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TIPOLOGIAS DE PARTICIPAÇÃO

3. A PARTICIPAÇÃO

3.1. A PARTICIPAÇÃO EM CONTEXTO ESCOLAR

3.1.2 TIPOLOGIAS DE PARTICIPAÇÃO

Os estudos, cujos objectivos se prendem com a identificação e compreensão dos tipos de participação parental que ocorrem nas e com as escolas, têm vindo a desenvolver-se nos últimos tempos de forma mais acentuada. Deste modo, têm surgido várias tipologias de entre as quais damos maior importância às de Joyce Epstein, Don Davies e Ramiro Marques, que expomos de seguida.

A tipologia apresentada por Epstein, e que Marques (1997) evidencia, serviu de base à nossa investigação empírica. Assim, ele diferencia 5 tipos de participação, aos quais adicionámos um 6º, entretanto definido por Epstein e mencionado por vários investigadores, nomeadamente, Nunes (2004), Bernardes (2004) e Carvalho (2008):

Tipo I – Obrigações básicas da família. Corresponde a todas as actividades da responsabilidade da família de forma a assegurar as condições básicas de existência, nomeadamente saúde, alimentação, vestuário, habitação, afecto, segurança e conforto, consideradas necessárias para garantir o desenvolvimento e a aprendizagem da criança.

Tipo II – Obrigações básicas da escola. À escola é exigido, além das funções definidas na lei, que estabeleça com a família formas de comunicação, dando-lhes assim a conhecer as diferentes actividades que se desenvolvem e o progresso das crianças.

Tipo III – Envolvimento da família na escola. Refere-se às actividades de voluntariado que os pais realizam em colaboração com os professores, como por exemplo preparação de festas, visitas de estudo, entre outras.

Tipo IV – Envolvimento da família em actividades de aprendizagem em casa. Apoio e ajuda prestados em casa pelos pais na resolução das tarefas

_____________________________________________________________________ Maria Isabel Gomes Pereira 45 escolares e a educação em geral. Desta podem constar a “criação de rotinas e hábitos de estudo, supervisão dos trabalhos de casa e a leitura de livros às crianças mais pequenas” (Marques, 1997, p.36).

Tipo V – Envolvimento da família no governo das escolas. Pressupõe a participação dos pais nos processos de decisões, através das Associações de Pais ou em órgãos escolares, assumindo-se como influenciadores e intervenientes na política da escola.

Tipo VI – Colaboração e intercâmbio com a comunidade, em que é valorizada a colaboração da escola com instituições culturais e sociais, com a qual deve compartilhar a responsabilidade de formação e educação das crianças e o acesso aos múltiplos recursos existentes (Bernardes, 2004).

Don Davies (1997) enuncia uma tipologia ou categorização da participação que se assemelha à de Joyce Epstein, utilizando o conceito de envolvimento, referindo duas categorias que englobam todas as anteriormente definidas por Epstein:

• um primeiro nível de envolvimento diz respeito ao espaço que é atribuído à criança, ao apoio desenvolvido em casa na resolução das tarefas escolares e nas aprendizagens, e ainda à participação dos pais em reuniões ou outros eventos, na escola.

• o segundo nível corresponde à capacidade de tomada de decisão que os pais têm dentro da escola e à sua influência na explicitação de uma política educativa nacional, e que pode ser denominada de participação.

Davies (1989), nas muitas reflexões que tem vindo a realizar sobre esta temática, refere a existência de benefícios no envolvimento dos pais nomeadamente para as crianças, para os próprios pais, para as escolas e para a construção de uma sociedade democrática.

Este envolvimento ajuda ao sucesso das crianças quer a nível académico quer social, enquanto eles próprios - pais - se sentem mais úteis ao assumirem um papel mais activo na educação dos filhos. Por seu lado, a escola, ao constatar o empenho e a participação dos pais, partilha

_____________________________________________________________________ Maria Isabel Gomes Pereira 46 responsabilidades que lhe permitem uma maior aproximação. Quanto à construção de uma sociedade mais democrática, esta atitude dos pais pode ser minimizadora das desigualdades sociais que ocorrem frequentemente nas escolas.

Já Marques (in Davies et al, 1997) fala em envolvimento dos pais, considerando existir uma necessidade de se continuar a trabalhar para que a introdução do modelo participativo e de colaboração se torne efectivo. Ele enuncia três formas de envolvimento dos pais:

• comunicação escola-família que se enquadra nos dois tipos de participação enunciados por Epstein, em que existe um esforço por parte dos professores em esclarecer junto dos pais de que forma podem apoiar os filhos, reforçando o que aprendem na escola. Deste modo, estas interacções, porque promovem hábitos de trabalho e a criação de rotinas, potenciam o sucesso escolar;

• abordagem interactiva que considera a família e a comunidade como recursos de aprendizagem para a escola, reconhecendo a necessidade de persistir uma continuidade entre o mundo escolar e o exterior;

• abordagem de parceria entre a escola e a família que exige uma atitude de confiança nos pais, por parte dos professores, enquanto educadores capazes de atitudes facilitadoras do sucesso educativo. Para que esta abordagem participativa se concretize, a direcção da escola deve ser assegurada por um director com grande capacidade de liderança e de trabalho em equipa, sendo a sua visão de educação partilhada pelos restantes docentes. Para tal, contribui também o controlo dos recursos humanos, materiais e financeiros que permitam o bom funcionamento do estabelecimento de ensino, isto é, a autonomia.

Contudo, segundo Marques (1997, p.16), “há muitas famílias que não têm condições para poderem participar: falta-lhes tempo, saber, interesse e a escola nem sempre está organizada para suscitar essa participação”. Assim, Davies et al (1997) consideram que as actividades de envolvimento dos pais podem ajustar-se a um dos seguintes modelos:

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• Compensatório, na medida em que a escola deve preencher possíveis lacunas que advêm do contexto cultural das famílias;

• De comunicação, em que é reconhecido aos pais o seu papel de colaboração que será tanto maior quanto melhor for o nível de comunicação com a escola;

• Participatório, vai além da própria estratégia de participação, reconhecendo-se que tanto os pais como os professores são peças fundamentais, quando colaboram, beneficiando as escolas e as crianças.

Vários autores definem o termo participação, outros relacionam-no com a noção de envolvimento e parcerias, como é o caso de Don Davies, Ramiro Marques e Pedro Silva.

Achamos pertinente a distinção que Silva (2002) faz de envolvimento, actividade e participação parental. Segundo este autor envolvimento refere-se a uma atitude espontânea e pontual; actividade diz respeito à presença em momentos formais da vida da escola como por exemplo reuniões de avaliação; e, finalmente, participação quando existe tomada de decisões em órgãos de gestão da escola. Assumimos, contudo, que o conceito de participação integra obrigatoriamente estas três vertentes, porque todas são importantes para um processo educativo rico e eficaz.

Ao analisar estudos sobre a participação dos pais, Silva (2003, p.28) menciona que “uma maior co-responsabilização no processo educativo dos seus educandos (…) [tem] resultados positivos para estes (…), para além de uma valorização social das famílias, sobretudo as de meios populares, a partir da imagem que lhes é devolvida pela instituição escolar”.

Estudos recentes têm vindo a constatar as dificuldades e os constrangimentos que se apresentam a esta relação e à efectiva participação dos pais e encarregados de educação na escola; apesar das muitas directrizes emanadas pelo Ministério da Educação, no sentido de se desenvolverem cada vez mais parcerias e de se formar uma verdadeira comunidade educativa, este parece um objectivo de difícil concretização, pelo menos em tempo próximo.

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