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3 REGRAS DE ORIGEM

3.3 Tipos de Regras de Origem

3.3.1 Regras de Origem Preferenciais

O objetivo principal das regras de origem preferenciais é a outorga de um benefício tarifário. Sendo assim, se forem cumpridas as disposições de origem especificadas para uma determinada mercadoria, esta, quando exportada no âmbito de um acordo, será objeto de um tratamento tarifário mais benéfico (dispensa do pagamento total do imposto de importação ou redução deste). No entanto, essas regras podem estar relacionadas a regimes contratuais ou autônomos.

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Até que se concluam as negociações para a harmonização das regras de origem não preferenciais na OMC, cada país membro continua aplicando suas próprias normas.

3.3.1.1 Regras de origem relacionadas a regimes comerciais contratuais

São regras de origem negociadas e acordadas por todas as partes signatárias do acordo, como nos diversos acordos de integração econômica. Podemos dizer que são aquelas regras estabelecidas no âmbito dos tratados de integração econômica como nas zonas de livre comércio (ex. North American Free Trade Agreement - NAFTA, assinado em 1992; e Acordo de Livre Comércio entre México e União Européia assinado em 1995 e entrou em vigor em julho de 2000 ).

É importante destacar que a regra de origem contratual estabelecida no marco de acordos comerciais só faz sentido em acordos de preferências tarifárias18 ou em áreas de livre comércio19. Pela lógica, em estados mais avançados do processo de integração regional como em uniões aduaneiras20, mercados comuns21 e uniões políticas e monetárias22, não há a necessidade de um regime de origem para o comércio entre os países signatários uma vez que, com a existência de uma tarifa externa comum, é permitida a livre circulação de mercadorias, desde que cumprida com a política tarifária do bloco. Nas figuras 1 e 2 , abaixo, podemos exemplificar melhor essas situações.

18 Processo de integração por meio do qual os países concedem entre si preferências tarifárias fixas. Não

há cronograma de desgravação tarifária ao longo do tempo. Inclui uma pequena gama de produtos negociados.

19 Os países que fazem parte de uma ZLC buscam eliminar as barreiras alfandegárias, tarifárias e não-

tarifárias, que incidem sobre a troca de mercadorias dentro do bloco. Para o antigo GATT, um acordo comercial só pode ser considerado uma Zona de Livre Comércio quando abarcar pelo menos 80% dos bens comercializados entre seus países-membros.

20 Uma união aduaneira é o processo pelo qual os países membros de uma Zona de Livre Comércio

adotam uma mesma tarifa às importações provenientes de terceiros países. A essa tarifa dá-se o nome de Tarifa Externa Comum (TEC). Além disso, os países adotam uma legislação aduaneira comum.

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No mercado comum, além de todas as características de uma união aduaneira, têm-se a livre circulação dos demais fatores produtivos. A expressão "fatores produtivos" compreende dois grandes elementos: capital e trabalho.

22 Estágio de integração mais avançado uma vez que possui todas as características de um mercado

De acordo com a figura 1, temos um exemplo do Mercosul,23 como uma área de livre comércio cujos impostos de importação, com terceiros, variam de país para país dentro do bloco. Neste caso, as regras de origem se tornam elemento essencial, uma vez que terá como objetivo evitar um desequilíbrio no comércio intra-regional. Não se permite que um produto, importado de um terceiro país, não pertencente ao bloco, circule livremente. Nessa situação, a mercadoria importada (extra-regional) deverá passar por algum tipo de transformação substancial de forma a ser considerada originária do bloco e aí poder ser exportada com preferência tarifária.

Já na figura 2, exemplificamos o Mercosul como uma União Aduaneira. Sendo assim, por se tratar de uma união aduaneira com uma tarifa externa comum, não há que se falar em regras de origem para o comércio de bens com preferência intra-Mercosul. Sendo assim, uma vez cumprida a política tarifária comum do bloco, com o pagamento do imposto em qualquer um dos Estados Partes (mesma tarifa), independentemente do local de desembaraço do produto (Brasil, Paraguai, Uruguai ou Argentina), a mercadoria poderá circular livremente. Sendo assim, na figura 2 não haveria necessidade de regras de origem.

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Sabe-se que atualmente o Mercosul é uma União Aduaneira imperfeita pois existem produtos que estão em listas de exceções à TEC. Por essa razão ainda é exigida regras de origem no comércio intra- Mercosul.

Austrália

Figura1: Mercosul como área de livre comércio. Figura 2: Mercosul como união aduaneira.

3.3.1.2 Regras de origem relacionadas a regimes comerciais autônomos

São regras de origem relacionadas a programas de estímulo à exportação destinada a facilitar a inserção dos países em desenvolvimento na economia internacional. São regras estabelecidas unilateralmente por parte das economias mais desenvolvidas para os países em desenvolvimento ou menos desenvolvidos.

É um sistema unilateral, ou seja, as preferências comerciais (redução tarifária ou isenção do imposto de importação) são concedidas sem reciprocidade, de maneira a permitir que os produtos originários de países beneficiados tenham uma preferência tarifária nos países que concedem tais benefícios.

Tais programas podem ser concedidos de uma forma geral, podem incentivar a proteção dos direitos dos trabalhadores (os países beneficiários devem aplicar as normas mencionadas na Declaração da Organização Internacional do Trabalho - OIT) ou incentivar a proteção do meio ambiente (aos países que tenham incorporado o conteúdo material das normas e orientações internacionalmente aceitas em matéria de gestão sustentável das florestas tropicais ao seu ordenamento jurídico nacional); ou beneficiar países na luta contra a produção e o tráfico de drogas. Como exemplo, podemos citar o

Sistema Geral de Preferências - SGP24 instituído no âmbito da UNCTAD e que hoje conta com 10 países outorgantes.

3.3.2 Regras de Origem não Preferenciais

O Artigo 1.1 do Acordo de Regras de Origem (ARO) do GATT 1994 define as normas de origem não preferenciais como leis, regulamentos, e determinações administrativas não relacionadas a regimes contratuais ou autônomos que prevejam a concessão de preferências tarifárias.

Ao contrário da finalidade das regras preferenciais negociadas no âmbito de acordos regionais para a obtenção de tratamento tarifário mais benéfico entre as partes, as normas de origem não preferenciais são aquelas utilizadas em instrumentos não preferenciais de política comercial, como na aplicação de: tratamento de nação mais favorecida no âmbito do GATT 1994; direitos antidumping; direitos compensatórios; medidas de salvaguarda; exigências de marcação de origem; e quaisquer restrições quantitativas discriminatórias ou quotas tarifárias. Incluirão também regras de origem usadas nas compras do setor público e estatísticas comerciais.

A harmonização dessas regras encontra-se em negociação na esfera multilateral na OMC. Atualmente, cada país ou bloco pode estabelecer suas próprias regras de origem não preferenciais. O Brasil notificou à OMC, na data da entrada em vigor do Acordo de Regras de Origem desta Organização, por meio do G/RO/N/14, de 02 de dezembro de 1996, que não possui leis, regulamentos, decisões judiciais ou administrativas de aplicação geral, relacionadas às regras de origem não preferenciais. Não obstante, o Brasil tem participado das negociações da OMC, visando harmonizar as regras de origem que não impliquem em concessão de preferências tarifárias.

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Criado no âmbito da Unctad, em 1970, o SGP permite que os países em desenvolvimento e os países menos desenvolvidos exportem seus produtos com preferência para países mais ricos desde que atendidas as regras de origem do Esquema.