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Esta pesquisa insere-se na área de concentração da Linguística Aplicada; o objeto de estudo implica, pois, problemas linguísticos socialmente relevantes (com base em MOITA LOPES, 2006), requerendo olhar a língua para além da imanência; ou seja, exigindo que

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Tal qual discutiremos à frente, os professores formadores participaram deste estudo, mas na condição de intérpretes da mencionada reverberação e não no que respeita à reverberação propriamente dita.

nos ocupemos dela nos usos, permeada pelas particularidades dos sujeitos, que são constituídos e não instituídos pelo outro (GERALDI, 2010b), nas relações que com ele estabelecem. Sob essa perspectiva, buscamos compreender nosso objeto de pesquisa, tomando-o em sua complexidade. Assim, optamos pela ―[...] pesquisa qualitativa [que] é orientada para análise de casos concretos em sua particularidade temporal e local, partindo de expressões e atividades das pessoas em seus contextos locais‖ (FLICK, 2007, p. 28). É nosso propósito, pois, estudar um caso concreto, o Programa Pró-Letramento Alfabetização e Linguagem, implementado no período de 2011 e 2012, respeitando o contexto em que tal programa de formação estava inserido, assim como singularidades de seus participantes.

Ao escolhermos a pesquisa qualitativa, optamos pelo interpretativismo. Nesse tipo de pesquisa evitam-se fazer generalizações, tendo presente que

[...] o problema da generalização na pesquisa qualitativa consiste no fato de que seus enunciados são, geralmente, construídos para determinado contexto ou para casos específicos, e baseiam-se em análises de relações, condições, processos, etc., nestes presentes. Essa ligação a conceitos normalmente confere à pesquisa qualitativa uma expressividade específica (FLICK, 2007, p. 241).

Assim considerando, fazemos a opção por esse tipo de pesquisa, já que, na área da Linguística Aplicada, não objetivamos replicar os resultados obtidos, pois analisamos o objeto dentro de um contexto específico, e esse contexto muda a cada nova pesquisa, já que lidamos com sujeitos singulares e compreendemos que tais sujeitos estão em constantes movências em sua constituição subjetiva.

Dentre os tipos de pesquisa qualitativa, nossa opção pelo estudo de caso se deu pelo ―[...] desejo de se compreender fenômenos sociais complexos [...]‖ (YIN, 2005, p. 20), em especial, a alfabetização dentro do contexto do Programa PL, descrito no primeiro capítulo desta dissertação. Também ―[...] o estudo de caso é a estratégia escolhida ao se examinarem acontecimentos contemporâneos, mas quando não se podem manipular comportamentos relevantes [...]‖ (YIN, 2005, p. 26), o que vai ao encontro de nossa proposta de estudo que busca depreender se e quais possíveis ressignificações ocorreram considerada a

participação de tutoras, alfabetizadoras e alunos no PL Alfabetização e Linguagem, nos anos de 2011 e 2012.

Neste estudo não nos baseamos somente em uma única forma de gerar dados, pois compreendemos que é importante estudar o objeto de diferentes modos, buscando fontes que convirjam entre si e que nos facultem um olhar interpretativo mais efetivamente ancorado, isso porque o estudo de caso ―[…] é estratégia de pesquisa que compreende um método que abrange tudo – tratando da lógica de planejamento, das técnicas de coleta59 de dados e das abordagens específicas à análise‖ (YIN, (2008), p. 33).

Tomamos os sujeitos como sócio-historicamente situados, os quais se caracterizam por particularidades que foram respeitadas e consideradas na pesquisa. Também a condição de pesquisador não nos destitui de nossa singularidade e de nossa historicidade, tanto quanto não nos exime do cuidado para não irmos ao encontro dos participantes de pesquisa já com ideias preconcebidas e buscar deles respostas esperadas, incorrendo no risco do paradoxo do observador (com base em LABOV, 2008 [1972]).

Interessamo-nos pela pesquisa de base etnográfica porque ela busca estudar a cultura e a sociedade em uma perspectiva de atenção antropológica, e a escola e os sujeitos que nela interagem caracterizam- se por especificidades que demandam essa mesma atenção. Embora saibamos que não fizemos etnografia de fato, mas pesquisa ‗de base etnográfica‘, é importante entendermos que, segundo André (2008), a etnografia, para os antropólogos, tem diferentes sentidos: ―(1) um conjunto de técnicas que eles usam para coletar dados sobre os valores, os hábitos, as crenças, as práticas e os comportamentos de um grupo social; e (2) um relato escrito resultante do emprego dessas técnicas‖ (ANDRÉ, 2008 [1995], p. 27). Na área de educação, no entanto, não tende a ocorrer pesquisa etnográfica de fato, ou seja, ―[...] fazemos estudos do tipo etnográfico e não etnografia no seu sentido estrito‖ (ANDRÉ, 2008 [1995], p. 28). Assim, esta pesquisa é um estudo de caso de cunho etnográfico e não etnografia em si mesma, sobretudo porque atuamos com o campo educacional e, nele, lidamos com questões epistêmicas que dizem respeito à apropriação o conhecimento, o que nos afasta de condutas que primem pela descrição antropológica em si mesma. Essa tensão já foi objeto do olhar de Street (2003a) em

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Ainda que compreendamos como geração de dados, mantemos coleta, aqui por se tratar de citação direta. Essa conduta será mantida ao longo desta dissertação.

resposta a críticas como de Brandt e Clinton (2002) cujo enfoque levava a desdobramentos das relações entre a abordagem antropológica dos estudos do letramento e as questões educacionais.

Nossa opção, portanto, por um estudo de caso de cunho etnográfico se origina em nosso interesse por um fenômeno específico no campo da educação, o Programa Pró-Letramento Alfabetização e Linguagem; preocupamo-nos em conhecer, analisar e refletir – tão profundamente quanto nos seja dado fazê-lo – a/sobre eventuais incidências da participação desse Programa nas concepções teóricas e nas práticas de alfabetizadoras e, por conseguinte, nos processos de ensino e de aprendizagem de que elas tomam parte.

Assim, reiteramos nossa busca por compreender como se deu a participação no Programa, tanto sob o ponto de vista de tutoras quanto de alfabetizadores, considerando que, segundo André (2008, p.52), o estudo de caso de tipo etnográfico possibilita ―[...] fornecer uma visão profunda e ao mesmo tempo ampla e integrada de uma unidade complexa, composta de múltiplas variáveis‖ (ANDRÉ, 2008 [1995], p. 52).

Nesta discussão é importante considerar que o tempo que o pesquisador permanece em campo tem estreitas implicações com o tipo de pesquisa que realiza, podendo variar de acordo com a disponibilidade dos participantes. Assim, ―[...] o período de tempo em que o pesquisador mantém esse contato direto com a situação estudada pode variar muito, indo desde algumas semanas até vários meses ou anos‖ (ANDRÉ, 2008 [1995], p. 29). Quanto a esse tempo de permanência em campo, é importante registrarmos que, além do período da geração de dados, por meio dos diferentes instrumentos de que trataremos à frente, já mantivemos um estreito contato com as tutoras ao longo do processo de formação continuada levado a termo no PL, o que implicou realização de seminários, atividades a distância via Moodle e troca de e-mails, registros com os quais contamos em nossos bancos de dados sobre o Programa.

Entendemos, ainda, que a pesquisa, em educação, de cunho etnográfico permite uma aproximação maior entre o pesquisador e o campo, fazendo com que haja uma interação mais efetiva entre todos os participantes. Desse modo, o pesquisador precisa observar como se dão ―[...] as relações que configuram a experiência escolar diária [...]‖ (ANDRÉ, 2008 [1995], p. 41), compreendendo que essas relações são permeadas de ideologia, são relações de poder.

Conhecer a escola mais de perto significa colocar uma lente de aumento na dinâmica das relações e interações que constituem o seu dia a dia, apreendendo as forças que a impulsionam ou que a retêm, identificando as estruturas de poder e os modos de organização do trabalho escolar e compreendendo o papel e a atuação de cada sujeito nesse complexo interacional onde ações, relações, conteúdos são construídos, negados, reconstruídos ou modificados (ANDRÉ, 2008 [1995], p. 41).

Ao conhecer a escola mais de perto, o pesquisador cuja ação tem base etnográfica não faz um ‗retrato fiel‘ da realidade que observa, mas uma interpretação do que analisa, e sua interpretação também não é neutra, não é isenta de valores, pois ele é um sujeito singular situado e traz sua historicidade para sua pesquisa; assim, ―[...] a descrição etnográfica é marcada pelos traços distintivos do pesquisador‖ (ANDRÉ, 2008, p. 117). Enfim, ainda que estejamos seguros de que o desenho do processo de geração de dados registrado neste projeto nos coloca mais efetivamente como valendo-nos de instrumentos da etnografia em um estudo de caso e não realizando um estudo de caso de tipo etnográfico tal qual se desenha, entendemos que, se considerada nossa imersão neste processo, desde o seu início, na condição de parte da equipe que coordenou o Programa, percurso em que já vimos gerando dados em notas de campo à guisa de documentação do percurso, a aproximação com o campo nessas vivências nos permite caracterizar este estudo de caso como de tipo etnográfico.