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Tipos de aprendizagem: tradicional, experiencial, vicária e situada

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2.3 Aprendizagem Nas Organizações

2.3.3 Tipos de aprendizagem: tradicional, experiencial, vicária e situada

A aprendizagem tradicional parte do pressuposto que a maior parte do aprendizado ocorre nos sistemas educacionais, como em escolas e universidades. É nessas instituições formais que os profissionais da educação ajudam o indivíduo a aprender, por meio de uma otimização das condições de aprendizagem (FOX, 1997).

Ademais, a aprendizagem é entendida como processo de adquirir conhecimento, prioritariamente, por meio da educação formal. Cabe então ao indivíduo memorizar, entender e ser capaz de reproduzir o conteúdo adquirido, atentando a como ele foi ensinado. Essa abordagem pressupõe que a mente do indivíduo é um depósito, no qual ele armazena

24 conhecimento e o usa quando necessário (FOX, 1997). Essa abordagem tradicional entende o aprendizado como um problema individual, ou seja, cada indivíduo é responsável pelo seu próprio aprendizado, já que ele é um processo realizado dentro da mente do indivíduo – memorização, entendimento e capacidade de reprodução (FOX, 1997).

Uma crítica feita ao modelo de aprendizagem tradicional está na forma no qual o conteúdo é exposto. A aprendizagem tradicional é descontextualizada, ou seja, apresenta-se na educação formal um conteúdo que não se aplica na prática do indivíduo. Assim sendo, se gera uma cisão entre o saber e o fazer (FOX, 1997).

A aprendizagem experiencial é definida como “um processo pelo qual a experiência do indivíduo é refletida e disto, emergem insights ou novas aprendizagens” (ANTONELLO, 2006, p. 204). O ‘refletir’ no contexto da aprendizagem experiencial é definido como: “[r]eflection is the practice of periodically stepping back to ponder the meaning to self and to others in one’s immediate environment about what has recently transpired”1

(RAELIN, 2011, p. 11).

O processo de aprendizagem experiencial é um ciclo ininterrupto de quatro estágios que passa pelas etapas da experiência concreta, da observação e reflexão, da formação de conceitos e generalizações, do teste das implicações desses conceitos em novas situações, conforme figura 2 (KOLB, 1984).

Figura 2- O modelo lewiniano de aprendizagem experiencial

Fonte: Tradução livre de Kolb (1984, p. 21).

A aprendizagem experiencial não considera apenas a ação. Para esse tipo de aprendizagem é necessário que haja a reflexão sobre a ação e que essa atitude gere uma formação de novas implicações e hipóteses. É necessário que essas novas ideias saiam da mente do indivíduo e sejam utilizadas para gerar uma nova ação, criando assim novas

1

Reflexão é a prática de periodicamente dar um passo para trás para ponderar sobre o significado para si e o para outros, em um determinado ambiente, sobre algo que recentemente aconteceu. (Tradução nossa)

25 experiências. Desse modo, o ciclo é novamente iniciado com a ação melhorada por meio da reflexão sobre a ação (KOLB, 1986).

Enquanto que Kolb (1986) trata do processo de reflexão sobre a ação, isto é, a reflexão ocorre após a ação, há ainda a reflexão na ação, ou seja, a reflexão ocorre durante a ação. Ambos os processos reflexivos estão relacionados com a aprendizagem experiencial (CORTESE, 2005).

São encontradas ainda na literatura outras definições de aprendizagem que são concebidas como experienciais e vinculadas à ação: aprendizagem fortuita, aprendizagem da vida, aprendizagem com os outros, aprendizagem auto-dirigida/autodesenvolvimento, aprendizagem formal e aprendizagem baseada no trabalho (ANTONELLO, 2006).

Em contrapartida a aprendizagem experiencial, na qual é necessário vivenciar a situação, tem-se na literatura a aprendizagem vicária. Essa aprendizagem permite o aprendizado por meio da observação do comportamento e das consequências de outro indivíduo (GODOI; FREITAS, 2008), ou seja, sem ter que vivenciar a situação. Esses autores afirmam ainda que “A capacidade para aprender por observação permite as pessoas gerar e regular seus padrões de comportamento sem ter que passar pelo processo de tentativa e erro” (GODOI; FREITAS, 2008, p. 46).

Na aprendizagem por observação, elaborada por Bandura (1971) como aprendizagem vicária, o indivíduo identifica um modelo ou uma referência a ser seguida, que fornece informações de como determinada atividade deve ser realizada.

Além da aprendizagem tradicional, experiencial e vicária, tem-se ainda na literatura a aprendizagem situada, na qual considera que o indivíduo não aprende somente por meio da educação formal, conforme defendida pela aprendizagem tradicional. Para a aprendizagem situada, os indivíduos aprendem na prática das suas atividades no contexto do trabalho (FOX, 1997).

A aprendizagem situada não considera que o aprendizado seja de responsabilidade apenas do indivíduo e do seu processo mental de adquirir conhecimento. Mediante a aprendizagem situada, o conhecimento é criado e aprendido simultaneamente por meio de interação social e material com os aspectos do mundo real. Sendo que esse tipo de aprendizagem produz conhecimento que é indissociável da situação e contexto vivenciados (FOX, 1997).

Não se pode inferir que as características da aprendizagem situada fomentam a ideia que os espaços da educação formal devam ser desconsiderados. Esse tipo de aprendizagem reconhece a importância da educação formal, mas acredita que ela deva ser reformulada para uma metodologia que se utilize da relação entre a teoria e a prática (FOX, 1997).

O conceito de aprendizagem situada se relaciona com o de comunidade de prática, já que ambos trabalham sobre a perspectiva de aprendizagem oriunda de uma interação social. Para que seja possível compreender essa relação é necessário definir o termo comunidade de prática: “Communities of practice are groups of people who share a concern or a passion for

26 something they do and learn how to do it better as they interact regularly”2 (WENGER, 2006, p. 01).

Nem todas as comunidades podem ser chamadas de comunidades de prática, ou seja, nem todo agrupamento de pessoas forma uma comunidade de prática. Para que uma comunidade de prática seja definida como tal, devem-se observar três características: o domínio, a comunidade e a prática (WENGER, 2006).

Esse agrupamento de pessoas deve compartilhar um interesse. O domínio sobre esse foco de interesse desenvolve uma competência coletiva, que distingue os membros da comunidade de prática das demais pessoas. Esse grupo passa então a valorizar essa competência coletiva, mesmo que as pessoas de fora da comunidade não reconheçam seu valor (WENGER, 2006).

A característica da comunidade está expressa no engajamento do grupo para participar de discussões e atividades, ajudar os demais membros e dividir informações, de modo que os membros interajam e aprendam juntos (WENGER, 2006).

Somado a essas duas características ainda é necessário que as comunidades atendam o quesito da prática. A comunidade de prática não é uma comunidade de interesse, como, por exemplo, em filmes ou séries. É necessário ação para que exista uma comunidade de prática, de modo que elas desenvolvam um conjunto de recursos, como experiências, ferramentas e histórias (WENGER, 2006).

Apesar das comunidades de prática terem sido idealizadas inicialmente para 1.500 membros, esse conceito já pode ser utilizado também para grupos menores (ROBERTS, 2006a). Além disso, as comunidades não são estáticas ou estáveis, ou seja, alguns membros podem se desligar, enquanto outros podem se juntar ao grupo, o que indica que as barreiras de uma comunidade de prática são flexíveis (ECLKC, 2013; ROBERTS, 2006b).

As comunidades de prática fornecem uma série de benefício, entre eles a geração de conhecimento sobre os problemas de trabalho com o compartilhamento e o gerenciamento de informações (ECLKC, 2013).

Existem tipos diferentes de comunidades de prática, que variam conforme a natureza da prática. No caso das comunidades de prática dispersas: “Members to not practice together although they may be co-located. Their interactions will include knowledge exchanges relevant to practice, but they are not mutually engaged in practice3” (ROBERTS, 2006a, p. 12).

Nas organizações não se pode criar deliberadamente comunidades de prática, pois sua emergência ocorre informalmente. Porém, é possível facilitar a sua emergência e ajudar no desenvolvimento dessas comunidades (ROBERTS, 2006a).

2Comunidades de prática são grupos de pessoas que compartilham uma preocupação ou uma paixão por alguma

coisa que elas fazem e aprendem como fazer melhor interagindo regularmente. (Tradução nossa)

3 Membros não atuam juntos, apesar de estarem no mesmo local. Suas interações incluem troca de conhecimento

27 Essa pesquisa parte do pressuposto de que competências e processos estão intimamente ligados, de modo que para se obter as competências é necessário o conhecimento sobre os processos de trabalho desenvolvidos. Enquanto que o desenvolvimento de competências está relacionado com a aprendizagem. Considerando que os tópicos competências e aprendizagem já foram abordados, em seguida apresentam-se os processos organizacionais.

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