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4.1 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

4.1.2 Tipologia do sistema de compras

No que diz respeito à comunicação entre o setor requisitante e o setor de compras, verificou-se uma baixa interação, haja vista que dos sete entrevistados quatro afirmaram não solicitar nenhum tipo de amostra de material nem auxiliar os pregoeiros no momento da aceitação dos itens.

“(...) não, isso aí eu não faço. Realmente essa comunicação entre licitações e o gestor, ela é um pouco deficiente (...)”. (Setor de Transportes)

“(...) amostras eu nunca pedi. Auxílio ao pregoeiro só quando eles me chamam (...)”. (Seção de Odontologia)

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“(...) não, não tem não (...)”. (Seção de Material do BINFA)

“(...) não. Essa é uma interação que vai ter que ter (...), porque se não pode sair uma compra errada novamente e amostragem por aqui, por exemplo, que eu me lembro, no período que eu estou participando nunca ouvi falar em amostragem, de a gente pedir para o fornecedor (...)”. (Seção de Infraestrutura)

Todavia, é no momento da aceitação em que a administração verifica se o material ofertado pelo licitante atende as necessidades da administração quanto às especificações técnicas, desempenho e qualidade. Dessa forma, a solicitação de amostras ou o auxílio ao pregoeiro na aceitação dos itens, evita surpresas apontadas pelos setores quando recebem materiais diferentes daqueles que tinham planejado.

Além disso, normalmente, o pregoeiro não é um técnico no material licitado, ou seja, não possui a capacidade de discernimento para saber se o material, de fato, atende ou não às necessidades do setor. Sendo assim, o pregoeiro acaba se baseando apenas na descrição do material ofertado pelo licitante sem levar em consideração a especificação própria da marca e, compara com a descrição do edital. Ou seja, sem o auxílio do setor requisitante na aceitação do material, o pregoeiro baseia-se apenas na descrição elaborada pelo fornecedor, se ela encontra-se exatamente igual ao previsto no edital de licitação o item é aceito e, dessa forma, somente após a entrega do material é que o setor requisitante verifica que o item não atende à sua expectativa ou necessidade.

Verificou-se ainda que, setores que solicitam amostras ou auxiliam os pregoeiros na fase de aceitação do pregão, possuem maior satisfação com o material contratado como é o caso da Seção de Subsistência, Farmácia e Material de Intendência.

Com relação ao controle dos prazos de entrega dos materiais empenhados, cabe ressaltar que durante a realização deste trabalho o Comandante da Aeronáutica por meio da Portaria n°1.527/GC6, de 12 de setembro de 2014, criou uma Instrução Normativa de Fiscalização e Recebimento de Bens e de Serviços e de Aplicação de Sanções Administrativas (ICA 12-23).

Por meio dessa Portaria, o Comandante da Aeronáutica determinou a criação de uma seção denominada Assessoria de Contas a Pagar e de Diligenciamento junto aos fornecedores (ACP) para todas as organizações que possuem dotação orçamentária acima de R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais).

A ACP, na estrutura organizacional, está vinculada diretamente ao Ordenador de Despesas da Unidade Gestora e tem por função o acompanhamento do adimplemento dos

89 materiais e serviços contratados, bem como de instruir o Processo Administrativo de Apuração de Irregularidade (PAAI) das empresas inadimplentes.

De acordo com a ICA 12-23, o PAAI é um procedimento administrativo interno formal em que se investiga as causas dos atrasos das entregas dos materiais e serviços contratados a fim de assessorar corretamente a Autoridade Competente para julgar a aplicação ou não das sanções previstas em Lei para os fornecedores inadimplentes.

Na BANT, esse procedimento passou a ser adotado em meados de 2015 em que foi designada uma Comissão de Recebimento de Material para cada setor da organização. Dessa forma, essas comissões tem por responsabilidade manter um controle de todos os materiais empenhados para o seu respectivo setor e realizar a cobrança junto aos fornecedores. Além disso, mensalmente, os presidentes das Comissões realizam a prestação de contas de cada empenho para o Comandante da Unidade, informando a situação e o procedimento adotado quando do atraso da entrega do material.

Sendo assim, a criação da ACP representou um grande avanço dentro das organizações do COMAER, pois atribuiu maior responsabilidade aos setores que executam o crédito orçamentário da organização, ou seja, aqueles que solicitam o recurso orçamentário para o atendimento de uma determinada necessidade terão que comprovar para o Ordenador de Despesas que estão, de fato, comprometidos em utilizar bem o recurso.

Essa atitude faz com o que recurso da organização seja empregado com maior eficácia, pois antes da criação desta Instrução não havia tanto esforço por parte dos gestores em cobrar das empresas as entregas dos materiais, essa atitude só era adotada para os materiais mais urgentes, conforme se verifica nas transcrições abaixo.

“(...) agora tem, quer dizer, antes a gente tinha, mas agora a gente está fiscalizando melhor ainda esse processo, porque a gente tem que informar o Agente de Controle Interno (...)”. (Seção de Transportes)

“(...) sim, eu ligo, a gente liga para saber se chegou o e-mail do empenho, até porque agora todo mês a Comissão de Fiscalização tem que dar uma satisfação ao Coronel (...)”. (Seção de Odontologia)

“(...) atualmente, com certeza sim, porque a gente está envolvido com esse CADTEC que mensalmente tem que acompanhar o empenho (...), mas depois do CADTEC, porque antes dele o envolvimento era zero. A gente não estava preocupado com isso (...)”. (Seção de Infraestrutura)

Dessa forma, verifica-se que, atualmente, todos os setores da BANT possuem um controle dos prazos de entrega dos materiais empenhados, entretanto, constatou-se que tal atitude só passou a ser adotada com maior rigor no ano de 2015, conforme observado nos

90 depoimentos dos Setores de Transportes e Infraestrutura os quais relataram que o envolvimento com a cobrança dos fornecedores antes da Instrução Normativa era “zero”, pois não havia preocupação por parte do setor a esse respeito.

Contudo, apesar da criação da ACP, todos os entrevistados foram unânimes quanto ao inadimplemento dos fornecedores no cumprimento dos prazos de entrega dos materiais. Todos relataram que apenas os fornecedores locais conseguiam cumprir os prazos de entrega estipulados no edital que é de 20 (vinte) dias.

“(...) a maioria não. Em torno de 90% não entrega no prazo. (...) (Seção de Farmácia)

“(...) nem sempre (...)”. (Seção de Subsistência)

“(...) não, a maioria não entrega. Somente os fornecedores locais, os fornecedores de outras praças, eles normalmente não entregam dentro dos vinte dias (...)”. (Seção de Transportes)

“(...) nos vinte dias úteis não, nunca (...)”. (Seção de Odontologia) “(...) não, não todos (...)” (Seção de Material de Intendência)

“(...) só os que são daqui próximo. Os que são do sudeste, sul não (...)”. (Seção de Material do BINFA)

“(...) eu fiquei como substituto do presidente da Comissão de Recebimento e Fiscalização e se eu te disser que por amostragem, as empresas atrasam bem (...)”. (Seção de Infraestrutura)

As empresas das regiões mais distantes como Sudeste e Sul, dificilmente entregam os materiais dentro dos prazos estipulados pela administração. Dessa forma, o procedimento adotado pela grande maioria dos gestores consiste em informar à ACP para a realização de diligências a fim de se aplicar as sanções previstas nas Lei n° 8.666/93 e Lei n° 10.520/02. Foi constatado que, somente a Seção de Material do BINFA, não realiza este procedimento que em vez de informar à ACP realiza a comunicação para a Seção de Licitações em desacordo com o previsto na legislação, demonstrando o desconhecimento do procedimento adotado dentro da OM.

Outrossim, foi informado pelos entrevistados que os resultados, após a implantação da ACP, foram positivos, pois os fornecedores tem entregado os materiais após a notificação realizada pela ACP.

“(...) se ele não tiver nenhuma comprovação de que ele já enviou, a gente faz aquele PAAI para advertir a empresa. Só que normalmente, esse processo também é um pouco demorado, vai via correio, para depois ter o aviso de recebimento do correio que a empresa recebeu a notificação, às vezes, quando a gente recebe a resposta o

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material já chegou ou está chegando. Mas funciona porque a empresa acaba tendo um pouco de cuidado para evitar problemas futuros como multa, proibição de licitar, etc (...)”. (Setor de Transportes)

Todavia, foi relatado que existe um atraso na instauração do processo de sanção das empresas em virtude da burocracia envolvida e que, muitas vezes, quando o processo está próximo de ser finalizado a empresa já entregou o material e a punição não é aplicada.

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