2. OPÇÕES METODOLÓGICAS
2.1 Tipo de Estudo
A seleção da metodologia a utilizar emerge como uma decisão importante a
tomar, uma vez que norteia o sentido a dar à investigação e ajuda a definir a
questão de investigação bem como os seus objetivos. Esta deve servir os propósitos
da investigação em curso de forma a conseguir objetivos definidos, precisos e
credíveis. Tal é defendido por Fortin (2009, p. 53) que afirma que “as decisões
tomadas na fase metodológica determinam o desenrolar do estudo”.
Giorgi e Sousa (2010) referem que o investigador deve ser rigoroso na escolha
do método de pesquisa a utilizar, relacionando-o com a questão que serve de base
para a sua investigação, o que valida os resultados obtidos, tornando-os mais
concretos, plausíveis e rigorosos, uma vez que este princípio aumenta a validade
dos resultados a obter. Os mesmos autores defendem ainda que
independentemente do modo como o investigador determina a escolha do método
existe sempre uma análise parcial dos factos em estudo, sabendo que tanto se pode
recolher benefícios como surgirem limitações inerentes à opção assumida, uma vez
que nenhuma metodologia é perfeita.
O objeto deste estudo surge como sendo um fenómeno intrincado na medida
em que no mesmo observa-se o EEER como prestador de cuidados à pessoa com
disfagia pós AVC e as suas várias respostas em interação constante com o meio, ou
seja, com o utente, família e equipa multidisciplinar, o que possibilita que a sua
realidade seja interpretada de diversas formas e esteja em constante permuta, não
existindo por isso uma só realidade e, dessa forma, uma verdade absoluta.
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Assim, como forma de orientar esta investigação e de ir ao encontro dos seus
objetivos optei por utilizar como metodologia de investigação o método qualitativo,
uma vez que o seu objetivo é “descobrir, explorar, descrever fenómenos e
compreender a sua essência” (Fortin, 2009, p.32). A abordagem qualitativa visa
esclarecer e dar a conhecer os processos complexos da subjetividade, ao contrário
do que acontece nos métodos quantitativos, em que a base de análise reside na
descrição e controlo das variáveis a estudar, mediante o modo como se efectua o
tratamento dos dados (Holanda, 2006).
Fortin (2009, p.31) afirma que o estudo qualitativo: “está associado a uma
conceção holística do estudo dos seres humanos”. O pensamento dos autores
anteriormente citados vai ao encontro do meu objetivo enquanto investigadora, visto
que ao realizar este estudo pretendia descobrir e explorar o fenómeno da prestação
dos cuidados de reabilitação ao utente com disfagia por AVC, através da experiência
descrita pelos participantes com base na vivencia que estes têm sobre este
fenómeno.
Após definir a abordagem cujos seus pressupostos serviram de base ao
desenvolver deste projeto de investigação, tornou-se crucial decidir qual a tipologia
que iria nortear o estudo com vista a dar resposta à questão de investigação e ir ao
encontro dos objetivos definidos para o mesmo. Fortin (2009) refere que a
investigação qualitativa pode ter várias abordagens, que apesar de terem algumas
características em comum distam nos seus objetivos.
Quando o investigador optou pelo uso da metodologia qualitativa para estudar
um fenómeno, pareceu inevitável, pertinente e necessário a utilização do estudo dos
fenómenos, uma vez que estes são constituídos pelo que é emergente à consciência
do ser humano, procurando em si mesmo explorar o que lhe é consciente (Oliveira,
Lopes, & Diniz, 2008). Ao estudo dos fenómenos atribui-se a designação de
Fenomenologia, a qual consiste num movimento filosófico que surge com Edmund
Husserl e que abrange não só a filosofia como também serve de apoio para o modo
como o Homem se vê e perceciona a si próprio e ao mundo que o rodeia (Giorgi e
Sousa 2010).
De acordo com a questão principal do estudo, o meu objetivo enquanto
investigadora era o de identificar quais as intervenções/estratégias definidas pelo
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EEER com vista à promoção da alimentação da pessoa com disfagia por AVC.
Streubert e Carpenter (2013) afirmam que a fenomenologia pretende dar a conhecer
o significado dos fenómenos humanos vividos, através da análise das descrições
dos participantes.
Desta forma, considerando que pretendo conhecer as vivências do EEER no
que concerne aos cuidados de ER à pessoa com disfagia por AVC, bem como o
significado que o mesmo atribui a essa experiência, considero que a abordagem
fenomenológica é a que melhor se adequa ao estudo deste fenómeno.
Giorgi e Sousa (2010) defendem que a abordagem fenomenológica investiga a
experiência vivida dos sujeitos efetuando uma análise quanto ao modo como os
objetos são transmitidos à consciência, como é que cada sujeito experiencia o
fenómeno que se encontra em análise. Deste modo, o EEER entendido como sujeito
epistémico revela perceções de si mesmo, do outro, da envolvência social e cultural
relativamente ao modo como este se liga à sua consciência, com base central na
experiência dos cuidados de reabilitação à pessoa com alteração da deglutição
vivenciada por si.
A clarificação dos autores sobre este método dá resposta àquilo que era o meu
objetivo com o desenvolvimento deste projeto, visto centrar-me no fenómeno dos
cuidados de ER à pessoa com disfagia por AVC com o intuito de analisar e
interpretar as experiências relatadas pelos participantes neste estudo – os EEER,
indo ao encontro da ideia defendida por Marques (2002) que refere que numa
investigação qualitativa, importa que o investigador se envolva nos objetos e
acontecimentos de modo a avaliar o seu valor como dados.
Streubert e Carpenter (2013) e Giorgi e Sousa (2010) identificam duas
abordagens fenomenológicas, apresentando métodos de análise e fundamentos
filosóficos distintos, a fenomenologia descritiva ou ‘eidética’ desenvolvida por
Edmund Husserl e a fenomenologia interpretativa ou ‘hermenêutica heideggeriana’
defendida por Heidegger. A fenomenologia ‘heideggeriana’ tem como finalidade a
interpretação dos fenómenos e a revelação dos significados comuns que estejam
contidos. Por sua vez, a fenomenologia descritiva tem como objetivo obter
conhecimento da estrutura essencial dos fenómenos em estudo. A escolha da
abordagem fenomenológica de Husserl, fenomenologia descritiva, surge como a
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mais adequada para este estudo uma vez que se pretende descrever o fenómeno
dos cuidados de enfermagem de reabilitação à pessoa com disfagia por AVC a partir
da perspetiva dos EEER, isto é, pretende-se descrever o significado da experiência
dos cuidados de reabilitação prestados à pessoa com disfagia por AVC a partir do
ponto de vista dos EEER que prestam esses cuidados.
A fenomenologia descritiva vai ao encontro das diretrizes teóricas e
metodológicas defendidas pelo método definido por Giorgi e Sousa (2010). Giorgi
surge como sendo um dos investigadores relacionados com a fenomenologia em
relação às ciências humanas, sendo pioneiro no desenvolvimento de uma
metodologia qualitativa.
Em suma, a opção por uma metodologia de investigação qualitativa, com uma
abordagem fenomenológica descritiva prende-se com o fato de permitir-me
enquanto investigadora elaborar um estudo, de forma científica, do fenómeno dos
cuidados de reabilitação à pessoa com disfagia por AVC, atendendo à descrição das
experiências e vivências dos EEER participantes no estudo.
No documento
Promover para reabilitar :
(páginas 33-36)