante as apresentações.

CADERNO 2

A matéria “De Mangas Arregaçadas” sobre o lançamento do álbum Roll Up

Your Sleeves And Help Us Rock Up This Honker World pela banda The Honkers foi capa da

edição do Caderno 2 de 29 de abril de 2007. Com esta posição, já se percebe que a banda é bem conceituada pela editoria do caderno, merecendo lugar de destaque no suplemento. E não apenas a banda, mas o que ela representa, a força do rock baiano feito como um “trabalho de formiga” segundo o jornalista Chico Castro Jr., em que as bandas seriam como estes insetos dedicando-se integralmente a seu trabalho, organizando as festas e criando, assim, a cena. Ele ressalta essa marca do trabalho independente do rock local, principalmente do ponto de vista econômico, de não ser “apadrinhado”, não ter por trás uma grande produção ou empresários e gravadoras, possivelmente fazendo uma referência à indústria do axé music. Apesar de ocupar a capa do Caderno 2, a matéria não ocupa nem sua metade, já que divide o espaço com uma publicidade grande e uma foto da banda.

O texto se desenvolve inicialmente com uma apresentação da banda e o uso de adjetivações como “fabulosos” para valorizar seus integrantes. O jornalista a destaca como uma das mais divertidas da cena baiana em que os grupos costumam perder dinheiro ao invés de ganhar, mas, mesmo assim, se divertem e batalham para conquistar seu espaço. De acordo com o autor, a banda The Honkers trabalha bastante: já lançou dois EPs, fez parte de coletâneas e tocou, inclusive, fora do Brasil. Ele ainda cita um polêmico show no Festival de

Verão de 2006 em que o vocalista “apareceu de cuecas na TV”, possivelmente para comprovar, para aqueles que não conhecem a banda, como ela é “divertida”.

A partir do quinto parágrafo, o texto volta-se ao fato que agendou a matéria: o lançamento do CD Roll Up Your Sleeves And Help Us Rock Up This Honker World, de onde vem o título da matéria ( Roll up your sleeves quer dizer em português “arregace suas mangas”). O jornalista vai descrevendo o produto lançado (“13 faixas, sendo as sete primeiras inéditas e gravadas ao vivo no estúdio”) com trecho de entrevista dos próprios integrantes da banda, reforçando a qualidade do trabalho. Na declaração de Felipe Brust, guitarrista da banda, “Foi tudo ao vivo no estúdio, senão perde o punch. Nosso som não precisa de maquiagem”. A gravação ao vivo é um recurso muito comum entre bandas independentes, e para os admiradores e críticos de rock, o trabalho mais cru, sem grandes efeitos, é visto com respeito. Essa é uma espécie de rotulação do rock, ou seja, quanto mais “cru” um som, melhor. Após isso, o autor comenta sobre a rápida turnê que a banda fez em São Paulo (“quatro shows em três dias”) e sobre o lançamento do CD em Salvador, todos os shows realizados em casas de show do circuito alternativo (Funhouse e Inferno Club em São Paulo e Teatro Sitorne em Salvador), dividindo o palco com bandas como Zefirina Bomba e Vamoz!, nomes importantes dentro do circuito médio independente do rock brasileiro. O jornalista, portanto, caracteriza a banda a partir do que ela realiza e de como o faz, colocando-a dentro de um gênero a partir de suas regras, ou seja, a própria banda organizando seus shows e participando de todo processo da gravação, sem interferências. Ainda menciona o clipe - outra marca das bandas do circuito médio independente - da faixa People Love To Hate que será exibido durante a festa, tendo sido dirigido pelo “premiado” Alexandre Xanxa Guena. Apesar de adjetivá-lo como “premiado”, o autor não esclarece em quê. O diretor já recebeu prêmios como o da MTV pelo clipe da cantora Pitty Memórias e o Galgo Alado em Gramado por Sete

Segundo Chico Castro Jr., além do CD lançado, a banda possui um projeto de gravação de cinco CDs com repertórios diferentes ( de acordo com o baterista da banda: um mais pop com baladas, outro mais “porradeiro e punk”, um terceiro no “meio termo”, um quarto de covers e um quinto com músicas em português). Provavelmente o jornalista menciona esse fato por ser uma outra marca de diferenciação do grupo, de um trabalho original, já que não há registros de ter sido feito algo assim antes (“projeto inédito no mercado fonográfico”). Os integrantes são chamados aqui pelo autor de “maluquinhos”, devido às idiossincrasias da banda como essa tentativa inédita da gravação dos cinco CDs. Chico Castro também caracteriza com maiores detalhes o vocalista e compositor (“com 300 letras rabiscadas e engavetadas”) Rodrigo Sputter Chagas, definindo-o como “desbandeirado”, além de curtir fazer strip-tease nos shows e de ser “leitor vorazde autores beatniks e marginais em geral”. O jornalista ressalta que, apesar da idéia já ter algum tempo na mente da banda (segundo um dos integrantes, surgiu em 2004), há muitas dificuldades para um projeto como esse sair do papel, ainda mais na “maldita e malquista cena rock soteropolitana”, como ele relembra.

Intitulado pelo substantivo em seu aumentativo “golaço”, que pode ser considerado aqui um adjetivo, a crítica avalia positivamente o álbum (“...o negócio é curtir o CD da hora. E que CD.”, “um belo disco e mais um golaço do rock baiano”) e destaca, principalmente para os que não conhecem a banda, outros grupos e estilos similares, tática muito comum nas críticas em geral, como já vimos. Sugerindo inicialmente a audição do álbum como “percorrer as 13 faixas sem esforço”, o autor usa a expressão “curto e grosso”, além de outras como “rock de garagem” e “levadas para entortar o pescoço”, que são lugares- comuns no mundo do rock, principalmente de bandas que têm um som mais cru e pesado. O “entortar pescoço” refere-se ao balançar de cabeças nas performances ao vivo dos diversos gêneros do rock. E as referências, como Chuck Berry, rockabilly, punk, a época dos anos 60 e

70, além de influências mais recentes como o grupo The Strokes, situam o leitor menos informado. A seguir, o autor destaca algumas canções como She’ll Be My Little One, Devil

Girl e Distorced Party rotulando-as como “surf music de primeira”, Let Me Feel The Sun como “garage psicodélico dos anos 60” e Where do I Go como “ska”, fazendo referência a alguns estilos que podem ser encontrados pelo leitor. E também descrevendo verbalmente as três primeiras músicas citadas e “Between the Devil And The Deep Blue Sea”na tentativa de traduzir a sonoridade que o leitor irá encontrar ao ouvir o álbum e o tipo de comportamento que proporciona: “para se descabelar na pista” e “balada indie para casais de todas as idades dançarem juntinho”.

O texto aqui analisado desvia-se um pouco do seu propósito. Ele acaba muito mais apresentando a banda e mostrando ao leitor sua força dentro da “malquista” cena baiana do que criticando o álbum lançado. Chico Castro Jr. ressalta as qualidades da banda, suas idiossincrasias e o fato dela ser independente. A crítica em si resume-se aos últimos parágrafos do texto, apenas fazendo referências a gêneros presentes nas músicas, comparações com outras bandas, além de observações a respeito do comportamento gerado a partir destas músicas, ou seja, música para dançar, balada mais romântica etc. Aspectos como as letras das músicas ou a técnica, os instrumentos utilizados, timbres, arranjos, nada disso é sequer mencionado. Não se trata, portanto, de uma crítica em sentido estrito, mas de uma valoração de um jornalista que parece ser participante da cena rocker local.

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