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CAPÍTULO V RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

5.1.8 Tipo de trabalho escolar produzido com as práticas de letramento digital

No corpus da pesquisa analisou-se como as práticas de letramento digital dos alunos estavam sendo desenvolvidas no laboratório de informática do colégio, quando faziam usos da

Os alunos elaboravam os seus trabalhos escolares e, para isto, apenas copiavam, seja com o apoio de uma caneta ou de um mouse, as informações dos sites e as “colavam” para outros recursos tecnológicos, como por exemplo: “cadernos, Word, PowerPoint” (REGISTROS DAS OBSERVAÇÕES SOBRE AS PRÁTICAS DE LETRAMENTO DIGITAL NO LI).

Para Freire (1981), fazer com que os alunos apenas copiem conteúdos e informações para algum suporte tecnológico durante uma atividade pedagógica em sala de aula é um dos pressupostos pedagógicos da tendência pedagógica tradicional. Essa tendência pedagógica, como assinala Saviani (2008a), é uma das tendências pedagógicas hegemônicas que surgem e se desenvolvem levando em consideração os interesses da burguesia.

Antes da introdução dos computadores e da internet nas salas de aula, era comum, e ainda o é, em boa parte das escolas brasileiras, os professores “passarem” os conteúdos que estavam expostos em cartilhas e quadro de giz para os alunos e esses deveriam copiá-los nos seus cadernos. Para Saviani (2007b), esse tipo de atividade pedagógica se dava dentro de uma concepção de educação voltada para a reprodução social, uma vez que não era interessante para a escola, dentro de uma visão tradicional de educação, desenvolver trabalho pedagógico que possibilitasse fazer com que os alunos “pensassem” de forma ampla e crítica a realidade que o cercava.

Na medida em que o professor era considerado como o “detentor” do conhecimento em sala de aula, e era ele quem definia “no quê”, “o quê” e “como” o aluno deveria aprender, o acesso à informação durante as aulas era quase que unicamente responsabilidade do professor. Desta forma, havia possibilidade da escola controlar, via centralização do trabalho pedagógico da professora, o acesso às informações dos alunos, pelo menos durante a realização das aulas nas escolas.

O surgimento e desenvolvimento de computadores e da internet, e sua introdução nos ambientes pedagógicos escolares, diminuíram boa parte dos desafios relacionados à falta de acesso a informações que podem levar às pessoas a construção de conhecimentos em diversas áreas. Não somente a falta de acesso a informações como, também, em relação à elaboração e formatação de trabalhos acadêmicos.

Contudo, precisa-se reconhecer, também, que o acesso mais “facilitado” às informações e as possibilidades de elaboração e formatação de trabalhos escolares com o uso de computadores e rede mundial de computadores em tempo menor, se comparado a outras tecnologias, surgidas antes da “era digital”, colocam desafios à educação de um modo geral e, em especial à educação escolar.

Neste caso observado, a internet é usada apenas como o “livro” tradicional em que o aluno retira as informações dele e as copiam, ora para o caderno, ora para outro suporte tecnológico. Por outro lado, parece haver algo de diferente em relação à pedagogia tradicional. Agora, a internet é o “livro”, é a “cartilha” só que em vez de impresso, como tradicionalmente é conhecido, passou para o digital. O que mudou, então? Ou melhor, será que mudou algo?

No âmbito da educação escolar, sobretudo no que tange à organização do trabalho pedagógico de sala aula, o modo e as finalidades para quais alguns alunos fazem usos do computador e da internet têm sido motivo de muita preocupação por parte de educadores, gerando debates e discussões nos meios acadêmicos.

5.1.9 Tipo de relação estabelecida com as informações da internet

Na medida em que professores e alunos fazem usos do computador e da internet, isto os obriga, conscientemente ou não, a estabelecer algum tipo de relação com as informações que buscam na “tela” do computador.

No caso do corpus, desta investigação, tanto professores como alunos parecem ter demonstrado estabelecer uma relação de “confiança” quase que absoluta com alguns hipertextos digitais.

Essa questão ficou evidenciada no corpus da pesquisa, na medida em que a professora relatou ter “confiança no site Wikipédia, argumentando que as informações disponíveis nesse site estavam fundamentadas na ciência” (REGISTROS DAS OBSERVAÇÕES DAS PRÁTICAS DE LD NO LI).

A relação de confiança quase absoluta nas informações disponíveis em alguns sites também pode ser analisada durante as observações das práticas de letramento digital dos alunos, quando realizam buscas na internet. Para os alunos cujas práticas de letramento digital foram observadas, a confiança absoluta nas informações na tela do computador se justificaria, segundo relatos deles pelo simples fato delas estarem “lá” e ainda pelo fato de” tudo o que se pensa está nos sites, bastando pegar as informações que estão lá” (REGISTROS DAS OBSERVAÇÕES DAS PRÁTICAS DE LD NO LI).

Almeida (2003, p. 91) entende que: “[...] é extremamente difícil diferenciar a informação válida da falsa ao se navegar na internet” e essa questão tem trazido sérios problemas para o sistema escolar. O autor parte dessa análise na medida em que considerada que, no mundo “digital” também existe lixo virtual.

Como encaminhamento para esse desafio, Almeida (2003, p.91) entende que, “O discernimento e a vivência do leitor são os únicos recursos para verificar a validade das informações” retiradas da web.

No corpus, aqui analisado, e diante desta questão, em se tratando de alunos que frequentam a educação básica que, supõe-se, encontrar-se em processo de formação, inclusive da personalidade, entende-se ser o papel do colégio, enquanto instituição social pública compromissada com o desenvolvimento dos alunos em suas várias dimensões, assumir esse compromisso. Pois, é ela, a

educação escolar, a principal, mas não a única, instituição que pode ajudar os alunos a discernirem as informações consideradas “confiáveis, ou não, inclusive das que estão disponíveis na internet”.

Nesse sentido, a questão da “confiança” que os alunos e professores demonstraram possuir nas informações da internet é considerada problemática e desafiadora. “Esquecem-se”, por exemplo, que no “mundo digital” também tem lixo virtual. Pelo fato de haver uma confiança “cega” na internet, as práticas de letramento digital podem estar se dando dentro de uma visão “ingênua” e acrítica dos conteúdos da net.

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