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Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, do tipo “Pesquisa- Cuidado”. Sabe-se que, por meio da pesquisa qualitativa, a ciência obtém ricos detalhes acerca da experiência dos sujeitos em relação a um determinado fenômeno, resultando em descrições densas ou pesadas, imbricadas numa relação particularmente definida de envolvimento entre pesquisador e sujeitos participantes da pesquisa (DRIESSNACK; SOUSA; MENDES, 2007).

Corroborando com isso, Minayo (2007) afirma que a pesquisa qualitativa busca apreender significado, valores e crenças que os indivíduos possuem sobre determinado fenômeno, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações e dos processos que não podem ser resumidos à operacionalização de variáveis.

Inserida nessa perspectiva, a “Pesquisa-Cuidado” constitui uma resposta ética e humanística na forma de fazer ciência, visto que tem a preocupação de beneficiar os sujeitos pesquisados, por serem, nesse tipo de pesquisa, não somente informantes, mas porque são cuidados enquanto participam da pesquisa.

Esse tipo de pesquisa se contrapõe a qualquer outro método que se restrinja a questionários e a registros de respostas invasivas, muitas vezes desrespeitosas e de interesse apenas do pesquisador. O referido tipo de pesquisa imprime uma obrigatoriedade de relação entre o ser pesquisado e o ser pesquisador, entendendo que o processo de cuidar e pesquisar acontece simultaneamente.

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A “Pesquisa-Cuidado” é uma arte e não se restringe a seguir passos sistemáticos estabelecidos em uma determinada metodologia. Assim como o artista, esvaziado de conhecimento prévio, o pesquisador-cuidador deixa fluir a criatividade e, na relação de cuidado, mostra toda a beleza de sentimentos e a riqueza que vem de seu ser, disponibilizando-se a aproximar-se do manifestado pelo paciente e com ele discute alternativas de ação.

Essa proposta de pesquisa surge da discussão e da necessidade de desenvolver abordagens de pesquisa coerente com a natureza da Enfermagem como ciência. Em um evento de pesquisa em Enfermagem ocorrido na Universidade de São Paulo, no ano de 1990, com o tema “Pesquisar para Assistir”, muitas propostas surgiram, e o próprio tema do evento foi questionado, por isso foi sugerido um termo mais adequado, o termo: “Cuidando-Pesquisando-Ensinando”, por tratar- se de um fazer único e simultâneo (NEVES; DIAS; SILVA, 1993).

A partir de então, abordagens surgem dessa discussão como a “Pesquisa Convergente Assistencial”, a “Pesquisa-Cuidado” e a “Sociopoética”. Todos esses tipos de estudo procuram manter a coerência com a metodologia científica – sem imprimir a ela um caráter dominante – e, mais destacadamente, envolver ativamente os sujeitos participantes no processo de pesquisa (NEVES; ZAGONEL, 2006).

Tendo como base a “Pesquisa-Ação”, a “Pesquisa-Cuidado” objetiva interferir na realidade e, assim como a primeira, busca fundamentar-se no empírico; é concebida e realizada com íntima associação de um fazer ou de um resolver/solucionar, em que os sujeitos e pesquisadores estão envolvidos. Diferenciando a “Pesquisa-Cuidado” das demais propostas, e mesmo da sua base/origem, a “Pesquisa-Ação”, ela comporta apenas a atividade de cuidar restritamente como forma de pesquisar. Isso, todavia, não significa dizer que é limitada em possibilidades de sua realização. Este tipo de pesquisa se configura como forma de pesquisa voltada totalmente para a relação pesquisador-cuidador e pesquisado-cuidado (LACERDA et al, 2008).

Segundo Neves e Zagonel (2006), quando se estabelece uma relação de cuidado entre o ser-pesquisador e o ser-pesquisado/cuidado, pesquisa e cuidado fazem parte de um mesmo continuum, pois o enfermeiro-pesquisador pode: ouvir e registrar, cuidar e não registrar, cuidar e registrar, educar, gerenciar. Em outras palavras, pesquisa enquanto cuida-ensina-gerencia.

1. A pesquisa-cuidado facilita a aplicação do processo de enfermagem em um afinado processo intuitivo e científico de cuidar-pesquisar;

2. A pesquisa-cuidado potencializa o espírito investigativo do enfermeiro;

3. A utilização da pesquisa-cuidado aguça a cientificidade da prática de cuidar, pois alia conhecimentos, articula pressuposições e provê novas abordagens a partir dos resultados da pesquisa;

4. O contato direto do enfermeiro com o paciente no cotidiano de cuidado possibilita a apreensão de informações, as quais subsidiam a pesquisa, fortalecem a teoria e novamente retornam para a prática em um movimento circular contínuo;

5. A pesquisa-cuidado exige o raciocínio clínico do enfermeiro, ou seja, interpretações precisas das respostas humanas;

6. A pesquisa-cuidado fortalece as relações interpessoais, em uma relação compartilhada de busca de significado durante o processo investigativo e cuidador.

Para a realização desse tipo de estudo, o enfermeiro-pesquisador deve ter: habilidade clínica para compreender e responder aos apelos velados e desvelados do ser-pesquisado; saber o que fazer e como fazer na situação em que se apresenta; ver as situações numa perspectiva mais ampla e estar pronto para ver e enfrentar o inesperado (CATAFESTA et al, 2007).

Para Neves e Zagonel (2006), as etapas percorridas para a efetivação da “Pesquisa-Cuidado” são estabelecidas conforme se processa o encontro e devem compreender:

1ª Etapa – Aproximação com o objeto de estudo. É uma etapa importante para subsidiar a escolha do que se pretende pesquisar. Há também o delineamento com detalhes do método de “Pesquisa-Cuidado”. Nesse momento, a revisão de literatura deve servir de apoio para o processo de pesquisa. Nessa etapa, o pesquisador-cuidador deve resgatar o referencial teórico e sua articulação com o marco conceitual.

2ª Etapa – Encontro com o ser pesquisado-cuidado. É a etapa em que é definido e descrito o local onde se realizará o estudo, além de limitar quem são os sujeitos que comporão a amostra, e qual a opção da técnica de coleta de informações – esta, por sua vez, pode ser efetivada de diferentes formas.

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3ª Etapa – Estabelecimento das conexões de pesquisa, teoria e prática. É a etapa em que ocorre a articulação entre prática do cuidado, sua logística e a escolha de referenciais de análise. Esse momento é onde acontece o cuidado em si, sua operacionalização e o cruzamento entre os dados coletados e seu referencial.

4ª Etapa – Afastamento do ser pesquisador-cuidador e do ser pesquisado- cuidado. Essa etapa configura-se no fim da relação estabelecida no processo pesquisa-cuidado e deve ser preparada durante toda a trajetória da pesquisa. É possível que esse momento seja adiado pelas circunstâncias ou mesmo não aconteça, e os encontros continuem se dando mesmo que a pesquisa tenha acabado. Isso deve ocorrer em contextos hospitalares ou no cuidado de pessoas com doenças crônicas até que a alta hospitalar ou o óbito ponha fim à relação.

5ª Etapa – Análise do apreendido. É a etapa final onde todas as informações são analisadas com o olhar no referencial teórico adotado e na técnica de análise escolhida.

A “Pesquisa-Cuidado” faz o enfermeiro-pesquisador ter a preocupação de fazer a inter-relação entre conceitos, metodologia e cuidado. Nesse tipo de pesquisa, vinculam-se, a todo momento, pensamento e ação, pois ao mesmo tempo cuida-se de uma ideia e de uma pessoa.

Com esse estudo, objetivamos produzir um modelo de cuidado espiritual, lançando mão da “Pesquisa-Cuidado”, a qual consideramos servir de suporte para reafirmar o enfoque central do cuidado em função do ser pesquisado.

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