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Fig 71 – Alterações climáticas e principais impactes na Europa

2.4. Clima e condições marítimas

2.4.1. Tipos de tempo

A situação latitudinal do Litoral Norte submete-o aos efeitos originados pela interacção de massas de ar, tão contrastadas, como as polares continentais - marítimas e tropicais. A dinâmica destas massas de ar é regulada pelas altas pressões subtropicais (Anticiclone dos Açores) e as altas pressões polares, cuja zona de encontro, a Frente Polar, é a causa de uma grande quantidade de perturbações atmosféricas, designadas por borrascas atlânticas. As altas pressões subtropicais originam uma circulação do Oeste, impulsionando as massas de ar tropicais marítimas, quentes e húmidas, até à nossa latitude; as altas pressões polares projectam para sul massas de ar frio, cujo fluxo e características dependem da trajectória que efectuam, ou seja, através dos continentes (ar polar continental, muito frio e seco) ou dum percurso mais ou menos largo, sobre o mar (ar polar marítimo, frio e húmido).

A zona de encontro destas massas de ar polar e tropical origina a chamada Frente Polar, ocasionando grande quantidade de perturbações atmosféricas, induzindo na zona em que se produzem um clima variável e turbulento. A Frente Polar apresenta grande mobilidade, deslocando-se sazonalmente com os anticiclones subtropicais, isto é, sobe no verão até ao Norte da Escandinávia e desce no inverno até ao estreito de Gibraltar. Localizando-se o Litoral Norte na zona intermédia, fica sujeito a uma grande variedade de situações meteorológicas, tais como: influência do Anticiclone Subtropical dos Açores, no verão, de que resulta um tempo estável soalheiro e seco, com ventos de componente norte; domínio das perturbações ou borrascas oceânicas no Outono, Inverno e Primavera, controladas pela depressão da Islândia, que ocasionam um tempo instável, muito chuvoso mais ou menos frio procedente do Sul – Sudoeste e por último encontrar-se, no inverno, directamente debaixo da influência do Anticiclone Polar, com ventos do Norte – Nordeste, com um tempo estável limpo, mas frio.

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Constata-se que o Litoral Norte encontra-se afectado directamente por dois tipos de circulação atmosférica: uma circulação rápida em direcção zonal, isto é, no sentido dos paralelos que desloca a atmosfera de Oeste a Este, descrevendo ondulações muito amplas e pouco marcadas e uma circulação de maior lentidão que faz com que o fluxo passe a ser uma sucessão de deslocações no sentido dos meridianos, ou seja, de Norte para Sul. O primeiro tipo de circulação predomina no inverno e verão e o segundo, com alternância de cristas (altas pressões) e depressões (baixas pressões), nas estações equinociais (primavera e outono). Nestas circunstâncias a Primavera e o Outono, enquanto fases de transição entre as duas situações claramente definidas de Verão e Inverno, caracterizam-se por um tempo muito variável e inconstante. Neste contexto uma das evidências da influência atlântica, no clima da orla costeira do Litoral Norte é o elevado número de dias com borrascas, salientando-se que durante, cerca de 165 dias, está debaixo da influência ciclónica, não alcançando a ocorrência de anticiclones temperados os 60 dias de registo e frio nos restantes dias do ano.

Em situações anticiclónicas persistentes, com baixíssima circulação geral, podem ocorrer inversões térmicas, por re-radiação ou advecção (névoas marítimas ou borralheiras), depois de um dia soalheiro ou por drenagem do ar frio dos pontos mais elevados das serras adjacentes, de que resultam as características névoas de “estancamento” nos vales dos rios minhotos. Constata-se que se o dia esteve calmo e foi soalheiro a inversão é quase segura no dia seguinte, amanhecendo o Litoral Norte com um mar de nuvens baixas que inundam os vales, sobressaindo apenas as cotas mais elevadas, ocorrendo esta situação, em média, entre 30 a 60 dias por ano. Com maior ou menor rapidez, segundo a época do ano e a intensidade da inversão, esta dilui-se por efeito da radiação, subindo ao longo dos vales. Na dissipação das névoas podem produzir-se precipitações finas sobre as ladeiras, que se ocorrem no período estival proporcionam uma rega superior ao característico orvalho. Salienta-se que no inverno quando estas inversões são suficientemente potentes podem, se a circulação geral persiste em calma, manter-se vários dias consecutivos, aumentando a intensidade e potência, podendo, em situações extremas, originar fortes geadas com temperaturas abaixo de zero todo o dia.

O clima do Litoral Norte também está regulado, em grande medida, pelas águas marinhas costeiras, devido aos ventos de componente Norte (Norte e Nordeste), que prevalecem entre Abril e Agosto, ao deslocar as águas superficiais e quentes da nossa costa, em direcção ao oceano, favorecem o afloramento costeiro de águas profundas e frias do Golfo de Viscaya e do Atântico Norte, as chamadas “Águas Centrais”. A água que aflora caracteriza-se por possuir uma temperatura baixa, uma concentração elevada de nutrientes e uma baixa concentração de oxigénio, implicando uma alta produtividade primária e a diminuição da temperatura do ar no contacto com as massas de ar. Este esfriamento da base do ar aumenta a estabilidade atmosférica, durante os meses quentes, sendo responsável pela aridez estival típica do clima Minhoto. Da combinação e interacção da dinâmica atmosférica geral com os efeitos da situação costeira e o relevo, derivam os estados atmosféricos que definem com a sua presença e evolução ao longo do ano, o clima do Litoral Norte.

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As situações meteorológicas sucedem-se ao longo do ano de tal forma que o Litoral Norte fica submetido desde finais de Setembro até Março - Abril ao campo de acção das depressões com direcções de Sudoeste, Oeste e Noroeste, que se formam e circulam ao largo da Frente Polar do Atlântico Norte. As depressões do Sudoeste originam ventos, habitualmente, violentos acompanhados de intensas e abundantes chuvas, que se abatem, fundamentalmente, sobre o litoral. Com a passagem de uma frente quente as temperaturas ficam amenas e com a passagem de uma frente fria o ar refresca e os ventos passam a ser do quadrante Noroeste. As depressões do Oeste são mais ou menos activas e de acordo com a proximidade a que passam da costa, as chuvas serão finas ou bastante fortes. As depressões de Noroeste originam ventos muito frescos ou frios, os chamados ventos de travessia, que sopram do sector Norte - Noroeste e que às vezes trazem chuva e neve sobre o interior do Minho, enquanto o litoral fica abrigado, com temperaturas mais temperadas (Anexo VI).

Tabela 4 – Tipos de tempo diários

Tempo Caracterização

O

e

s

te

Tempo mais frequente, dentro do tipo perturbado, caracterizando-se por ar húmido e fresco, com precipitações contínuas e persistentes, durante vários dias.

Ocorrência: Todo o ano, mais frequente de Outubro a Março (Outono / Inverno)

INVERNO PRIMAVERA VERÃO OUTONO

J F M A M J J A S O N D Borr a s c a de Sud oe s te

Decorre da descida de uma ampla depressão, até latitudes, relativamente, baixas, dando lugar a um tipo de tempo temperado ou incluso quente e muito revolto, com alterações de nebulosidade e precipitações irregulares.

Ocorrência: Frequente nos finais da Primavera e inicio do Outono.

INVERNO PRIMAVERA VERÃO OUTONO

J F M A M J J A S O N D B om e s ti v a l

Tempo bom, temperado ou quente, sob a influência de ar tropical marítimo trazido pelo anticiclone dos Açores, em situação avançada sobre a Península Ibérica. Ausência de precipitações, durante cerca de 50 dias, elevada insolação, nebulosidade de evolução diurna, escassa transparência do ar e ventos de componente Norte.

Ocorrência: No período estival. (Verão)

INVERNO PRIMAVERA VERÃO OUTONO

J F M A M J J A S O N D E stáv el e f rio

Tempo anticiclónico frio, com precipitações escassas, que ocorre quando o ar polar com trajecto continental ou marítimo atinge a região, com ventos não muito fortes de componente Norte - Noroeste. Geralmente, acompanhado de frequentes e persistentes névoas matinais nos vales e grande transparência e luminosidade nas áreas montanhosas, sendo responsável pelas temperaturas mínimas do ano, chegando por vezes a gelar na costa.

Ocorrência: Frequente entre Dezembro e Fevereiro (Inverno)

INVERNO PRIMAVERA VERÃO OUTONO

J F M A M J J A S O N D

As correntes de ar árctico frio ou muito frio, segundo o seu percurso marítimo ou continental, mais frequentes entre Dezembro e Fevereiro, podem afectar todo o Minho, todavia e habitualmente, somente a metade oriental da região é a mais afectada por temperaturas baixas, da ordem de - 5 a - 10 º C.

A partir de Abril - Maio, com o deslocamento até o Norte das massas de ar, o prolongamento do anticiclone dos Açores situa o Minho debaixo de um regime de tempo estável, quente e relativamente seco. Estes períodos de céu azul e soalheiros permanecem durante uma, duas ou três semanas, sendo maior a sua duração, quanto mais próximos estivermos da época

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estival. Por meados de Setembro princípios de Outubro o regime anticiclónico costuma deslocar-se em direcção ao oceano e ao sul, regressando as perturbações de origem atlântica.