2.4 Fatores intrínsecos que interferem na doença periodontal em
2.4.2 Tipo de crânio, raça e idade
Morfologicamente o crânio do cão é classificado em três tipos: os dolicocefálicos, os braquicefálicos e os mesocefálicos (Figura 9). Os animais que apresentam crânio longo e nariz delgado foram caracterizados como dolicocefálicos, enquanto aqueles cães que possuem cabeça redonda com uma caixa craniana maior que os ossos faciais foram classificados como braquicefálicos e os mesocefálicos são aqueles que se encontram entre esses dois extremos (SCHMIDT et al., 2011).
A seleção fenotípica culminou na variabilidade do formato do crânio de caninos. O fenótipo selecionado primariamente foi o braquicefálico, por características como mordida mais forte (ELLIS et al., 2009). O posicionamento dos dentes nas arcadas é afetado pelo formato cranial e isso pode predispor a doenças (EVANS & CHRISTENSEN, 1993).
A associação de extensão entre dente e osso da mandíbula e a relação entre tamanho do dente e volume do osso mandibular em cães de pequeno porte são maiores do que em cães de grande porte, tornando os animais menores mais suscetíveis à doença periodontal (GIOSO, 2007).
As raças pequenas por apresentarem o mesmo número de dentes que raças maiores, mas terem um crânio menor, tendem a apresentarem má oclusão e apinhamento e as raças braquicefálicas tendem a ter rotação e apinhamento, o que predispõe esses animais à enfermidade periodontal, somando-se ainda o fato de serem respiradores bucais, o que pode agravar problemas periodontais (HARVEY & NIEVES, 1991).
FIGURA 9 - Classificação cranial de cães
demonstrando um crânio
dolicocefálico (A), mesocefálico (B) e braquicefálico (C)
Fonte: http://www.ufpel.edu.br
Disparidades no padrão entre mandíbula e maxila no cão podem levar à desarmonia nas características faciais e problemas na oclusão dentária.
As disparidades são herdadas e desenvolvem-se separada e
independentemente, ocasionando sérios efeitos na mastigação e preensão, além de perdas dentárias. Cada quadrante da maxila e mandíbula apresenta crescimento independente um do outro, podendo existir anormalidades de um lado do crânio que não afetarão o lado oposto da mesma maneira (HENNET, 1995).
Maior variabilidade estrutural no crescimento da mandíbula e maxila é observada nos braquicefálicos, estando esses sujeitos a consequências desfavoráveis que incluem problemas na mastigação, na articulação temporomandibular, traumatismos de tecidos moles e o desenvolvimento de doença periodontal (WIGGS & LOBPRISE, 1997).
Com relação à idade, gengivite e periodontite, como resultado de um processo natural, apresentam prevalência de 80% em animais com idade
acima de dois anos, independente de raça ou sexo (EMILY et al., 1999; NIEMIEC, 2008). A prevalência da doença periodontal é alta já na idade de dois anos e aumenta com o avançar da idade (KORTEGAARD et al., 2008).
A idade, juntamente com formato da cabeça, dieta, obesidade e efeitos da mastigação compõem alguns dos fatores predisponentes para a periodontite (HARVEY & EMILY, 1993). Em um estudo, concluiu-se que em cães sem raça definida, a incidência de placa bacteriana é maior nos animais com idade de 0 a 2 anos e acima de 6 anos (EURIDES et al, 1996). Aproximadamente 87% de cães e gatos com idade acima de três anos apresentam enfermidades periodontais (SAN ROMÁN, 1999).
A análise dos dados obtidos em estudo em que foram examinados 32 cães da raça Pastor Alemão, de quatro faixas etárias diferentes permitiu verificar que, quanto maior a idade dos cães, maior a frequência e gravidade do acúmulo de cálculo dentário e doença periodontal (TELHADO et al., 2004). Segundo SORENSEN et al. (1980) e LAGE et al. (1990), os escores de cálculo dentário tendem a ser paralelos aos escores de doença periodontal, observando-se ainda padrões similares de evolução destes com a idade.
A doença periodontal é um processo evitável em animais idosos, já que aqueles que não apresentam acúmulo de placa ou que têm suas gengivites recorrentes tratadas terão pouca ou nenhuma experiência com periodontite em função da idade (BEARD & BEARD, 1989).
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A doença periodontal é muito comum na clínica de pequenos animais, visto que a maioria dos animais acima de três anos é acometida pela enfermidade, o que pode trazer consequências graves aos mesmos, afetando seu estado geral de saúde, podendo inclusive causar doenças sistêmicas como endocardite e glomerulonefrite.
Assim sendo, torna-se cada vez mais importante o esclarecimento dos proprietários em relação à profilaxia da doença, pois a falta de conhecimento por parte dos mesmos é um fator que influencia o surgimento de doenças da cavidade oral dos animais de estimação. É preciso fornecer informações aos proprietários a respeito dos fatores que podem induzir o desenvolvimento da periodontite, explicitados nesse trabalho, tais como dieta, nutrição e a falta de higiene oral, conscientizando-os sobre a escovação, que é o principal método de controle da placa bacteriana, causadora da doença, para que a enfermidade em questão apresente menor incidência sobre esses animais.
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