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3 Tipologia da exploração de ovinos no concelho de Bragança Feita a apresentação das condições a que está sujeita a explo-

ração de ovinos no concelho, é possível verificar a existência de alguns factores que, sendo variáveis no espaço e/ou no tempo, podem ser usadas para a diferenciação de situações com condições específicas. Estas condições resultam da acção e interacção desses factores, embora seja diversa e diferente a forma como cada um deles intervem. A distribuição dos ovinos e a importância da produção ovina em cada zona ou aldeia resultará da interacção entre os diferentes factores e da preponderância que cada um tem em situações mais específicas. Por isso, em determinadas circunstâncias, um destes factores pode tornar-se decisivo ou limitante para a produção ovina, assumindo um papel que não terá noutras situações. Da mesma forma, as condições para a exploração de ovinos, numa dada zona ou aldeia e que determinam e condicionam o maneio dos ovinos, estão dependentes da acção e influência dos factores acima referidos. Assim, os criadores de ovinos do concelho de Bragança não se encontram todos nas mesmas condi- ções.

Da variabilidade de alguns factores resultam aldeias com diferentes condições para a exploração de ovinos, pelo que, podemos organizar grupos de aldeias com condições semelhantes, mas diferentes de grupo para grupo. Desta forma obtemos uma tipologia para as aldeias do concelho.

São possíveis diferentes formas de elaboração de uma tipologia, em função dos factores e variáveis consideradas. Para a elaboração de uma proposta de tipologia experimentámos várias hipóteses, utilizando diferentes variáveis. A título de exemplo, podemos referir que é possível distinguir diversos grupos de aldeias em função do número de ovinos de cada aldeia e da forma como esses ovinos se distribuem por diferentes classes de efectivo do rebanho. Assim, temos um tipo que representa as aldeias com número muito elevado de ovinos, com mais de seis rebanhos e todos os rebanhos com efectivo superior a cem animais. Temos outro tipo que agrupa aldeias com número elevado de criadores de ovinos, sendo cada um possuidor de um pequeno número de animais. Temos um outro tipo que engloba aldeias onde predominam os rebanhos com efectivo compreendido entre cinquenta e cem animais. Podemos ainda agrupar as aldeias que possuem apenas um ou dois rebanhos, mas com efectivo superior a cem animais.

Como vimos, é possível definir vários tipos. Da conjugação das diferentes classes para as variáveis efectivo da aldeia; efectivo do rebanho; número de criadores de ovinos em cada aldeia, resultam dezasseis tipos diferentes. É um número muito elevado e a tipologia perde eficácia e utilidade prática. É conveniente que a tipologia não resulte numa grande dispersão de grupos.

A tipologia deve ser útil para prever situações, evidenciar diferenças e permitir uma visão global da zona em estudo. Deve, ainda, isolar situações com problemáticas distintas e que implicam diferentes formas de intervenção ou de estudo. Para isso, a tipologia deve ser feita de acordo com os factores mais importantes ou aos quais se atribui uma maior importância para o funcionamento da exploração e maneio dos ovinos. Escolhemos dois factores, a produção de cereal e a existência de baldios utilizáveis, como variáveis a considerar para a elaboração da nossa proposta de tipologia para o concelho de Bragança. É manifesta a importância destas variáveis na disponibilidade de recursos alimenta- res, no maneio alimentar dos rebanhos e na escolha dos percursos. Estas variáveis também estão relacionados com as formas de posse, ocupação e uso da terra, que condicionam o acesso aos recursos alimentares e a gestão do território disponível para os percursos de pastoreio.

Como já vimos atrás (no ponto 2.5) as terras associadas à cultura de cereal são importantes para a criação de ovinos. Os terrenos em pousio constituem um suporte favorável à prática do pastoreio de percurso. Como não podemos quantificar as áreas afectas à cultura de cereal em cada aldeia, tomámos como referência a produção de cereal para diferenciar as aldeias relativamente a esta variável.

A existência de baldios que possam ser usados para pastoreio de ovinos permite ao pastor mais possibilidades de percursos com o seu

rebanho. Sendo baldios, estes terrenos podem ser utilizados por qual- quer vizinho da aldeia sem grandes impedimentos ou restrições e não está tão dependente das terras pertencentes a particulares.

Para cada uma das variáveis consideradas, criámos dois estratos. Da combinação destes estratos elaborámos a tipologia das aldeias (Quadro 1.13). Relativamente à produção de cereal dividimos as aldeias em dois estratos: aldeias com produção média anual superior a 120 toneladas e aldeias com produção média anual inferior a 120 toneladas. Escolhemos o valor de 120t porque é o valor da média da produção das aldeias do concelho, no período considerado. Relativa- mente à existência de baldios utilizáveis, dispomos da informação recolhida através das entrevistas que nos permite dividir as aldeias em dois estratos: aldeias com baldios utilizáveis e aldeias sem baldios utilizáveis.

Quadro 1.13 - Definição das classes de acordo com as variáveis consideradas

Variáveis Produção de cereal Produção de cereal superior a 120t inferior a 120t

Com baldio utilizável C1 S1

Sem baldio utilizável C2 S2

Quadro 1.14 - Número de aldeias e distribuição dos ovinos pelas diferentes classes Vejamos como se distribuem os ovinos pelas diferentes clas- ses e a sua importância relativa. O Quadro 1.14 mostra a distribuição de ovinos assim como o número de aldeias de cada classe.

Classes nº de aldeias nº de ovinos % de ovinos

C1 18 9 421 32 C2 20 6 938 23 C1+C2 38 16 359 55 S1 26 5 932 20 S2 42 7 288 25 S1+S2 68 13 220 45 TOTAL GERAL 106 29 579 100

As aldeias da classe C1 são localidades com grande produção de cereal, logo possuem áreas significativas de terras dedicadas a esta cultura, e possuem terrenos baldios que são utilizados pelos rebanhos para pastoreio. Podemos considerar que são estas as aldeias que apre- sentam as melhores condições para a criação de rebanhos tanto pela disponibilidade de terrenos para efectuar os percursos de pastoreio como pela facilidade de recorrer a terrenos de uso comunitário e, portanto, acessível a todos os criadores. Podemos verificar que as dezoito aldeias da classe C1, apenas 1/6 das aldeias, possuem perto de 1/3 do total de ovinos do concelho. Na classe C2 temos aldeias com grande produção de cereal, mas onde os baldios não existem, ou não apresentam interesse para os ovinos. Sendo apenas vinte aldeias, repre- sentam 23% dos ovinos do concelho. As duas classes (C1 e C2) que agrupam as aldeias com produção de cereal acima da média detêm 55% dos ovinos, apesar de representarem apenas 36% das aldeias.

Quarenta e quatro aldeias com baldio utilizável (classes C1 e S1) possuem 52% dos ovinos e as sessenta e duas aldeias sem baldio utilizável (classes C2 e S2) possuem 48% dos ovinos.

Na Fig. 1.15 podemos ver a localização geográfica destas classes. Como os valores das variáveis em questão faziam prever, a classe C1, a mais importante em termos de efectivos, distribui-se por manchas dispersas na zona das aldeias com maiores produções de cereal. Isso faz com que as aldeias da classe C2 surjam em zonas contíguas às aldeias da classe C1. As classes S1 e S2 encontram-se, de forma geral, dispersas pela área do concelho.

Esta tipologia mostra, em primeiro lugar, a diversidade de situações existentes no concelho de Bragança quanto às condições para a exploração de ovinos. Em segundo lugar, identifica e localiza as aldeias que se encontram em situação semelhante quanto a essas condições. Em terceiro lugar, permite-nos interpretar as diferentes classes, ou seja, conhecer a importância relativa de cada uma; as suas características, quanto às variáveis que foram consideradas; as suas potencialidades para o desenvolvimento da produção ovina. Qualquer acção ou programa para o desenvolvimento da ovinicultura que respeite o sistema tradicional de exploração deve considerar as diferentes situações, decorrentes das condições das várias classes, e a importância relativa de cada classe.

Não parece razoável a preparação de acções de desenvolvi- mento da ovinicultura dirigidas apenas para uma ou duas das classes definidas, no entanto, é previsível que os resultados dessas acções venham a ser melhores nas localidades da classe C1. Isto porque os pastores destas zonas podem dispor de maior facilidade de acesso a recursos alimentares. Uma política de desenvolvimento da produção ovina deverá obrigatoriamente considerar as formas de ocupação e uso das terras actualmente afectas à cultura de cereal e dos baldios. As terras dedicadas à cultura de cereal são, como vimos, uma fonte importante de recursos alimentares para os rebanhos, a sua utilização é, geralmente, feita de uma forma natural que decorre das relações entre os pastores e os proprietários. Mas, com os problemas que afectam a cerealicultura,

Fig. 1.15 - Classificação das aldeias do concelho de Bragança de acordo com a tipologia definida Fontes de Transbaceiro Izeda Macedo do Mato Paradinha Nova Sendas Serapicos Qintela de Lampaças Calvelhe Coelhoso Parada Salsas Pombares Rebordaínhos Sta. Comba de Rossas Pinela Outeiro Quintanilha Rio Frio Grijó de Parada Faílde Mós Sortes Rebordãos Zóio

Carrazedo Nogueira Samil

S. Pedro de Sarracenos Alfaião Milhão S. Julião de Palácios Babe Gimonde Sta. Maria Sé Castro de Avelãs Gostei Castrelos Gondesende Donai

Meixedo Baçal Deilão

Rio de Onor Aveleda França Rabal Carragosa Espinhosela Parâmio BRAGANÇA Guadramil Portelo Montesinho Zeive Maçãs Vilarinho Cova de Lua Soutelo Terroso Oleiros Portela Sabariz Lagomar Grandais Conlelas Fontes Barrosas Alimonde Formil Castanheira Vila Nova Oleirinhos Sacoias Vale de Lamas Labiados Varge Caravela Palácios Vila Meã Petisqueira Réfega Martim

Refoios Sarzeda Freixedelo

Veigas Paçó Paradinha Carocedo Paredes Valverde Lanção Vidoedo Pereiros Moredo Vila Boa Carçãozinho Freixeda Vale de Nogueira Bragada Fermentãos Vila Franca Veigas Sanceriz Frieira Paradinha Velha C o n c e lh o d e M a c ed od eC avale iros C o n c e lh o de Vin ha is C o n ce lh o d e Vin hais C o n c elh od eV im ios o E S P A NH A ESPANHA Paço Aldeia Sede de Concelho Sede de Freguesia Linha de fronteira Limite de Concelho Limite de Freguesia Aldeias da classe C1 Aldeias da classe C2 Aldeias da classe S1 Aldeias da classe S2 Legenda

pode vir a dar-se uma redução substancial da área destas terras, reduzin- do o seu interesse para o pastoreio. Nos terrenos baldios, a regulamen- tação sobre a sua gestão pode condicionar as possibilidades de manuten- ção de um coberto vegetal capaz de servir para pastoreio, assim como as formas de acesso e utilização destes terrenos. Em muitas aldeias da classe C2 existem baldios mas não estão em condições de serem usados pelos rebanhos. Em muitos casos poderia ser possível a recuperação destes terrenos.

Em nossa opinião, e face às condições específicas de cada classe, as classes C1 e C2 são aquelas onde é possível actuar com acções de fomento e desenvolvimento da exploração de ovinos com maiores possibilidades de sucesso.

Para o nosso trabalho de estudar, ao nível da exploração, o funcionamento do sistema tradicional de exploração de ovinos no concelho de Bragança tivemos em atenção esta tipologia, partindo do pressuposto de que as condições de exploração de ovinos são diferentes entre aldeias de classes diferentes. Para a realização deste trabalho visitámos aldeias das diversas classes, de acordo com a importância relativa de cada uma. Assim, fizemos dez entrevistas em aldeias da classe C1, cinco entrevistas em aldeias C2 e nas classes S1 e S2, duas e três, respectivamente. É do estudo do sistema tradicional de explora- ção de ovinos, ao nível da exploração agrícola, que vamos tratar no capítulo seguinte.

Capítulo II