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3. Análise tipológica e estratigráfica da terra sigillata

3.2. Terra sigillata sudgálica (La Graufesenque)

3.2.2. Análise tipológica

3.2.2.1.2. Tigelas

O nº 53, com bordo vertical sem roleta e verniz do tipo 3, é o único exemplar deste tipo em Chãos Salgados e integra-se na variante Ritt. 5c de Passelac e Vernhet (1993, p.577), datada entre 30 e 50 d.C..

Ao contrário de Oswald e Pryce (1920, p.169), Polak (2000, p.114) pondera um início de fabrico da Ritt. 5 anterior a Tibério e, no mesmo sentido, Passelac e Vernhet (1993, p.577) datam esse começo numa época tardo-augusta, em 5 d.C..

A época de Tibério terá sido a de maior expansão deste tipo que deve terminar em Cláudio, segundo Oswald e Pryce (1920, p.169) e Passelac e Vernhet (1993, p.577). A fraca presença nesta época conduz, no entanto, Polak (2000, p.114) a propor um fim antes de Cláudio, por volta de 40 d.C..

A datação da fase c de Passelac e Vernhet (1993, p.577), entre 30 e 50 d.C. condiz apenas parcialmente com a tese de Mary, baseada nos dados de Neuss, onde a decoração roletada é anterior a 25 d.C. (apud Polak, 2000, p.114). Para os autores franceses, a fase b, além de bordo com inclinação extrovertida, possui roleta, e data-se entre 20 e 40 d.C..

Os dados destes últimos autores permitem atribuir cabalmente aos centros sudgálicos uma produção de Ritt. 5 roletada, infirmando a tese de Oswald e Pryce (1920, p.169), para os quais este atributo não pertencia a estas oficinas.

Ritt. 8

Os 5 exemplares de Chãos Salgados pertencem todos ao subtipo Ritt. 8b, definido por Passelac e Vernhet (1993, p.577) e datado entre 30 e 80 d.C., com perfil hemisférico e bordo bem demarcado por canelura interna e externa. O verniz de tipo 3 verifica-se em todos estes exemplares (nºs 54, 55 e 56).

Podemos estabelecer dois grupos métricos de diâmetros de bordo, apesar da escassez de peças: um, mais pequeno, com 3 exemplares de 105, 110 e 113mm; outro, maior, com dois exemplares de 153 e 161mm, sendo este último valor incerto.

O segundo grupo métrico de Chãos Salgados ultrapassa as balizas conhecidas em Vechten (120mm), em Neuss (130mm) e na fossa de Gallicanus – 55-60 d.C. -, em La Graufesenque (138mm) (Polak, 2000, p.102; Tyers, 1993, p.136), sendo que 64,5% dos exemplares deste contexto têm valores entre 70 e 100mm (Genin; et Al., 2007, p.102).

A Ritt. 8 é normalmente considerada pré-flávia, parecendo ter na década de 60 do século I d.C. o fim da sua produção (Oswald; Pryce, 1920, p.184; Polak, 2000, p.114). Contudo, em 1993, Passelac e Vernhet (p.577) estabeleceram uma fase, Ritt. 5c, datada entre 80 e 120 d.C., em que a forma adquire duas caneluras largas externas abaixo do bordo espessado, que claramente a colocam como protótipo da Hayes 9, em terra sigillata africana A.

Não sendo uma forma muito comercializada, a Ritt. 8 surge regularmente em níveis das primeiras 6 décadas do século I d.C., como Vienne (Isère) ou a fossa 9003 de Soumaltre; está mesmo bem representada nos níveis neronianos de Narbonne, mas escassamente nos de Ampúrias, sob o subtipo 8b. Na calçada do século I de La Graufesenque, constata-se a sua presença desde 20 d.C., mas um claro aumento da sua frequência, nos níveis de 60-90 d.C., quando é mais amplamente produzida, nas duas UEs mais antigas deste período do sítio (ver anexo 2, tabelas 6, 7, 8, 9 e 12).

A produção do tipo Ritt. 8c, que Passelac e Venhet (1993) datam entre 80 e 120 d.C., deve ser, por isso, escassa.

Drag. 24/25

Este tipo começa a ser fabricado na época augusta, e atinge o seu apogeu rapidamente, em Tibério (Oswald; Pryce, 1920, p.171-2), fenómeno bem demonstrado na estratigrafia do próprio centro de La Graufesenque, onde a UE 8 da calçada do século I, datada entre 20 e 40 d.C., possui a frequência mais alta de todas, a grande distância em relação às restantes (ver anexo 2, tabela 6).

Segundo Polak (2000, p.118), o seu fabrico será estável até 60 d.C., tendo o seu fim em 70 d.C..

Passelac e Vernhet (1993, p.573), que situam o início da produção em 15 d.C., ou seja, em inícios de Tibério, prolongam a sua vida até 120 d.C..

A Drag. 24/25 é o principal recipiente nos depósitos cláudio-neronianos de Vienne (Isère) e da fossa 9003 de Soumaltre; na mesma época, em Narbonne, tem quantitativos semelhantes aos da Drag. 27, ambas muito próximas da forma principal, a Drag. 15/17, e, em Ampúrias, domina a par das Drag. 18, 29 e 27. Na calçada do século I de la Graufesenque, após um ligeiro declínio nos anos 50, parece reforçar a sua produção nas primeiras UEs, 4 e 3, do período 60-90 d.C.. Por fim, em Cala Culip IV, datado de 78-82 d.C., representa ainda 11,4% do total e nos níveis domicianos de Ampúrias tem ainda uma frequência assinalável (ver anexo 2, tabelas 6, 7, 8, 9, 12 e 50).

Assim e apesar da maioria dos contextos em que é verificada, bem como dos oleiros seus produtores serem de momentos pré-flávios (Polak, 2000, p.117; Oswald; Price, 1920, p.171-2), podemos atestar a sua continuação ao longo da época flávia, embora a sua produção deva quedar-se por níveis muito baixos a partir das décadas de 70/80 d.C., a ver pela estratigrafia de La Graufesenque (ver anexo 2, tabela 6). O subtipo Drag. 24/25c de Passelac e Vernhet (1993) deve, por isso, representar um modelo de pouco alcance comercial.

Na referida calçada de La Graufesenque foi possível igualmente abstrair alguns vectores de evolução formal deste tipo: na UE 8 (20/40 d.C.) as paredes são espessas, começando a adelgaçar-se a partir da UE 7 (40/50 d.C.); de igual modo, a profundidade aumenta ao longo do tempo e a roleta, oblíqua e por vezes dupla até meados do século, torna-se mais frequentemente vertical na segunda metade da centúria (Farine, 1996, p.219).

A proposta evolutiva de Passelac e Vernhet (1993, p.573) concorda numa evolução para uma maior profundidade ao longo dos subtipos 24/25a, b e c, devida essencialmente a uma clara diminuição dos diâmetros, como se depreende pelas imagens publicadas; contudo, estes autores propõem um aumento da espessura das paredes no último subtipo. Diga-se, porém, que este aspecto não é visível nas estampas escolhidas pelos autores no artigo.

Dos 93 exemplares de Chãos Salgados (nºs 57, 58, 59, 60, 61, 62 e 63), 62 possuem verniz do tipo 3, 27 do tipo 2 e 3 do tipo 4 (marmoreado).

A roleta surge em 62 exemplares e é na maioria dos casos oblíqua (40); é vertical em 10 casos e curva em 3. Num exemplar é particularmente fina e noutro grosseira. Em 7 casos só se conserva as suas extremidades.

Seguindo os dados da calçada de La Graufesenque (Farine, 1996, p.219), teríamos aqui um indicador de um predomínio de peças até meados do século I. Este indicador não é confirmado pelos vernizes e diâmetros constatados nas peças com roleta oblíqua, que só no

primeiro caso apontam para valores algo equilibrados: o verniz 3 surge em 16 exemplares e o verniz 2 em 7.

Os diâmetros são até próximos dos valores publicados relativos aos contextos neronianos de USK, onde existem dois grupos: 80 e 120/140mm (Tyers, 1993, p.135). No grupo 3 de Chãos Salgados são exactamente os valores de 80-89 e 110-119mm que dominam, num conjunto que podemos balizar essencialmente entre 80 e 129mm, se exceptuarmos os valores isolados de 70-79 e 150-159mm (ver fig. 17).

Os valores dos diâmetros do total do espólio mensurável são mais heterogéneos, embora possamos igualmente falar de uma maior importância dos valores entre 80-89 e 110-119mm (ver fig. 18).

Em Cala Culip IV (78-82 d.C.) existem dois grupos métricos, de 70-75 (33 indivíduos) e 110mm (276 indivíduos) (Nieto Prieto; et Al., 1989), consentâneos estatisticamente com Chãos Salgados.

No naufrágio catalão verifica-se somente no grupo métrico mais pequeno alguma “arte de oleiro”, como já abordámos acerca do espólio de Drag. 15/17 desta escavação. No grupo de 70-75mm de Drag. 24/25, são separáveis peças de OF IVCVNDI com aspecto mais compacto, bordo vertical e roleta espessa; enquanto que a marca 26.1 surge associada a bordos mais introvertidos e roleta mais fina.

Em Chãos Salgados, apenas 3 pés-de-anel se conservaram sendo 1 de secção sub-rectangular e 2 de secção sub-triangular (nºs

57 e 62).

Um único exemplar possui contexto estratigráfico relevante: é uma peça com 78mm de diâmetro, valor pequeno, exumado em unidade flávia - contexto 90 (Biers; et Al., 1988, nºIII.80-803-).

Drag. 27

A Drag. 27 tem o seu início em época tardo-augusta (Oswald; Pryce, 1920, p.186; Passelac; Vernhet, 1993, p.573; Polak, 2000, p.118).

Passelac e Vernhet (1993, p.573) propõem uma evolução com 3 subtipos: a Drag. 27a, datada entre 10 e 40 d.C., com bordo liso e roleta externa; a Drag. 27b, datada entre 40 e 80

Fig. 17 Escalão Exs. 50-59mm 0 60-69mm 0 70-79mm 1 80-89mm 4 90-99mm 1 100-109mm 1 110-119mm 4 120-129mm 2 130-139mm 0 140-149mm 0 150-159mm 1 Fig. 18 Escalão Exs. 50-59mm 3 60-69mm 4 70-79mm 3 80-89mm 6 90-99mm 8 100-109mm 5 110-119mm 11 120-129mm 9 130-139mm 2 140-149mm 1 150-159mm 3

Fig. 17: Chãos Salgados.

TSSG (verniz 3). Diâmetros de bordo da Drag. 24/25.

Fig. 18: Chãos Salgados.

TSSG. Diâmetros de bordo da Drag. 24/25.

d.C., com bordo anguloso, de topo liso, formando um lábio; e a Drag. 27c, entre 80 e 120 d.C., com o bordo perolado.

Todavia, a roleta é conhecida ainda em Drag. 27b da época de Nero, como acontece em Narbonne – Fiches; Guy; Poncin, 1978, fig. 3 -, e em Drag. 27c, nos seus primeiros momentos, segundo Passelac e Vernhet (1993, p.573).

Este subtipo b constitui todo o espólio de Drag. 27 do depósito cláudio de Vienne (Godard, 1992, fig. 1, nºs 1-4) e dos níveis neronianos de Ampúrias (Aquilué; et Al., 2005, p.207), e tem como contexto fechado mais tardio o naufrágio de Cala Culip IV (78-82 d.C.), onde constam vários exemplares do grupo de diâmetros entre 115 e 120mm (Nieto Prieto; et

Al., 1989, p.138). Uma datação exclusivamente cláudio-neroniana, como defende Polak

(2000, p.118), não é assim correcta.

A Drag. 27 atinge quantitativos medianos no depósito cláudio de Vienne (Isère) e fortalece os seus valores no terceiro quartel do século I, como se constata na fossa 9003 de Soumaltre e no porto de Narbonne; no último quartel do século I é já, a par da Drag. 18, a principal tigela no naufrágio de Cala Culip IV (ver anexo 2, tabelas 7, 8, 9 e 50).

Na calçada do século I em La Graufesenque, a sua produção já é expressiva na primeira metade da centúria e atinge o apogeu nas primeiras UEs, 4 e 3, da fase 60-90 d.C., decaindo significativamente ainda nesta época (ver anexo 2, tabela 6). Este facto deve ter uma causa específica relacionada com a própria origem dos materiais que foram colmatando as reparações desta via do centro produtor. Segundo o autor do estudo (Farine, 1996, p.219) a Drag. 27c é praticamente inexistente nas UEs 8 a 3; ora, sendo os quantitativos das UEs 2 e 1 tão baixos, quando ela deve estar melhor representada, como se depreende do texto, então, o ou os oleiros responsáveis por estes enchimentos devem ter tido uma produção pouco significativa deste subtipo, o que parece constituir um indício de “arte de oleiro”, e não um indicador crono-morfológico.

Segundo Polak (2000, p.107), os diâmetros de bordo até 80mm não devem ultrapassar o ano de 80 d.C., enquanto que os valores acima de 90mm devem ser já flávios. Esta tendência de crescimento era já defendida por Oswald e Pryce (1920, p.187) e Ritterling (1912, p.208), embora os primeiros autores defendam que os diâmetros grandes podem surgir também nas fases antigas. Das estampas de Passelac e Vernhet (1993, p.573) depreende-se um pouco esta situação: a tigela Drag. 27a é grande, tal como a Drag. 27c, enquanto que a Drag. 27b é a mais pequena.

Os dados publicados de La Graufesenque (Genin; et Al., 2007, p.101 e 137) respeitantes às fossas de Gallicanus (55-60 d.C.) e de Cirratus (30-40 d.C.) e à fossa 79 (80- 120 ou 150 d.C.) indicam que, na fossa de Cirratus, existem dois grupos, de 70-100mm e >100mm; no segundo contexto, o grupo de 70-100mm representa 59% e o grupo de 101-

139mm, 40,2%; enquanto que na fossa 79, os valores aumentam um pouco, dividindo-se entre os oleiros Masculus (86 a 100mm) e Caluus (124-130mm).

Dado que nos níveis neronianos de USK existem 2 grupos métricos de 70-90mm e 120- 140mm, semelhante aos valores de Camulodunum, de 75 e 140mm (Tyers, 1993, p.134), e também próximos dos valores do naufrágio de Cala Culip IV (78-82 d.C.), de 70-75mm (69 indivíduos) e 115-120mm (449 indivíduos), propomos então um valor tendencial mínimo de

70mm, para a época neroniana, e a seguinte tendência evolutiva dos diâmetros de Chãos

Salgados (ver fig. 19):

Teríamos assim, aproximadamente, 3 exemplares até 80 d.C., 19 neronianos e 59 flávios, sendo que este último período tem sobretudo uma concentração nos valores entre 90 e 139mm, o que poderá pressupor uma cronologia alta para a maioria destes 59 exemplares flávios.

Se tivermos como indicador as propostas tipológicas dos bordos (113 no total), em particular, as defendidas por Passelac e Vernhet (1993, p.573), então revela-se um claro domínio das peças flávias, sobretudo a partir de 80 d.C.:

Ö a Drag. 27a (bordos lisos, sem roleta externa) surge 5 vezes; Ö a Drag. 27b (bordo em lábio) surge outras 5 vezes (nº 64);

Ö a Drag.27c (bordo perolado) surge 103 vezes (nºs 65, 66, 67, 68, 69, 134,

144 e 142).

A tese de Oswald e Pryce (1920, p.187) que data as caneluras internas abaixo do bordo como pré-flávias, sendo pouco frequentes nos Flávios, parece invalidada no espólio de Chãos Salgados, já que, em 83 exemplares de Drag. 27c, surge 52 vezes, o que torna este atributo, senão maioritário, pelo menos muito frequente também na época flávia. A própria estampa de Passelac e Vernhet (1993, p.573) possui igualmente a canelura interna.

Os vernizes apontam em princípio para uma tendência cronológica semelhante à dos outros indicadores estatísticos tratados, com um domínio do verniz 3 (ver fig. 20):

Os dados estratigráficos de Chãos Salgados com relevância cronológica são exíguos em informação sobre a Drag. 27. Nos

contextos 1 (segunda metade ou apenas terceiro quartel do século I), 6

(flávio), e no contexto 90 (flávio) surgem, respectivamente, um bordo

Período Escalão Exs.

46mm 1 50-59mm 0 Até 80 d.C. 60-69mm 2 70-79mm 6 Nero? 80-89mm 13 90-99mm 11 100-109mm 9 110-119mm 12 120-129mm 12 130-139mm 7 140-149mm 3 150-159mm 0 Flávios 160-168mm 3

Fig. 19: Chãos Salgados. TSSG. Diâmetros de

bordo da Drag. 27. Verniz Exs. 1 1 2 19 3 138 4 1

Fig. 20: Chãos Salgados.

perolado com canelura interna (117mm), uma carena e um bordo perolado, com parede de quarto de círculo superior verticalizado e sem canelura interna.

No século II (1ª metade?), surge um outro bordo perolado (145mm), sem canelura interna, no contexto 2.

Drag. 33

A cronologia inicial cláudia da Drag. 33, proposta por Oswald e Pryce (1920, p.189) foi mais recentemente recuada por Passelac e Vernhet (1993, p.574) para 20 d.C., bem como por Polak (2000, p.119), com base nas marcas de oleiros de Vechten.

Os dois autores franceses situam a datação final da forma em 160 d.C. (Passelac; Vernhet, 1993, p.574), sendo que Oswald e Pryce (1920, p.189) defendem um aumento da sua comercialização em época antonina, com base nos dados de Newstead e Niederbiber. Na fossa 79 de La Graufesenque (Genin; et Al., 2007, p.133), datada a partir de 80 d.C. e atingindo pelo menos o ano de 120 d.C., a Drag. 33, em conjunto com as Drag. 27 e 18, totalizam 98% das formas lisas. Neste aspecto, parece-me que estamos perante uma situação idêntica à que referimos para a Drag. 36, ou seja, a de que este aumento das frequências constatado pelos dois autores britânicos diga apenas respeito a uma difusão “setentrional” e não ao território hispânico. No forum de Ampúrias, a Drag. 33 surge com 1 exemplar na época de Nero, 4 em Domiciano e nenhum na primeira metade do século II (ver

anexo 2, tabela 12).

A fraca representação deste tipo nas estratigrafias conhecidas ao longo do século I impede uma melhor visão da sua evolução morfológica. Na fossa 9003 de Soumaltre são escassos os exemplares e, ao longo da evolução da calçada do século I de La Graufesenque nunca atinge grandes quantitativos, embora estes subam na segunda metade da centúria, em particular nas UEs 3 (60-90 d.C.) e 1 (90-100 d.C.) (ver anexo 2, tabelas 6 e 7).

Os 29 exemplares de Chãos Salgados (nºs 70, 71, 72 e 73) integram-se no sub-tipo Drag. 33b, proposto por Polak (2000, p.121), quando a forma tem fisionomia mais alta, com menores diâmetros de bordo, e ângulo esbatido entre a parede e o fundo, já em época flávia.

Os fundos estreitos, apesar de nunca possuírem nenhuma canelura interna na união do fundo com a parede, assemelham-se ao sub-tipo Drag. 33c de Passelac e Vernhet (1993, p.574), com cronologia entre 100 e 160 d.C., e não tanto ao sub-tipo Drag. 33a2, datado entre 60 e 160 d.C., tipo mais aberto.

A Drag. 33a2 é a forma representada no depósito neroniano de Narbonne (Fiches; Guy; Poncin, 1978, fig. 39). Infelizmente, faltam-nos dados estratigráficos sobre a evolução desta forma no último quartel do século I: não surge em Cala Culip IV (ver anexo 2, tabela 50) e o espólio da calçada de La Graufesenque não permite visualizar qualquer evolução morfológica (Farine, 1996, p.212 e fig. 14). Contudo, se compararmos alguns dados de

diferentes fossas do centro produtor, é possível verificar que, na fossa de Gallicanus, com diâmetros entre 125 e ≥ 159mm, 60,5% situam-se entre 140 e 149mm (Genin; et Al., 2007, p.102), o que poderá até antecipar a Drag.33b de Polak para Nero, quando deverá então ocorrer a transição entre as Drag.33a2 e 33c de Passelac e Vernhet.

Tendo em conta a sua inexistência nos níveis da primeira metade do século II de Ampúrias, onde ocorre uma restrição do espólio sudgálico para o binómio Drag. 18 e 31, nas lisas, e para a Drag. 37, nas decoradas (ver anexo 2, tabela 12), parece-me pouco aceitável que o espólio de 29 exemplares de Chãos Salgados se date apenas após 100 d.C. e que, por isso, a proposta de Polak (2000, p.121), de uma datação inicial flávia para o tipo tardio (que engloba a Drag. 33a2 e 33c dos dois autores franceses), seja a mais correcta.

Em Chãos Salgados, o único exemplar em estratigrafia possui 100mm de diâmetro de bordo e provém de estrato flávio, contexto 90 (Biers; et Al., 1988, nºIII.82-785).

Os diâmetros de bordo diagnosticáveis situam-se entre 87 e 183mm, com uma maior concentração entre 100 e 140mm, que se destaca da concentração de Vechten, entre 130 e 170mm (Polak, 2000, p.103) (ver fig. 21).

O verniz 2 surge 9 vezes e o verniz 3, 19 vezes. Assim, cerca de 1/3 pertence ao verniz 2, o que pode indicar uma maior antiguidade cronológica das peças num âmbito temporal a partir da década de 60 d.C.. Escalão Exs. 87mm 1 94mm 1 100-109mm 2 110-119mm 2 120-129mm 2 130-139mm 4 140-149mm 2 150-159mm 0 160-169mm 1 170-179mm 0 183mm 1

Fig. 21: Chãos Salgados.

TSSG. Diâmetros de bordo da Drag. 33.

Fundos de tigelas indetermináveis

Os 120 exemplares de Chãos Salgados (nºs 74, 75, 76 e 77) apresentam uma clara concentração de diâmetros entre 30 e 60mm; bem como do verniz 3 (ver figs. 22 e 23).

Quanto à morfologia dos pés-de-anel, 49 são de secção triangular e apenas 8 de secção rectangular.

Drag. 35

Esta forma dos “serviços flávios” (Vernhet, 1976, forma A1) está datada por Passelac e Vernhet (1993, p.578) entre 60 e 160 d.C..

Segundo Oswald e Pryce (1920, p.192) é mais frequente do que a Drag. 36, na época flávia.

Os seus diâmetros, segundo Vernhet (1976) situam-se entre 70 e 140mm. Em Cala Culip IV (78-82 d.C.) definiram-se dois grupos métricos de diâmetros: 82-92mm (24 indivíduos) e 115-125mm (10 indivíduos).

Em Chãos Salgados, os 8 exemplares (nºs 78 e 79) apresentam 6 valores diagnosticáveis de 70(?), 82, 102, 105, 114 e 149mm.

O verniz 2 surge em 3 exemplares e o verniz 3 em 4.

Todos os exemplares têm a decoração de folha de água em barbotina sobre a aba. O nº 79, com 70mm(?) de diâmetro possui igualmente uma folha de água extensa e ramificada sobre a parede externa. Foi produzido com verniz 2.

Apenas 1 exemplar, sem diâmetro definido, tem contexto: um nível flávio – contexto

90 - (Biers; et Al., 1988, nºIII.83-805-). 3.2.2.1.3. Marmoreadas

Esta produção de La Graufesenque está datada tradicionalmente entre 40 e 70 d.C. (Oswald; Pryce, 1920, p.218-221; Hermet, 1934, p.169-179; Vernhet, 1976, p.15).

Recentemente, M. Genin (2006) reviu esta questão à luz de novos dados, em particular os que se conhecem da fossa Malaval ou de Gallicanus, em La Graufesenque,

Fig. 22 Escalão Exs. 29mm 1 30-39mm 19 40-49mm 22 50-59mm 21 60-69mm 7 70-79mm 3 80-86mm 2 Fig. 23 Verniz Exs. 1 2 2 11 3 102 4 2

Fig. 22: Chãos Salgados. TSSG. Diâmetros de pé-de-anel

das tigelas.

Fig. 23: Chãos Salgados. TSSG. Frequências de vernizes

datada em 55-60 d.C. (Polak, 2000, p.410), ou entre 50 e 70 d.C., como propõe a autora (Genin, 2006, p.232).

Genin (2006, p.233) estabelece 4 grandes grupos de formas lisas realizadas em

marmorata. O primeiro deles é constituído por um conjunto de 9 formas extraordinárias; o

segundo, por outras 9 formas derivadas da terra sigillata itálica augusta e pós-augusta (possíveis experiências de oleiros durante os anos 20 do século I d.C.?); o terceiro grupo é “clássico”, com 11 tipos conhecidos entre 30 e 70 d.C., onde se destacam as Drag. 24/25, 27, 15/17 e 18, que representam 75% dos materiais da fossa de Gallicanus; por fim, um “grupo recente” onde constam as Drag. 4/22, 35/36, 46 e Hermet 9, inexistentes na fossa de Gallicanus.

Na fossa de Gallicanus consta ainda um conjunto de tipos decorados – Drag. 29 (41 exs.), Drag. 30 (8 exs.), Drag. 37 (13 exs.), Hermet 9 (3 exs.), Hermet 5 (1 ex.) e Knorr 78 (1 ex.), que para a autora evidenciam uma importância estatística maior do que se supunha em relação à Drag. 37. Por outro lado, o único exemplar inteiro desta forma tem decoração datável entre 70 e 85 d.C. (Hermet, 1934, est.81, nº4), dado ao qual podemos ainda somar o facto de haver mamoreada realizada por oleiros recentes, dos quais o mais tardio é L. Cosius Virilis (Genin, 2006, p.235-237), cuja produção deverá iniciar-se algures antes de 90 d.C. (Mees, 1995, p.98).

Genin (2006, p.238) propõe assim que o fabrico de marmoreada se situe entre 30 d.C. e fins do século I, acentuando que esta produção continua claramente após 70 d.C., como comprova a estratigrafia de Lyon (ver anexo 2, tabela 14).

Em Chãos Salgados existem 3 exemplares de Drag. 18, 3 de Drag. 24/25, 2 de Drag. 27, 2 fundos de prato e 2 exemplares (fundo e bojo) de tigela.

Todas as fisionomias e medidas apontam para um período de importação situável no terceiro quartel do século I, segundo as propostas debatidas supra: os dois exemplares de Drag.18 possuem diâmetros de 178 e 196mm (nº 131); os três exemplares de Drag. 24/25 possuem diâmetros de 110, 112 e 120mm (nºs 80, 82 e 81): os dois primeiros possuem roleta, já vertical, datável assim após meados do século I (ver supra); nos dois exemplares de Drag. 27, uma carena mede 97mm e uma outra 74mm (nº 83); por fim, os dois fundos de prato medem 90 (nº 132) e 75mm, e o fundo de tigela, 52mm, o que os enquadra nos grupos métricos mais representados em Chãos Salgados.

3.2.2.2. Formas decoradas 3.2.2.2.1. Nota prévia

Para a sistematização cronológica das decorações utilizámos não só as propostas de faseamento gerais (Oswald; Pryce, 1920; Hermet 1934; Passelac; Vernhet, 1993; Mees, 1995; Tilhard, 2004), mas também as propostas de Dannell; Dickinson; Vernhet

(1998) sobre a evolução dos óvulos na Drag. 30, segundo a qual as linguetas tridentes sucedem às de roseta, a partir de c. 70 d.C., e as confirmações da tese de Hermet (1934), por Sanchez e Silvéréano (2005, p.175) e Genin e Rascalou (2004, p.141) que evidenciam uma cronologia até 50 d.C. para os cordões de óculos, e uma cronologia sucedânea, a partir de 50 d.C., para os cordões ondulantes, na Drag. 30.

Hermet (1934, p.182-187) estabeleceu 4 fases de evolução estilística das decorações das peças de Terra Sigillata de La Graufesenque: período primitivo (20-40 d.C.), período de esplendor (40-70 d.C.), período de transição (70-85 d.C.) e período de decadência (80-120 d.C.).

Mais recentemente, Passelac e Vernhet (1993, p.569) estabeleceram 6 fases estilísticas: período de ensaio (entre 10 e 20 d.C.; com justaposição de pequenos motivos geométricos ou florais), período primitivo (20-40 d.C.; com motivos essencialmente vegetais, cuidadosos e sóbrios), período de esplendor (40-60 d.C.; com decoração vegetal

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