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O processo investigativo aconteceu através de um estudo etnográfico que de acordo com Angrosino (2009) é aquele desenvolvido in loco e tem como premissa a pesquisa de campo conduzida no local onde as pessoas vivem e onde o pesquisador deve interagir de maneira dialógica durante determinado período para que ao final possa revelar o retrato mais completo possível do grupo investigado. A etnografia é tida como “a arte e a ciência de descrever um grupo humano- suas instituições, seus comportamentos interpessoais, suas produções materiais e suas crenças” (p. 30).

Enquanto método, a etnografia deixa espaço à subjetividade da pesquisadora, à utilização da primeira pessoa no texto etnográfico e à colocação de considerações auto- reflexivas. Produz auto-reflexão também entre os membros do grupo estudado. Permite observar e captar uma multiplicidade de fatores (culturais, sociais, costumes, crenças, etc.) presentes na experiência vivida por determinado coletivo a fim de compreender o objeto de estudo de maneira holística (CAPRARA; LANDIM, 2008; ANGROSINO, 2009).

Trad (2009) destaca que, nas fronteiras com a saúde, as características do trabalho etnográfico refletem as transformações ocorridas por influência de diversos fatores incluindo outros campos de conhecimento – a própria antropologia. Tem se desenvolvido como “método enquanto ferramenta de observação, registro e interpretação de comportamentos sociais e modos de organização societais” (p. 628).

Porém, a complexidade existente no ato de investigar exigiu que uma revisão de literatura para delimitação do nosso referencial teórico, precedesse a ida a campo nos auxiliando na organização e escolha das ferramentas que foram levadas para os espaços nos quais a pesquisa ganhou vida. Na bagagem tinha: intuição, afeto, questionamentos, um caderno azul com folhas em branco, ouvidos e olhos atentos, alguns pensamentos em mente, livros de poesia e uma câmera fotográfica.

Assim, enquanto estive presente de maneira mais contínua temporalmente e direcionada a responder aos enfoques desta pesquisa, pude qualificar a apreensão acerca dos fatores que estruturam o processo de cuidado à saúde através de ferramentas distintas na

coleta dos dados. Recorri à observação participante, entrevistas individuais, grupos focais, diário de campo e registro de imagens.

Figura 5 Cada um que leva a vida nessa estrada só precisa de uma sombra pra chegar4

A observação participante é tida pela pesquisa etnográfica tanto como um estilo adotado pela pesquisadora como também podendo configurar um contexto ao qual uma variedade de técnicas de coleta de dados pode ser aplicada. Neste sentido, assumiu um papel central no desenvolvimento deste estudo por representar uma ferramenta indispensável à intencionalidade de se conhecer o objeto em profundidade (ANGROSINO, 2009).

No caso da entrevista individual, esta foi utilizada por se tratar de uma técnica que auxilia na “compreensão das crenças, atitudes, valores e motivações, em relação aos comportamentos das pessoas em contextos sociais específicos” (GASKELL, 2003, p. 65). Apresenta-se como uma das ferramentas mais utilizadas na coleta de dados por permitir uma organização flexível e ampliação dos questionamentos à medida que as informações vão sendo fornecidas pelo entrevistado (BELEI et al., 2008).

No sentido de viabilizar o alcance de determinados elementos que outros métodos de coleta dificilmente garantiriam o acesso, foram desenvolvidos grupos focais junto às famílias

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assentadas buscando revelar dimensões do objeto que comumente permaneceriam veladas ou não seriam formuladas no âmbito individual. Por ser um método de entrevista coletiva, valoriza a comunicação entre os participantes e reconhece que os processos grupais podem ajudar as pessoas a explorar sua compreensão a respeito de algo que seria menos acessível em entrevistas individuais (KITZINGER, 2009).

Figura 6 Verde, a cor da esperança.

A utilização do grupo focal está associada também à economia de tempo uma vez que permite alcançar um grupo de pessoas em um momento único facilitando o processo de coleta que sendo realizado de forma individual, demandaria da pesquisadora mais idas a campo para atingir a mesma quantidade de pessoas. Os registros em diário de campo como ferramenta potente para sistematização das impressões, vivências e reflexões acerca do que havia ocorrido durante o dia além de funcionar como meio para (re)orientação do percurso investigativo.

Nesse caso, o tempo poupado foi dedicado à escuta, análise e interpretação das entrevistas ainda no período de imersão que no caso de pesquisa qualitativa deve ocorrer concomitante à coleta contribuindo com o direcionamento dos passos seguintes.

Para captar esse fazer saúde do campo a partir de outros sentidos além da fala e escrita, optei por complementar a coleta de dados recorrendo ao uso da linguagem visual

através do registro fotográfico das produções de cuidado no cotidiano. A utilização da imagem como fonte nas pesquisas aparece como um elemento importante na extrapolação da realidade apenas pela comunicação da escrita como aponta Belei (2008, p. 188) ao trazer que “as imagens passaram a fazer parte da vida cotidiana e adentraram também na vida acadêmica, modificando a maneira de ensinar e de aprender. Com as imagens, os fatos e as informações tornaram-se mais atrativos, tirando-se o foco da palavra escrita, do texto”.

As imagens produzidas durante a imersão no cotidiano das equipes e das famílias dos assentamentos compõem o cenário da realidade em questão somando-se aos demais dados para auxiliar na compreensão da complexidade que envolve a produção de saúde nesses territórios. Esse tipo de registro permitiu a percepção sobre aspectos subjetivos que emergem das inter-relações profissional de saúde-usuários, bem como funcionou em muitos momentos como via de aproximação com os espaços e pessoas que podiam expressar corporalmente o seu modo de existir naquele lugar através do posar ou não para a foto.

Tal instrumento foi útil ao processo criativo e inventivo, fundamentais à construção do conhecimento e à apreensão dos elementos socioculturais, geográficos, relativos ao trabalho, transporte, saneamento, à moradia, segurança e demais fatores que interferem na saúde, adoecimento e modos de autocuidado e àqueles oferecidos pelas equipes de saúde às famílias assentadas.