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Tipologia/os diversos tipos de variações

CAPÍTULO I – A competência sociolinguística

1. Da competência comunicativa à competência sociolinguística

3.2. Tipologia/os diversos tipos de variações

Na verdade, como não é estática, a língua evolui com o tempo e apresenta variações em conformidade com o indivíduo que a usa e com a sua intenção discursiva. As diferenças de uso da língua provêm de variações diastráticas, diatópicas, diacrónicas e diafásicas estando as variações diastráticas ligadas a grupos sociais, as diatópicas a lugares, as diacrónicas à evolução da língua e as diafásicas a linguagens específicas. “Normalmente, en una tradición lingüística pueden comprobarse cuatro tipos de variaciones internas: a) diacrónicas o temporales; b) diatópicas o geográficas; c) diastráticas o sociales, y d) diafásicas o contextuales. (Gimeno Menéndez, 1990 :19). Isto significa que, dentro da mesma língua o discurso pode variar levando em consideração os grupos sociais, o local onde se desenrola o

33 processo comunicativo, a idade e a forma de falar dos intervenientes. Há ainda quem fale de variações geográficas, socioculturais e de modalidade expressiva, o que não contraria as designações referidas anteriormente; mais bem vai a seu encontro.

As variações geográficas são conhecidas como dialetos ou falares que podem ser regionais ou locais. Estas variações afastam-se da língua padrão (que é reconhecida, de uma forma geral, como sendo a correta e social/culturalmente aceite). Embora possam ser difíceis de reconhecer, estas variações não deixam de ser línguas. “Las nociones de «lengua» y «dialecto» son resultantes del proceso social que ha dado como consecuencia la aparición de lenguas normalizadas y la dialectalización de las restantes variedades lingüísticas.” (Gimeno Menéndez, 1990: 26) O mesmo autor afirma ainda que “…dialecto es un modo interindividual de hablar. La palabra griega dialectos era un substantivo abstracto que significaba inicialmente «conversación, modo de hablar», y después «variedad en la que se dialoga».” (Gimeno Menéndez, 1990: 27-28) e ainda no mesmo seguimento “…un dialecto es una lengua subordinada a una lengua histórica como variedad geográfica de ésta.” (Gimeno Menéndez, 1990: 28) Mesmo dentro de um dialeto, há inúmeras variedades que surgem em função de fatores tais como sexo, idade, posição social, profissão, etc. Como podemos verificar, as variações são constantes das línguas, quer se trate de línguas padrão ou de dialetos, e essas variações podem ser causadas por fatores externos aos indivíduos ou por motivos diretamente relacionados com os próprios: “…Y se mostraba que en interior del mismo dialecto y de la misma habla de la localidade encontraban innumerables variedades individuales, que variaban en función de la edad, sexo, categoria social, profesión, etc.” (in Gimeno Menéndez, 1990 : 109).

As variações socioculturais são conhecidas como níveis de língua e são usadas por cada indivíduo em conformidade com o seu nível social e/ou cultural, as suas intenções bem como a situação discursiva onde se encontra. “La variación diastrática adquiere sistematicidad siempre que se distingan los miembros de la comunidad según sus características sociales adscritas (sexo, grupo generacional, etc.) o adquiridas (instrucción, grupo socioeconómico, etc.).” (in Gimeno Menéndez, 1990: 187). Dentro desta variação, podemos falar de linguagem corrente (que corresponde à norma, mais acessível e facilmente entendida por todos), linguagem familiar,

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popular e, no outro extremo, cuidada e literária. Dentro de uma mesma comunidade linguística as variações manifestam diferença de classes sociais do ponto de vista económico e educativo; as diferenças de status ou de papel entre indivíduos ou grupos refletem-se na língua. Um diálogo entre mãe e filho, por exemplo, não será desenvolvido nos mesmos moldes que um entre um aluno e um professor; igualmente um diálogo entre dois amigos não terá os mesmos contornos que um entre um neto e um avô. A gíria utilizada pelos jovens tornar-se-ia, com toda a certeza, incompreensível para um idoso. Qualquer falante monolingue é, na verdade, um falante plurilingue uma vez que adequará o seu discurso conforme o contexto onde se encontra inserido, assumindo diferentes estilos por forma a ser compreendido e até aceite em situações que requeiram integração. Isto já para não falar do jargão típico de determinadas profissões como é o caso dos médicos, advogados ou mecânicos. Qualquer pessoa que não possua a mesma profissão terá sérias dificuldades em entender uma conversação com termos técnicos específicos:

“Dans la plupart des cas, ces variétés correspondente à diverses spécialisations relevant du domaine de la profession ou de l’intérêt, - par exemple, la langue des affaires, celle des hippies, etc.,- et c’est la raison pour laquelle le vocabulaire, la prononciation et la structure de la phrase comportent des éléments qui ne son généralement pas utilisés et qui, parfois, ne sont même pas compris par toute la communauté linguistique.” (Fishman 1971: 17)

À variação que incide sobre linguagem específica e rigorosa para uma determinada atividade chamamos Jargão e a este conjunto de “linguagens especiais” (a gíria, o calão, os regionalismos e o jargão) associamos as variações de modalidade expressiva. Uma vez que já definimos a gíria e o jargão, falta-nos acrescentar que o calão diz respeito a um tipo de linguagem comum nas classes mais baixas e os regionalismos estão associados a vocábulos específicos de uma dada região.

Segundo Francisco Gimeno Menéndez, grupos sociais, idade, sexo, entre outros já não explicam satisfatoriamente a variação linguística. Gimeno Menéndez fala-nos antes da noção de “mercado lingüístico” (p 57) e “retículas sociales” (p 57) alegando que o primeiro “…trata de captar el conjunto de condiciones sociales de producción y reproducción de emisores y receptores del discurso.” (p 57) Assim, numa dada comunidade económica,

35 os comportamentos linguísticos dos seus membros variarão de acordo com as suas aspirações ou a atividade social económica a que se dedicam. Quanto ao segundo termo, Gimeno Menéndez refere que “Un grupo limitado de personas (familiares, amigos, vecinos y compañeros de trabajo) constituye una retícula social, y tiene la capacidad de imponer el consenso normativo general en sus miembros.” (p 58) e ainda acrescenta que “Una variable de la retícula social puede estar relacionada estrechamente con otras variables sociales (sexo, edad, área geográfica y posición social)” (p 58), referindo, então, as variantes de sexo, idade e área geográfica como partes integrantes das “retículas sociales” (p 57).

De fato, e como vimos até agora, ao comunicar há vários fatores a levar em conta; seja qual for o nome atribuído (variação diatópica, geográfica, “mercados lingüísticos” (p 57), etc.) a verdade é que, fatores como os participantes no processo de comunicação, as regras de discurso tendo em conta o destinatário a quem a mensagem é dirigida, o tópico de conversa, o ambiente circundante, o tom, a intenção, etc. influem no processo comunicativo contribuindo para o seu carácter heterogéneo. Todos estes fatores vão modelar a mensagem.

“La sociolinguistique est l’etude des caractéristiques des variétés linguistiques, des caractéristiques de leurs fonctions et des caractéristiques de leurs locuteurs, en considérant que ces trois facteurs agissent sans cesse l’un sur l’autre, changent et se modifient mutuellement au sein d’une communauté linguistique.” (in Fishman, 1971: 20)

A variedade padrão representa todo um país; as pessoas que vivem nas várias regiões do país podem falar dialetos mas identificar-se-ão com a língua padrão sempre que a ouvirem. Do ponto de vista linguístico todas a variedades de uma língua têm o mesmo valor; não existem variedades superiores nem inferiores. Contudo, do ponto de vista social e político a situação é diferente: a variedade padrão é considerada a corrente, a ideal, a falada por pessoas cultas e de nível social médio-alto. Assim, torna-se evidente que a língua padrão pode ser discriminatória pois é esta a considerada certa e de prestígio e é determinada por uma classe dominante que detém o poder político, económico, social e cultural. Um dialeto torna-se língua padrão por meio da padronização e este recorre a vários agentes como a publicação de dicionários ou gramáticas baseadas na variedade, o

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estabelecimento da variedade como língua oficial e o uso da variedade em revistas e jornais e nos meios de comunicação. Isto não significa que as variedades que fogem à norma padrão devam ser discriminadas ou desmerecidas. Todas as variedades devem ser respeitadas e valorizadas pois afinal existem diversas maneiras de dizer a mesma coisa em situações diferentes e em lugares diferentes. É nesta variedade que subjaz a riqueza de uma língua!

CAPÍTULO II – A Competência