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4 ARTIGO 1 EVOLUÇÃO PALEOAMBIENTAL E PALEOGEOGRÁFICA DA

4.4 DESCRIÇÃO DAS FÁCIES E DO AMBIENTE DEPOSICIONAL

4.4.1 Plataforma interna

4.4.1.1 Tidal flats

As fácies de tidal flats são caracterizadas pelo predomínio de mudstones dolomíticos e ritmitos. Cinco fácies foram identificadas neste subambiente: dolomudstone com terrígeno, dolomudstone peloidal, boundstone com laminação microbial, ritmito bioturbado e argilito maciço (Tabela 4.1). As duas fácies de dolomudstone apresentam os mesmos constituintes, porém as proporções de grãos de quartzo e peloides são diferentes (Tabela 4.2). Os dolomudstones com terrígenos apresentam 22% de grãos de quartzo, enquanto que os dolomudstones peloidais contem 3% de grãos de quartzo e 25% de peloides (Tabela 4.2). Os dolomudstones são compostos basicamente de dolomita microcristalina, dolomita pseudoespática, peloides, grãos de quartzo, bioclastos e intraclastos. Os cristais de dolomita variam de 4 a 40 µm, a maioria com aspecto sujo (Figura 5.4 A), mostrando textura xenotópica a hipidiotópica. Em geral os grãos de quartzo são monocristalinos, variam de subangulosos a subarredondados, alguns com bordas corroídas, com tamanhos entre silte e areia muito fina. Grânulos de quartzo policristalino arredondados a subarredondados são observados nos dolomudstones com terrígenos (Figura 4.4 B). Em ambos dolomudstones os

peloides ocorrem de forma dispersa na matriz, com tamanho entre 10 e 30 µm (Figura 4.4 B). Os bioclastos são raros e representados por fragmentos de equinodermos, algas e foraminíferos planctônicos, além de alguns bioclastos indiferenciados devido à micritização. Os intraclastos são de mudstone, angulosos a subarredondados, com tamanhos que variam de areia média a muito grossa. Gispita e esmectita foram encontradas em torno de 1.2% e 20%, respectivamente, nas fácies de tidal flats a partir da análise de DRX (Tabela 3). Em geral a porosidade nessas microfácies fica entre 3 e 8%, sendo os poros principalmente secundários do tipo vug, em fratura e móldicos, com raros poros intercristais (Tabela 2).

A fácies boundstone com laminações microbiais ocorre apenas na porção superior da sucessão estudada, compondo uma camada de cor cinza escuro de 30 cm de espessura. As laminações são caracterizadas pela alternância de lâminas com esteiras algálicas e lâminas com abundantes grãos terrígenos (Figura 4.4 C). As laminações algálicas são irregulares e lisas compostas de matriz micrítica, algas verdes e vermelhas, pelóides, além de alguns foraminíferos planctônicos. As laminações com terrígenos são compostas por grãos de quartzo, além de fragmentos de bivalves, briozoários e gastrópodes.

As camadas de ritmito bioturbado intercalam-se, de forma frequente, aos dolomudstones, e apresentam espessuras que variam entre 80 cm a 1 m e coloração cinza escuro esverdeado. A alternância rítmica é caracterizada pela intercalação entre espessas lâminas silto-argilosas-carbonáticas com acamamento linsen e wavy (Figura 4.4 D). Traços fósseis de Thalassinoides e Palaeophycus ocorrem geralmente no topo das camadas de ritmito, como escavações perpendiculares às laminações (Figura 4,4 D). Níveis com abundantes fragmentos vegetais compõem lentes de coffee-grounds dentro das camadas de ritmitos (Figura 4.4 E). A camada de argilito maciço de coloração verde escura, contendo abundantes troncos (Figura 4.4 F) e fragmentos de folhas piritizados em posição horizontal, ocorre na porção superior da sucessão estudada. Análises de DRX dos argilitos mostram a presença de esmectita, pirita e quartzo.

Figura 4.4: Fácies do tidal flat: A) dolomudstone com terrígenos exibindo matriz dolomítica (Md) e abundantes grãos de quartzo monocristalino e policristalino (Qz); B) dolomudstone peloidal com peloides (círculos) e de dolomita (Dl); C) boundstone com laminações microbiais (setas) e grãos de quartzo (círculo); D) ritmito com traço fóssil perpendicular as laminações; E) lentes de coffee-grounds com fragmentos de madeira cinza e amarronzados; F) Argilito maciço com fragmento de madeira piritizada; *Nicóis paralelos (/); Nicóis cruzados (//).

Interpretação

A predominância de fácies com abundante lama carbonática e siliciclátstica sugere um ambiente de baixa energia (Hardie & Shinn, 1986). Porém, a presença de grãos de quartzo, intraclastos e fragmentos vegetais (coffee-grounds) indicam que influxos de sedimentos detríticos eram comuns dentro da tidal flats. Tidal flats carbonáticos são

caracterizados por abundante produção de lama carbonática e pouco transporte de sedimentos detríticos (Hardie & Shinn, 1986). A presença de material detrítico em tidal flats pode estar associada a canais de maré ou tempestades, pois tidal flats carbonáticos ocorrem geralmente em ambientes protegidos da ação de ondas e com conexão restrita com o mar aberto (Hardie & Shinn, 1986; Flügel, 2004). Estruturas como acamamentos wavy e linsen em ritmitos refletem constantes flutuações de energia na planície de intermaré ocasionadas pela alternância de correntes de maré ou onda seguidos de deposição por suspensão (Reineck & Wunderlich, 1968; Shinn, 1983; Pratt et al., 1992). Nesse ambiente as condições de energia são relativamente baixa, com breves períodos de maior energia possibilitam a deposição de material mais grosso, geralmente areias e silte grosso (Reineck 1967, Reineck & Wunderlich, 1968). A presença de traços fósseis pouco diversificados somente em no topo das camadas de ritmito sugere condições de estresse ambiental (Pemberton et al., 1992). A presença de Thalassinoides, que são estruturas de habitação produzidas por crustáceos decápodes, e Palaeophycus sugere condições de águas salobras (brackish water) e exploração do substrato lamoso por organismos oportunistas (Howard & Frey, 1973; Pemberton et al., 1992).

A baixa diversidade biológica indica deposição em ambiente protegido/restrito de baixa energia, favorável a proliferação de cianobactérias que induziram a precipitação do carbonato de cálcio na forma de lama carbonática (Hardie & Shinn, 1986; Hoehler et al., 2001). As laminações microbiais irregulares e lisas, encontradas na fácies boundstone, indicam um ambiente deposicional com alta taxa de sedimentação e raramente exposta dentro da zona de intermaré (Hoffman, 1976; Jahnert & Collins, 2013). As zonas de intermaré são geralmente caracterizadas por uma assembleia faunística muito pobre (Reading, 1986; Pratt et al, 1992), semelhante à encontrada nos depósitos estudados. A presença de gipsita e esmectita nessas microfácies apontam para condições semiáridas durante a deposição, porém, não são observadas feições de ressecamento ou marcas de raízes que indiquem exposição subaérea. A dolomitização pode ter ocorrido durante a eodiagênese, controlada por variações no nível da maré (Shinn, 1969) ou pela ação microbial (Hips et al., 2015). A presença de gipsita pode ter também favorecido o processo de dolomitização nos depósitos de tidal flats (Tucker, 1992).

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